Valeria Golino é a estrela desta obra de 2002 dirigida por Emanuele Crialese (Fotos: Divulgação) |
Mirtes Helena Scalioni
O jeito de contar é escandalosamente italiano – e não apenas
pelas paisagens exuberantes da ilha de Lampedusa, na Sicília. Mas a história é
tão antiga quanto universal: sufocada pelo ambiente onde vive, mulher é
considerada louca por almejar espaço e liberdade. Até Freud, dizem, criou a
Psicanálise com base nos sintomas desse conflito. É nesse diapasão que
transcorre “Respiro”, filme de Emanuele Crialese de 2002, que passa a integrar
o catálogo do Belas Artes a La Carte a partir desta quinta-feira (1º de abril).
Outros três filmes que também estreiam na plataforma de streaming são “Sonho
Sem Fim”, que marca a estreia de Lauro Escorel como diretor; o clássico “O
Grande Motim” (1935), dirigido por Frank Lloyd, e a comédia “O Palhaço do
Batalhão” (1950), de Hal Walker.
"O Grande Motim" (Divulgação) |
Vencedor do Grande Prêmio da Semana da Crítica e do Público
no Festival de Cannes de 2002, “Respiro” traz a bela Valeria Golino como
Grazia, mãe de três filhos com idades próximas a 15, 11 e 8 anos: Marinella
(Veronica D’Agostino), Pasquale (Francesco Casisa) e Filippo (Filippo Pucilo).
Casada com Pietro (Vincenzo Amato), ela, assim como todas as mulheres do lugar,
trabalha na limpeza de peixes trazidos do mar pelos homens da ilha. A vila de
pescadores, aliás, é quase um personagem do filme, com seu mar translúcido,
praias paradisíacas e penhascos de perder o fôlego.
"Respiro" (Divulgação) |
Quando se fala em jeito de contar história, registre-se que
“Respiro” talvez demore um pouco para engrenar por se ocupar muito da
construção do clima do lugar: um maravilhoso e pacato litoral mediterrâneo,
pescadores trabalhando, brincadeiras maliciosas – e até perigosas – de meninos,
lambretas correndo em estradinhas pedregosas, almoços e jantares de famílias
saboreando suas indefectíveis massas e molhos.
O público começa a entender que Grazia não é uma mulher como
as outras daquela ilha quando ela decide, entre outras coisas, defender seus
filhos contra tudo e todos, nadar nua e boiar ao sabor das ondas, sair de
lambreta com a filharada toda a bordo ou libertar os cães presos num porão à
espera do abate.
Quando contrariada, avança sobre as pessoas, esperneia, se
debate, num show que chamariam de histeria, e só sossega quando lhe aplicam uma
injeção calmante. É de se esperar que tamanha rebeldia e mau comportamento
resultem na decisão coletiva de internar Grazia numa clínica de Milão.
"Respiro" (Divulgação) |
Como outros diretores italianos, Crialese também usa
moradores da ilha como atores e atrizes coadjuvantes, o que enfatiza o clima de
realidade e naturalidade do filme. Apenas Valeria Golino (ela foi a namorada de
Tom Cruise em “Rain Man”) e os componentes de sua família no filme são
profissionais.
Estão todos impecáveis em seus papéis, do marido afetuoso que
tenta compreender a mulher, aos filhos que querem protegê-la de suas atitudes
libertárias, mas não conseguem esconder o sangue machista. A ideia só enriquece
“Respiro”, cujo final, belo e surpreendente, o diretor foi buscar na tradição
das festas religiosas italianas. Poesia pura.
"RESPIRO"
Ficha técnica
Direção: Emanuele Crialese
Exibição: Belas Artes a La CarteDuração: 1h35
Classificação: 14 anos
País: Itália, 2002
Gênero: Drama
Fichas técnicas:
"SONHO SEM FIM" Direção: Lauro Escorel
Exibição: Belas Artes a La Carte
Duração: 1h33
Classificação: 14 anos
País: Brasil, 1986
Gênero: Biografia
Sinopse: A história de um dos pioneiros do cinema brasileiro, o gaúcho Eduardo Abelim, desde o início da carreira, no Rio de Janeiro, até as filmagens da Revolução de 1930. Para divulgar seus filmes, Abelim até fazia acrobacias de carros, dava aulas de ocultismo e dava orientações sobre assuntos místicos. "Sonho Sem Fim" levou o troféu Kikito em cinco categorias no Festival de Gramado 1985: Prêmio Especial do Júri, Melhor Figurino, Melhor Direção de Fotografia, Melhor Atriz para Marieta Severo e Melhor Atriz Coadjuvante para Imara Reis. "Sonho sem fim" também recebeu o prêmio de melhor filme do ano de 1986 da crítica cinematográfica do Rio de Janeiro.
"O GRANDE MOTIM" ("Mutiny On The Bounty")
Direção: Frank Lloyd Exibição: Belas Artes a La Carte
Duração: 2h12
Classificação: 14 anos
País: EUA, 1935
Gênero: Aventura
Sinopse: O primeiro imediato Fletcher Christian lidera uma revolta contra seu comandante sádico, Capitão Bligh, nesta clássica aventura marítima, baseada no motim de 1788 da vida real. Indicado ao Oscar 1936 em oito categorias venceu apenas como Melhor Filme. Este foi o único filme a receber três indicações ao Oscar de Melhor Ator (Clark Gable, Charles Laughton e Franchot Tone), e, por causa disso, logo depois a Academia criou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, para garantir que essa situação não se repetisse.
"O PALHAÇO DO BATALHÃO" ("At War With The Army")
Direção: Hal Walker Exibição: Belas Artes a La Carte
Duração: 1h33
Classificação: 12 anos
País: EUA, 1950
Gênero: Comédia
Sinopse: Alvin Corwin é o homem inferior no totem e vai de um acidente a outro em um campo de treinamento do exército na Segunda Guerra Mundial. Terceiro filme estrelado por Jerry Lewis e Dean Martin. Comédia de Hal Walker, que dirigiu Jerry Lewis e Dean Martin em outros sucessos, entre eles "O Marujo Foi na Onda".
Serviço:
Planos de assinatura com acesso a todos os filmes do catálogo em dois dispositivos simultaneamente.
Assinatura mensal: R$ 9,90 // Assinatura anual: R$ 108,90
Cadastro: www.belasartesalacarte.com.br
Belas Artes a La Carte está disponível na Google Play, App Store e dispositivos Roku
Mirtes tem o talento de nos fazer ter vontade de ver os filmes que comenta. Tô doida pra ver Respiro e me lembrar da linda Sofia Loren.
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