Produção dirigida por Barry Jenkins conquistou três Oscars neste ano: Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado (Fotos: Diamond Filmes/Divulgação) |
Mirtes Helena Scalioni
O vencedor do Oscar 2016, "Moonlight - Sob a Luz do Luar", é o tipo do filme inesquecível. Não é todo dia que alguém consegue contar uma história tão triste quanto trágica - de um negro gay e desgraçadamente pobre - de uma forma tão delicada. Pois o diretor Barry Jenkins conseguiu. O longa, pode-se dizer, é elegante. E dificilmente vai sair da cabeça - e do coração - de quem o assistiu.
E são exatamente o olhar dele e o silêncio constrangedor com os quais ele se relaciona com o mundo que fisgam - e incomodam - o espectador logo nas primeiras cenas. É como se aquele bichinho assustado nos puxasse para dentro de nós mesmos, nos convidando, também, à reflexão e ao silêncio.
Na adolescência, quando decide se impor perante os amigos e à vida, o personagem, já mais calejado, é vivido por Ashton Sanders, também em ótimo momento. Já não se chama mais Little e sim Chiron, seu nome de batismo. Mas o olhar triste e assustado permanece. Na vida adulta, Chiron é Black (Trevante Rhodes), agora aparentemente dono de si, mesmo sem saber direito quem é, buscando em alguns símbolos de poder - como o carro, o corpo malhado e o aparelho nos dentes - a própria identidade.
Já se disse que "Moonlight..." fala de escolhas. Pode ser. Mas seria melhor dizer que o filme fala sobre como a vida pode nos empurrar para algum caminho, como o ambiente é fundamental para definir a personalidade, o caráter. Ou ainda: como a figura paterna pode ser crucial na formação de um indivíduo. Talvez resida aí a sutileza do longa, que foge a todas as fórmulas. É poético e tem delicadeza. Pena que tenha sido traduzido como "Sob a Luz do Luar". O nome do livro que deu origem ao filme é "Sob a luz da Lua, garotos negros parecem azuis". Mais poético ainda.
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