31 dezembro 2025

Em "Jovens Mães", irmãos Dardenne lançam foco sobre a gravidez na adolescência

Filme retrata uma questão que, infelizmente, é presente entre jovens em todos os países do mundo,
numa fase em que estão descobrindo a sexualidade (Fotos: Christine Plenus)
 
 

Patrícia Cassese

 
Com uma chancela de respeito - a assinatura dos irmãos Dardenne tanto na direção quanto no roteiro -, entra em cartaz na cidade o filme "Jovens Mães", que, vale dizer, integrou a programação do Festival de Cinema Francês desse ano, porém, com poucas sessões. Em cena, cinco representantes do que o título - que, na tradução brasileira, mantém o original, "Jeunes Mères" - já revela ao espectador. 

Mais preciso que o uso da palavra "jovem", na verdade, seria "adolescente", posto que a câmera dos belgas Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne flagra a maternidade em uma faixa etária na qual a inocência da infância ainda se mescla às descobertas do mundo adulto. 


São cinco, as jovens mães do filme, e, à exceção de uma, as demais dividem o tempo de duração do longa. Um denominador comum é que nenhuma ali vem de uma vida propriamente fácil. Ao contrário, alguns relatos de episódios da infância são de causar calafrios.

De todo modo, na retratação de uma questão que, infelizmente, é presente em todos os países do mundo - a gravidez acidental na vida de pessoas numa fase em que estão, na verdade, descobrindo a sexualidade, "Jovens Mães" mostra uma situação que já de pronto mostra a distância entre os ditos países do primeiro mundo e os mais pobres. 


É que as cinco meninas estão provisoriamente abrigadas em uma casa de acolhimento na qual as funcionárias tratam de explicar, com paciência e medida insistência, os cuidados básicos com os bebês para quem pouco tempo atrás certamente brincava de boneca. 

Entre eles, a limpeza do umbigo, o banho ou a melhor forma de dar mamadeira - posto que, ali, dado o estresse inerente à situação, nem todas têm leite para alimentar seus rebentos. Importante dizer que as garotas do filme foram mães por opção, uma vez que, sim, havia a alternativa de se submeter a um aborto. 


No entanto, em casos como o de Jessica (Babette Verbeek), o bater o martelo em manter a gravidez se deu no bojo do sonho de construção de uma união dela com o pai do bebê. Uma ilusão que, mundo afora, muitas adolescentes acalentam.

Mesmo com a escolha do aborto afastada pelas cinco quando ainda havia tempo, resta, a elas, uma última decisão: entregar o filho para uma família ou assumir a maternidade (inclusive, a maternidade solo) nessa etapa tão complexa da vida.


Entre as cinco, talvez o caso que mais afete o espectador seja o de Jessica, que, na reta final da gravidez, tenta se reconectar com a mãe, Morgane (India Hair), que, no passado, a abandonou ainda recém-nascida. Vale muito pontuar o talento da jovem atriz belga que a interpreta, e que dá conta de transmitir o desespero que invade a menina ali, sozinha. 

De todo modo, ela não está disposta a repetir a decisão de sua genitora. Detalhe: a idade da atriz que interpreta Morgane dá indícios que ela também foi mãe na adolescência, mostrando como esse ciclo se repete na sociedade, não obstante os avanços de métodos contraceptivos.


Ariane (Janaina Halloy Fokan, atriz de apenas 16 anos) é outro caso que comove, pelo fato de a garota também vir de uma família esfacelada - a mãe mantém um relacionamento tóxico (apesar de jurar para a filha que colocou um ponto final, o namorado sempre retorna para buscar objetos). 

Não bastasse isso, o envolvimento com drogas que faz a polícia volta e meia bater à sua porta. É nela que a possibilidade de entregar a criança à adoção fala mais alto.

A situação de Julie (Elsa Houben) é um pouco diferente das colegas, sendo ela a única cujo pai do bebê segue não só presente, mas mantendo o intuito de formar uma família. Mesmo assim, ambos lidam com a falta de perspectiva de ter um teto, assim como com o fantasma do vício em drogas. Julie também narra a experiência de um abuso praticado dentro de casa. 


Como ela, Perla (Lucie Larvelle, ótima presença em cena), ao dar continuidade à gravidez, acreditou que o bebê seria o ponto de partida para a construção de uma célula familiar. 

Sua situação não vai deixar o espectador incólume, inclusive quando ela coloca em repasse a relação com a mãe e uma maldade cometida por essa que a marcou para sempre. Além do fato de ser uma adolescente mãe solteira, Perla ainda tem que lidar com o racismo. 

A quinta adolescente do roteiro tem uma presença mais breve na trama. Naïma (Samia Hilmi), mãe da Selma e a mais serena das adolescentes.


Detalhe: "Jovens Mães" foi o título indicado pela Bélgica para o Oscar 2026, na categoria Filme Estrangeiro. Certo, foi eliminado na lista de pré-selecionados, mas isso de forma alguma tira a importância da narrativa que, como salientado no início, fala de uma questão que preocupa não só as autoridades ou pessoas envolvidas em situações similares, mas também aos mais conscientes mundo afora.

Além de mostrar como o acolhimento - familiar ou externo - é imprescindível em tais casos, uma vez que a insegurança e a pouca experiência intrínsecas à idade pode levar a decisões bastante equivocadas, passíveis de virarem traumas para toda uma vida.


