31 dezembro 2017

Comédia "Fala Sério, Mãe!" é a química certa entre mãe e filha

Larissa Manoela e Ingrid Guimarães vivem situações bem engraçadas e cotidianas (Fotos: Globo Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas


Uma boa pedida é assistir a comédia "Fala Sério, Mãe!", que reúne em seu elenco principal as atrizes Ingrid Guimarães e Larissa Manoela num entrosamento perfeito, quase como se fossem mãe e filha na vida real. Adaptação do best-seller homônimo da escritora Thalita Rebouças (que faz uma ponta), o filme dirigido por Pedro Vasconcelos reproduz momentos que vão trazer lembranças a muitas mães, filhas e filhos, inclusive aquelas mais "constrangedoras".

Uma história com princípio, meio e um fim que cada um vai escrever do seu jeito, sem esquecer que cada momento valeu a pena. Ingrid Guimarães está excelente como Ângela Cristina, mulher de sucesso, bem casada e que realiza o grande sonho de ser mãe. Ela está muito divertida, com ótimas tiradas e criando situações de fazer qualquer filho esconder debaixo do móvel da sala de vergonha. Um dos bons momentos é a cena com o ator Paulo Gustavo, em rápida aparição do ator interpretando ele mesmo num comercial.

A atriz de "De Pernas pro Ar 1 e 2" (2010 e 2012), "Um Namorado Para Minha Mulher" (2016) e "Loucas Pra Casar" (2015) está cada vez melhor como comediante. Na primeira parte do filme, seu personagem é uma mulher que muda sua vida em função dos filhos e quer todos eles debaixo de suas asas eternamente. Uma mãe quase neurótica de tão super protetora, que compra briga, discute na escola, pega pesado com a educação e faz os filhos pagarem mico na frente dos amigos. Só quem é mãe sabe bem o que é isso.

Já na segunda parte de "Fala Sério, Mãe!" a comédia ganha nova cara e Ingrid passa a contracenar com Larissa Manoela, no papel de Maria de Lourdes, a Malu, a filha mais velha adolescente, motivo de noites mal dormidas e das situações mais engraçadas e também sofridas. O público sente de imediato a química entre as duas atrizes. Entre brigas e abraços, choros e risos, as duas mostram uma relação de mãe e filha que convence, ensina e faz pensar em como pode ser forte e duradoura esta ligação.

A jovem Larissa Manoela vem mostrando um bom crescimento profissional. A atriz interpretou a insuportável e marcante Maria Joaquina na novela infantil "Carrossel", do SBT, que foi lançada para o cinema como "Carrossel - O Filme" (2015) e no ano seguinte a sequência "Carrossel 2 - O Sumiço de Maria Joaquina" (2016). Naquela época formou uma legião de fãs a cada aparição e vem demonstrando potencial de interpretação desde então, transformando-se numa das estrelas teen do momento. Esta é a segunda produção da jovem como protagonista em 2017 - a primeira foi "Meus 15 Anos", lançada em julho e agora a consagração com "Fala Sério, Mãe!", expressão que a personagem Malu usa com frequência em diversas situações com Ângela.

E as duas vão vivendo e criando as mais diversas situações ao longo do roteiro, que não foge da obra literária original e teve o acompanhamento direto da autora. Ficaram muito engraçadas as cenas de Ângela passando de mãezona conservadora a melhor amiga de Malu, os ciúmes e as preocupações com o primeiro namorado da filha (e tudo o que vem junto), as saídas e excursões com os amigos e amigas. Enfim, os medos, separações e expectativas de toda mãe ao ver os filhos crescerem e ganharem o mundo. Malu também está num momento de transição, com suas insatisfações e lutando para conquistar seu espaço enquanto amadurece, enquanto inverte os papéis e se torna a protetora e conselheira da mãe.

