O nascimento de Jesus é o pano de fundo desta linda animação onde humanos são os coadjuvantes (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)
Maristela Bretas
A história do nascimento de Jesus que deu origem ao Natal é conhecida por todos. Mas a Sony achou uma forma de contar o nascimento de Jesus e explicar alguns dos costumes que surgiram na data. E foi ouvir como tudo aconteceu pela boca dos animais que participaram desta aventura e ajudaram para que tudo desse certo. Assim nasceu "A Estrela de Belém" ("The Star"), que estreia nesta quinta-feira nos cinemas, é uma animação leve, divertida e quase didática, indicada para crianças acima de seis anos, mas que vai encantar os adultos.
Os personagens são bem conhecidos e estavam todos ao redor da manjedoura, no estábulo onde Jesus nasceu. O burrico que carregou Maria até a cidade de Belém, as ovelhas, os cavalos, vacas, camelos e até uma pombinha. Pois são eles os heróis desta história, que tem Bo, o burrico, e Davi, a pomba, como personagens principais. Tudo começa com o jovem Bo tentando fugir do estábulo onde passa dia após dia fazendo o moinho funcionar, ao lado de outro asno. Seu maior amigo é Davi, que o ajuda nos planos e na fuga. Mas tudo muda quando Bo se esconde de seu dono na casa de Maria e José, recém-casados. O que Bo não imaginava era que sua nova dona estava grávida de Jesus e que a chegada do filho de Deus se tornaria uma grande aventura, cheia de perigos, desde a perseguição do rei Herodes ao casal e seu bebê ao nascimento daquele que mudou o mundo.
Além dos nossos amiguinhos de quatro patas e asas, "A Estrela de Belém" também conta com personagens bem engraçados, mesmo quando são vilões que caçam Maria, José e o bebê. Como o pitbull trapalhão, companheiro de coleira de um feroz cão que mais parece um lobo. Ou os camelos Deborah, Cyrus e Félix, que carregam os três reis magos que seguem a estrela brilhante. Tem também uma ratinha fofoqueira e a ovelha Ruth, que não para de falar um minuto e se junta ao grupo durante a jornada.
A animação é bem colorida, os personagens são cativantes e até mesmo crianças menores param para prestar atenção no que eles estão falando ou fazendo. Mariah Carey canta a linda música-tema "The Star" junto com os filhos. A trilha sonora conta ainda com a participação das Fifth Harmony, de Zara Larsson, da cantora gospel Yolanda Adams, da dupla Great Big World, das bandas Saving Forever e Casting Crowns (cristã de soft rock) e de vários outros músicos.
Uma boa diversão para ser feita em família e uma chance de os pais ensinarem o que representa o verdadeiro espírito de Natal. Apesar de ser tão conhecida, esta história ainda emociona muito, até mesmo quando contada para um público infantil. Vale a pena conferir.
Ficha técnica: Direção: Timothy Reckart Produção: Sony Pictures Animation / Columbia Pictures / Walden Media / Affirm Films Distribuição: Sony Pictures Duração: 1h26 Gêneros: Animação / Aventura / Família País: EUA Classificação: 6 anos Nota: 3,5 (0 a 5)
Michael Fassbender e Rebecca Ferguson são os protagonistas desta adaptação para o cinema da obra literária de Jo Nesbo (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)
Maristela Bretas
O escritor norueguês Jo Nesbo deve estar arrependido por ter aceitado a adaptação para o cinema do seu best-seller, "Boneco de Neve" ("The Snowman"), escrito em 2007, o sétimo de 11 títulos da série com o policial bêbado Harry Hole. O diretor sueco Tomas Alfredson soube explorar bem a fotografia com belas locações, uma boa trilha sonora e atores que desempenharam bem seus papéis - Michael Fassbender e Rebecca Ferguson, mas trabalhou com um roteiro capenga.
Três roteiristas fizeram o trabalho e não conseguiram chegar ao produto esperado, que deveria, ao menos, usar melhor o que o livro oferecia. Mas até o final de alguns personagens foi mudado, o que desagradou diversos fãs da obra. A história ficou uma colcha de retalhos mal costurada, com furos e pontos soltos em diversas sequências que deixam o público confuso, mesmo aqueles que não leram o livro.
