29 julho 2021

Envelhecer num piscar de olhos é só uma questão de "Tempo”

Novo suspense de M. Night Shyamalan traz mistério arrepiante envolvendo um grupo abandonado numa ilha (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)


Carolina Cassese


Provavelmente nunca reparamos tanto no tempo quanto nesta pandemia. Há quem diga que “está passando muito rápido”, enquanto outros inferem que “parece que nada acontece e de que estamos vivendo essa crise sanitária há 10 anos”. E, por mais surpreendente que pareça, há pessoas que consideram ambas as afirmações verdadeiras. Isso provavelmente porque nossa sensação é de que esse momento nunca foi tão distorcido e afetado por imprevisíveis eventos externos. 


Vivemos na sociedade da pressa, onde somos estimulados a ser multitarefa, onde “tempo é dinheiro” e a produtividade é um valor central. Diante desse cenário que enfrentamos e de novas questões que emergem a partir dele, "Tempo" ("Old"), o novo thriller de M. Night Shyamalan, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas. O diretor é responsável por outros suspenses instigantes como a trilogia "Corpo Fechado" (2000), "Fragmentado" (2017) e "Vidro" (2019), além de "A Visita" (2015) e “Sexto Sentido" (1999).

Baseado na história em quadrinhos "Castelo de Areia", de Pierre Oscar Lévy e Frederik Peeters, "Tempo" é mais um daqueles filmes que seria assistido com outros olhos se tivesse sido lançado antes da pandemia. Ou antes do Capitalismo 24/7,caracterizado por Jonathan Crary em seu primeiro livro, que traça um panorama de um mundo onde o ser humano não tem limites de tempo e espaço.


A premissa aqui é intrigante: acompanhamos a família Cappa, integrada por Guy (o premiado ator Gael Garcia Bernal), a esposa Prisca (Vicky Krieps) e os dois filhos, durante as férias de verão, quando viajam para uma remota ilha tropical. No momento em que eles e mais um grupo de viajantes são levados por um funcionário do resort (que logo os abandona) para uma praia deserta, acontecimentos sinalizam que algum fenômeno incomum paira sobre o local. 

Eles logo começam a se dar conta: todos estão envelhecendo mais rapidamente, anos inteiros passam em questão de minutos. Para que não morram num piscar de olhos, o grupo precisa encontrar alguma saída da misteriosa praia ou uma solução para interromper o chocante fenômeno.


A partir daí, conhecemos melhor nossos personagens e suas respectivas questões. Praticamente todos escondem algum segredo ou possuem uma condição suspeita, o que dificulta a convivência do grupo na ilha. A história é repleta de pequenos atos de tensão, que de fato nos deixam aflitos e torcendo firmemente por alguns personagens.

Certas figuras da história e a relação delas com o tempo são especialmente interessantes. É o caso da personagem Chrystal (Abbey Lee), uma mulher que vive para as aparências (e para mostrar ângulos perfeitos no Instagram). Quando começa a envelhecer é como se a vida tivesse perdido o sentido para ela, já que seu valor estava atrelado à estética. 


Apesar de a crítica ser explícita, talvez a temática, ainda tão presente mesmo com a ascensão de uma nova onda do feminismo, poderia ter sido melhor explorada na obra. O mesmo se aplica acerca da questão racial, relevante para diversos acontecimentos da trama, mas pouco desenvolvida.

É no mínimo interessante perceber o impacto da aceleração do tempo nos conflitos e nas diferentes subtramas. “Agora nossa briga parece tão boba”, pontua um dos personagens. De fato, algumas questões se dissolvem, parecem completamente insignificantes diante da grande ameaça que eles enfrentam e, claro, diante do envelhecimento repentino.


Um dos pontos fortes do filme é a adequada vertigem que ele nos causa, inclusive porque o diretor nos faz experimentar várias das sensações e das debilidades dos personagens, como a quase total falta de visão e audição. 

A conexão com o sobrenatural, tema bastante presente na obra de Shyamalan, é claramente uma temática importante para "Tempo". No entanto, o final parece querer escapar um pouco desse eixo e soa explicativo demais, especialmente para quem esperava um encerramento mais aberto ou subjetivo. 