O elenco conta ainda com Marcelo Laham, bem engraçado como Armando, marido de Ângela e pai de Malu, Cristina Pereira (como dona Fátima) e João Guilherme Ávila, o Nando, amigo de Malu. Até o cantor Fábio Júnior dá uma "palhinha" interpretando um de seus grandes sucessos - "20 e Poucos Anos" (1999) - que tem tudo a ver com a história e digno de uma mãe tiete. Recomendo "Fala Sério, Mãe!" para ser curtido por mãe e filha juntas, numa sessão à tarde, com direito a boas lembranças, pipoca e boas risadas durante todo o filme. Uma boa produção nacional da Camisa Listrada, empresa que começou em Belo Horizonte e é responsável também por sucessos como "O Menino no Espelho" (2014), "O Candidato Honesto" (2014) e "Um Suburbano Sortudo" (2016).



Ficha técnica:
Direção: Pedro Vasconcelos
Produção: Camisa Listrada / Focus Entretenimento / Fox International Productions / Telecine Productions / Globo Filmes
Distribuição: Downtown Filmes / Paris Filmes
Duração: 1h19
Gêneros: Comédia Nacional / Família
País: Brasil
Classificação: 10 anos
Nota: 3,8 (0 a 5)

Tags:@falaseriomaeofilmeoficial, @lmanoelaoficial, @ingridguimaraesoficial, @thalitareboucas, @camisalistrada#comedianacional, #familia, @dtfilmesbr, @ParisFilmesBR, @espacoz, @cinemas.cineart, @cinemanoescurinho

27 dezembro 2017

"O Rei do Show" tem boas atuações e trilha sonora emocionante mas repetitiva


Cenas do musical são bem feitas, muita cor e a presença marcante de Hugh Jackman no papel principal  (Fotos: 20th Century Fox / Divulgação)

Maristela Bretas


Hugh Jackman está de volta em mais um musical e repete outra uma grande atuação em "O Rei do Show" ("The Greatest Showman"), que conta a história de P.T. Barnum, um dos empresários norte-americanos mais polêmicos do mundo do entretenimento que viveu de 1810 a 1891. Numa versão bem romanceada da história deste ganancioso aproveitador das deficiências físicas como elenco de seu espetáculo, o filme é bem conduzido. 


O diretor Michael Gracey soube explorar o lado visionário do famoso showman, que marcou seu nome no show business "por fazer a diferença e não se conformar em ser igual ao resto", como costumava dizer. 
No elenco bizarro de Barnum, o mérito maior fica para Keala Settle, a Mulher Barbada, que se destaca pela interpretação e voz. Outras duas ótimas atrizes dividem a atenção do galã - Rebecca Ferguson, que precisou de dubladora para interpretar a cantora Jenny Lind, chamada de "Rouxinol Sueco", e Michelle Williams, que até tentou, mas sua voz não segurou nas cenas musicais de sua personagem, Charity Barnum.


Enquanto Jackman é disputado por duas mulheres (por motivos óbvios), Zac Efron, no papel de Phillip Carlyle, sócio de Barnum, e a cantora/atriz/dançarina/modelo Zendaya, como a trapezista Anne Wheeler, formam um casal sem química, salvo por uma das mais belas cenas do filme, quando interpretam a linda canção "Rewrite the Stars".

E a trilha sonora é digna de premiação, com belas canções de Benj Pasek e Justin Paul e arranjo impecável. Encanta e emociona, especialmente "The Greatest Show" (música-tema) e "Never Enough" (interpretada com perfeição por Loren Allred, dubladora de Ferguson). O único pecado foi a repetição excessiva de algumas delas. Mas por serem tão boas, dá para relevar. Também o figurino e reprodução de época foram bem trabalhados.

A história se passa no século XVIII, contando a trajetória de Phineas Taylor Barnum, mais tarde conhecido como P.T. Barnum, um jovem de origem humilde, filho de alfaiate, que se apaixona pela filha de um dos clientes. Ambicioso, traça como objetivo na vida casar com a jovem e se tornar rico e famoso, custe o que custar. Mesmo que com isso precise usar e explorar a deficiência de pessoas rejeitadas pela sociedade para montar seu Museu de Curiosidades, que depois se transformou num grande circo de bizarrices. 


