Filme dirigido por Wagner Moura traz o cantor e ator Seu Jorge interpretando um dos maiores inimigos da ditadura militar brasileira (Fotos: Factoria Comunicação/Divulgação)
Mirtes Helena Scalioni
Pode ser que uns e outros não gostem. Mas fica claro, desde o início, que no filme “Marighella", direção de Wagner Moura, o personagem é apresentado e conduzido como o grande inimigo da ditadura militar, valente defensor da democracia e da liberdade. A posição política do diretor é explícita e talvez venha daí a honestidade do longa que, em 2h35 minutos, narra os últimos cinco anos do líder da ALN – Ação Libertadora Nacional.
A produção, filmada na Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, estreia nos cinemas no próximo dia 4 de novembro, há exatos 52 anos do assassinato de Marighella. Passou por importantes festivais pelo mundo - Berlim, Seattle, Hong Kong, Sydney, Santiago, Havana, Istambul, Atenas, Estocolmo, Cairo -, além de cerca de 30 exibições em países dos cinco continentes, e terá pré-estreias a partir do dia 1º de novembro em todo Brasil.
O recorte da biografia do político, escritor e guerrilheiro baiano no filme vai do golpe militar de 1964 até 1969, quando ele foi assassinado numa emboscada nas ruas de São Paulo. Mostrado como aglutinador, inteligente, criativo e corajoso, Carlos Marighella é interpretado na medida por Seu Jorge, que tem se revelado, além de cantor, um ator de talento, sempre expressivo quando seu rosto é explorado em closes.
Carlos Marighella (esquerda) é interpretado por Seu Jorge (direita)
É impossível sair ileso do filme, que entra em cartaz nos cinemas do Brasil com dois anos de atraso, segundo consta, por problemas provocados pela Ancine – Agência Nacional do Cinema – que fez de tudo para barrar a exibição do primeiro trabalho do ator Wagner Moura na direção, mesmo depois dele ter sido aplaudido de pé no Festival de Berlim, em 2019.
“Marighella” é essencialmente didático e nitidamente popular, capaz de prender e emocionar pessoas das mais diferentes idades e - quem sabe - ideologias. E pode até agradar os que apreciam filmes de ação e tiroteios. Veja o vídeo especial sobre quem foi Marighella clicando aqui.
Baseado na biografia escrita por Mário Magalhães em 2012, o roteiro do longa - de Felipe Braga e Wagner Moura - é enriquecido com uma sacada inteligente: como eram muitos os guerrilheiros liderados por Marighella, os atores que os interpretam no filme aparecem com seus próprios nomes, como se representassem todos eles.
Assim, Humberto Carrão, por exemplo, é o jovem guerrilheiro Humberto; Bella Carneiro simboliza a presença feminina como Bella, Henrique Vieira marca a atuação da igreja no movimento como frei Henrique e assim por diante.
Estão também no elenco artistas experientes e brilhantes como Bruno Gagliasso, convencendo satisfatoriamente como o desprezível Lúcio, delegado e torturador; Herson Capri como o empresário de imprensa Jorge Salles, Luiz Carlos Vasconcelos como o militante maduro Branco, e Adriana Esteves (em papel pequeno, mas marcante) como Clara, a mulher de Marighella.
É preciso destacar ainda a perfeita reconstituição de época do filme. Impossível não perceber que todos se locomovem de Fusca ou de Rural Willys, por mais perigosa que seja a ação. Outro destaque é a trilha sonora que, desde o início, mostra a que veio com hip hops de letras engajadas.
Mesmo que pareça parcial, mesmo que seja uma homenagem a um homem que nem todos admiram e aplaudem, “Marighella” é um filme imprescindível por colocar nas conversas o nome de alguém que não entrou nos livros de História do Brasil, apesar de ter lutado e morrido pelo que acreditava. Não dá para desprezar a trajetória de alguém que vivia repetindo: “Não tenho tempo para ter medo”.
Ficha técnica:
Direção: Wagner Moura Exibição: nos cinemas Produção: O2 Filmes / Globo Filmes / Maria da Fé Distribuição: Paris Filmes / Downtown Filmes Duração: 2h35 Classificação: 16 anos País: Brasil Gêneros: Drama / Biografia
Nova minissérie trata sobre violência doméstica e exploração do trabalho (Fotos: Ricardo Hubbs/Netflix)
Carolina Cassese
“Você acha que eu não conheço esse tapete? Eu já estive nesse tapete. Perdi semanas minha vida nesse tapete. Você vai se levantar desse tapete, Alex, e vai revidar. Fique furiosa! Puxe essa fúria lá de dentro, mama. O que ele fez com você foi babaca. É melhor começar a ficar com raiva.” Centrada na luta de uma mãe que é vítima de violência doméstica estreou em 1º de outubro, na Netflix, a minissérie "Maid", idealizada por Molly Smith Metzler.