O longa definitivamente não foi recebido com unanimidade pela crítica. Enquanto alguns veículos classificaram o thriller como “intrigante” e “imersivo”, outros pontuaram que a execução da obra é “sofrível” e que o humor é “constrangedor”. O público também parece estar dividido: no site Rotten Tomatoes, uma das principais plataformas de crítica cinematográfica do mundo, 52% das pessoas afirmaram gostar do filme. 

Diante desse impasse, não parece coerente dizer: “corra para os cinemas, você com certeza irá amar”. Mas é claro, para fãs de Shyamalan, interessados na premissa e dispostos a se perder um pouco nessa ilha deserta, vale conferir e formar a própria opinião - e ainda, quem sabe, refletir um pouco sobre a nossa relação com os ponteiros do relógio.


Ficha técnica:
Direção, roteiro e produção: M. Night Shyamalan
Produção: Blinding Edge Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: Nos cinemas
Duração: 1h48
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gênero: Suspense

26 julho 2021

“Ato”, dirigido por Bárbara Paz, é selecionado para o Festival de Veneza

Curta com Alessandra Maestrini e Eduardo Moreira integra a seleção Orizzonti Short Films (Fotos: Primeiro Plano/Divulgação)

Da Redação 


A atriz e diretora Bárbara Paz está de volta ao Festival de Veneza, dessa vez com o curta “Ato”, estrelado por Alessandra Maestrini e Eduardo Moreira. O filme foi selecionado para a categoria Orizzonti Short Films. Em 2019, Paz conquistou o Leão com o Melhor Documentário - "Babenco: Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou". 


A diretora conta que é uma grande honra voltar ao Festival de Veneza, especialmente com seu primeiro filme de ficção. "Um pequeno "Ato" de silêncio e solidão”, explica. Em um mundo suspenso e solitário, Dante se encontra em um processo de travessia e sua única companhia é Ava, uma "profissional do afeto”. 

A solidão foi a maior protagonista, com palcos vazios e o medo constante da morte. "O afeto é o Ato, a fuga, o desejo fundamental da sobrevivência.”, comenta  Bárbara Paz. 



E cita Tartovsky: ‘“A função atribuída à arte não é, como frequentemente se presume, apresentar ideias, propagar pensamentos, servir de exemplo. O objetivo da arte é preparar a pessoa para a morte, arar e fustigar sua alma, tornando-a capaz de se voltar para o bem”.


Para a produtora Tatyana Rubim, “o curta estar presente no Festival de Veneza representa, neste momento tão adverso mundialmente, a força da arte e da cultura e a capacidade do diálogo existente entre o teatro e o audiovisual”.

“Ato” é produzido pela Rubim Produções e BP Filmes. Tatyana Rubim e Bárbara Paz assinam a produção. Cao Guimarães (“O homem das Multidões”) assina o roteiro e a montagem fica a cargo de Renato Vallone (“Cinema Novo”). Azul Serra (“Ninguém Tá Olhando”) assina a direção de fotografia.


Ficha técnica
Direção: Bárbara Paz
Roteiro: Cao Guimarães
Produção: Rubim Produções // BP Filmes
Categoria: curta-metragem

22 julho 2021

“Um Lugar Silencioso - Parte II” proporciona experiências ainda mais aterrorizantes

Após meses, os sobreviventes da família Abbott continuam lutando para escapar da infestação de monstros que dominou sua cidade (Fotos: Jonny Cournoyer/Paramount Pictures)


Carolina Cassese


A aguardada sequência de "Um Lugar Silencioso" (2018) foi mais uma das produções que encontrou dificuldades para estrear nos cinemas por conta da pandemia. O primeiro filme, centrado na família Abbott, que precisa se manter em silêncio para sobreviver, fez bastante sucesso e conquistou fãs ao redor do mundo inteiro. 

Esses espectadores, é claro, não viam a hora de conferir “Um Lugar Silencioso II - Parte II” ("A Quiet Place - Part II), também assinado por John Krasinski. Após o lançamento ter sido adiado duas vezes, a produção finalmente chegou às telas brasileiras nesta quinta-feira (22), incluindo cinemas de Belo Horizonte.


Três anos atrás, no lançamento do primeiro filme, muitos espectadores reforçavam a importância de assistir "Um Lugar Silencioso" no cinema, pois o fantástico trabalho de som é melhor percebido nesse ambiente. 