Considerado pela crítica uma fraude e chamado de "O Príncipe do Embuste", Barnum usa isso para atrair centenas de pessoas para seu show. Por ambição, em troca de fama e reconhecimento pelos ricos, decide promover uma turnê pelos EUA da cantora Jenny Lind e abandona todos aqueles que o apoiavam, inclusive sua família. Mas os rumos da vida vão ensinar-lhe duras lições. 

No mundo do show business P.T. Barnum é lembrado por promover as mais famosas fraudes e por fundar o circo que viria a se tornar o Ringling Bros. and Barnum & Bailey Circus, em Nova York.



Ficha técnica:
Direção: Michael Gracey
Produção: 20th Century Fox
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 1h45
Gêneros: Musical / Drama
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

Tags: #OReidoShow, @RealHughJackman, #PTBarnum, @RebeccaFerguson, @MichelleWilliams, @ZacEfron, @Zendaya, #musical, #drama, @FoxFilmdoBrasil, @cinemas.cineart, @espaçoz, @cinemanoescurinho

23 dezembro 2017

Atrapalhados e divertidos, Tadeo e seus amigos tentam desvendar "O Segredo do Rei Midas"

Cenas mais engraçadas ficam por conta do herói e da velha amiga Múmia, que reaparece nesta segunda aventura (Fotos: Paramount Pictures/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


A aventura continua e neste caso, assistir ao primeiro filme ajuda bastante a conhecer melhor quem é Tadeo Jones (na versão dublada ele se chama Tadeo Stones), o atrapalhado pedreiro que sonha em ser arqueólogo e sempre se mete em confusões. Ele está de volta em "As Aventuras de Tadeo 2: O Segredo do Rei Midas" ("Tadeo Jones 2: El secreto del Rey Midas"), em cartaz nos cinemas para divertir nestas férias a garotada acima de cinco anos, que vai entender e aproveitar melhor o filme.

A animação espanhola segue a linha do filme anterior - "As Aventuras de Tadeo" -, com uma história simples, sem oferecer nada além de diversão e trapalhadas do herói. O filme é bem colorido, com boas reproduções dos locais onde a aventura acontece e os personagens conseguem ganhar a simpatia do público infantil. 

Usando um chapéu estilo Indiana Jones e adotando o sobrenome do famoso herói interpretado por Harrison Ford na versão original, o jovem Tadeo volta a trabalhar em uma obra e continua sonhando com grandes descobertas. 
A nova aventura começa em Las Vegas após um convite da arqueóloga Sara Lavrof, sua grande paixão. Ele irá acompanhar a apresentação do papiro que pode indicar onde estaria escondido o colar de Midas, pertencente ao rei que transformava tudo o que tocava em ouro. 

Prestes a viajar, Tadeo é surpreendido por uma visita inesperada e louca por água – tanto que bebe tudo o que vê pela frente. Múmia, velha conhecida da aventura passada, conta a ele o que aconteceu desde o último encontro. Para piorar, durante o evento, Sara é raptada pelo vilão Jack Rackham. O aspirante a arqueólogo parte a sua procura, tendo como ajudantes seu fiel cão Jeff, a estagiária Tiffany, Belzoni (o papagaio mudo de Sara) e a destrambelhada e desidratada Múmia, que garante as cenas mais engraçadas da animação, principalmente quando usa fantasias.




Ficha técnica:
Direção: Enrique Gato
Produção: Telecinco Cinema
Distribuição: Paramount Pictures
Duração: 1h26
Gêneros: Animação / Comédia / Aventura
País: Espanha
Classificação: Livre
Nota: 3 (0 a 5)

Tags: #AsAventurasdeTadeo2OSegredodoReiMidas, @EnriqueGato, #animação, #comedia, #aventura, @ParamountPictures, @cinemas.cineart, @espaçoZ, @cinemanoescurinho

21 dezembro 2017

“Star Wars VIII – Os Últimos Jedi” traz equilíbrio à Força com um roteiro que vai além do óbvio

Segundo filme da terceira trilogia traz grandes batalhas e explora o lado emocional dos personagens (Fotos: Lucasfilm/Divulgação)


