O filme é pura ficção ao narrar a perseguição ao poeta sob o ângulo de um policial que tem certa obsessão pelo escritor (Fotos: Fabula - AZ Films - Funny Balloons - Setembro Cine) |
Mirtes Helena Scalioni
Ao comentar sobre a possibilidade de o filme "Neruda" representar o Chile no próximo Oscar, o pouco simpático jornalista Diogo Mainardi disse, no programa Manhattan Connection, da GloboNews: "Ninguém se interessa por ele, que não passa de um poeta de ginasianos". Não é verdade. Pablo Neruda encantou mais de uma geração e não fez isso apenas por ser de esquerda.
Poeta inspirado, foi um homem excêntrico e único, sedutor e encantador, ganhador do Nobel de Literatura de 1971. Enfim, um grande personagem. Tão grande que, além de alguns documentários, já mereceu pelo menos três filmes: "O carteiro e o poeta", "Neruda - fugitivo" e 'Neruda", esse último lançado recentemente.
No filme do chileno Pablo Larrain, que em 2012 dirigiu também o excelente "No", sobre o plebiscito que mudou a história do Chile em 1988, Neruda aparece às vezes como um homem vaidoso, quase arrogante, desafiando irresponsavelmente seus opositores. Detalhe: o filme é narrado sob a perspectiva de um policial, Oscar Peluchonneau, vivido pelo sempre correto Gael Garcia Bernal. E reside aí a graça do filme, que esbarra no gênero policial. O inspetor nutre certa obsessão pelo poeta e assim, ambos vão compondo uma nova história como se fossem personagens de uma ficção. A esposa de Neruda, Delia, interpretada por Mercedes Morán, também entra nessa espécie de jogo.
Embora o ator Luis Gnecco, que faz o papel de Neruda, tenha uma intrigante semelhança com o poeta, em momento algum o espectador se sente assistindo a uma cinebiografia real. Os personagens mudam de cenário num piscar de olhos como a nos lembrar que estamos diante de uma fantasia. O melhor é entrar na brincadeira e deixar-se levar pelo delírio do diretor. O filme está em cartaz no Belas Artes (13h50, 15h50 e 19h30) e no Ponteio (14h15). Classificação: 12 anos
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