Para a continuação, o mesmo segue sendo bastante verdadeiro: faz toda a diferença assistir o filme na tela grande e poder diferenciar (ou se deixar impactar por) cada ruído. No entanto, como no Brasil a situação sanitária ainda não está controlada, não é sempre possível fazer essa recomendação. 


Logo na primeira cena, somos levados de volta para o momento da invasão alienígena, quando tudo começou. Além de servir como uma boa introdução para aqueles que por acaso não viram o primeiro longa, o prólogo introduz informações relevantes e garante excelentes cenas de ação.

É evidente que, após mais de um ano de pandemia, nosso olhar para filmes pós-apocalípticos é outro. Por mais que a realidade de "Um Lugar Silencioso" ainda pareça consideravelmente improvável, podemos nos identificamos com a sensação de presenciar a chegada do desconhecido, de um elemento externo que nos amedronta e nos obriga a alterar o cotidiano.


Após termos uma amostra de como aquela invasão rapidamente alterou a vida de todos, “Um Lugar Silencioso II” avança para o dia 474, quando o primeiro longa termina. Evelyn (Emily Blunt), Regan (Millicent Simmonds), Marcus (Noah Jupe) e o recém-nascido, membros sobrevivente da família Abbott, estão lutando para escapar da infestação de monstros. 

Confira os que John Krasinski e Emily Blunt falam sobre o que os fãs podem esperar do filme.


Dessa vez, o diretor escolhe separar a história em dois fios narrativos, que dialogam bastante entre si. Nos pegamos torcendo bastante pelos membros da família e também por novos personagens, que encaram ameaças diversas.

Se o primeiro filme já consegue nos deixar bem apreensivos, o segundo cumpre essa missão com ainda mais primor. O longa apresenta muitos momentos de tensão, brilhantemente bem executados. 

As ótimas atuações dos membros da família, especialmente de Millicent Simmonds e Noah Jupe, e de Cillian Murphy, como Emmet, sem dúvida nos auxiliam a acreditar naquela realidade e a torcer por todos aqueles personagens, que agora estão muito mais maduros e preparados para as adversidades.


O ritmo da produção é outro ponto positivo a ser destacado. Há sem dúvidas primordiais momentos de respiro, mas estamos o tempo inteiro conectados e engajados com a história. Não vemos o tempo passar e até mesmo tomamos (mais um) susto quando a tela escurece, anunciando o fim do filme. O que fica é um significativo gosto de “quero mais”. 

A confirmação do terceiro filme da franquia é, portanto, uma excelente notícia para todos nós que nos envolvemos com o drama da família Abbott, que agora se une a novos personagens.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: John Krasinski
Distribuição: Paramount Pictures
Duração: 1h37
Exibição: Nos cinemas
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Suspense / Terror

20 julho 2021

Com atraso de cinco anos, Scarlett Johansson volta para a família com muita ação em "Viúva Negra"

Filme solo da super-heroína da Marvel faz lembrar dos bons filmes da franquia "Vingadores" (Fotos: Marvel Studios/Divulgação)


Maristela Bretas


Ação, ação e mais ação. Com ritmo acelerado de tirar o fôlego e apenas algumas cenas para dar uma explicação ou outra e momentos família, "Viúva Negra" ("Black Widow") está em cartaz nos cinemas e para assinantes do Disney+ pelo Premier Access, ao preço de R$ 69,90. Um preço salgado para apenas uma pessoa, mas que acaba ficando em conta se mais pessoas forem dividir a exibição em casa. E quase o equivalente a duas entradas inteiras, sem combo de pipoca e refrigerante.

Pena que chegou com pelo menos cinco anos de atraso. A super- heroína Natasha Romanoff, mais conhecida como Viúva Negra, merecia ter seu filme solo apresentado na sequência certa dos fatos da franquia "Vingadores". A história se passa entre "Capitão América - Guerra Civil" (2016) e "Vingadores - Guerra Infinita" (2018), quando o grupo se divide e os aliados do Capitão América passam a ser caçados pela organização S.H.I.E.L.D. 


Mas somente agora, depois da morte da Viúva Negra em "Vingadores - Ultimato" (2019), ele é exibido, o que tira o impacto do longa e causou frustração em muitos fãs da Marvel. Para compensar, a produção em ótimas lutas, perseguições e ação alucinantes do início ao fim. Além das cenas pós-crédito (não saia do cinema) que vão abrir o caminho para a fase 4 dos "Vingadores". 