Caro leitor, você deve estar estranhando o porquê desta crítica de “Star Wars VIII – Os Últimos Jedi” ter saído exatamente uma semana após o lançamento da película em todo mundo. Acontece que nós, do Escurinho no Cinema, temos certa admiração por toda a franquia idealizada por George Lucas, que agora tem a Disney por trás. Portanto, optamos por esperar o “hype” passar um pouco para não deixarmos que nossa opinião fosse impactada pelo lado “fanboy”. Neste meio tempo, o filme foi visto ao menos quatro vezes pelos autores em questão. Não sabemos se conseguimos ou não entregar uma opinião um tanto quanto menos “viciada”. Porém, temos a certeza que ela mudou, e muito, com o passar dos dias. Que a Força esteja com você.



Wallace Graciano e Maristela Bretas


Quando lançado em 2015, “Star Wars VII – O Despertar da Força” trouxe aos fãs da saga memórias afetivas que estavam outrora guardadas. À época, a Disney teve como grande mérito dosar a nostalgia que seria necessária para convidar os fãs para uma nova trilogia, com o impacto imediato para quem passava a acompanhar a trama. Agora, em “Star Wars VIII – Os Últimos Jedi”, a companhia acerta em cheio ao dar um caráter autêntico à franquia.


Ainda que carregado de referências aos precursores (inclusive spin offs), “Os Últimos Jedi” tem em seu roteiro quebras de paradigmas que impactam os fãs, mexendo em suas memórias afetivas. Ao contrário do lado etéreo e heroico dado nas últimas narrativas, nos quais os personagens se mostram menos estratégicos e mais altivos, desta vez as virtudes e fraquezas de cada um são bem desenvolvidas ao longo das duas horas e meia de duração. A trama reforça a abordagem da disputa política pelo domínio da galáxia como nos filmes anteriores, acrescentando o jogo de interesses que o negócio da guerra representa.

O Episódio VIII começa exatamente na interrupção de seu antecessor. Enquanto Rey (Daisy Ridley) busca quebrar a barreira montada por Luke Skywalker (Mark Hamill) e desenvolver sua relação com a Força, a general Leia Organa (a saudosa Carrie Fisher), Finn (John Boyega) e Poe Dameron (Oscar Isaac) tentam manter a fagulha de esperança da Resistência com o auxílio, principalmente, da vice-almirante Holdo (Laura Dern) e da carismática Rose (Kelly Marie Tran).

Sem muito poder combativo, a Resistência traça estratégias paralelas para conter a supremacia da Primeira Ordem, que também vive seus conflitos internos enquanto tenta dizimar a rebelião. Nesse ponto, um parêntese para o ótimo desenvolvimento do General Hux (Domhnall Gleeson) e, principalmente, de Kylo Ren (Adam Driver), uma vez que o lado antagonista fica em segundo plano para a briga de egos entre os personagens e para as chagas do passado que ainda atormentam o filho de Han Solo e Leia Organa.

De pecado, apenas a aparição aquém do esperado do líder supremo “Snoke” (Andy Serkis), deixando inúmeras perguntas e lacunas que precisam ser preenchidas para não comprometerem todo o desenvolvimento da Primeira Ordem como lado antagônico da série. Um personagem fraco, sem impacto para o poder que representava, ao contrário do imperador Palpatine, que dividiu de maneira excelente a vilania com o eterno Darth Vader.


A esse roteiro, soma-se a beleza plástica de toda a série, que leva ao público muito mais que efeitos visuais quase impecáveis, o que já seria esperado da Disney. A dualidade da sombra e da luz nos personagens (em especial Kylo Ren) e a estética dos movimentos nos cenários, principalmente no meio do deserto de sal, reforçam o quão bem trabalhado foi o lado técnico desta nova trama.


“Star Wars VIII – Os Últimos Jedi” tem como grande mérito ser um soco no estômago de quem esperava mais do mesmo da trama. A película tira o fã da série de sua zona de conforto e traz, talvez, o final mais sufocante de toda a franquia, com cerca de 40 minutos de encerramento em alta adrenalina e emoção. Especialmente no reencontro de Leia e Luke. Fica aquela sensação de despedida que ninguém poderia imaginar que seria definitiva. É uma viagem impactante à galáxia tão, tão distante, ao som sempre arrepiante música de abertura de John Williams.

