O desempenho impecável do elenco nas duas fases é um dos grandes méritos da produção (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação) |
Mirtes Helena Scalioni
Pelo menos dois detalhes deixam claro que “Aranha”
("Araña"), filme do diretor chileno Andrés Wood, que entra em cartaz
nos cinemas nesta quinta-feira, não veio para virar um blockbuster. O primeiro:
em vez de narrar a história com começo, meio e fim, a direção optou por
recortes, com idas e vindas, revezando cenas dos anos de 1970 e da atualidade.
O segundo: o final, tão inusitado quanto inesperado, deixa no espectador um
gosto de incompletude. Ambos são típicas características de um bom “filme de
arte”, como querem alguns.
O roteiro, de Guilhermo Calderón, é interessante e curioso:
no início da década de 1970, em pleno governo Allende, um grupo de extrema
direita chamado Pátria e Liberdade (Patria y Liberdad) programa e comete atentados
violentos em nome de um sonhado nacionalismo.
A ideia é matar o presidente
Allende e combater o comunismo, dando apoio ao golpe de Estado do general
Augusto Pinochet. Entre os mais atuantes dessa turma, estão os jovens Inés
(Maria Valverde), Justo (Gabriel Urzía) e Gerardo (Pedro Fontaine), que vivem
um conturbado e estranho triângulo amoroso.
Quarenta anos depois, um crime reaproxima os agora adultos
Inés (Mercedes Morán), que se casou com Justo (Felipe Armas), e Gerardo
(Marcelo Alonso), que reaparece depois de um longo sumiço. A reconstituição de
época e figurinos, irrepreensíveis, são partes imprescindíveis da trama.
O desempenho impecável do elenco nas duas fases, que tem até
participação de Caio Blat como Antonio, um dos líderes do movimento fascista, é
um dos grandes méritos de “Aranha”, que às vezes se torna confuso graças à
vertiginosa mudança de época. O trio principal, tanto na versão jovem quanto na
maturidade, não deixa a peteca cair, evitando que o espectador se sinta tentado
a julgar os três como bandidos.
Principalmente Mercedes Morán, que faz uma Inés adulta acima
de qualquer suspeita, interpretando uma empresária influente e poderosa. Logo
no início do filme, como um aviso, o longa – uma produção de Chile, Argentina e
Brasil - deixa claro que a violência faz e vai fazer parte dessa história.
Crimes, bombas, correrias, tiros, pichações, atritos e
reuniões secretas são intercalados, com muita naturalidade, com as cenas
calientes entre Gerardo e Inés, sempre deixando dúvida se a traição é aceita ou
será vingada por Justo, o marido dela.
Interessante também é saber que Andrés Wood se tornou
conhecido – e reconhecido - no Brasil principalmente por dois filmes: “Violeta
foi para o céu” e “Machuca”. Tanto o primeiro, uma cinebiografia da cantora e
compositora Violeta Parra, quanto o segundo, sobre a desigualdade social no
Chile pós-golpe, são longas, digamos, de esquerda.
Em “Aranha”, o diretor mostra exatamente o outro lado da
moeda. Não há, claro, nenhum julgamento. Mas não deixa de ser curioso,
principalmente nesses tempos de polarização vividos praticamente em todo o
mundo. Ou seria um alerta?
Ficha técnica:
Direção: Andrés Wood Exibição: Una Cine Belas Artes - Sala 3 - sessão 14h30
Produção: Bossa Nova Films, Magma Cine, Andrés Wood Producciones
Distribuição: Pandora Filmes
Duração: 1h45
Classificação: 16 anos
Países: Chile / Argentina / Brasil
Gêneros: suspense / crime
Distribuição: Pandora Filmes
Duração: 1h45
Classificação: 16 anos
Países: Chile / Argentina / Brasil
Gêneros: suspense / crime
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