Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée retornam 50 anos depois para reviver sua grande história de amor (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação) |
Mirtes Helena Scalioni
Logo no início do longa, uma voz in off declara que “os melhores anos das nossas vidas são aqueles que ainda não vivemos”. A frase é atribuída a Victor Hugo, mas não é exatamente essa a ideia que Claude Lelouch quer passar. Diretor do eterno e icônico “Um Homem, Uma Mulher”, o primeiro filme da trilogia, agora, aos 82 anos, ele promete encerrar o ciclo com “Os Melhores Anos de Uma Vida” (“Les Plus Belles Années d’une Vie”).
O filme entra em cartaz a partir de desta quinta-feira (24) em cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Salvador e Florianópolis. Ainda não há previsão de reabertura das salas de Belo Horizonte.
Somente quem nasceu a partir do final da década de 1940, e tinha, portanto, os necessários 18 anos impostos pela censura para assisti-lo em 1966, sabe o que significou “Um Homem, Uma Mulher”, representante típico da nouvelle vague. (Parênteses para lembrar que essa “nova onda” do cinema francês surgiu como uma espécie de oposição às superproduções de Hollywood, apostando em obras mais intimistas e pessoais).
O longa ganhou muitos prêmios na época e arrebatou plateias mundo afora com uma história relativamente simples: o piloto de corridas Jean-Louis Duroc vive um caso de amor intenso e tórrido com a roteirista de cinema Anne Gauthier, mas o romance não tem final feliz. Os protagonistas, belos e charmosos, eram Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée.
Entre o primeiro filme e o atual, houve um segundo, em 1986, que pouca gente viu: “Um Homem, Uma Mulher 20 Anos Depois”. Passou quase despercebido. Já o terceiro tem tudo para matar as saudades dos mais nostálgicos e dos admiradores de Lelouch.
Eis a sinopse: preocupado com seu velho pai (Trintignant, com 89 anos), que começa a perder a memória, Antoine (Antoine Sire) procura Anne (Aimée, com 88 anos), com quem Jean-Louis viveu um grande amor há 50 anos. Ele tem esperança de que esse encontro possa, de alguma forma, amenizar a solidão do pai, que vive numa confortável casa de repouso, mas não interage com os outros moradores.
As cenas que se passam, a partir do momento em que Anne se encontra e tenta dialogar com um confuso Jean-Louis, são puro deleite, com passeios de carro, paisagens lindas, recordações, diálogos estranhos, delírios e – por que não – alguma sensualidade.
Até porque, “Os Melhores Anos de Uma Vida” acaba se transformando num filme dentro de outro filme, tamanho o número de lembranças e citações à obra de 1966 que, não por acaso, levou, entre outros, a Palma de Ouro e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Dificilmente o longa atual vai interessar a alguém que não viu o primeiro.
Pode ser que alguém enxergue, em “Os Melhores Anos de Uma Vida”, uma espécie de homenagem a “Um Homem, Uma Mulher”. Pode ser. E não há nada de negativo nisso. Rever o casal em longas cenas na Normandia tem o poder de levar o espectador a um outro lugar.
Há canções lindas costurando as cenas e a música tema é quase um personagem da história. Impossível não viajar no tempo e ficar arrepiado ouvindo a inesquecível “sabadabadá” uma quase Bossa Nova composta por Francis Lai especialmente para o filme. Clique aqui para ouvir a trilha sonora completa de "Um Homem, Uma Mulher".
Além de Antoine Sire, o filme traz também Souad Amidou como a filha de Anne, Françoise, com atuações pequenas e discretas já que todos os holofotes estão concentrados na dupla de protagonistas em situações, poses e semblantes alternando hoje e ontem. As inevitáveis comparações, principalmente baseadas nos quesitos beleza e juventude, não fazem sentido nenhum diante do que se pretende contar.
Outro ponto alto, também reproduzido de um dos mais belos momentos de “Um Homem, Uma Mulher”, é o longo passeio de carro por Paris, às seis horas da manhã, a 100 km por hora, filmado para dar a sensação ao espectador de que ele está no volante. São esses detalhes que fazem de “Os Melhores Anos de Uma Vida” em um filme irresistível.
Ficha técnica:
Direção: Claude Lelouch
Roteiro: Claude Lelouch e Valérie Perrin
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas, sem previsão para exibição em plataformas de streaming
Gênero: Romance
Duração: 1h30
País: França
Classificação: 12 anos
Gênero: Romance
Duração: 1h30
País: França
Classificação: 12 anos
Ler Mirtes Helena é viver um pouco deste filme enquanto não se pode sair de casa. E ela consegue aguçar nossa vontade de pular dentro de uma sala de cinema. Queria tanto poder fazer isso. Mas Mirtes realiza um pouco desse nosso desejo fazendo com que o filme entre em nossas casas, por enquanto ainda fechadas. Espero ver este filme o mais rápido possível. Obrigada Mirtes por antecipar essa expectativa.
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