A saga continua

O oitavo filme da franquia é "Star Wars de raiz" - remete ao passado, homenageia seus heróis e vilões, e deixa aberta a possibilidade do surgimento de uma nova geração, como aconteceu com Anakin e Luke Skywalker. O nono e último episódio desta trilogia, já foi anunciado para o final de 2019 pela Disney e J.J. Abrams, ainda sem título. Além do spin off "Solo: Uma História Star Wars" sobre a origem do personagem Han Solo, que será interpretado por Alden Ehrenreich (de "Ave, Cesar" - 2016), com lançamento previsto para 24 de maio de 2018.


GALERIA DE FOTOS

A quarta trilogia, anunciada em novembro pelos estúdios, ainda não tem data de lançamento. O diretor Rian Johnson, de "Os Últimos Jedi" será responsável pela produções, além de dirigir e escrever o primeiro filme. A saga será separada da principal, sem a família Skywalker, e contará com novos personagens, em outros cantos da galáxia.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Rian Johnson
Produção: Walt Disney Pictures / Lucasfilm Ltda / Ram Bergman Productions
Distribuição: Disney/Buena Vista
Duração: 2h32
Gêneros: Ficção científica / Ação
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 4.8 (0 a 5)

Tags: #StarWarsOsUltimosJedi, #StarWars, #Rey, #KiloRen, #Leia, #LukeSkywalker, @DaisyRidley, @JohnBoyega, @OscarIsaac, @AdamDriver, #CarrieFisher, @MarkHamill, @LauraDern, @BenícioDelToro,@KellyMarieTran, @RianJohnson, @Disney, @Lucasfilm, @cinemas.cineart, @cinemanoescurinho

18 dezembro 2017

"Assim é a Vida", uma comédia de classe com humor fino e inteligente

Jean-Pierre Bacri e todo o elenco apresentam boas interpretações que não deixam o filme cair no estilo pastelão (Fotos: Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Para início de conversa, é muito difícil entender o que faz um tradutor forçar a barra ao ponto de transformar "Le sens de la fête" em "Assim é a Vida". Foi isso que aconteceu com o longa dirigido por Eric Toledano e Olivier Natache, responsáveis pelos ótimos "Os Intocáveis" e "Samba", ambos de sucesso. Com um título desses, mais parecido com nome de bolero antigo, fica quase impossível para o público imaginar que não se trata de nenhum dramalhão, mas sim de uma deliciosa comédia dramática que nada tem a ver com o título.

Apesar de alguns clichês, o filme tem um humor fino e inteligente que, ao final das contas, faz uma crítica veemente aos abusos cometidos por casais na produção de suas festas de casamento. Pelo jeito, não é só no Brasil que os matrimônios viraram eventos de superprodução, com detalhes e exageros que beiram a cafonice. Na França também é assim. Na ânsia de ser granfina, muitas dessas festas perdem o sentido de celebração para ganhar pompas impessoais dignas de um show de rock. Não é à toa que o nome do filme em francês se refere ao "sentido da festa".

Além de dirigirem, Eric Toledano e Olivier Natache criaram um roteiro criativo: promotor de festas e eventos há mais de 30 anos, Max (Jean-Pierre Bacri) está vivendo um momento particularmente difícil na vida, ao mesmo tempo em que organiza uma megafesta de casamento que vai acontecer num majestoso castelo do século XVII, onde os garçons devem ir vestidos de lacaios do rei. Casado, e vivendo um romance com uma colega de trabalho (Suzanne Clèment), ele não sabe como resolver sua vida afetiva e sofre com isso.