Ficha técnica:
Direção:
Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne
Produção: Les Films du Fleuve, Archipel 35, The Reunion (Delphine Tomson, Denis Freyd)
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes
Duração: 1h46
Classificação: 16 anos
Países: Bélgica e França
Gênero: drama

24 dezembro 2025

“Tainá e os Guardiões da Amazônia - Em Busca da Flecha Azul" une aventura infantil e preservação da Amazônia

Animação usa linguagem educativa e divertida para conscientizar gerações sobre meio ambiente
(Fotos: Sincrosine Produções)
 
 

Maristela Bretas

 
Com estreia marcada para 25 de dezembro, em pleno Natal, "Tainá e os Guardiões da Amazônia – Em Busca da Flecha Azul" chega aos cinemas como uma animação brasileira que entende muito bem seu papel: entreter, educar e conscientizar, sem jamais perder o apelo lúdico necessário para dialogar com crianças — e também com adultos.

Dirigido por Alê Camargo e Jordan Nugem, produzido pela Sincrocine Produções e distribuído pela Paris Filmes, o longa tem classificação livre e se posiciona como uma obra pensada para todas as idades.  

Seu grande mérito está justamente no equilíbrio entre um tema urgente e delicado — a destruição da Amazônia — e uma narrativa leve, colorida e acessível, que transforma a conscientização ambiental em aventura.


Mesmo inserido em um contexto extremamente atual, marcado por mudanças climáticas, queimadas e desmatamento, o filme evita o tom panfletário. 

Os diretores apostam em uma linguagem educativa e bem-humorada, criando situações divertidas e diálogos simples, capazes de captar a atenção do público infantil sem subestimar sua inteligência. 

O resultado é uma animação que fala de preservação ambiental a partir da infância, entendendo que é ali que nasce a verdadeira mudança. 

A relevância do projeto ficou evidente com seu pré-lançamento durante a COP-30, em Belém, reforçando o compromisso da obra com a pauta ambiental e com a valorização da cultura amazônica. 


Essa conexão também se reflete no elenco de dublagem, que conta com nomes paraenses de peso. Fafá de Belém empresta sua voz à ancestral e sábia preguiça Mestra Aí, enquanto Juliana Nascimento dá vida à protagonista Tainá, trazendo carisma e energia à personagem.

Na trama, acompanhamos uma Tainá jovem, impulsiva e ansiosa, em pleno treinamento para se tornar uma Guardiã da Amazônia. Ao perder a Flecha Azul, artefato mágico que guia aqueles destinados à proteção da floresta, a heroína coloca seu próprio destino em risco. 

A partir daí, inicia-se uma jornada clássica de amadurecimento, repleta de encontros, aprendizados e desafios.


É nesse percurso que surgem alguns dos personagens mais carismáticos do filme. Catu, o macaquinho encrenqueiro dublado por Caio Guarnieri, é o grande responsável pelo alívio cômico; Pepe, o sábio urubu-rei vivido por Yuri Chesman, traz equilíbrio e reflexão; e Suri, a delicada e charmosa ouricinha rosa dublada por Laura Chasseraux, completa o grupo com ternura. 

A dinâmica entre eles funciona muito bem, especialmente nas cenas mais leves, garantindo ritmo e diversão. Unidos, eles aprendem a lidar com suas diferenças para formar os Guardiões da Amazônia, grupo que representa valores essenciais como amizade, cooperação e respeito à natureza. 


O filme ainda incorpora elementos do folclore brasileiro ao apresentar o temido Jurupari, figura lendária que assombra os animais da floresta, enriquecendo o universo narrativo. 

No entanto, a ameaça mais concreta e assustadora não vem da lenda, mas do mundo real: Jaime Bifão e seu trator, símbolo direto da devastação ambiental. 

É nesse ponto que a animação se mostra mais contundente, traduzindo em imagens simples e compreensíveis um problema complexo e urgente. Quando tudo parece perdido, resta gritar “Cru-cru” e confiar na coragem de Tainá — um gesto simbólico que reforça a esperança e o poder da ação coletiva.


Personagem criada nos anos 2000

Criada há 25 anos, Tainá retorna agora em um longa que foi idealizado antes da série exibida nos anos 2000, explicando suas origens, o início de seu treinamento e a formação do grupo que marcou uma geração. 

Para quem já conhece a personagem, há um agradável sentimento de nostalgia; para os novos espectadores, uma apresentação envolvente e atualizada. "Tainá e os Guardiões da Amazônia – Em Busca da Flecha Azul" é, acima de tudo, uma linda produção nacional, que honra sua proposta ao divertir enquanto educa. 

Um filme que fala sobre a importância de preservar a Floresta Amazônica sem perder a leveza, provando que o cinema infantil pode — e deve — ser também um espaço de reflexão e responsabilidade. 

Uma ótima escolha para o período natalino e um passo importante para o fortalecimento da animação brasileira.


Ficha técnica:
Direção:
Alê Camargo e Jordan Nugem
Roteiro: Gustavo Colombo
Produção: Sincrocine Produções e coprodução Tietê Produções
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h28
Classificação: Livre
País: Brasil
Gêneros: animação, aventura