Isso mesmo. Alguns heróis morreram em "Ultimato", mas os que ficaram estão ganhando mais sequências e séries solo. É o caso de Wanda, Vision, Falcão, Soldado Invernal e até Loki. Sem contar produções como "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa", que deve chegar em dezembro deste ano, "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", previsto para estrear em março de 2022, e "Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania", que pode ser lançado em 2023. 


Mas voltando à "Viúva Negra", durante sua adolescência, Natasha tem uma família "tipicamente norte-americana", só faltou um Golden Retriever. Com poucos minutos de filme, o bicho pega, com direito a uma fuga espetacular e locações de encher os olhos. Tirada dos pais junto com a irmã pequena, Yelena, ambas são treinadas na Sala Vermelha para se tornarem espiãs e assassinas russas. 

Natasha, já adulta consegue escapar, deixando a irmã para trás. Tempos depois, ela conhece o Gavião Arqueiro e se junta aos Vingadores, até se tornar uma foragida. Apesar de se isolar do mundo, ela vê seu passado em Budapeste bater à porta e trazê-la a momentos sofridos e à descoberta de figuras que julgava não existirem mais. Aos trancos e barrancos, com muita briga e rancor, ela precisará se unir à sua antiga família e derrotar um inimigo comum. Pena que Ray Winstone entregue um vilão mediano e pouco convincente. 


Trabalhar o lado emocional da super-heroína é resultado da boa direção de Cate Shortland, que soube construir bem os personagens, especialmente femininos, que predominam no filme. Scarlett Johansson arrasa na interpretação do papel principal. Mais madura e segura em sua personagem, ela divide o centro das atenções com outras estrelas que aumentam o brilho da produção e ajudam a formar uma família "bem diferente". 

A jovem atriz Florence Pugh, de "Adoráveis Mulheres" (2019) é Yelena Belova. A bela britânica é simpática, briga muito, está ótima e tem tudo para ser uma nova "Vingadora" no lugar da irmã. Outra britânica que não deixa por menos é Rachel Weisz ("A Favorita" - 2019), como- a espiã russa Melina Vostokoff, que também é a mãe de Natasha e Yelena. 


O longa recupera dos quadrinhos personagens conhecidos apenas pelos fãs. O grandalhão e ex-herói russo Guardião Vermelho, inimigo do Capitão América, que é interpretado por David Jarbour ("Hellboy" - 2019). Coube a ele o lado cômico da produção e o papel de pai das garotas. 

Além no atraso em contar a história da Viúva Negra, outro ponto negativo do filme foi o pouco destaque ao personagem Taskmaster ou Treinador (Olga Kurylenko), vilã quase robótica que persegue Natasha o filme inteiro. Como curiosidade, a adolescente Ever Anderson, que faz o papel de Natasha jovem, é filha da atriz Milla Jovovich. 


Filmado no Caribe, Noruega e, especialmente, em Budapeste, o roteiro mal dá tempo de tomar um fôlego entre as lutas e perseguições. Ótima produção que reúne ação, emoção e humor na medida. Sem grandes monstros alienígenas e guerras em outros mundos, "Viúva Negra" segue se forma correta a linha espionagem que compôs a vida da personagem, sem perder a conexão com o Universo Marvel. 

O filme merece ser conferido pelo público que curte a famosa franquia dos super-heróis, não importando em qual opção de exibição - no cinema ou em casa -, mas sempre com pipoca.


Ficha técnica:
Direção:
Cate Shortland
Produção: Marvel Studios / Walt Disney Pictures / Zak Productions
Duração: 2h14
Distribuição: Walt Disney Pictures
Exibição: Nos cinemas e Disney+ (assinantes pelo Premier Access)
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: Ação / Espionagem / Aventura
Nota: 4,5 (de 0 a 5)

15 julho 2021

"Space Jam: Um Novo Legado" para rir muito e relembrar a turma mais lunática dos desenhos

O astro LeBron James se une a Pernalonga numa partida lunática de basquete virtual (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)


Maristela Bretas


"O que é que há, velhinho?" Essa famosa pergunta será ouvida várias vezes em "Space Jam: Um Novo Legado" ("Space Jam: A New Legacy"), que estreia nesta quinta-feira (15) nos cinemas e em breve na HBO Max. Para alegria dos fãs dos Looney Tunes e de quem curtiu o primeiro filme - "Space Jam: O Jogo do Século", de 1996. 