A produção é adaptada do livro de memórias "Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother's Will to Survive", publicado por Stephanie Land em 2019. A série abarca discussões densas de temas como abuso psicológico, exploração do trabalhador e relações familiares conturbadas.
Nossa personagem principal é interpretada por Margaret Qualley, que entrega uma performance forte, cheia de personalidade. Sua dupla de cena é a adorável Rylea Nevaeh Whittet, que encarna a menina Maddie. As duas atrizes têm uma química impecável, o que propicia cenas bastante ternas e críveis.
Logo no primeiro capítulo, a série apresenta a discussão sobre o que pode ou não ser caracterizado violência doméstica. “Vou chamar a polícia e dizer o quê, que ele não me bateu?”, questiona Alex. Ela passa por uma verdadeira jornada até compreender que o abuso se manifesta de diferentes maneiras, inclusive por meio de gritos e socos na parede.
O problema é que nem sempre a lei e as principais instituições terão essa mesma leitura. A minissérie faz um uso interessante de recursos visuais e sonoros ao longo dos dez episódios. Um exemplo é a calculadora que aparece na tela quando Alex está pensando em suas finanças. Essa é uma forma de fazermos as contas junto com as personagem: será que dá para gastar com isso? Não é melhor optar por outro produto? Esse salário vai ser suficiente?
Quando a protagonista enfrenta um momento difícil, vemos ela literalmente afundar no sofá, uma metáfora bastante elucidativa acerca do transtorno depressivo. Outra boa cena é a primeira vez de Alex no tribunal, quando ela escuta o advogado e a juíza falarem literalmente a palavra “juridiquês” a cada vez que se referem a algum termo específico da área do direito. Dessa maneira, nos sentimos tão confusos quanto a protagonista, num universo que parece fazer o possível para garantir que apenas uma seleta parcela especializada da população consiga compreender quais são seus direitos.
Um grande acerto de "Maid" sem dúvida diz respeito à complexidade dos personagens. Paula (Andie MacDowell), mãe de Alex, é um excelente exemplo de como as figuras da trama são decididamente repletas de nuances. Ela sem dúvidas ama a filha e a neta, ao passo que muitas vezes some do mapa, deixando as duas numa situação de absoluta necessidade. Em diversos momentos, Paula não parece acreditar no fato de que a filha foi vítima de violência por parte de Sean.
Outra personagem carregada de facetas é Regina, a primeira patroa de Alex. É inevitável sentir raiva dela nos primeiros episódios, quando a mesma humilha a faxineira em mais de uma ocasião. No decorrer dos capítulos, porém, percebemos que ela carrega muitas dores e pode também ser generosa. O mesmo acontece com Sean, o ex da protagonista. Ele é inegavelmente um abusador, ao mesmo tempo que passa por dramas pessoais e, em alguns momentos, parece de fato ter boas intenções.
A produção da Netflix acerta ainda em trabalhar muito bem o arquétipo do nice guy, que é basicamente aquele cara que se sente desvalorizado, alegando que “as mulheres só gostam dos cafajestes”. Na trama, quem encarna essa representação é Nate, personagem interpretado por Raymond Ablack. Ele é sem dúvidas muito legal, romântico e prestativo. Mas isso não impede que seja também chantagista e mal intencionado em determinados momentos.
Nos personagens de "Maid", observamos a convivência de traços de personalidade que à primeira vista podem parecer contraditórios: como um homem abusador pode às vezes ter boas intenções e amar de verdade a própria filha? Como um cara legal como Nate pode ser aproveitador? Nosso vício em arquétipos pode nos fazer querer colocar um rótulo em cada personagem, mas a série nos desafia constantemente a respeito desses estereótipos preconcebidos.
A própria protagonista nos desafia. Ela usa a roupa da patroa às escondidas e abre o vinho da casa em que está trabalhando. Isso é errado, parte da nossa consciência pode dizer. Mas o que é certo? Trabalhar tanto em troca de pouquíssimos trocados e ainda ser humilhada?
Há também o fato de que a trajetória de cura de Alex não é linear, o que transmite uma mensagem muito importante. Assim como Sean tem recaídas no que diz respeito ao tratamento da sua dependência alcoólica, a personagem principal também tem suas recaídas. Esses pequenos retrocessos fazem parte do processo, até mesmo do progresso, e de forma alguma diminuem o mérito da protagonista.
Muitas vezes, nos pegamos sentindo raiva de personagens como Yolanda, a rígida chefe de Alex. A minissérie apresenta uma realista dinâmica entre ela e suas funcionárias: Yolanda explora, ao passo que também sempre foi (e continua sendo) significativamente explorada.