Apesar de a fotografia ser um dos pontos fortes, "Boneco de Neve" tem pouca ação e a ambientação em montanhas cobertas de gelo, onde o branco e o cinza prevalecem, chega a causar tristeza e angústia. O boneco de neve que dá título ao filme é mal feito mas assustador, principalmente quando usado como parte das vítimas.
Michael Fassbender está bem, dentro do possível e do que as falas de seu personagem oferecem. Ele é Harry Hole, um policial que um dia foi modelo em solução de casos. Mas hoje vive bêbado, sem perspectiva, caído na sarjeta, separado da mulher e do filho e desacreditado pelos colegas de trabalho. Rebecca Ferguson também sofre com o roteiro fraco mas oferece boa atuação como a policial Katrine Bratt, parceira de Hole.
O público pode se assustar com Val Kilmer, que um dia foi um dos bonitões do cinema e está irreconhecível em "Boneco de Neve", no papel do ex-policial alcoólatra Gert Rafto. O elenco conta também como nome conhecidos como J.K. Simmons (como o milionário Arve Stap), Charlotte Gainsbourg (como Rakel Fauke, ex-mulher de Hole), Davide Dencik, Jonas Karlsson, James d´Arcy e Chloë Sevigny.
A ação se passa em Oslo, na Noruega. Harry Hole é um policial que foi um dos melhores da corporação mas que agora sofre com o alcoolismo. Ele começa a trabalhar com a nova parceira, a novata Katrine Braft na investigação do desaparecimento de uma série de mulheres.
O suspeito começa a enviar bilhetes para Harry com a imagem de um boneco de neve, que está sempre presente nos locais onde as vítimas são atacadas. Sem que Hole saiba, Katrine investiga também uma rede de prostituição de jovens que pode estar ligada a um grande empresário local. Uma pena que o roteiro cinematográfico não tenha conseguido seguir a mesma linha e causar o impacto do livro. Escrito há seis mãos, ele se perdeu e deixou passar a oportunidade de se tornar um dos grandes sucessos deste ano no gênero suspense policial. Entrou para a lista das opções de melhor ficar só com o livro.
Ficha técnica: Direção: Tomas Alfredson Produção: Universal Pictures / Working Title Films Distribuição: Universal Pictures Duração: 1h59 Gêneros: Suspense / Policial Países: Reino Unido / EUA / Noruega Classificação: 16 anos Nota: 3 (0 a 5)
Produção sul-coreana foi selecionada para a Sessão da Meia Noite do 70º festival de Cannes (Fotos: Divulgação)
Maristela Bretas
Violento e sanguinário do início ao fim, "A Vilã" (Ak-Nyeo" ou "The Villaines") assusta quem não está preparado para a carnificina mas tem uma boa história. O diretor Jung Byung-gil conduziu bem o drama da vida da personagem principal, desde a infância mostrada em flashbacks até a vingança na fase adulta. A matança generalizada desta produção sul-coreana faz com que expectador se sinta jogando o game "Doom", numa escala bem mais radical.
Esta nova modalidade de filme de ação, no entanto, ganhou destaque entre os críticos internacionais e foi um dos selecionados oficialmente para a Sessão da Meia-Noite do 70º Festival de Cannes. Feito em menos de quatro meses (de 18 de outubro de 2016 a 12 de fevereiro de 2017, "A Vilã" foi lançado primeiro na Coreia do Sul em junho último. As câmeras instaladas em pontos estratégicos - nos atores ou dublês, nas motos e carro -, colocam o expectador no mesmo plano da ação, seja na luta no início do filme (chega a dar tonteira) quanto nas perseguições com veículos. São sequências de ação frenéticas, com imagens que chegam quase a parecer reais, pouco vistas no cinema. Até a lente das câmeras ficam respingadas de tinta vermelha de sangue que espirra das vítimas.
"A Vilã" se desenrola na maior parte do tempo num ambiente sombrio, de pouca cor, que combina bem com a protagonista e nada mocinha Sook-hee, interpretada por Kim Ok-vin. Uma sul-coreana que além de bonita luta demais, mata demais e deixa muito coreano aos seus pés - literalmente. Nas principais sequências de ação ela dispensou o dublê. Também no elenco um dos famosos atores sul-coreanos do momento, Shin Ha-kyun (faz o papel do marido dela Joong-sang), além de Bang Sung-jun (namorado de Sook-hee) e Kim Seo-hyung (Kwon, chefe da agência de Inteligência Sul-coreana).
