10 junho 2020

"O Método Kominsky", uma história sobre a velhice e a amizade: o que dá pra rir, dá pra chorar

Michael Douglas e Alan Arkin brilham com ironia e inteligência na série da Netflix (Michael Yarish/Netflix)

Mirtes Helena Scalioni


Houve quem dissesse que "O Método Kominsky" ("The Kominsky Method") seria a versão masculina de "Grace and Frankie". Pode ser. Afinal, ambas as séries da Netflix tratam, de forma irônica e inteligente, da velhice. Enquanto na produção das mulheres brilham os talentos de Jane Fonda e Lily Tomlin, na outra, Michael Douglas, de 74 anos, e Alan Arkin, de 84, esbanjam experiência e charme num bate-bola raro de se ver. 


Houve também quem se queixasse de que "O Método Kominsky" não deveria ser classificado como comédia, gênero no qual a série venceu o Globo de Ouro de 2018, além de ter faturado o troféu de Melhor Ator para Michael Douglas. Puro exagero e purismo. O que torna a produção diferente, instigante e contagiante é exatamente o humor ácido, a forma sagaz com que os dois personagens lidam com as agruras da velhice. 

Os diálogos, extremamente aguçados e hábeis, fazem rir sim, mas também ajudam a pensar, a refletir. Não é fácil ficar velho, mas é possível enfrentar essa fase da vida com uma boa dose de deboche e sarcasmo. Por que não? Se fosse totalmente séria e chorosa, talvez não fizesse tanto sucesso.


"O Método Kominsky" é mais um sucesso do roteirista e produtor Chuck Lorre, que já assinou êxitos como "Two and a half man". Passando dos 60 anos, Chuck mostra que sabe mesmo como cativar o público, mesmo que o tema seja pesado e difícil. Talvez por isso, ele tenha juntado às inevitáveis dores do envelhecimento uma relação de amizade que se mostra forte, verdadeira e comovente - claro que daquele jeito masculino de ser amigo. 

Nem é preciso dizer que Michael Douglas e Alan Arkin estão perfeitos. Ambos se entregam com gosto e sem pudores aos papéis de Sandy Kominsky e Norman Newlander. O primeiro, ator em fim de carreira e professor de uma escola de interpretação de atores; o segundo dono de uma bem-sucedida agência de artistas. As diferenças entre as personalidades dos dois também ajudam a enriquecer a série. 



Sandy é mulherengo, desorganizado financeiramente e conquistador. Norman fez carreira brilhante, tem dinheiro, gosta de trabalhar e acaba de perder a mulher com quem foi casado por mais de 40 anos. Os dois já levaram pelo menos um Oscar pra casa: Douglas, em 1987, por sua atuação em "Wall Street", e Arkin como ator coadjuvante em 2006 por "Pequena Miss Sunshine".

Como se não bastasse todos esses predicados, "O Método Kominsky" tem outros atributos. Trata-se de uma série pequena - apenas duas temporadas até agora com oito episódios cada. Os capítulos também são mínimos. Impossível ficar cansado. Claro que não há cenas de violência nem de perseguições com carros. Mas tem muito de humanidade, empatia e humor nos diálogos, mesmo quando falam de câncer, medo da morte, próstata, perdas, dores, velórios, brochadas, limitações. O que dá pra rir, dá pra chorar.


Ficha técnica:
Direção: Chuck Lorre
Duração: 30 minutos cada episódio
Classificação: 12 anos
Gênero: Comédia
Exibição: Netflix

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