Mas não é só ele. No desenrolar do filme, o espectador vai descobrindo que cada um da equipe que Max contratou para a festa carrega seu pequeno drama particular, alguns bizarros. Do fotógrafo solitário e comilão, que não se conforma de estar perdendo espaço para os celulares cada vez mais potentes, ao garçom apaixonado pela noiva, passando pelo músico vaidoso e uma assistente sempre disposta aos palavrões e agressões, o grupo contratado por Max bem que poderia fazer com que o filme caísse no pastelão e na fanfarronice. Mas não é isso que acontece.

"Assim é a vida", talvez pela direção e atuações comedidas, não descamba para o exagero. Pelo contrário, mantém a classe de filme francês, embora, de vez em quando caia em uma ou outra situação que lembra as manjadas comédias românticas americanas, cujo compromisso com o real beira o zero. Jean-Pierre Bacri como Max, Gilles Lellouche como o músico egocêntrico e canastrão, Eye Haidara como a assistente Adèle - de estopim curto -, Benjamin Lavernhe como o noivo prepotente e sem noção e todos os demais fazem o que deve ser feito, sempre na medida. 

As vaidades individuais em detrimento do funcionamento perfeito do todo e a ideia de que o simples pode ser mais bonito e chique do que o pomposo são algumas das lições que podem ficar do filme. 
Classificação: 12 anos // Duração: 1h57



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11 dezembro 2017

Kenneth Branagh entrega um "Assassinato no Expresso do Oriente" fiel à obra de Agatha Christie

Elenco de peso, fotografia e figurino foram os pontos principais desta versão cinematográfica adaptada do romance homônimo (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Maristela Bretas


Agatha Christie é e sempre será uma referência na literatura como romancista policial. E não menos o personagem mais famoso de seus livros, o detetive Hercule Poirot, que ganha ótima interpretação de Kenneth Branagh na nova versão adaptada para o cinema de "Assassinato no Expresso do Oriente" ("Murder on the Orient Express"), também dirigida por ele. O filme consegue captar bem o universo da famosa escritora, com seus personagens, inclusive os mais jovens, entregando boas atuações em papéis recheados de sutilezas e mistério. 

Digno da obra da autora britânica lançada em 1934. Além de Branagh, destaque para Michelle Pfeiffer, Josh Gad, Williem Dafoe, Penélope Cruz, Judi Dench e Daisy Ridley ("Star Wars Episódios VII e VIII"). Johnny Depp deixa seu lado Jack Sparrow, da franquia "Piratas do Caribe", e compõe um personagem marcante e essencial no enredo.

Além das boas interpretações, "Assassinato no Expresso do Oriente" apresenta uma bela fotografia, principalmente por usar locações em regiões cobertas pela neve. Além do próprio trem onde acontece quase toda a ação. O Expresso do Oriente, que começou a circular em 1883, ligando Paris a Istambul, durante décadas foi sinônimo de luxo e glamour, destinado aos mais abastados. Fotografia e figurino, numa excelente reprodução de época, também chamam a atenção na produção.


O ritmo fica lento em algumas partes do filme por causa da forma detalhista como o famoso detetive belga conduz a investigação, que induz a todo o momento um novo suspeito. Tudo começa quando Hercule Poirot embarca de última hora no trem Expresso do Oriente, partindo de Istambul, a convite do amigo Bouc (Tom Bateman), que coordena a viagem. A bordo, ele conhece os demais passageiros, entre eles o gângster Edward Ratchett (Johnny Depp), que deseja contratá-lo para ser seu segurança particular.

Durante a madrugada, um dos passageiros é morto em seu aposento no vagão, sem que ninguém percebesse qualquer anormalidade. Em seguida, um deslizamento de neve cobre os trilhos, impedindo a continuação da viagem. Isso que dará tempo para que Poirot use suas habilidades para investigar os suspeitos, todos um com um passado nebuloso, e desvendar o crime cometido.

Bem apresentado, fiel ao livro na maior parte dos detalhes, mas com toques bem interessantes do diretor com a trama sendo mostrada por diversos ângulos, dentro e fora dos vagões. Uma boa sacada de Branagh na cena em que Poirot reúne os 13 suspeitos na entrada de um túnel, que remete para um famoso quadro de Leonardo Da Vinci. Difícil não reconhecer. "Assassinato no Expresso do Oriente" é um filme que vale a pena ver, principalmente por quem conhece a obra de Agatha Christie. Não vai se decepcionar.