O filme conta a história de Sook-hee, uma menina treinada desde a infância para ser uma assassina sanguinária e vê uma chance de mudar sua vida ao ser recrutada por Kwon. Ela aceita um acordo de trabalho que a libertará do árduo ofício depois de dez anos de serviço. Com nova identidade, ela agora se chama Chae Yeon-soo, é uma atriz de teatro e tem uma filha. Mas mesmo depois de cumprir o prazo e recomeçar a trilhar uma rotina normal, a jovem tem seu passado descoberto com o aparecimento de dois homens. Para os apreciadores de filmes e games violentos, "A Vilã" pode surpreender e agradar bastante por seu estilo chuta, bate, corta, degola, decepa e coisas do gênero. E dá-lhe sangue jorrando.
Ficha técnica: Direção, roteiro, dialoguista: Jung Byung-gil Produção: Next Entertaiment World / Apeitda Production / Jung Byung-gil Films Distribuição: Paris Filmes Duração: 2h09 Gêneros: Ação / drama País: Coreia do Sul Classificação: 16 anos Nota: 3 (0 a 5)
Filme conta a amizade de um primatologista e um gorila, que é exposto a um experimento genético (Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação)
Da Redação
A Warner Bros. Pictures divulgou o primeiro trailer da aventura de ação "Rampage – Destruição Total", estrelada por Dwayne Johnson e dirigido por Brad Peyton, com história de Ryan Engle, baseado no jogo de videogame “Rampage”. O vídeo mostra o primatologista Davis Okoye (Johnson), um homem solitário que tem uma amizade inabalável com George, um gorila extremamente inteligente que está sob os seus cuidados desde que nasceu.
O contato com um experimento genético não autorizado transforma o gentil primata em uma criatura feroz e de tamanho descomunal. Para piorar as coisas, mutações similares também atingiram outros animais. Okoye se une a uma geneticista desacreditada, interpretada pela atriz indicada ao Oscar, Naomie Harris, para desenvolver um antídoto e tentar impedir uma catástrofe mundial e salvar George. No elenco estão ainda Malin Akerman (série de TV “Billions”), Jake Lacy (série de TV “Girls”), Joe Manganiello (série de TV “True Blood”), Jeffrey Dean Morgan (série de TV “The Walking Dead”), P.J. Byrne (“O Lobo De Wall Street”), Marley Shelton (“Presságios de um Crime”), Breanne Hill (“Terremoto – A Falha de San Andreas”), Jack Quaid (“Jogos Vorazes – Em Chamas”) e Matt Gerald (da série de TV “Demolidor”). ‘Rampage: Destruição Total’ está previsto para estrear no Brasil no dia 19 de abril de 2018.
Batman, Superman, Mulher Maravilha, Flash, Aquaman e Cyborg se juntam para defender o planeta contra um novo ataque alienígena (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)
Maristela Bretas
O entrosamento dos atores é muito bom, a história deixa a escuridão e os becos e ganha cor e espaços abertos, tem ação (muita ação) e todos os heróis fazem bem a lição de casa. E ainda tem piada, coisa comum nos filmes da Marvel que a DC começou a adotar para seus personagens nas produções cinematográficas. E deu certo. "Liga da Justiça" ("Justice League") é um bom filme, divertido, dinâmico, com ótimos efeitos visuais, um time de super-heróis que convence e agrada bem e uma ótima trilha sonora.
A produção também tem seu lado saudosista ao relembrar fatos das histórias dos quadrinhos, como a disputa entre Flash ou Superman de quem é o mais veloz. E alguns diálogos de situações de filmes passados, como Alfred lembrando Bruce Wayne o tempo em que os inimigos eram apenas pinguins. Os destaques ficam para as atuações de Gal Gadot como Diana Prince/Mulher Maravilha, Ezra Miller, no papel de Barry Allen/Flash, e Ben Affleck, o ainda Batman, que pode ser trocado nas próximas produções. Como "Liga da Justiça" começa de onde parou “Batman vs Superman: A Origem da Justiça”, aconselho assistir este primeiro para entender melhor a história de como começou a formação do grupo.