Em determinada cena, ela diz: “Mesmo quando um cliente fala, olhando bem na sua cara, ele está falando sozinho. Faz dez anos que eu limpo essas casas e ainda sou chamada de Selena, Gordita. Não importa. Sou só um burrito que elas chamam quando o banheiro começa a feder”.
No final das contas, todas fazem parte da mesma camada social, definitivamente da mesma classe trabalhadora, com a diferença de que a chefe da Value Maids consegue exercer algum tipo de pequeno poder intimidador sobre as empregadas.
"Maid" traz também uma importante reflexão acerca do quanto a sociedade impõe às mulheres a tarefa de cuidarem de homens - irmãos, pais, maridos, namorados. Sean constantemente evoca o fato de ter uma doença, o alcoolismo, que sem dúvidas merece muita atenção.
No entanto, Alex também está doente. Por conta dos abusos de seu companheiro, ela desenvolve diversos quadros de transtornos psicológicos, que também a deixam debilitada, muitas vezes sem conseguir sair da cama. Seu ex, porém, não parece considerar a doença dela.
A partir da minissérie, podemos compreender melhor porque dizem que “mulheres amadurecem antes dos homens”. Elas cuidam da casa, dos filhos, quando necessário das mães e até mesmo de seus companheiros. As jornadas são duplas, triplas, quase infinitas. Isso por si só pode ser bastante adoecedor. Homens como Sean, no entanto, parecem ter mais direito de errar e, ainda, de não crescer.
Algumas observações sobre a produção apontaram que a realidade apresentada é privilegiada em relação ao que vemos no Brasil. Essa é sem dúvidas pertinente, já que a nossa pobreza, ou melhor dizendo, a nossa miséria, é inegavelmente mais cruel, nosso índice de feminicídios é maior, nossas taxas de violência doméstica, em especial contra mulheres negras, é assustadora.
Além do mais, a cultura brasileira de exploração do trabalho doméstico é bastante particular e especialmente cruel. Afinal de contas, o “quartinho de empregada” não faz parte da arquitetura dos apartamentos em países mais igualitários. Devemos ter em mente que, de fato, a série apresenta um recorte específico de pobreza, muito típica do contexto estadunidense - mas claro, isso não é um demérito da produção.
Nem todas podem ser salvas. Essa é uma triste, porém verdadeira lição que podemos tirar da minissérie. Assim como Alex, nós desesperadamente queremos tirar a personagem Danielle da situação de opressão em que ela se encontra. Também sentimos a necessidade de salvar Paula desse ciclo de abusos que se perpetua ao longo de décadas.
“Elas voltam com mais frequência do que ficam. A maioria das mulheres precisa de sete tentativas para finalmente partir”, diz Denise, que administra o abrigo para vítimas de violência doméstica. De qualquer maneira, a possível salvação aqui não passa pelo príncipe encantado das histórias clássicas. Não precisamos de um homem, e sim de políticas públicas, solidariedade, autoconhecimento e diferentes tipos de amor (o romântico é apenas um deles).
É importante mencionar que, ao longo dos episódios, somos testemunhas de muitos sopros importantes de resistência. Em um dos últimos capítulos, Sean elogia a aparência de Alex e ela logo replica: “Não é para você”. Sua fala pode soar desnecessariamente direta, mas é bastante importante se considerarmos a história dos dois e, ainda, o fato de que homens parecem sempre acreditar que a beleza feminina é para a apreciação deles.
Também é muito forte quando, na “loja de mentira” do abrigo de violência doméstica, Alexse lembra exatamente de qual é sua cor preferida. Anteriormente, a funcionária da loja tinha dito que o abuso sistemático nos faz esquecer de quem somos, de quais são nossos verdadeiros gostos, do que é genuinamente nosso.
A narrativa evidencia a importância de um Estado presente, que dê assistência a essas mulheres desamparadas. A ampliação de creches gratuitas, por exemplo, é uma medida que pode melhorar significativamente a vida de mães que precisam trabalhar e não têm com quem deixar os filhos. Alex precisa enfrentar uma interminável burocracia para conseguir algum tipo de apoio, que mesmo assim é precário. É inaceitável também que um país rico e vasto como os Estados Unidos apresente um número expressivo de pessoas que não tem onde morar.
Quando observamos Alex mudar de casa tantas vezes (assim como sua mãe), é possível que nos lembremos de "Nomadland", o mais recente vencedor do Oscar. “Casa é só uma palavra ou algo que carrega com você?”, questiona uma personagem do filme de Chloe Zhao, parafraseando a canção "Home It’s a Question Mark".
A casa de Alex em determinado momento é o abrigo para vítimas de violência doméstica, não apenas porque ela está de fato morando lá, mas principalmente porque a protagonista passa a sentir confiança em suas colegas e se sente segura ali. Para Paula, casa é onde ela pode ver o pôr do sol de algodão doce e as estrelas. Num momento de cansaço, Maddie questiona a mãe: “Quando vamos para casa?”.
