11 setembro 2016

"O Roubo da Taça" no país da piada pronta

Comédia nacional expõe com ironia e malandragem o famoso roubo da taça Jules Rimet, em 1983, no Brasil (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas


Na época causou comoção nacional, o fato ganhou as manchetes dos jornais nacionais e críticas internacionais (como se não tivesse acontecido o mesmo em Londres). Mas tinha que ser no Brasil o roubo da famosa taça Jules Rimet, da conquista do tricampeonato mundial de futebol de 1970, que estava em um pedestal, onde no lugar deveria haver uma réplica, que por sua vez foi colocada no cofre da CBF. 

E o que é pior: um roubo que contou com uma parceria nada convencional. Ladrões de quinta (não tem outro nome para os envolvidos) aliados a um argentino, nosso maior adversário no futebol. País da piada pronta. Pronto, falei!

Pois foi este o tema escolhido para a produção nacional da Netflix - "O Roubo da Taça" - que está em cartaz nos cinemas. O diretor e roteirista Caíto Ortiz deu uma "pequena mudada" nos fatos reais e nos personagens, acrescentou uma namorada para o mentor do crime e transformou tudo num grande pastelão. 

Se no caso real o roubo mostrou nossa falta de segurança, o envolvimento de policiais e muita malandragem, que resultaram nos brasileiros presos e só o argentino se dando bem pois nunca "pegou cana" pelo crime, em "O Roubo da Taça" não poderia ser diferente. Com tanta trapalhada, não havia outra forma de explorar o caso que não fosse a uma comédia.

A história se passa no ano de 1983. No elenco principal está Sérgio Pereira Ayres, o Peralta (Paulo Tiefenthaler, que se destaca por sua ótima interpretação), mentor do roubo, que namora Dolores (Tais Araújo). Peralta é um simples corretor de seguros, cartola de time com acesso à CBF, aplica golpes da pirâmide nos amigos, é péssimo pagador e viciado em jogos. Ou seja, um amontoado de características do malandro brasileiro. Endividado até o pescoço, ameaçado por credores e sendo cobrado por Dolores para que se casem, ele acaba tendo a infeliz ideia de roubar o bem mais precioso do país na época - a taça Jules Rimet.

Ele procura amigos pouco confiáveis para cometer o crime, aproveitando seu conhecimento do prédio da CBF, no Rio. Peralta e Borracha (Danilo Grangheia), que na época era chamado de Chico Barbudo, entram no prédio, usam o banheiro da presidência para fazer o número 2 que dá sorte, agridem o vigilante desarmado e fogem achando que levaram a réplica da taça que estava em exposição na sala de troféus.

A surpresa vem no dia seguinte quando descobrem pelos noticiários que pegaram a Jules Rimet verdadeira, que pesava 3,8 quilos de puro ouro. A saída é tentar vender o mais rápido possível a peça. Nessa peregrinação por negociantes desonestos de joias, o elenco conta com Mr. Catra, como o malandro que fica revoltado com o roubo, e Hamilton Vaz Pereira, que faz o bicheiro Bispo, maior credor de Peralta. Até chegarem ao ourives argentino Juan Carlos Hernandez (vivido por Fábio Marcoff), que aceita comprar a taça para que ela pertença a seu país. Marcoff é outro destaque e seu personagem tem um destino no filme pouco explicado.

Do lado da CBF está Stepan Nercessian interpretando de forma divertida e sarcástica Giulite Coutinho, o presidente da entidade na época, mas que não tem seu nome falado em nenhum momento. Sem fugir do estilo policial do "vai contar tudo" aparece o investigador honesto, papel de Milhem Cortaz, que esculhamba com o presidente da CBF e não vai descansar até pegar os ladrões.

A comédia, como toda produção nacional, tem nove palavrões a cada dez palavras, é recheada de gírias e uma confirmação de que o jeitinho brasileiro pode resolver tudo sempre. O mistério, mesmo no filme, foi mantido: que fim levou a taça Jules Rimet - foi derretida ou ainda existe e está nas mãos de algum colecionador (quem sabe argentino, para nossa tristeza)?


O "Roubo da Taça" é uma produção divertida, que reúne uma infinidade de erros e trapalhadas de um crime inacreditável. As atuações dos personagens são bem conduzidas, bons figurinos e ambientação de época, e o estilo de filmagem adotado por Ortiz, com a câmera acompanhando os atores dá maior agilidade às cenas. A mistura política-futebol-ditadura tratada em jogo de imagens mostra um panorama bem superficial e sem muitas pretensões do período que vivia o Brasil nos anos 80.

Trata-se de filme para distrair, como era de se esperar de uma comédia e não desagrada. Ele está em exibição em nove salas de shoppings de BH, Betim e Contagem.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: Caíto Ortiz
Produção: Netflix / Prodigo Films
Distribuição: Paris Filmes / Downtown Filmes
Duração: 1h42
Gênero: Comédia
País: Brasil
Classificação: 12 anos
Nota: 3 (0 a 5)

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