A produção que contou com duas direções - Zack Snyder, que se afastou por problemas pessoais, e Joss Whedon que entrou em seu lugar - surpreende, diverte e agrada. E já está sendo considerada por muitos (eu inclusive), muito melhor que “Batman vs Superman”. Deixa de lado o cenário sempre sombrio de Batman para ganhar as cores de Mulher Maravilha e Flash. O mundo submarino de Aquaman (Jason Momoa) deverá ser mais explorado no filme solo do herói, com estreia marcada para dezembro de 2018.
O filme tem a preocupação de explicar os novos integrantes da Liga da Justiça, de forma a colocá-los na história que vai unir o grupo. Mas às vezes fica confusa a passagem de um para outro. Só mesmo um filme sobre cada um, como ocorreu com as três principais estrelas - Batman, Superman (Henry Cavill) e MM, para entender melhor. No caso de Flash, a série de TV da Warner, é uma boa aula para quem não conhece este personagem do Universo DC. Mas não espere as mesmas características de Grant Gustin (o ator da série). Ezra Miller entrega um Flash bem diferente mas muito simpático, divertido e com uma conduta oposta a de seus colegas de lutas. Não tinha muita expectativa com Jason Momoa como Aquaman/Arthur Curry, mas ele agradou beeeeem, até mesmo como ator. O mais fraco de todos é Ray Fisher, que interpreta Cyborg/Victor Stone. Sozinho não é marcante, mas quando vai para a batalha com o grupo entrega o super-herói esperado e dá seu recado. O elenco conta ainda com Amy Adams como a repórter Lois Lane, agora uma quase viúva de Clark Kent/Superman, e Diane Lane no papel de Martha Kent, mãe de Clark.
O inimigo também não é maior dos vilões. Está mais para aquele ladrão de galinha que aproveita que o cachorro do sítio não está para fazer a festa, mas não sabe o que fazer quando ele volta. É assim com o Lobo da Estepe (interpretado por Ciaran Hinds). Foi só o Homem de Aço voltar para o bandido mostrar sua fraqueza. Não chega aos pés de Tanus, o terror dos mocinhos da Marvel, mas garante boas cenas de batalhas. Por sinal, o retorno de Superman também é bem surpreendente e dinâmico. A história começa a partir da morte de Superman e apresenta um Bruce Wayne/Batman cheio de culpa (o que não é novidade), investigando um novo possível ataque de alienígenas. Ao seu lado ele só tem o fiel mordomo Alfred (o ótimo Jeremy Irons) e Diana Prince/Mulher Maravilha. Para combater o inimigo que está chegando ele sai pelo mundo recrutando um time de meta-humanos, cada um com seu poder - Aquaman, Cyborg e Flash Vão se juntar às estrelas para tentar salvar a Terra do ataque do vilão de chifres e seus robôs voadores que se alimentam do medo das pessoas.
Enfim, a DC Comics conseguiu, pela segunda vez neste ano - a primeira foi com "Mulher Maravilha" - acertar o passo e entregar um bom filme. Resta saber se este formato vai persistir nas próximas produções previstas - "Mulher Maravilha 2" e "Aquaman". É esperar para ver. Para os mais afoitos, vale lembrar que "Liga da Justiça" tem duas cenas após o final, uma logo no início dos créditos, sem muita importância, e a outra, esta sim, no final de toda a lista, que faz a ligação com outras futuras produções.
Números da estreia A expectativa para a estreia era tanta que a Warner Bros. Pictures anunciou que "Liga da Justiça" bateu todos os recordes de bilheteria possíveis em sua estreia no Brasil, ocorrida dia 16. O longa arrecadou mais de R$ 13,1 milhões em seu primeiro dia em cartaz no país, números que o colocam, segundo a produtora, como o maior dia de abertura de cinema de todos os tempos no Brasil, batendo o antigo líder “Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2”. Esta arrecadação na estreia também coloca "Liga da Justiça" como o maior dia de abertura de um filme de super-heróis, ultrapassando “Capitão América: Guerra Civil”; maior dia de abertura histórica da Warner Bros. Pictures, que antes era liderada por “Batman vs Superman: A Origem da Justiça”; maior dia de abertura geral de 2017, na frente de “Velozes e Furiosos 8”.
