Diretor escolhe caminhos não convencionais para falar sobre o rito de passagem de um adolescente (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação) |
Mirtes Helena Scalioni
Salvo engano, a expressão ponto zero significa um tal equilíbrio de energias, algo semelhante a um vazio. Na dramaturgia do diretor gaúcho José Pedro Goulart, "Ponto Zero" pode ser entendido como um rito de iniciação de um menino, algo como a dor do crescimento.
Ênio é um adolescente típico dos seus 14 anos. Não é popular na escola, não tem amigos e se esconde por trás de uma franja que cobre boa parte do rosto. Começa a se interessar por sexo, fala pouco - quase nada - e enfrenta uma grave crise conjugal dos pais. Para completar, seu pai, um radialista de nenhum escrúpulo, trata muito mal a mãe e vive às voltas com amantes e mulheres de programa. E ela, a mãe, usa uma dose de chantagem levando o menino para, na falta do marido, dormir ao lado dela. Ou, às vezes, obrigando o filho a vigiar o pai.
Revoltado, numa noite chuvosa, Ênio pega o carro do pai e sai dirigindo pela cidade em busca não se sabe de que, talvez de si mesmo. A partir daí, são muitos os sustos, agonias e surpresas, misturando realidade e delírio. E é a parte maior do longa, o que o torna ainda mais impactante.
O silencioso e atormentado Ênio é interpretado pelo estreante Sandro Aliprandini, que se sai bem. Estão muito bem ainda os veteranos Eucir de Souza como o pai e Patrícia Selont como a mãe, dos quais o espectador nem sabe os nomes.
Há muitas maneiras de se contar uma história assim e José Pedro Goulart escolheu uma bastante incomum. O filme não é linear, as imagens são desequilibradas, a luz é escura e os ângulos eleitos pela câmara não são nem um pouco convencionais. Resultado: "Ponto Zero" é claustrofóbico e angustiante como um pesadelo que parece não ter fim.
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