08 julho 2016

"Julieta": nada mais Almodóvar


Culpa, acaso e destino são as cores fortes do recente melodrama do diretor espanhol (Fotos: Manolo Pavón/ El Deseo/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Mesmo os que leram o belo "Fugitiva", livro de contos da canadense Alice Munro, Nobel de Literatura de 2004, levam algum tempo para identificar as três histórias que foram livremente adaptadas e serviram de inspiração para "Julieta", o mais recente filme de Pedro Almodóvar em cartaz nos cinemas de BH. Depois de anos, o diretor está de volta ao tema que o consagrou e que conhece muito bem: as mulheres.

Interpretada por duas atrizes talentosas - Adriana Ugarte na juventude e Emma Suárez na maturidade - Julieta está se preparando para mudar de Madrid para Lisboa com o namorado Lorenzo (o argentino Dario Grandinetti de "Fale com Ela") quando um encontro casual na rua com Beatriz (Michelle Jenner), amiga de sua filha na infância, muda o rumo de sua vida. Demora um pouco para o espectador descobrir por que é que aquela mulher, professora de mitologia grega, que viveu um grande amor no passado, está obrigatoriamente separada de sua filha Antía há mais de dez anos.

Como sempre acontece nos filmes de Almodóvar, os atores parecem ter sido talhados para os papéis. A começar pela jovem Adriana Ugarte, cuja beleza chega a ser desconcertante, e Emma Suárez, que além de manter a beleza e a sensualidade depois de madura, parece carregar gestos e trejeitos da moça que foi. Inma Cuesta dá seu recado como a artista plástica Ava; Blanca Parés está na medida como a adolescente Antía e Daniel Grao dá credibilidade ao pescador Xoan, pai de Antía. Mas merece destaque especial a atuação ligeira, mas importantíssima na trama, da conhecida atriz Rossy de Palma, a empregada esquisita de Xoan.

Houve quem achasse "Julieta" comedido. Nem tanto. Estão lá as cores fortes, o melodrama e a tensão, elementos típicos do diretor espanhol que continua a falar de temas universais como culpa, passado, acaso, destino, incertezas. Está no filme também aquela quase angústia que o diretor sempre provoca no público, atento e preso a uma história que se desenrola sem pistas nem sinais. À todo momento tudo pode acontecer, tudo pode mudar, nada é previsível. Nada mais surpreendente. Ao final, enquanto sobem os créditos, uma canção doída parece fisgar e paralisar o espectador. Nada mais Almodóvar.

Com duração de 1h40, o drama "Julieta", vigésimo filme do diretor espanhol, está em cartaz nas salas 1 do Belas Artes (sessões 14h30, 16h50, 19 horas e 21h20), 2 do Pátio Savassi (16h15 e 21h30), 2 do Net Cineart Ponteio (19 horas) e Net Cineart Ponteio Premier (14h30, 16h30 e 20h40). Classificação: 14 anos



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