Ficha técnica: Direção: Zack Snyder Produção: DC Comics / Warner Bros. Pictures Distribuição: Warner Bros. Pictures Brasil Duração: 2 horas Gêneros: Ação / Ficção País: EUA Classificação: 12 anos Nota: 4,2 (0 a 5)
Judi Dench e Ali Fazal interpretam o improvável casal de amigos na Inglaterra de 1887 (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)
Mirtes Helena Scalioni
Pelo menos duas curiosidades devem ser ressaltadas sobre "Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha". Primeira: esse não é o primeiro filme dirigido por Stephen Frears sobre titulares do trono da Grã-Bretanha. Em 2006, ele fez "A Rainha", com Helen Mirren, sobre as dúvidas e reações de Elizabeth II após a morte da Princesa Diana. Segunda: esse é o segundo filme onde Judi Dench interpreta a Rainha Victoria.
Em 1997, ela viveu uma monarca irritada e autoritária em "Sua Majestade, Mrs. Brown", sob a direção de John Madden. Vinte anos depois, a atriz retorna ao personagem, desta vez com uma Victoria mais cansada e enfastiada. Parece até uma obsessão, tanto do diretor quanto da atriz, ambos britânicos e súditos do trono.
Catalogado como comédia histórica, "Victoria e Abdul..." é quase isso. Adaptação do livro escrito pelo indiano Shrabani Basu, o filme conta a improvável amizade entre a monarca e um proletário indiano que foi, por acaso, designado para ir a Londres entregar uma importante medalha durante as comemorações do Jubileu de Ouro da Rainha no trono em 1887. Aos 24 anos, com algum atrevimento e muito carisma, o jovem conquista a confiança de Sua Majestade, quebrando protocolos e convenções e provocando a ira e a desconfiança da corte.
A crítica ao excesso de salamaleques e mimos à figura da Rainha e o choque de culturas entre uma Londres poderosa e uma Índia colonizada geram bons momentos, assim como a forma como o diretor escancara o ódio da nobreza quando Victoria exige, por exemplo, aprender o idioma do seu novo amigo e o nomeia seu "munshi" - professor.
Outro ponto positivo é o elenco. Da inigualável Judi Dench, que domina o longa com sua Victoria ranzinza, comilona e cansada, ao talentoso Ali Fazal, que deixa dúvidas ao fazer um Abdul Karim ora matreiro, ora humilde, passando por Eddie Izzard, o irritado e ciumento Bertie, filho da rainha, as interpretações são impecáveis. CLIQUE AQUI para ver a entrevista de atores e diretor sobre a produção. Destaque para Adeel Akhtar, ator que faz Mohammed, amigo mal humorado de Abdul que vai com ele para Londres, em cuja boca o diretor coloca todas as verdades sobre as injustiças e desigualdades da época.
Embora com alguns clichês, e apesar da obviedade a que a história vai levando o espectador, "Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha" é um filme bom de se ver. Poderia ser ainda mais profundo, apesar de comédia, mas deve cumprir seu papel de fazer rir. As situações são hilárias, até pelo exagero com que são mostradas. Tomara que sirva também para fazer pensar na eterna divisão de classes, burocracias e preconceitos. Aí sim, terá cumprido completamente o seu papel. Classificação: 10 anos Duração: 1h52
Pierre e Alex dividem a paixão pela mesma mulher - Flora - descoberta num site de relacionamento (Fotos: La Belle Company/Divulgação)
Maristela Bretas
Um é viúvo, aposentado, inconformado com a morte da esposa e que se isolou do mundo há dois anos. O outro, um jovem sem perspectiva que tenta ser escritor. No meio desta dupla, uma linda jovem, também sozinha, descoberta pelo primeiro num site de relacionamento da internet. O que poderia dar errado? Tudo. A começar pela quantidade de mentiras envolvendo todos eles, cada um com seu motivo.
É nesta troca de mensagens e perfis falsos que se desenrola a simpática comédia romântica francesa "Um Perfil Para Dois" ("Un Profil Pour Deux"), dirigida e roteirizada por Stéphane Robelin. Belas locações, ótima interpretação de Pierre Richard como o viúvo Pierre, e de Fanny Valette, no papel de Flora.