Na maior parte das vezes, porém, a garota parece se sentir em casa com muita facilidade, especialmente por receber tanto carinho de Alex. Casa, para elas, é um processo. É uma road trip, uma temporada de dez episódios e, em cada parada, prendemos a respiração junto com a protagonista e sua filha, na ânsia de saber se elas serão acolhidas ali.
No final das contas, casa, para Alex e Maddie, diz respeito a essa forte relação de mãe e filha, mesmo diante de uma sociedade que ainda é bastante hostil com as mulheres, em especial com as que não têm muitos recursos financeiros.
Ficha técnica:
Criação: Molly Smith Metzler Produção e exibição: Netflix Duração: 1a Temporada - 10 episódios (média de 60 minutos cada) País: EUA Gênero: drama Classificação: 16 anos
Pessoas falidas são atraídas para um lugar misterioso e começam a participar de competições infantis e mortais (Fotos: Netflix)
Mirtes Helena Scalioni
Não se pode negar que “Round 6” ("Squid Game"), produção sul-coreana em cartaz no Netflix, seja uma obra instigante e curiosa. Praticamente um retrato do capitalismo selvagem que elimina os que não querem – ou não conseguem – fazer parte da engrenagem, a série de nove episódios é o maior sucesso mundial do streaming, capaz de levar espectadores mais atentos a uma necessária reflexão sobre o futuro da humanidade.
Embora repleto de cenas muito violentas – talvez propositadamente exageradas – a história tem sacadas geniais para deixar claro como funciona o jogo. Traições de quem parecia amigo, a eterna desvantagem das mulheres, a apologia da esperteza (“farinha pouca, meu pirão primeiro”) e a conclusão de que somos apenas um número no sistema recheiam o discurso da série que, se assusta no início, fisga o público até o final.
A sinopse é, por si só, esquisita: homens e mulheres falidos e sem esperança são atraídos para um lugar misterioso onde são catalogados com um número e, a partir daí, começam a participar de competições. Ao final, o vencedor vai receber uma fortuna em dinheiro. Interessante é que os jogos são todos infantis, alguns deles conhecidos no Brasil como “Batatinha frita 1,2,3”, bolinhas de gude e cabo de guerra, nos quais nem sempre a força se impõe.
Muitas vezes, a sorte se sobrepõe e a injustiça pode sim sair vitoriosa. Assim como na vida. O grande susto da história é: quem perde, paga com a vida. O perdedor é sumariamente eliminado com um tiro na cabeça ou no peito.
Seong Gi-hun (Lee Jung-jae) é o protagonista de “Round 6”, que encanta e convence como o jogador 456, um malandro boa praça quase inocente que tem sua última chance de consertar uma vida cheia de erros. Jung Ho-yeon (Kang Sae-byeok) faz a jogadora 067, jovem amarga fugitiva da Coreia do Norte, que precisa da grana para resgatar a mãe e cuidar do irmãozinho. Cho Sang-woo (Park Hae Soo) faz o jogador 218, amigo de infância do 456, profissional brilhante que perdeu tudo no mercado financeiro.
Representando a experiência, Oh Il-nam (Oh Young-soo) é o competidor 001, um idoso que tem um tumor no cérebro. Há outros personagens de destaque, como o vilão truculento, o médico que entra no esquema criminoso da organização, a moça que acaba de sair da cadeia depois de ter matado o padrasto, a espertinha metida a conquistadora... A fauna é rica e diversificada.
Não fica claro para o espectador quem são as pessoas que comandam aquele lugar e nem por que alguém se daria ao trabalho de criar uma organização tão esdrúxula quanto improvável. Os líderes parecem se divertir com o sofrimento e os apuros dos jogadores, cada um com seu pequeno – ou grande – drama. Claro que, num ambiente tão hostil e perigoso, ética e moral são ideias raras.
Pena que o final decepcione um pouco, como se o autor tivesse se perdido e inventado, de última hora, um desfecho inverossímil e incabível. O escritor Hwang Dong-hyuk tem dito em entrevistas que escreveu a série sem pensar em uma segunda temporada. Parece mais uma jogada de marketing, pois muitas tramas não se fecham e alguns nós não foram desfeitos. Por mais subjetivas que sejam as metáforas e parábolas, elas também carecem de um mínimo de coerência.