Depois de jogarem com a estrela do Chicago Bulls na época, Michael Jordan, a turma aloprada do Pernalonga volta com toda disposição e maluquices ao lado agora de outro astro do basquete, LeBron James, do Los Angeles Lakers.


A nova produção repete a fórmula do primeiro filme, combinando animação e live-action, com um diferencial bem importante e muito positivo para a Warner - o elenco é quase todo negro. O diretor Malcolm D. Lee soube montar um time de estrelas dentro e fora da quadra, incluindo até mesmo ganhadores e indicados ao Oscar.

LeBron se sai bem como ator, é simpático, carismático e pode até pensar em seguir carreira no cinema como outros astros dos esportes com um pouco de experiência. Neste filme dá os primeiros passos como o ator principal e produtor executivo. "Space Jam", na verdade é uma grande vitrine da vida do atleta e de sua patrocinadora de tênis.


A tecnologia é a bola da vez, com um videogame sendo o palco da nova disputa e um vilão que é um algoritmo desonesto de inteligência artificial, o AI-G Rhythm. O personagem - virtual e real caiu muito bem para o também premiado Don Cheadle ("Capitão América: Guerra Civil"- 2016), que dá show de vilania em meio a tantos personagens animados. A tecnologia atinge também os Looney Tunes que passaram por uma reformulação e agora são em 3D, mais adequadas a um mundo digital.


Mas são os Looney Tunes que vão deixar LeBron James de queixo caído com a forma como "jogam basquete". Afinal, ter um time formado por Pernalonga, Patolino, Taz, Beep Beep, Coiote, Vovó, Gaguinho, Ligeirinho, Piu Piu e Frajola é para enlouquecer qualquer um. A única personagem sensata e que sabe jogar é Lola (voz de Zendaya), a linda e charmosa coelhinha que balança o coração do coelhão famoso. 


O pano de fundo da história é a relação conturbada entre LeBron James e o filho Dominic (Cedric Joe), que prefere desenvolver games a se tornar um astro nas quadras. O enredo aprofunda na questão do legado que o pai acha ser o melhor para o filho e, por isso, não consegue ver outro futuro que não seja o basquete e o que o jovem deseja realmente para sua vida. 

Na vida real, o filho mais velho de LeBron James, Bronny James (que participa do filme interpretando ele mesmo) seguiu os passos do pai e é armador no time de sua escola, em Los Angeles, nos EUA.


AI-G se aproveita disso para sugar pai e filho para dentro de um supercomputador e colocar um conta o outro, jogando em lados opostos numa partida de vida e morte, sem regras e pra lá de trapaceada.

Se o Tune Squad perder, LeBron, sua família e todos que foram raptados para o mundo virtual não poderão mais voltar ao real. Para piorar, AI-G formou, a partir do game criado por Dominic, um time de astros do basquete reprogramados e com poderes especiais, o Goon Squad, o Esquadrão Valentão.


Se dentro das quadras a rivalidade e as jogadas fazem o espetáculo, nas torcidas o clima não é diferente, para delírio dos fãs, que poderão rever dezenas de personagens de filmes e animações da Warner Bros. Pictures e Hanna Barbera: Os Flintstones, Zé Colmeia, Batman e Robin e seus inimigos Coringa, Pinguim, Charada; Homens de Preto; King Kong; o palhaço Pennywise (It – A Coisa); as gêmeas de "O Iluminado" e por aí vai. 

O resultado de "Space Jam: Um Novo Legado"? Muita diversão, boas gargalhadas, ótimas trapalhadas e a possibilidade de matar a saudade da mais famosa turma de lunáticos do cinema que nunca envelhece. Vale a pena conferir, é tão bom quanto o primeiro, que é lembrado pelos personagens em várias situações.