A trilha sonora não é marcante, mas proporciona alguns momentos especiais, principalmente as cenas de Pierre, com sua forma de amar à moda antiga, "do tipo que ainda manda flores". E como ele trata com carinho e filmes antigos as lembranças de seu grande amor do passado.
Ao mesmo tempo, sofre com a solidão da velhice e o abandono da família, exceto da filha Sylvie (Stéphane Bissot, muito engraçada no papel), que tenta controlá-lo. Já Yaniss Lespert, que faz Alex, está médio pra morto, sem sal e sem gás, nem parece um homem apaixonado. Até Stéphanie Crayencour, que faz Juliette, uma de suas namoradas e neta de Pierre, tem interpretação melhor. Mas não chega a comprometer a comédia. Na história, Pierre, após passar dois anos em isolamento, é convencido pela filha a contratar um professor para lhe ensinar como navegar na internet. Sylvie sugere Alex, namorado frustrado de sua filha que Pierre detesta mas não conhece. Os dois se entendem e após o viúvo aprender a arte da navegação, entra num site de relacionamento e usa a foto de Alex em seu perfil. E é por essa foto, o perfil romântico e solitário e o dom da palavra de Pierre que Flora se apaixona. Agora, Alex terá de se passar pelo aluno para conhecer pessoalmente a jovem. Um filme feito para distrair, bem conduzido, divertido e simpático que aborda, mesmo aprofundando pouco a questão da velhice (talvez pelo gênero escolhido). "Um Perfil Para Dois" também não é monótono ou cheio de mensagens de autoajuda e coisas do tipo. Vale a pena ser conferido.
Ficha técnica: Direção e roteiro: Stéphane Robelin Produção: Detailfilm / Panache Productions Distribuição: Paris Filmes Duração: 1h41 Gêneros: Comédia / Romance Países: França / Alemanha / Bélgica Classificação: 12 anos Nota: 3 (0 a 5)
A história se desenrola entre um preparo e outro de pratos da alta gastronomia (Fotos: Divulgação)
Maristela Bretas
Em sua segunda investida no cinema (a primeira foi "É Fada", de 2016), a atriz, vlogueira, apresentadora e escritora Kéfera Buchmann volta às telas com mais uma comédia, desta vez ao lado do veterano ator de novelas Cássio Gabus Mendes. A famosa vlogueira veio a Belo Horizonte na última terça-feira para o lançamento em sessão especial do filme "Gosto se Discute", que conta a história de uma auditora, Cristina Falcão (papel de Kéfera), enviada por um banco para salvar da falência o restaurante do chef Augusto (Cássio Gabus Mendes). Mas a presença dela desagrada tanto ao empresário quanto a seus funcionários.
A produção gastronômica é um deleite para os olhos, apresentando pratos maravilhosos e requintados, dignos de um restaurante de luxo que não abre mão da classe, da qualidade e do sabor. E são de dar água na boca, exceto para em clientes xucros que insistem em estragar a comida acrescentando uma porção de batata frita (que eu adoro mas não combina) e litros de ketchup.
Entre um jantar e outro, o restaurante vai perdendo sua freguesia para a comida rápida vendida no food truck estacionado em frente. O clima vai ficando pesado, com muitas brigas e cortes para equilibrar o orçamento. Cristina passa a cobrar de Augusto mais criatividade e cardápio novo para não fechar as portas. Para piorar as coisas, o estresse leva o chef a perder o paladar. Em compensação, à medida que passam mais tempo juntos, o envolvimento entre ele e Cristina vai crescendo.
Com roteiro e direção de André Pellenz. "Gosto se Discute" é uma comédia sem um público definido, mas recebeu classificação para 12 anos, o que torna a cena de sexo na bancada da cozinha dispensável, apesar de não ficar atrás de muitas que são oferecidas diariamente nas telenovelas. O elenco conta ainda com as participações de Paulo Miklos, Gabriel Godoy e Zéu Britto.
