Produção italiana traz a veterana atriz de 86 anos depois de
uma década afastada das telas (Fotos: Regine de Lazzaris Aka Greta/ Netflix)
Mirtes Helena Scallioni
Algumas verdades sobre cinema parecem consolidadas há muito
tempo. Raramente, são desmentidas ideias como: histórias que falam do
relacionamento entre velhos e crianças são sucesso garantido. Ou: filmes que se
referem ao holocausto dos judeus despertam interesse e paixões. Ou ainda: o
tema dos imigrantes e suas dores costuma tocar muita gente ao redor do mundo.
Talvez resida aí o motivo do sucesso de “Rosa e Momo”
("La vita davanti a sé"), um dos mais vistos e elogiados filmes da #Netflix
nos últimos tempos. Ele contempla esses três argumentos citados e ainda
exagera: traz no elenco, como protagonista, a veterana Sophia Loren, que depois
de dez anos afastada das telas, reaparece com sua beleza madura e muita
dignidade aos 86 anos. E o que é melhor: dirigida pelo filho caçula Edoardo
Ponti.
Remake de “Madame Rosa – A Vida à Sua Frente”, que ganhou
Oscar de Filme de Língua Estrangeira em 1977, “Rosa e Momo” é uma adaptação de
“The Life Before Us” (algo como “A Vida Antes de Nós”), livro de Romain Gary.
No caso da versão em cartaz na Netflix, sai subúrbio de Paris, entra periferia
de Bari, cidade litorânea ao sul da Itália.
A história, por si só, promete: Rosa (Sophia Loren),
ex-prostituta e sobrevivente traumatizada dos campos de concentração, ganha a
vida cuidando dos filhos de suas colegas mais jovens que fazem a vida na zona
boêmia de Bari. Um dia, seu amigo médico, Dr. Cohen, coloca aos seus cuidados,
mesmo que contra a sua vontade, o rebelde Momo, menino senegalês órfão que está
a poucos passos da marginalidade.
De atrito em atrito, o afeto e a cumplicidade entre a mulher
e o menino vão sendo construídos. Às vezes, de um jeito que pode parecer rápido
demais, quase mágico, e que, de certa forma, poderia até comprometer a
verossimilhança do filme. Isso só não acontece pela atuação perfeita e na
medida de ambos, convincentes cada um ao revelar ao espectador suas dores,
limitações e carências.
A atuação do estreante Ibrahima Gueye na pele de Momo é
comovente. Há que se elogiar também outros nomes do elenco como Baback Karimi
como o comerciante muçulmano Hamil, Renato Carpentieri como o Dr. Choen e Abril
Zamora como a prostituta Lola, amiga de Rosa.
Uma curiosidade: a canção tema de “Rosa e Momo” é “Lo sé”,
na voz de Laura Pausini. Mas, em certo momento do longa, Lola coloca na vitrola
o samba “Malandro”, de Jorge Aragão, cantado por Elza Soares, enquanto ela e
Rosa saem dançando e rindo pela sala. Não há como não se emocionar.
Nesses dias de solidão e pandemia, não convém perder “Rosa e
Momo”. Além da rara oportunidade de rever a sempre diva Loren, faz bem ao
coração a ideia de que a amizade e a empatia podem prosperar, apesar dos
preconceitos. E que, com amor e generosidade, pode sim ser construído um espaço
para a fala dos invisíveis, mesmo que os tempos sejam de intolerância.
Ficha técnica: Direção: Edoardo Ponti Exibição: Netflix Duração: 1h35 Classificação: 14 anos País: Itália Gênero: Drama
Plataforma de streaming estreou
no Brasil com um catálogo de seus maiores sucessos do passado e do presente (Disney/Divulgação)
Maristela Bretas
Apesar de ser uma apaixonada pela
franquia Star Wars, paixão que passei para meu filho, foi com uma marcante
animação infantil de 1955 que fiz minha estreia no Disney+. A escolha foi por
um famoso casal canino que se apaixona enquanto come um prato de espaguete com
almôndegas, à luz de velas e ao som da linda canção italiana "Bella
Notte". Sim, "A Dama e o Vagabundo" ("Lady and The
Tramp") foi o filme escolhido para me fazer voltar a um tempo de pura
magia.
Claro, rios de lágrimas de
saudade, alegria, boas memórias e a certeza que o desenho animado (como era
chamado) ainda é capaz de emocionar. E como não poderia deixar de ser, assisti
na sequência o live-action da história, que não chegou a estrear no cinema por
causa da pandemia."A Dama e o Vagabundo"
de 2019 consegue dar vida ao par principal, o que não ocorreu com "O Rei
Leão". Talvez porque histórias com cães sempre despertaram mais atenção do
público.
Nesta versão foram usados animais
de verdade, que ganham uma "personalidade especial" graças à
computação gráfica que foi usada pelos produtores na medida certa para que o
romance e a aventura fluíssem sem parecer uma coisa plástica.
Há também a preocupação em mudar
conceitos do passado. Enquanto no desenho há cenas de cigarros, não existem
negros no elenco e as cenas mais empolgantes são protagonizadas pelo sexo
masculino, na live-action isso cai por terra. As mulheres ganham destaque, a
partir de Querida, dona de Lady, que agora é negra, assim como seu filho (no
original ambos eram louros e brancos), casada com um músico branco. É dela que
partem as decisões importantes.