Ficha técnica: Criação: Hwang Dong-hyuk Exibição: Netflix Duração: 9 episódios (60 minutos cada) País: Coreia do Sul Gêneros: drama/ suspense / ação Classificação: 16 anos
Franquia do mais famoso agente secreto britânico completa 25 filmes com fôlego para arrastar milhares de pessoas de volta ao cinema (Fotos: Universal Pictures)
Maristela Bretas
Não poderia ser menos do que foi entregue. Daniel Craig deixa o personagem James Bond, após cinco filmes, com estilo, muita ação e um gran finale merecido em "007 - Sem Tempo Para Morrer" ("No Time To Die"). O longa, 25º da franquia, desta vez dirigido por Cary Joji Fukunaga que também participou do roteiro com Neal Purvis, Robert Wade e Phoebe Waller-Brodge, é adrenalina pura. E vem com muitas mudanças, especialmente com as mulheres ocupando mais espaço na trama, deixando de ser meramente "Bond Girls".
Na trama temos a volta de Léa Seydoux vivendo Madeleine Swann, namorada de Bond, que tem um papel essencial na história e nas decisões dele. A primeira vez que seu personagem apareceu foi em "007 Contra Spectre" (2015) e o romance começou naquela época e leva Bond a se aposentar.
Já a vaga deixada no MI6 com a aposentadoria do famoso agente agora é ocupada por uma mulher forte e determinada - Nomi - papel de Lashana Lynch, que entrega uma boa agente, mas ainda precisa encarar muito chumbo e porrada (como aconteceu com Craig) para personificar o maior agente britânico de todos os tempos, criado pelo escritor Iam Fleming em 1953. Mas como fã, ainda sou da torcida organizada de Sean Connery como o melhor de todos.
Ana de Armas faz uma aparição infelizmente curta, mas arrasadora e letal como Paloma, parceira de Bond numa missão. Não menos importante temos também Naomie Harris, a nova Moneypenny, que sai de trás da mesa de secretária do diretor do MI6 para mostrar que pode ir a campo para ajudar um velho amigo.
A volta com despedida do icônico espião já era suficiente para arrastar o público de volta ao cinema, com muita pipoca e refrigerante. Mas a campanha de marketing para divulgação do longa não deixou por menos e jogou pesado, com direito à realeza britânica e outros famosos na pré-estreia, o que ajudou a colocar o filme no topo das bilheterias de estreia em vários países, inclusive no Brasil.
No filme temos James Bond aposentado, vivendo uma fase romântica com sua namorada Madeleine Swann, longe da rotina perigosa do MI6. Até ser importunado por seu passado e sofrer uma desilusão amorosa.
Isolado em sua casa na Jamaica, é procurado pelo velho amigo Feliz Leiter (Jeffrey Wright), agente da CIA, para encontrar e capturar o insano Lyutsifer Safin (Rami Malek), que planeja contaminar toda a humanidade com um produto tóxico que ataca o DNA das pessoas.
O agente com licença para matar agora é alguém esquecido e vai precisar contar com a ajuda de amigos da antiga agência - Moneypenny (Naomie Harris) e "Q" (Ben Whishaw) para enfrentar o novo vilão. Para piorar, descobre que seu antigo chefe "M", diretor do MI6 (Ralph Fiennes) está envolvido na trama. Mas é um antigo inimigo quem vai fazer Bond voltar à ativa após cinco anos, desde "007 Contra Spectre" - Ernst Stavro Blofeld (papel de Christoph Waltz) que continua influente mesmo atrás das grades.
Por falar em vilão, os produtores deram dois tiros nos pés. O primeiro foi a escolha de Rami Malek para o papel. Mesmo com toda a competência do ator, o personagem ficou caricato, cheio de caras e bocas, lembrando o papel de Freddie Mercury, de "Bohemian Rhapsody" (2018). Sem força e expressão, Safin aparece pouco é previsível em todas as ações e totalmente esquecível. Até Blofeld tem mais presença.
O outro segundo erro foi a escolha da música-tema "No Time To Die", composta e interpretada por Billie Eilish. Totalmente 'deprê', sem impacto ou grandes arranjos, especialmente na finalização. Quebra o ritmo dos filmes de 007. Felizmente a trilha foi salva pelo grande Hans Zimmer, que incluiu até mesmo o sucesso "We Have All The Time in The World", com Louis Armstrong, do filme "007 - A Serviço de Sua Majestade" (1969).
Mas estes dois "foras" não tiram o brilho do quinto e último filme de Daniel Craig a frente do famoso espião. "007 - Sem Tempo para Morrer" é ótimo do início ao fim, do tipo que não deixa o expectador sossegado na cadeira. Craig apanha e bate muito, mas muda a postura do "garanhão" para um agente aposentado, mas sem nunca perder a classe.
O público também tem a oportunidade de rever símbolos de antigos filmes da franquia que são a marca de James Bond. Nada como um "Martini seco batido, não mexido", ou a pistola semiautomática Walther PP e, claro, o charmoso Aston Martin, com suas metralhadoras e explosivos embutidos nos faróis. O diretor Cary Fukunaga ainda brinda os fãs incluindo em uma das cenas a famosa abertura dos filmes de 007, com o agente entrando num túnel, se virando e apontando a arma.