Ficha técnica: Direção e roteiro: André Pellenz Produção: Damasco Filmes Distribuição: Imagem Filmes Duração: 1h20 Gênero: Comédia País: Brasil Classificação: 12 anos
Filme de Fellipe Barbosa foi premiado como Revelação na Semana da Crítica do Festival de Cannes deste ano (Fotos: João Pedro Zappa e Caroline Abras/Divulgação)
Mirtes Helena Scalioni
O economista carioca Gabriel Buchmann foi encontrado morto em 2009, aos 28 anos, na África, depois de se perder na descida do Monte Mulange, no Malawi, local cercado de misticismo. Antes, ele tinha estado em outros lugares como o Quênia, a Tanzânia e Zâmbia, sempre em estreito contato com a população local, recusando-se a ser um turista típico como os demais. Era afetuoso e comilão e não hesitava em trocar os hotéis pelo desconforto das camas e mesas dos casebres dos amigos que fazia durante a viagem.
Apesar de ser um autêntico "mzungu" - homem branco no dialeto do Quênia - passou a se vestir com roupas coloridas e a calçar sandálias feitas de pneus. Seus últimos 70 dias de vida são contados pelo seu amigo, o cineasta Fellipe Barbosa, na produção franco-brasileira "Gabriel e a Montanha", premiado como Revelação na Semana da Crítica do Festival de Cannes deste ano.
Quem assiste ao filme pode sair do cinema repleto de dúvidas: que homem é esse e o que pretendia da vida? Trata-se de um típico jovem da classe média alta, egoísta arrogante e teimoso? Ou apenas um aventureiro irresponsável que não se negava a enfrentar desafios por mais impossíveis que eles parecessem?
E mais: o que ele fazia naquele lugar inóspito e exótico, no meio da miséria? Estava simplesmente brincando de pobre antes de se encastelar num escritório luxuoso da Califórnia? Tinha, realmente, preocupações sociais? Ou ainda: por que se embrenhou pela África para pesquisar "políticas públicas em um país em desenvolvimento" se poderia ter feito isso no Brasil, onde se formou em Economia?
Mas, talvez resida aí, na dúvida, o encanto e a mágica do filme. O jovem Gabriel - de forma natural e convincente interpretado por João Pedro Zappa (que fez o personagem Serginho, filho do delegado torturador na série "Os dias eram assim", da TV Globo) - é limitado e contraditório como todo ser humano. É preciso destacar a presença certeira de Caroline Abras no papel de Cris, a namorada brasileira que passa uns tempos com ele na África. Os conflitos que surgem entre os dois podem ser reveladores da personalidade do protagonista. O que o longa ressalta, o que fica claro, é o carinho e a honestidade com que ele foi feito, intercalando a ficção com depoimentos de gente que conviveu com Gabriel nos seus últimos dois meses de vida - amigos, guias, caminhoneiros... Importante dizer que essas pessoas atuam fazendo o papel delas mesmas, ora dialogando com o ator, ora contando suas experiências com o economista. Esse jeito híbrido de fazer cinema comove e confere ao trabalho uma aura de dignidade, respeito e integridade. E enche a história de afeto. Classificação: 12 anos
Produção tem grande elenco formado por Idris Elba, Kate Winslet e Beau Bridges (Fotos: Fox Film/ Divulgação)
Maristela Bretas
Uma fotografia belíssima, locações bem escolhidas entre geleiras e uma dupla de atores premiada e com público garantido. "Depois Daquela Montanha" ("The Mountain Between Us") seria um dos grandes romances do ano. A história é interessante e as cenas de ação bem feitas, principalmente a do acidente aéreo, com a câmera alternando a posição de visualização da frente para a traseira do avião e vice-versa. Kate Winslet e Idris Elba fazem ótima interpretação de seus personagens, como era esperado, mas a química entre os dois não funcionou, "não tem pegada", é morna, sem calor, quase dois estranhos do início ao fim.
Se fossem papéis isolados, sem formarem o par romântico vivendo uma situação de risco, com certeza a produção daria muito mais certo. A história é boa, vale ir ao cinema só pela presença dos dois atores, que ainda contam com o apoio de Beau Bridges e Dermot Mulroney no elenco. Mas o diretor não conseguiu extrair bem o lado emotivo do enredo. Quando estão juntos, a emoção não convence, menos ainda ao romântico.
Num aeroporto, a fotógrafa Alex (Kate Winslet) fica conhecendo o neurocirurgião Ben (Idris Elba) e ambos precisam chegar a seus destinos - ela vai se casar e ele está voltando de um congresso médico -, mas todos os voos estão cancelados devido a uma forte tempestade. A dupla aluga um pequeno avião, pilotado por Walter (Beau Bridges), que sofre uma parada cardíaca e acaba derrubando a aeronave numa região montanhosa deserta, coberta de neve. Feridos, Alex e Ben terão de se unir para sobreviverem e escaparem do local e seus perigos. Ao mesmo tempo começam a se interessar um pelo outro.
