Comédia leve traz temas importantes como doação de órgãos, homofobia, família e claro, a
alegria de viver (Fotos: Downtown Filmes/Divulgação)
alegria de viver (Fotos: Downtown Filmes/Divulgação)
Maristela Bretas
Quando o diretor Glauber Filho resolveu apostar na comédia Bate Coração, baseado na peça homônima,ele fez uma boa escolha do elenco para abordar um tema ainda pouco discutido nas telonas: a doação de órgãos. De maneira divertida, mas sem perder a seriedade quando se fala na importância deste ato para salvar vidas, o filme tem em seu personagem principal, o pernambucano Aramis Trindade, muito conhecido por seus papéis em novelas, a grande estrela.
Com ótimas piadas, caras e bocas, ele é o coração do longa, literalmente. E é com o talento que ele consegue evitar que a produção cearense caia numa comédia comum, com personagens caricatos, apesar do ótimo trabalho de alguns atores, como os mineiros Maurício Canguçu e Ílvio Amaral. O roteiro da comédia foi inspirado em duas peças de Ronaldo Ciambroni – "O Coração Safado" e no fenômeno de bilheteria bem conhecido por todos nós, sucesso de anos e anos na Campanha de Popularização do Teatro e da Dança de BH, "Acredite, Um Espírito Baixou em Mim", estrelada por Amaral e Canguçu.
Amaral interpreta Cassandra, companheira e duplade show da transexual Isadora Sunshine (Aramis). Ela quer tudo o que era da amiga morta porque acha que fez dela uma grande estrela. Já Canguçu, é Dolores, um trans, muda e admiradora incontestável de Cassandra. Ela é o braço direito e o esquerdo, estando sempre ao seu lado em todas as tramoias.
Contra o preconceito
A história se resume à vida de duas pessoas: IsadoraSunshine (com ótima interpretação de Aramis) e Sandro (papel de André Bankofi), um publicitário conquistador e machista. Mas um atropelamento põe fim à vida de Isadora, uma alegre e amada dona de salão de beleza na periferia de Fortaleza em plena noite de Réveillon. Em outro ponto da cidade, durante as festividades, um infarto quase mata Sandro. A salvação vem do coração da transexual, transplantado para o preconceituoso playboy garanhão.
O que nenhum dos dois esperava era que este transplante fosse mudar a trajetória de ambos. Isadora não se conforma com a morte e por ter deixado pessoas que amava sem amparo. A começar pela esposa Vera (Germana Guilhermme) e o filho Davi (Brenno Leone). Já Sandro começa a refazer sua vida com um pouco mais de cuidado, até descobrir a origem de seu coração. Nesta hora, o preconceito fala mais alto. Ele se sente enganado e não aceita carregar no peito o órgão de uma mulher trans.
"Bate Coração" poderia ter explorado melhor essa questão da homofobia, assim como o tema principal, cuja abordagem ficou fraca, uma vez que a intenção era fazer com que as pessoas despertassem para a necessidade da doação de órgãos. Já o espiritismo entra para explicar a passagem para um plano superior e também para ajudar as pessoas a aceitarem melhor seus destinos.
Mas aí muda o filme e o foco. A história passa a mostrar uma família moderna, com a esposa que aceita o marido transexual e ainda formam um casal feliz e muito bem resolvido. Eles vivem em uma comunidade em que esta situação é bem aceita, inclusive pela vizinhança idosa do salão de beleza onde Isadora trabalhava.
A comédia conta também a história do filho de Isadora, que ainda não sabe a condição do pai. Além de várias histórias paralelas dos demais personagens. Mas o melhor é ver Sandro reavaliar sua postura preconceituosa, machista e também a de Isadora, que mesmo do plano espiritual, começa a influenciar o transplantado, fazendo-o se interessar por coisas femininas e tentando transformá-lo em uma pessoa do bem, sem preconceitos.
O diretor, também responsável pelos longa "Bezerra de Menezes - O Diário de Um Espírito" (2008) e "As Mães de Chico Xavier" (2011), lança a mão de várias informações e acaba não aprofundando em quase nenhuma deixando o filme meio que uma Sessão da Tarde animada. Já o roteirista buscou, além das duas peças de Ciambroni, referências em filmes famosos como "A Gaiola das Loucas" (1978/1996), "Ghost: Do Outro Lado da Vida", (1990), "Do Que As Mulheres Gostam" (2001) e "O Sexto Sentido". Cada um deles ganha uma referência em "Bate Coração", como a expressão “São Patrick Swayze” dita em alguns momentos do filme.
Mas ele acerta em alguns diálogos divertidos, na fotografia e no figurino, com muito brilho, plumas e paetês como deveria ser. Também a escolha da excelente trilha sonora que nos remete aos bons tempos, a começar pela música-tema "Bate Coração", de Elba Ramalho, além de "Dancing Days", com As Frenéticas entre outros sucessos. Mesmo com essas falhas visíveis, "Bate Coração" ainda consegue passar uma mensagem interessante e positiva, tanto no âmbito social (com o tema da tolerância, da não discriminação e da doação de órgãos), quanto na esfera pessoal, com recados sobre doação, perdão, recomeços e até mesmo sobre espiritualidade.
Ficha técnica:
Direção: Glauber Filho
Produção: Estação Luz Filmes
Distribuição: Downtown Filmes
Duração: 1h34
Gêneros: Comédia / Drama
Nacionalidade: Brasil
Classificação: 12 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)
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