Para quem ainda não assistiu e é fã de "Bond, James Bond", "007 - Sem Tempo para Morrer" é imperdível. Soube dosar ótimas sequências de ação, emoção, suspense, belas locações e boas recordações.
Ficha técnica:
Direção: Cary Joji Fukunaga Produção: Metro Goldwyn Mayer (MGM) / Eon Pictures Distribuição: Universal Pictures Exibição: nos cinemas Duração: 2h43 Classificação: 14 anos Países: Reino Unido / EUA Gêneros: ação / espionagem/ suspense Nota: 4 (0 a 5)
Estrelado por David Thewlis, sob a direção de Atom Egoyan, longa está disponível apenas nas plataformas digitais (Fotos: Califórnia Filmes/Divulgação)
Mirtes Helena Scalioni
Há quem chame de “filme de festival” produções mais
fechadas, intimistas, questionadoras e normalmente contadas em flashbacks – uma
ferramenta que alguns diretores têm usado muito na tentativa de valorizar a
obra. Se isso for verdade, pode-se chamar assim a mais recente direção de Atom
Egoyan, responsável também pelo roteiro de “Convidado de Honra” ("Guest of
Honour").
O longa está disponível para aluguel, compra ou assinatura
apenas nas plataformas digitais Claro Now, Amazon Prime Video, iTunes /Apple Tv,
Google Play, YouTube Filmes e Vivo Play. E tem tudo para agradar principalmente
os cinéfilos de carteirinha. Não por acaso, foi apresentado ao mundo no
Festival de Veneza de 2019.
Misterioso do começo ao fim, o filme fala da relação
tumultuada e cheia de equívocos e culpas entre Jim (David Thewlis, de
"Liga da Justiça - Snyder Cut" - 2021, "Mulher Maravilha" - 2017 e "A Teoria de Tudo" - 2015 ) e sua filha Verônica (a atriz canadense-brasileira
Laysla de Oliveira).
Solitário e exigente inspetor de alimentos, Jim faz de
tudo para tirar a jovem filha da prisão, pois todos sabem que ela é inocente,
embora acusada de abuso sexual. Porém, há um grande problema: ela não quer sair
da cadeia porque quer expiar outras culpas.
“Convidado de Honra” começa com uma conversa entre Verônica
e o padre Greg (Luke Wilson, de "Zumbilândia - Atire Duas Vezes" -
2019), com o objetivo de preparar o funeral de Jim. Sabe-se, portanto, desde o
início, que ele está morto. A partir daí, muitas idas e vindas e infinitos
flashbacks vão revelando ao espectador partes da vida dos dois. Ele, fiscal de
restaurante; ela, professora de música de adolescentes.
Embora cheio de mistérios e repleto de dúvidas – talvez
exatamente por isso – o filme acaba por criar um certo suspense, mesmo que, por
vezes, desorganize o raciocínio do público. A cena em que o espectador
descobre, por fim, por que o título do longa é “Convidado de Honra” é, ao mesmo
tempo, impagável, inteligente e sutil.
Enfim, é preciso dizer que David Thewlis carrega o filme nas
costas, com uma atuação cheia de nuances que ajudam a confundir ainda mais o
espectador. Impossível ficar indiferente depois de ver “Convidado de Honra”,
por mais estranho que a produção possa parecer.
Ficha técnica:
Direção: Atom Egoyan Exibição: Plataformas digitais Claro Now, Amazon Prime Video, iTunes /Apple Tv, Google Play, YouTube Filmes e Vivo Play Duração: 1h45 Classificação: 14 anos País: Canadá Gênero: drama
Hugh Jackman e Rebecca Ferguson são as estrelas desta produção, que agora está em canais de streaming (Fotos: Warner Bros. Entertainment)
Jean Piter Miranda
Em um futuro não muito distante, a cidade de Miami, nos Estados Unidos, está submersa, por causa do agravamento do aquecimento global. É nesse mundo que o investigador particular da mente Nick Bannister (Hugh Jackman, de "O Rei do Show" - 2017) usa uma máquina para ajudar pessoas a reviverem suas memórias. O mesmo equipamento que o ajuda em suas investigações.
Até que um dia, Bannister se envolve com uma cliente, que desaparece. Para reencontrá-la, ele terá que enfrentar a máfia e ainda resolver um misterioso assassinato. Essa é a história de “Caminhos da Memória” ("Reminiscence"), disponível nos canais HBO Max, Youtube Filmes e Google Play.
