Em algum momento da vida, estamos todos sujeitos a momentos de fúria (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação) |
Mirtes Helena Scalioni
Se for verdade que os filmes de episódios são sempre
irregulares, com ótimas e péssimas histórias, o argentino "Relatos
Selvagens" ("Relatos Salvajes") veio pra desmentir essa
assertiva. Em cartaz no Belas Artes (14, 16h30, 19h, 21h30), na rede Cinemark - BH Shopping
(13h10, 16h10, 18h50, 21h30), Diamond (13h10, 15h50, 18h50, 21h30) e Pátio Savassi (16h40, 19h40, 22h20) - e no Cineart Ponteio (13h20, 15h40, 18h10, 20h40), os seis curtas
independentes que compõem o longa, que tem feito muito sucesso na América
Latina, são todos, no mínimo, bons. A maioria é ótima.
A ideia não poderia ser melhor: em algum momento da vida,
estamos todos sujeitos a momentos de fúria com consequências inimagináveis. E
tanto podemos virar feras - selvagens? - quanto podemos subornar
vergonhosamente alguém para nos salvar ou livrar da condenação alguém que
amamos.
Mesmo que a maioria das histórias esbarre em cenas violentas, o grande segredo do filme, o que dá unidade aos relatos, é o humor cáustico com que os casos são contados. O riso dá uma certa leveza, mesmo quando o sangue escorre pelo chão.
Não que não seja boa, mas a menos verossímil das histórias é a primeira. Trata-se de um relato de vingança premeditada e se passa dentro de um avião.
A segunda, também de vingança, é mais, digamos, provável. Fala da garçonete que, por acaso, se vê atendendo o homem que, no passado, desgraçou a vida do seu pai. Agora ela tem a chance de acabar com a vida daquele cliente colocando veneno na comida que vai servir a ele.
A terceira, bastante real, trata do duelo de dois motoristas que se estranham numa estrada e, a partir daí, ninguém mais controla nada.
O quarto relato, que mostra a que ponto pode chegar alguém cansado da burocracia dos serviços públicos, é, talvez, o que mais nos atinge, comove e - por que não - satisfaz.
Depois vem o caso do pai muito rico que suborna para salvar o filho e, por fim, a noiva que, em plena festa de casamento, descobre que uma das convidadas tem um caso com o noivo.
Dirigido por Damián Szifrón, "Relatos Selvagens" traz Ricardo Darin entre os atores que, coincidentemente, estrela o caso da ira contra a burocracia, história que cala fundo na alma do brasileiro, cansado de sofrer nas mãos de funcionários públicos e nas relações de consumo.
Os demais atores, embora menos conhecidos por aqui como Rita
Cortese e Oscar Martinez, também estão perfeitos e, invariavelmente, levam o
espectador a refletir sobre o limite sutil que nos separa da selvageria.
Classificação: 14 anos
Tags: Relatos Selvagens; Warner Bros Pictures; Drama;
Violência; Damián Szifrón; Ricardo Darin; Cinema no Escurinho