Ficha técnica:
Direção: Kenneth Branagh
Produção: 20th Century Fox
Distribuição: Fox Film do Brasil / Scott Free Productions
Duração: 1h49
Gêneros: Suspense / Romance Policial
País: EUA
Classificação: 10 anos
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #AssassinatonoExpressodoOriente, #AgathaChristie,
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07 dezembro 2017

"Extraordinário", uma lição de vida que sacode os sentimentos

Depois de "O Quarto de Jack", o jovem Jacob Tremblay brilha novamente no papel do cativante Auggie Pulmann (Fotos: Lionsgate Films/Divulgação)

Maristela Bretas


Poderia ser simplesmente mais um filme meloso, sobre uma criança com uma deformidade facial que sofre bullying na escola. Mas "Extraordinário" ("Wonder") foi muito além e dá uma sacudida nas emoções. Ele faz a gente rir, chorar, ficar com raiva quando o garoto é ameaçado e ao mesmo tempo sentir orgulho, pela forma como ele enfrenta o mundo preconceituoso. O filme estreia nesta quinta-feira nos cinemas e vale muito a pena ser visto. por pais e filhos juntos. 

O filme é baseado no best-seller mundial homônimo, da escritora R.J. Palacio. O livro narra, com algumas alterações a história verdadeira do menino August Pullman, que nasceu com uma síndrome genética que lhe causou deformidade facial. Mesmo após passar por 27 cirurgias plásticas que lhe permitiram ouvir, enxergar e falar melhor, ele ainda sofre com o preconceito. Para muitos, essa história já faria desistir de ver o filme ou ler o livro. 

Grande engano. O resultado dessa jornada de superações é capaz de mexer com a emoção de muita gente. E a escolha do jovem Jacob Tremblay, de "O Quarto de Jack", foi muito acertada para o papel de Auggie (como August era chamado pelos pais e amigos), que contou com uma maquiagem surpreendente. Ele está excelente e conta ainda com pais de renome ao seu lado - Julia Roberts (sempre ótima, como Isabel, a mãe superprotetora que não quer ver o filho sofrer) e Owen Wilson (no papel de Nate, o pai alegre, boa praça, divertido e que sempre tenta mostrar o lado bom da vida para o filho).

A jovem Izabela Vidovic, que interpreta Via, irmã de Auggie também entrega uma boa interpretação, como a adolescente que ama o irmão, mas sofre por receber menos atenção dos pais por causa da doença dele. Sônia Braga, apesar de constar no cartaz brasileiro como forma de atrair público, faz apenas uma ponta como avó de Auggie e Via. O elenco mirim também cumpre bem o seu papel tanto os que criticam e humilham Auggie quanto os que se tornam seus amigos, especialmente Jack Will, interpretado por Noah Jupe. Até a cachorrinha Dayse merece destaque.

Auggie é um menino especial em todos os sentidos: divertido, sensível, inteligente, amoroso, criativo e fã de "Star Wars". Os personagens da saga são seus maiores aliados nos momentos difíceis do mundo real, principalmente Chewbacca, o defensor das horas de aperto. O capacete de astronauta é sua armadura para enfrentar o mundo, já que impede que as pessoas vejam seu rosto coberto de cicatrizes . Assim elas não podem criticar nem zombar dele.


“Extraordinário” conta a emocionante história de August Pullman, um menino de 10 anos que sempre estudou em casa por causa de uma deficiência facial. Agora ele terá de deixar a segurança de sua casa, onde é um herói e sonha se tornar um astronauta, para frequentar a 5ª série de uma escola convencional, com todos os desafios e preconceitos desta faixa de idade, extremamente cruel. E para vencer esta jornada ela vai precisar contar ainda mais com sua família, professores e novos amigos.