Emily Sanders (Thandiwe Newton, de "Han Solo" - 2018) é a assistente de Nick e trabalham com a máquina de rever e gravar memórias. A pessoa é colocada deitada, parcialmente coberta por água, com fios ligados à cabeça. As memórias visitadas são projetadas em holograma, como numa tela de cinema.
O trabalho requer muita privacidade, já que Nick e Emily assistem tudo, inclusive lembranças íntimas dos clientes. Tudo fica gravado em pequenas placas de vidro, para que a pessoa possa assistir em casa quantas vezes quiser.
Certo dia, Mae (Rebecca Ferguson, de "Missão Impossível: Efeito Fallout"- 2018) vai até consultório para rever uma de suas memórias que vão ajudá-la a encontrar uma chave perdida. Motivo muito bobo, por sinal. Mae e Nick acabam se envolvendo, mas depois ela some. Ele fica desolado e passa a usar a máquina para reviver as lembranças desse relacionamento. O que é bem arriscado, já que ativar as mesmas memórias várias vezes pode corromper parte do cérebro.
Tempos depois, durante uma investigação, Nick é chamado para acessar as memórias de um homem que está perto da morte. Nas lembranças do cliente, ele vê Mae. Com essa pista, ele percorre o submundo de Miami em busca de sua amada. Aí é que tudo se complica.
O filme é, vamos dizer, uma "mistureba". Tem coisa demais na trama. Nick e Emily são ex-combatentes. Filme de herói sempre tem ex-combatente. E tirando os americanos, ninguém entende essa lealdade que os ex-militares têm uns com os outros. Se é que isso existe. Nick faz o papel de mocinho, bem clichê. Mae é a mocinha bonita que precisa ser salva. Emily é a amiga que se preocupa com Nick e faz de tudo por ele.
E tem outros clichês. O mafioso é japonês. O policial corrupto tem cara de mexicano. Os bandidos e capangas são negros, orientais e latinos. Sempre há um bar onde a máfia se reúne, com bebidas, mulheres e drogas. A mocinha é obrigada a se envolver com criminosos.
Tem troca de tiros que destrói o bar. As pistas do crime vão surgindo facilmente para Nick e para o público. A água que cobre Miami não interfere em nada na trama. O desfecho é previsível, sem muita emoção. Tudo muito raso, sem trocadilho com a inundação.
O título original é “Reminiscência”, que significa imagem do passado, lembrança vaga que é memorizada de forma inconsciente. Até faz sentido, já que Nick colhe informações das imagens periféricas das lembranças de pacientes para pegar pistas. Mas "Caminhos da Memória" se perde.
Esperava-se mais de uma das criadoras da série "Westworld", que poderia entregar um ótimo drama psicológico e, no entanto, vem com uma salada de trama policial rasa e cheia de clichês, até mesmo no romance. Os atores se esforçam em boas atuações, mas isso não salva o filme. É mais uma produção que desperdiça um bom elenco e boas ideias.
Ficha técnica:
Direção, roteiro e produção: Lisa Joy Exibição: HBO Max, Youtube Filmes e Google Play Duração: 1h56 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: Ficção / Romance / Suspense
Exposição homenageia Fernando Sabino com exibição filmes, curtas e documentários (Foto: Antonio Araujo/Ascom Reitoria/UEMG)
Da Redação
Os apaixonados pela arte e pela cultura mineira terão uma programação especial na exposição "Encontro Marcado/300 Anos de Minas Gerais", que homenageia Fernando Sabino. Até amanhã, será realizada uma mostra cinematográfica na Escola de Design da UEMG. Serão exibidos quatro longas, 14 curtas de ficção, um documentário e 10 curtas sobre importantes autores nacionais dirigidos por Sabino. A exposição pode ser visitada das 13h às 19h, até 12 de outubro. A entrada é gratuita.
Entre os destaques, está o filme “Faca de Dois Gumes”, baseado na obra homônima de Fernando Sabino. O longa surpreende do início ao fim. Um clássico do policial brasileiro, um gênero tão raro em nosso cinema. Ele levou o prêmio de melhor direção, som, fotografia e cenografia no Festival do Cinema Brasileiro de Gramado de 1989, melhor filme e montagem no III Festival de Cinema de Natal de 1989 e melhor filme, edição de som e trilha sonora no VI Rio-Cine-Festival de 1990.
(Foto: Antonio Araujo/Ascom Reitoria/UEMG)
Já o filme “O Grande Mentecapto'', produzido pelo diretor brasileiro Oswaldo Caldeira entre 1986 e 1989, com roteiro de Alfredo Oroz, também coleciona premiações. O longa conquistou o prêmio Golden Metais como melhor direção, melhor roteiro, melhor música, melhor ator, melhor atriz. Levou o prêmio Melhor Música Golden Metais em 1991, como melhor filme do júri popular no Festival de Gramado de 1989, melhor ator do Rio Cine Festival em 1991 e no mesmo ano o prêmio de melhor atriz coadjuvante do Rio Cine Festival.