Ficha técnica:
Direção: Malcolm D. Lee
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: Nos cinemas e, em breve, na HBO Max
Duração: 1h55
País: EUA
Classificação: Livre
Gêneros: Animação / Comédia / Família
Nota: 3,5 (0 a 5)

10 julho 2021

"Pedro e Inês, O Amor Não Descansa" leva poesia e o amor quase impossível para as telas do cinema

História é contada em três épocas distintas, empregando os mesmos atores principais - Joana de Verona e Diogo Amaral (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)

Jean Piter Miranda


Paixão que nem o tempo separa. Essa é a história de “Pedro e Inês, O Amor Não Descansa”, coprodução entre Portugal, França e Brasil que entrou em cartaz nos cinemas nessa semana em várias cidades brasileiras (exceto Belo Horizonte). O longa conta a história do casal que luta para ficar junto em três épocas distintas - passado, presente e futuro. A obra, uma adaptação do romance “A Trança de Inês”, de Rosa Lobato Faria, foi a mais vista pelos portugueses este ano.



Para começar a entender é bom recorrer a uma história real muito conhecida em Portugal sobre Dom Pedro I. Ele tinha uma amante, Inês de Castro, com quem não pode se casar, quando ainda era príncipe. Ao assumir o trono, o rei ordenou que Inês, já morta, fosse desenterrada e, postumamente, colocada no trono e coroada rainha.

A história de Dom Pedro I, passada na Idade Média, é uma das que são contadas no filme. A outra, embora futurista, é ambientada em uma pequena comunidade cheia de regras rígidas. E a narrativa vivida no presente é bem urbana e pode se dizer que se passa nos dias atuais. Em todas elas, Pedro e Inês se encontram, se apaixonam, mas não podem ficar juntos.



Ou melhor. Eles podem ficar juntos. Não sem problemas. Não sem enfrentarem as consequências. As leis, os costumes, a família e, principalmente, o fato de que Pedro sempre está de certa forma comprometido. Ele nunca está livre quando encontra com Inês. E a separação trágica parece sempre inevitável, por mais que se tente fugir disso. Destino? Predestinação?


O ponto de destaque do filme é que, nas três histórias, os atores são os mesmos - Diogo Amaral (Pedro) e Joana de Verona (Inês). Mudam os cenários, as roupas e as falas. Mas os rostos são mantidos. Isso facilita a ligação. Há um Pedro narrador, sempre melancólico, fazendo reflexões sobre sua vida, suas dores e sua amada.

Uma narrativa poética acompanhada de fundos musicais que dão uma ambientação especial a cada cena. E sim, as imagens são muito bonitas. O filme foi rodado no verão de 2017 em quatro concelhos do distrito de Coimbra (Cantanhede, Montemor-o-Velho, Lousã e Coimbra), em Portugal.



As cenas são quase todas em ambientes fechados. E as histórias vão se intercalando, caminhando para o desfecho. Tem um pouco daquela lenda japonesa, do cordão vermelho que liga duas pessoas. Que faz com que, mais cedo ou mais tarde, elas se encontrem. Em "Pedro e Inês" é como se essa ligação ultrapassasse vidas.

É um filme, de certa forma lento. Se considerarmos o quão acelerado está o mundo. Em tempos de tuites e textos curtos. De fazer tudo ao mesmo tempo. Logo, parar por duas horas para ver uma história de amor é poesia e pode ser uma experiência que cause estranhamento a muitos. Mas é uma obra necessária, que chega na hora certa. Quem quiser tirar um tempo, vai ver que vale a pena.


Ficha Técnica:
Direção e Roteiro
: António Ferreira
Produção: Persona Non Grata Pictures
Países: Portugal, Brasil e França
Distribuição: Pandora Filmes
Duração: 2 horas
Classificação: 16 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

02 julho 2021

Crime em "Mare of Easttown" expõe o lado obscuro de uma comunidade

Série tem como pano de fundo a investigação do assassinato de uma jovem numa pequena cidade da Pensilvânia (Fotos: HBO/Divulgação)


Carolina Cassese


“Neste drama policial original da HBO, a vencedora do Oscar, Kate Winslet ("Titanic" - 1997 e "A Despedida" - 2021), interpreta Mare Sheehan, uma detetive de uma pequena cidade da Pensilvânia que deve investigar um violento assassinato local”. A partir dessa premissa presente na descrição oficial da série, poderíamos facilmente classificar "Mare of Easttown" como mais uma produção do estilo “quem matou”. 

No entanto, a HBO apresenta mais uma vez (assim como fez em "Big Little Lies", "Sharp Objects" e, mais recentemente, com "The Undoing") uma trama complexa, repleta de camadas e dramas humanos.