Claro, não poderiam faltar as frases de efeito, comuns em um drama como este, mas nada que comprometa o enredo, muito bem conduzido pelo diretor Stephen Chbosky ("As Vantagens de Ser Invisível"). É pra chorar? Com certeza e sem vergonha de levar um lencinho para o cinema. A história é linda, emocionante e a atuação de todo o elenco contribui para ser um filme "Extraordinário". Além de ter uma boa trilha sonora. O filme é uma lição de vida, para adultos e crianças, mostrando a importância de aceitar e respeitar as pessoas como elas são.



Ficha Técnica
Direção e roteiro: Stephen Chbosky
Produção: Lionsgate / Mandeville Films
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 1h53
Gêneros: Família / Drama
País: EUA
Classificação: 10 anos
Nota: 4,5 (0 a 5)

Tags: #Extraordinario, #Wonder, @JuliaRoberts, @OwenWilson, @JacobTremblay, @AuggiePullman, #família, #drama, #emocionaediverte, #filmefamilia, @ParisFilmes, @cinemas.cineart, @espaçoZ, @CinemanoEscurinho

06 dezembro 2017

"Em Busca de Fellini", uma reverência ao genial cineasta italiano

Filme dirigido por Taron Lexton remete a lugares, referências, frases e trechos de produções de Federico Fellini (Fotos: Cineart Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Mesmo os que não são profundos conhecedores do cineasta italiano vão gostar de "Em Busca de Fellini", delicioso filme descaradamente feito para homenagear e reverenciar esse genial criador, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas de BH. No entanto, quem tiver mais conhecimento da sua obra vai, certamente, reconhecer lugares, referências, frases e, claro, se deliciar com trechos dos seus filmes. Estão lá, por exemplo, cenas emocionantes e citações de "La Dolce Vita", "Oito e Meio", "Noites de Cabíria" e, principalmente, "A Estrada da Vida".


Difícil acreditar, mas o filme, dirigido por Taron Lexton, é baseado em fatos reais. Lucy (Ksenia Solo em atuação impecável) é uma jovem ingênua que vive na pequena Ohio, nos Estados Unidos, de onde nunca saiu. Superprotegida pela mãe é sonhadora, tem dificuldades com os rapazes e acaba desenvolvendo um louco amor pelo cinema, mais especificamente por Federico Fellini, de quem se torna fã ardorosa.



Entre outras identificações, ela se vê no personagem Gelsomina, vivido por Giullietta Masina em "A Estrada da Vida". Assiste ao filme repetidas vezes e sempre se emociona as lágrimas. Sem saber que sua mãe Claire (Maria Bello) está doente, decide ir para a Itália à procura do diretor que, como ela, acredita que "o visionário é o único e verdadeiro realista".


A viagem solitária de Lucy pela Itália, passando por Verona, Veneza e Roma, é a grande mágica do filme, e se torna comovente, principalmente por ser habilmente intercalada com o drama de sua mãe Claire, que ficou em Ohio aos cuidados da irmã Kerri (Mary Lynn Rajskub), talvez a única personagem de toda a trama que tem alguma tangência com o real. Entre loucuras, experiências, desencontros e perigos, a jovem conhece Angelo (Lorenzo Balducci), que a ajuda na busca por Fellini.


Cenas passadas na bela Itália sempre encantam e emocionam. Lugares, comidas, a música envolvente e o idioma parecem aquecer a alma do espectador, mesmo que a viagem de Lucy cause algum estranhamento. Que ninguém se pergunte, por exemplo, onde ela se hospeda, com que dinheiro se desloca e outros questionamentos de ordem prática.


Onírica como a obra de Federico Fellini, a passagem da jovem americana pelo país europeu é pura fantasia, fiel, portanto, à excentricidade e à estética do diretor, para quem "a vida é uma combinação de magia e espaguete". Mas, enfim, em se tratando de Fellini, quem precisa de realidade?


"Em Busca de Fellini", distribuído no Brasil pela Cineart Filmes, já conquistou os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz no Festival de Ferrara deste ano, na Itália. A produção além de homenagear o diretor e seu pais, é baseada na verdadeira história de Nancy Cartwright, uma das roteiristas e produtoras. Classificação: 14 anos
Duração: 1h43