Marion Cotillard é uma operária que precisa convencer seus colegas de trabalho a abrirem mão de um bônus para mantê-la no emprego (Fotos Imovision/Divulgação) |
Mirtes Helena Scalioni
Dirigido pelos irmãos belgas Jean Pierre e Luc Dardenne, "Dois dias, uma noite" ("Deux jours, une nuit") é o exemplo concreto de como uma ideia e um roteiro simples podem se transformar num grande filme. Sandra (Marion Cotillard ) é operária numa fábrica em alguma cidade da Bélgica e, depois de uma licença médica, corre o risco de perder seu emprego. Na sua ausência, seus colegas votaram pela sua demissão para, em troca, ganhar um bônus de 1000 Euros mensais. Coisas de capitalismo selvagem.
Encorajada pelo marido Manu (Fabrizio Rongione), ela tem apenas um fim de semana para reverter essa situação e tentar convencer seus colegas a, numa segunda votação, abrir mão da bonificação para que ela permaneça no trabalho. A partir daí, Sandra empreende uma via crucis, batendo de porta em porta como uma pedinte, repetindo o mesmo discurso em busca do apoio dos colegas.
O velho conflito entre a individualidade e a solidariedade é, claro, a grande temática do filme, que ganha contornos intimistas com a excelente atuação de Marion Cotillard como a operária deprimida, insegura e frágil. De cara limpa, essa fantástica atriz que já encantou o mundo com sua "Piaf", envolve facilmente o espectador na sua luta desconfortável de quase mendiga, em meio a recaídas na doença e tentativas de derrotar a própria descrença. Sem jogos, sem charme. Apenas a calça jeans, a camiseta. O corpo magro e o rosto se encarregam das expressões reveladoras.
O que faz a diferença em "Dois dias, uma noite" é que não há nenhum julgamento dos personagens. Os que dizem não ao apelo de Sandra expõem seus motivos claramente e o público se vê no dilema de também tentar compreender suas razões. Afinal, numa Europa em crise, quem pode abrir mão de um bônus de 1000 Euros mensais em nome da solidariedade?
Outro destaque da história que envolve e enternece é que a cada discurso de Sandra em favor de sua permanência vislumbra-se a possibilidade de alguma mudança. Concordando ou não em votar a favor dela, seus colegas veem suas vidas sendo transformadas por aquele drama que parecia particular. Classificação: 12 anos
Tags: Dois Dias, Uma Noite; Marion Cotillard; Imovision; Individualidade; solidariedade; questão universal; Bélgica; drama; Cinema no Escurinho
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