A minissérie também está disponível no serviço HBO Max, que estreou no Brasil em 29 de junho. Como já explicitado, os acontecimentos da série são desencadeados a partir do assassinato da jovem Erin McMenamin (Caille Spaeny). A detetive encarregada do caso é Mare Sheehan (Kate Winslet, principal nome por trás da série), que ainda sofre com o luto pela morte de seu filho, Kevin. Na medida em que conhecemos os núcleos familiares dos moradores da cidade, observamos que todos estão lidando com questões complicadas. Todos são suspeitos.


"Mare of Easttown" quebra uma velha premissa de muitas produções de suspense - a de que “absolutamente tudo que o diretor escolhe mostrar precisa ser relevante para a resolução do mistério”. Diversos acontecimentos da história são, na verdade, pistas falsas (a técnica de misleading, bastante utilizada pela rainha do crime Agatha Christie) ou informações que contribuem consideravelmente para a construção dos personagens, mas não para o desenlace da investigação.

Até mesmo o personagem Richard Ryan, par romântico de Mare interpretado pelo ótimo Guy Pearce, não tem aquela função clássica de amor romântico da protagonista. “Não é preciso ser para sempre para significar algo”, destaca a namorada da personagem Siobhan Sheehan (Angourie Rice), filha de Mare.


O produtor-executivo da série reforça que a trama é pouco centrada em homens ou no amor romântico. “A maioria dos personagens masculinos nesse programa são maus. Não quero dizer todos, mas a maioria. Assim que comecei a escrever o roteiro, queria escrever sobre a minha casa e eu cresci rodeado de mulheres. Foi essa força e essa solidariedade entre elas que me inspirou”, declarou Brad Ingelsby ao podcast Still Watching.

As relações de amizade e de família são mais do que suficientes para sustentar a série e contar excelentes histórias. Temos de fato a sensação de que os moradores da pequena cidade já se conhecem há bastante tempo e são verdadeiramente familiarizados uns com os outros. Os sentimentos, tanto os de amor quanto os de ódio, parecem ter raízes.


Tal percepção se deve muito ao excelente elenco da produção. É inclusive uma tarefa difícil destacar apenas um nome, ao passo que é necessário citar o maravilhoso trabalho de Winslet, encarregada de interpretar nossa adorável (“pero no mucho”) protagonista. “Pero no mucho” pelo simples motivo de que Mare é real: comete erros, muitas vezes é seca com a mãe (que também pode ser bem direta com ela), nem sempre dá a devida atenção para sua filha, se recusa a cumprir ordens do chefe. Em meio a todas essas contradições, Mare pode ser adoravelmente desagradável ou desagradavelmente adorável. Ela é crível, quase existe, quase tem vida própria.


Além dos excelentes veteranos James McArdle (Deacon Burton), Jean Smart (Helen) e Robert Tann (Billy Ross), o elenco mais jovem de "Mare of Easttown" também não deixa a desejar e protagoniza momentos carregados de dor. Prepare-se: seu emocional provavelmente não ficará intacto com o fim que leva um dos personagens jovens. Outro nome responsável por dilacerar nossos corações é o de Julianne Nicholson (Lori Ross), excelente atriz que entrega muito em cenas difíceis.


O último episódio da minissérie, intitulado "Sacrement", é um show de duas atrizes que, justamente por serem tão espetaculares, nos fazem esquecer que Winslet e Nicholson estão em cena. Naquele momento, vemos apenas Mare e Lori, duas amigas que sofrem, se protegem e se amam. A emocionante cena final é um lembrete importante de que muitas vezes precisamos de tempo (e também de escuta) para lidarmos com nossos machucados e encararmos sótãos empoeirados.

Levando em conta o fato de Damon Lindelof, produtor da série "Watchmen", ser fã assumido de "Mare of Easttown" (há ainda uma gratificante piscadela da série para o Dr. Manhattan), é válido pegar carona numa frase dessa outra excelente produção da HBO. Afinal de contas, “feridas precisam de ar, não de máscaras”.


Ficha técnica:
Direção:
Craig Zobel
Criação: Brad Ingelsby
Exibição: HBO e HBO Max
Duração: média de cada episódio de 60 minutos (1ª Temporada - 7 episódios)
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Policial