Taika Waititi e Roman Griffin Davis formam a dupla de amigos improváveis que proporcionam momentos bem divertidos (Fotos: 20th Century Fox / Divulgação) |
Maristela Bretas
Com uma abordagem lúdica e ao mesmo tempo satírica sobre a guerra, "Jojo Rabitt", do diretor Taika Waititi ("Thor: Ragnarok" - 2017) é uma história que mexe com as emoções. Ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, o filme é ambientado na Segunda Guerra Mundial e critica de forma bem debochada, a ascensão de Adolf Hitler e do nazismo na Alemanha, sem deixar de mostrar a crueldade imposta pelo regime.
O conflito é apresentado pela ótica de Jojo Betzler (Roman Griffin Davis), um garoto tímido de 10 anos, que vive a fase de transição para a adolescência, mora com a mãe solteira, é fanático com o nazismo e tem apenas dois amigos: um real, o fofo, mas trapalhão Yorki (Archie Yates) e um imaginário, o lunático Adolf Hitler, interpretado pelo próprio Taika Waititi (está excelente).
Pode parecer estranho, mas o líder nazista é o "grilo falante" na cabeça de Jojo, que sonha em participar do grupo pró-nazista Juventude Hitlerista. Ele, assim como milhares de crianças alemãs, é doutrinado com informações distorcidas e mentirosas sobre os inimigos e as crueldades que eles cometem. Em acampamentos, as crianças vestem uniformes, fazem a saudação a Hitler e recebem treinamento militar, que inclui queimar livros e matar judeus Mas, ao contrário dos colegas, Jojo acha errado pegar em armas ou fazer mal a qualquer ser, humano ou animal.
Na cabeça do pequeno soldado, Adolf é um amigo invisível com quem pode brincar, ter aventuras e dividir a rotina cruel da guerra. Taika Waititi mescla comédia e drama para contar a história de Jojo "Rabitt". Sempre ao som da bela trilha sonora de Michael Giacchino ("Homem-Aranha: Longe de Casa" - 2019; "Os Incríveis 2" - 2018; "Jurassic World: Reino Ameaçado" - 2018).
Na contramão dos ideais nazistas está a mãe do garoto, Rosie (papel de Scarlett Johansson), que ama o filho e respeita suas crenças, apesar de ser contrária à ditadura imposta à Alemanha. Mãe e filho são inseparáveis, até surgir uma pessoa na casa que mudará a vida do menino. Ele descobre que Rosie está escondendo no sótão de sua casa a linda jovem judia, Elsa (Thomasin McKenzie). Depois de várias tentativas frustradas para expulsá-la, o garoto começa a ter fortes sentimentos pela nova hóspede.
Jojo passa a questionar até que ponto é correto o que Adolf prega e como isso afetou sua família e amigos. O menino é a imagem da pureza, do tipo que sente borboletas voando no estômago quando se apaixona. Mas também é vítima do sistema que defende. Graças à bela interpretação de Roman Griffin Davis, o público recebe um personagem que faz a gente querer colocá-lo no colo.
Além do diretor (que também é o roteirista e produtor), o elenco conta com coadjuvantes bem conhecidos que ajudam a dar um tom ameno à narrativa: Sam Rockwell (capitão Klenzendorf), Rebel Wilson (monitora Rahm), Alfie Allen (Finkel, ajudante do capitão), Stephen Merchant, como o capitão nazista Herman Deertz. Destaque para o fofo Archie Yates, como Yorki, amigo fiel de Jojo que não entende muito bem o por quê de estar ali e que acha que a guerra é uma grande brincadeira.
Apesar de ter como pano de fundo o grande conflito mundial, que dizimou milhares de judeus e combatentes, "Jojo Rabitt" é um filme de emoções, boas e ruins. Waititi, que é judeu, optou por ironizar de forma bem escrachada o nazismo e seu líder maior. Criou um personagem divertido, desengonçado e bem histérico, que sempre surge quando Jojo tem dúvidas.
Além das ótimas atuações, "Jojo Rabitt" tem também uma bela fotografia e um bom figurino, que ajudaram a compor bem a reconstituição de época. Trata-se de um filme sobre uma criança que soube criar e desfazer ídolos e ideais e amadurecer em tempos de guerra. Trata-se de um filme com um belo roteiro, muito próximo à realidade atual de muitos países. "Jojo Rabitt" pode ser conferido no Cineart Paragem, Net Cineart Ponteio e Cinemark Diamond Mall, em versão 2D legendada.
Segundo maior vencedor com estatuetas do Oscar (Melhor Fotografia, Melhor Mixagem de Som e Melhores Efeitos Visuais), além de Globo de Ouro e outras premiações deste ano, "1917", do diretor Sam Mendes, é outra ótima opção para quem gosta de filmes de guerra. Ele se passa na Primeira Guerra Mundial e foi filmado com poucas cenas de corte, o que dá uma maior realidade à produção, que ainda está em cartaz no cinema.
Outra dica é o ótimo "O Zoológico de Varsóvia", ambientado durante a invasão alemã à Polônia, na Segunda Guerra Mundial, quando os donos do referido zoo passam a esconder judeus dos nazistas. Em breve sairá uma crítica desta produção, que eu indico muito e pode ser conferida no catálogo da Netflix.
Ficha técnica:
Direção, roteiro e produção: Taika Waititi
Produção: Fox Searchlight Pictures / TSG Entertainment
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 1h48
Gêneros: Guerra / Drama / Comédia
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4 (0 a 5)
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