16 agosto 2025

"Meu Ano em Oxford": quando o amor desafia o tempo e veste a beleza dos jardins ingleses e da poesia

Longa com Sofia Carson e Corey Mylchreest se destaca por seu cuidado visual e sua atmosfera envolvente (Fotos: Netflix)


Silvana Monteiro

 
"Não há tempo consumido
nem tempo a economizar
O tempo é todo vestido

de amor e tempo de amar."
Carlos Drummond de Andrade
 
Os versos do poeta mineiro abrem com perfeição o caminho para falar de outro tipo de poesia: a cinematográfica. E mais que isso: uma poesia que atravessa os corredores da literatura e se manifesta nas imagens de "Meu Ano em Oxford" ("My Oxford Year").

O filme, adaptado do romance de Julia Whelan e lançado em 2024, acaba de entrar na coleção da Netflix e é dos mesmos produtores de "A Culpa é das Estrelas" (2014).


A história gira em torno de Anna de La Vega, uma jovem norte-americana vivida por Sofia Carson, que se muda para Oxford, na Inglaterra, para cursar seu tão sonhado mestrado. 

Lá, ela conhece Jamie Davenport, interpretado por Corey Mylchreest, um professor-adjunto carismático, admirado e temido por sua fama de amores efêmeros. 

O encontro entre os dois rende mais do que trocas intelectuais: nascem sentimentos atribulados, atravessados por obstáculos, escolhas difíceis e um segredo que vira a perspectiva da história de cabeça para baixo.

Apesar de o enredo seguir a linha clássica dos romances de formação com tintas dramáticas e reviravoltas já conhecidas do público, o filme se destaca por seu cuidado visual e sua atmosfera envolvente. 


Destaque para a fotografia 

A fotografia é um espetáculo à parte. Oxford é retratada em toda sua glória: bibliotecas de madeira antiga com vitrais coloridos, salões silenciosos onde a luz atravessa o tempo, jardins palaciais em flor e uma paleta que remete ao romantismo vitoriano.

Mas o que realmente marca a experiência de "Meu Ano em Oxford" é a sensibilidade com que trata a relação entre amor e tempo. Afinal, quantos dias são necessários para um amor valer à pena? 

O filme não responde com fórmulas prontas, mas convida à reflexão. Em tempos acelerados, é um lembrete delicado de que há sentimentos que não se medem em anos, e que o amor pode ser eterno mesmo quando breve.


Anna se reinventa ao longo da trama, e é isso que torna o filme mais interessante do que apenas a história romântica. É uma narrativa sobre recomeços, amadurecimento e coragem. E sim, é um clichê, mas daqueles que acolhem, emocionam e aquecem o coração.

"Meu Ano em Oxford" é um romance que, mesmo querendo aprofundar em uma complexidade sobre a duração da vida, consegue ser raso, mas sem deixar de oferecer beleza, esperança e a certeza de que, como dizia Drummond, "amar é mesmo o sumo da vida".

E ficam a pergunta e a resposta que intitulam a poesia do nosso grande escritor: "O tempo passa? Não passa. Para o amor, não passa".


Ficha técnica:
Direção: Iain Morris
Produção: Temple Hill Entertainment
Exibição: Netflix
Duração: 1h53
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: romance, comédia

14 agosto 2025

Impactante e surpreendente, "Os Enforcados" é sobre jogo, culpa e confiança

Leandra Leal e Irandhir Santos entregam excelentes atuações como o casal que vive da contravenção e
acredita que pode manter as mãos limpas (Fotos: Paris Filmes)
 
 

Maristela Bretas

 
Reunindo várias semelhanças com fatos reais e atuações brilhantes de Leandra Leal e Irandhir Santos, estreia nesta quinta-feira (14) a produção nacional "Os Enforcados". O filme, dirigido por Fernando Coimbra, é um thriller tragicômico impactante, com reviravoltas a todo instante.

Na trama, o casal Valério (Irandhir Santos) e Regina (Leandra Leal) vive numa mansão na Zona Oeste do Rio de Janeiro, à custa do império do jogo do bicho construído pelo pai e pelo tio dele, Linduarte, vivido por Stepan Nercessian. Até que Valério revela à esposa que está falido, cheio de dívidas e pretende vender ao tio a parte herdada do pai.


Tudo muda quando ele resolve seguir os conselhos da ambiciosa Regina e dar um grande golpe, que consideram infalível, em Linduarte e nos contraventores do bicho e sair de mãos limpas. Ao contrário do que esperavam, o crime passa a ser uma rotina do casal e até mesmo o casamento começa a desandar.

Em "Os Enforcados", quando você acredita que já sabe qual caminho o filme está seguindo, ele toma novo rumo. E prova que todo mundo que se envolve com o mundo do crime e conquista poder está sujeito a ser contaminado e sujar as mãos. Se torna até mesmo capaz de matar para manter este poder e o padrão alto de vida.


Leandra Leal e Irandhir Santos estão excelentes em seus papéis e são os responsáveis pela trama dar certo do início ao fim, expondo uma realidade diária da criminalidade no Rio de Janeiro e os esquemas por trás do jogo do bicho.

A violência, o crime organizado e a corrupção de autoridades policiais da capital carioca são apontados no roteiro, inclusive numa fala da sempre excelente Irene Ravache, no papel de mãe de Regina. 

A cartomante de araque não se surpreende com as ações do genro e da filha e só se interessa em tirar proveito do lucrativo negócio de Valério.


No elenco temos ainda Pêpê Rapazote, como delegado da Polícia Federal; Thiago Tomé, braço direito de Valério; Augusto Madeira e Ernani Moraes, parceiros de Linduarte, entre outros.

Coincidências?

Coincidência ou não, "Os Enforcados" apresenta situações semelhantes a uma disputa entre familiares do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, após o assassinato dele em 1998. Ele era chamado de "Rei do Rio" e era padrinho da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel.

Assim como Maninho, Linduarte era o padrinho da Escola de Samba Unidos da Pavuna e quando Valério assume os negócios da família após a morte do tio, ele recebe uma coroa dourada durante o ensaio da escola.


Terceiro filme do diretor

Este é o terceiro filme de Fernando Coimbra e marca seu retorno ao cinema brasileiro, após dirigir episódios das séries internacionais “Narcos”, “Outcast” e “Perry Mason” e o longa “Castelo de Areia”, com Nicholas Hoult e Henry Cavill. 

Coimbra explica que "Os Enforcados" é, antes de tudo, sobre um casamento. "O casal sela um pacto e faz um plano de vida que é incapaz de cumprir. Só que esse plano se faz a partir de um crime que os levaria em direção à realização dos seus sonhos. Mas a realidade é muito diferente do sonho, e as coisas desandam".



"Os Enforcados" é violento e brutal, tanto nos crimes envolvendo a guerra pelo poder quanto na relação conjugal de Valério e Regina. E a cereja do bolo é a trilha sonora, que tem o sucesso "Muito Estranho", com Nando Reis, como música principal.

"Cuida bem de mim" é um refrão que vai acompanhando as etapas da vida do casal quando tudo começa a desmoronar até o final brilhante. Filme imperdível e merece entrar na disputa para a indicação brasileira ao Oscar.


Ficha técnica:
Direção:
Fernando Coimbra
Produção: Gullane e coprodução da Fado Filmes, Telecine, Globo Filmes e Pavuna Pictures
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h03
Classificação: 18 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, suspense, thriller de crime