Além dos três atores, destaque para um participante muito simpático e essencial à história, o cachorro (sem nome definido), da raça Labrador (tipicamente americano). Pode neve, tempestade, avião, e ele se mantém lá, sobrevivendo, firme, forte e protetor.
Fora a questão amorosa, "Depois Daquela Montanha" oferece um visual invejável, de montanhas cobertas de neve, uma imensidão branca que chega a dar medo. Mas ao mesmo tempo atrai, principalmente nas cenas em que Idris Elba está no alto de um dos rochedos procurando ajuda. A trilha sonora também atende bem. Não foi dos melhores filmes de Idris Elba e Kate Winslet, esperava mais, mas não decepciona de todo.
Ficha técnica: Direção: Hany Abu-Assad Produção: Fox 2000 Pictures / Chernin Entertainment Distribuição: Fox Film do Brasil Duração: 1h47 Gêneros: Drama / Ação / Romance País: EUA Classificação: 12 anos Nota: 3 (0 a 5)
Produção seria baseada em fatos reais de um ritual praticado no século XIX (Fotos: Splendid Film GmbH/Divulgação)
Maristela Bretas
Fraco, sem enredo, atores de atuação questionável, pobre de imagens (uma delas é usada três vezes e não representa nada em nenhuma delas). Enfim, o filme de terror russo "A Noiva" ("Nevesta") é esquecível e marca um início muito ruim do diretor e roteirista Svyatoslav Podgayevskiy. Isso sem falar na dublagem de um filme russo para o inglês com legendas em português, um desencontro total. Pior que telenovela venezuelana.
Se o trabalho do chefe não foi bom, mesmo tendo bom material para explorar, uma vez que foi baseado em fatos reais ocorridos na Rússia, imagine o do elenco, que deixou muito a desejar em interpretação, principalmente o casal principal - Vyacheslav Chepurchenko (que faz o noivo Ivan) e Victoria Agalakova, no papel de Nastya, a noiva escolhida.
Que sofrência ficar no cinema até o final. O que era para ser um terror, se tornou um martírio de lentidão, com pouco suspense e história sem sentido. Nem mesmo o ambiente sombrio ajudou nos sustos, que não acontecem. Só aumentou o sono. Num ano em que o gênero terror apresentou ótimas produções como "It - A Coisa" e "Annabelle 2", colocar nas telas um longa como "A Noiva" é uma estratégia decepcionante. Há até uma expectativa de que o final possa trazer surpresas, mas nada acontece.
Com história confusa, sem impacto e sem ritmo, o filme trata de um ritual macabro praticado no século XIX. Na época acreditava-se que fazendo a fotografia da pessoa morta, a alma seria preservada. E que bastaria usar o corpo de uma virgem num ritual macabro para que a falecida voltasse. Foi pensando nisso que o fotógrafo de mortos resolveu seguir os costumes para tentar reviver sua falecida esposa.
Mas no lugar da morta veio uma entidade que passou a perseguir por várias gerações a família do tal fotógrafo. Na última, já nos dias atuais, um dos herdeiros se recusa a ceder a noiva para hospedar a tal entidade do mal, o que desagrada à família que teme ser punida por não entregar uma vítima para o sacrifício (isso me lembra "King Kong" e "A Múmia"). E só, é essa água morna até o final dos 93 minutos de duração.
Como gosto não se discute, o diretor com certeza ficou feliz por "A Noiva" ter atingido um ótimo público na Rússia. E ainda poderá ganhar uma versão americana sob a direção dos irmãos Chad e Carey Hayes, os mesmos dos dois filmes de "Invocação do Mal". Tomara que este remake seja bem melhor que o original e contar a história como deve. Ou pelo menos oferecer bons efeitos visuais para compensar.
Ficha técnica: Direção e roteiro: Svyatoslav Podgayevskiy Distribuição: Paris Filmes Duração: 1h33 Gênero: Terror País: Rússia Classificação: 16 anos Nota: 1,5 (0 a 5)