No feriado do dia 12 de outubro, data que também é comemorado o aniversário de Fernando Sabino, o produtor Guilherme Fiuza, diretor do filme “Menino no Espelho” (2014) estará presente na exposição para um bate-papo especial. O filme se tornou sucesso de crítica no Brasil e exterior, sendo comercializado para 16 países da Europa.
(Crédito: Divulgação)
Além disso, os artistas do Libertas Coletivo de Arte, parceiros e curadores da exposição, prepararam uma surpresa para os visitantes da mostra. Também é possível visitar as manifestações artísticas feitas pelo Libertas ao ar livre, no Circuito Cultural da Praça da Liberdade, todas elas inspiradas no livro "Encontro Marcado" de Fernando Sabino.
“A mostra cinematográfica é mais uma forma de valorizar a importante história de Fernando Sabino para a cultura e a literatura mineira. Inspirados em suas obras, produtores e cineastas deram vida a personagens e contos que marcaram a vida de muitos brasileiros. Convido toda a população a prestigiar esse evento e a se aprofundar nas obras deste renomado escritor, além de prestigiar o cinema e a arte brasileira”, destaca Luis Carlos Brito Lopes, diretor da Glória Comunicação, que há mais de 10 anos é a responsável pelo marketing, comunicação e promoção do Projeto Encontro Marcado.
A Exposição "Encontro Marcado/300 Anos de Minas Gerais" foi viabilizada com recursos da Lei Aldir Blanc de incentivo à cultura, Governo de Minas Gerais, com o patrocínio da Secretaria Especial da Cultura e Turismo de Minas Gerais e Circuito Praça da Liberdade, Ministério do Turismo e Governo Federal.
(Crédito: Divulgação)
Sábado 09/10
10:30
"Jorge Amado - Na Casa do Rio Vermelho", de Fernando Sabino (duração: 9'32'' - Classificação: Livre)
"Conversinha Mineira", de Jorge Monclar (duração: 7'21'' - Classificação: Livre)
"O Grande Mentecapto", de Oswaldo Caldeira (Classificação: 12 anos)
15:30
"Vinicius de Morais - Poesia Música e Amor", de Fernando Sabino (duração: 9'0'' - Classificação: Livre)
"Dona Custódia", de Adriana Andrade (duração: 13'' - Classificação: Livre)
"O Grande Mentecapto", de Oswaldo Caldeira (Classificação: 12 anos)
Bate papo com Bernardo Sabino, filho do escritor e presidente do Instituto Fernando Sabino sobre as oportunidades profissionais na área do audiovisual
Domingo 10/10
10:30
"Guimarães Rosa - Veredas de Minas", de Fernando Sabino (duração: 10'51'' - Classificação: Livre)
"Como Nasce uma História", direção Emerson de Oliveira e William Marques (Classificação: Livre)
"O Homem Nu", de Hugo Carvana (Classificação: 12 anos)
15:00
"João Cabral de Melo Neto - O Curso do Poeta", de Fernando Sabino (duração: 9'55'' - Classificação: Livre)
"Vinicius de Morais - Poesia Música e Amor", de Fernando Sabino (duração: 9'20'' - Classificação: Livre)
"Galinha ao Molho Pardo", de Feliciano Coelho (duração: 9'30'' - Classificação: Livre)
"O Homem Nu", de Hugo Carvana (Classificação: 12 anos)
Bate papo com Bernardo Sabino, filho do escritor e presidente do Instituto Fernando Sabino sobre o sucesso das duas produções inspiradas no conto "O Homem Nu"
(Crédito: Divulgação)
Segunda- feira 11/10
15:00
"Érico Veríssimo - Um Contador de Histórias" - Direção: Fernando Sabino (duração: 9'42'' - Classificação: Livre)
"Faca de Dois Gumes" – Murilo Sales (Classificação: 16 anos)
Bate papo com Bernardo Sabino, filho do escritor e presidente do Instituto Fernando Sabino sobre as importantes premiações conquistadas pelos filmes de Fernando Sabino
Terça Feira 12 /10 –Aniversário de Fernando Sabino
10:30
"Érico Veríssimo - Um Contador de Histórias" - Direção: Fernando Sabino (duração: 9'42'' - Classificação: Livre) "Apertadinho", de Jorge Monclar (duração: 7'33'' - Classificação: Livre)
"Faca de Dois Gumes" – Direção de Murilo Sales (Classificação: 16 anos)
15:00
"Manoel Bandeira - O Habitante de Passárgada", de Fernando Sabino (duração: 9'28'' - Classificação: Livre)
"Galinha ao Molho Pardo", de Feliciano Coelho (duração: 9'30'' - Classificação: Livre)