O mesmo acontece com a cadelinha,
que deixa a versão mimada para protagonizar o filme de igual para igual com
Vagabundo. Mas sem esquecer seu papel de guardiã de todos da casa, especialmente
do bebê que acabou de chegar. Mesmo que ele tenha tomado seu lugar na
preferência dos donos.
Também um dos amigos de Lady,
deixa de ser Joca e passa a ser uma Terrier escocesa de nome Jaque, cuja dona
tem hábitos excêntricos. Claro que outro amigo, o velho Caco, também está nesta
versão, mas batizado como Faro. Além dos amigos de rua de Vagabundo, como Peg e
Bull, que agora formam um casal.
Além dos diálogos também o
roteiro foi modificado para que acompanhasse a evolução dos tempos, mas nada
que tirasse a essência dessa bela história de amor entre uma cadelinha Cocker
Spaniel americana doméstica e um vira-lata muito esperto, mas de coração mole
que gosta de viver livre. Como no desenho, o live-action de "A Dama e o
Vagabundo" tem muita aventura, romance efeitos especiais e encantamento.
Merece ser visto. E o desenho revisto.
Disney+
Desenhos animados marcaram a
infância de muitas gerações e se hoje eles vêm ganhando uma nova roupagem com
as versões live-action (nem sempre acertadas) é porque ainda ocupam um lugar
especial no coração e na memória das pessoas. A entrada da plataforma de
streaming Disney+ no Brasil retoma boas lembranças
de um passado que remetia a castelos, florestas, príncipes e princesas.
Histórias que faziam o maior dos durões se desmanchar em lágrimas. Ainda tenho
em fita VHS muitos desses sucessos, gravados para mostrar a meu filho o poder
da magia.
Se o passado é marcante, não
menos importantes são as produções atuais, capazes de darem vida e sentimentos
a brinquedos e personagens que mereciam uma atenção especial. Ou proporcionar
grandes batalhas com sabres de luz e naves velozes. Sem esquecer os
super-heróis de várias origens e raças - verdes, brancos, negros e até vegetais
- que se unem para defender o planeta.
Não importa a idade de quem está
assistindo ou o aparelho escolhido para exibição. Seja um desenho animado, uma
saga com grandes efeitos especiais, um live-action ou um documentário. O que
vale é reviver grandes sucessos, do passado ou do presente que mexem com as
emoções e trazem magia e encantamento. E nisso, a Disney sempre se destacou.
Sobreviventes do apocalipse enfrentam uma entidade poderosa
para chegar a um local místico (Fotos: Matt Wilkinson/Divulgação)
Maristela Bretas
"A Última Jornada" * ("The Last Boy") é um filme curto - com apenas 87 minutos de duração - mas que consegue ter uma narrativa lenta. Ao mesmo tempo, se apressa em contar já no s minutos iniciais todo o enredo, tirando o suspense do final. Não passa emoção nem mesmo nos momentos de perda, e o diretor e roteirista Perry Bhandal (que dirigiu "Entrevista com Hitman" - 2012) passa o carro na frente dos bois e entrega uma história confusa e cheia de buracos sobre um mundo pós-apocalíptico.
A ação fica quase toda para o final e não é tão significativa porque as situações vão surgindo sem explicações e passam como se nunca tivessem acontecido. O suspense perde o impacto, assim como a atuação decepcionante de um elenco pouco conhecido, que tem como "destaque" Luke Goss (dirigido por Bhandal em "Entrevista com Hitman", além de ter participado de "Traffik - Liberdade Roubada" - 2018).
Ao jovem estreante Flynn Allen ainda falta muita estrada para rodar até pegar o jeito, assim como a garotinha Matilda Freeman. Os demais são apenas peças numa produção com diálogos que deixam a desejar e comprometem ainda mais a fraca trama.
No filme, a mãe de Sira (Flynn Allen) está morrendo e dá a ele uma missão: com um misterioso artefato, o garoto terá de encontrar um lugar especial, capaz de realizar os desejos das pessoas. O dispositivo vai protegê-lo do ataque de uma força chamada de "o vento", capaz de matar instantaneamente qualquer ser vivo.
Pelo caminho, Sira conhece a pequena Lilly (Matilda Freeman) e juntos enfrentam um monge (Peter Guinness) que pratica abuso sexual contra um grupo de mulheres de um mosteiro. O vilão humano quer se apossar do dispositivo de Sira e dos poderes que tem contra o Vento. Assim como Lilly, aparecem durante a jornada o militar Jay (Luke Goss) e a cientista Jesse (Jennifer Elise Gould) que vão ajudar Sira a chegar ao destino especial e salvar o mundo do Vento (???).
Nem mesmo as locações salvam a história, que ainda conta com uma trilha sonora inexpressiva. Como se não bastasse, o diretor deixa a entender no final que "A Última Jornada" pode ganhar uma continuação. Se esta ocorrer vai precisar melhorar muito todos os componentes, para que se torne atraente ao público.
O filme de Perry Bhandal é distribuído em versões dublada e legendada nas plataformas digitais Now, Looke, Microsoft, Vivo Play, Google Play e Apple TV.
Vale um alerta: não confunda este "A Última Jornada" com a também produção britânica "Journey's End" (2018) sobre a 1ª Guerra Mundial, dirigida por Saul Dibb, que recebeu o mesmo título em português.
Ficha técnica: Direção e roteiro: Perry Bhandal Distribuição: A2 Filmes Duração: 1h27 Gêneros: Drama / Suspense País: Reino Unido Classificação: 12 anos
* Título assistido via streaming, a convite da A2 Filmes