31 agosto 2022

Óbvio e raso, a comédia francesa “Entre Rosas” diverte, enternece, mas não chega a convencer

O charme do longa é que as flores do título são os personagens principais com sua beleza, perfume e simbologia (Fotos: Califórnia Filmes/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Que ninguém espere profundidade, aventura ou ação no filme “Entre Rosas” (“La Fine Fleur”), comédia francesa dirigida por Pierre Pinaud (“Fale de Você” - 2021). O longa, que entra em cartaz nesta quinta-feira (1º), é dessas produções rasas, descompromissadas, cujo único objetivo parece ser enternecer o público diante de uma surrada disputa entre o industrial e o artesanal, a busca do lucro e a paixão pelo ofício, as grandes corporações e os pequenos negócios. 

O charme do longa é que as rosas são os personagens principais, com tudo o que elas trazem em termos de cores, beleza, perfume e simbologia.


Eve Vernet (Catherine Frot, de “Marguerite” - 2015 e “Quem Ama Me Segue” - 2018) é dona da Rosas Vernet, pequena propriedade de cultivo de rosas na área rural da França e está à beira da falência. Ela e sua ajudante Véra (Olivia Côte) resistem como podem às investidas de Lamarzelle (Vincent Dedienne), proprietário de poderosa empresa concorrente que quer comprar o pequeno roseiral de Eve.


O que anima o filme – de certa forma – é a chegada de três personagens, uma jovem, um jovem e um homem maduro, que surgem para ajudar Eve a salvar sua empresa: Nadège (Marie Petiot), Fred (Melan Omerta) e Samir (Fatsah Bouyahmed). A surpresa é que os três são ex-presidiários e estão em processo de ressocialização. A partir daí, vale tudo, até a ideia de que os fins justificam os meios.


Embora óbvio – antes da metade do longa o público já imagina o que vai acontecer – “Entre Rosas” traz alguma novidade como por exemplo, a pequena aula de Eve ensinando seus novos auxiliares como fazer enxertos para obter uma rosa híbrida e rara, um processo minucioso e desconhecido do grande público. 

O espectador vai aprender também que rosas não são simplesmente cultivadas. Num mundo de concorrências e campeonatos, elas podem também ser criadas e, para isso, é preciso talento, conhecimento e paciência, atributos que ela herdou do pai.


Como a maioria dos filmes franceses, o longa de Pierre Pinaud – que escreveu também o roteiro junto com Fadette Drouard – é marcado por ótimas interpretações naturalistas, alguns silêncios, excelente trilha sonora, vinhos e até cachimbos para enfatizar pausas e reflexões. Destaque também pela fotografia, que não poupa cores, formatos e texturas das flores.

Óbvio também parece ser o processo de ressocialização dos três ex-presidiários na tentativa de recuperação do roseiral. A quase moral da história enaltece a transformação das pessoas pela delicadeza, dedicação e, por que não dizer, beleza. Talvez até coubesse dizer que “Entre Rosas” é ruim, mas é bom. Afinal, estamos falando de rosas.


Ficha técnica:
Direção:
Pierre Pinaud
Distribuição: Califórnia Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h35
Classificação: 12 anos
País: França
Gêneros: comédia, drama

28 agosto 2022

UNA Cine Belas Artes completa 30 anos como referência em filmes de arte

Espaço é um reduto de produções independentes de diferentes países e de pré-estreias de títulos nacionais (Fotos: Divulgação)


Da Redação


O cinema de rua resiste em Belo Horizonte. Prova disso é que o UNA Cine Belas Artes completa 30 anos na terça-feira (30 de agosto) e continua sendo um importante espaço cultural multiuso que remodelou a experiência cinematográfica do público da capital mineira.

Desde a sua inauguração, o local se transformou em um reduto de filmes independentes, de arte, de diferentes países, além de pré-estreias de títulos nacionais. Grande parte dos filmes exibidos ali, apesar de sua imensa relevância cultural, não encontra outro espaço em Belo Horizonte.


O complexo, que abriga três salas de exibição, café e livraria, retomou suas atividades em agosto de 2021 após passar por atualização técnica, reparos e reformas que facilitam a higienização do local, além de adequação do espaço aos protocolos de segurança das autoridades sanitárias. 

Essas melhorias só foram possíveis com a forte adesão da população à campanha de crowdfunding SOS Belas BH, realizada de setembro a novembro de 2020, que contou com o financiamento coletivo de 2.547 benfeitores, além da parceria com a Una Liberdade, instituição que integra o Ecossistema Ânima, localizada em frente ao cinema.


Vale destacar que o Belas Artes e a Una Liberdade são vizinhos próximos, ambos no bairro de Lourdes, região Centro-Sul da capital. É precisamente nessa unidade que a Una oferece o seu tradicional curso de cinema. A parceria é, portanto, precedida por uma tradicional afinidade cultural e geográfica. 

A aproximação com o Centro Universitário se dá de forma natural e muito feliz, já que a Una se propõe a fazer parte da vida da comunidade, ter as suas unidades abertas e integradas aos aparelhos culturais do Circuito Liberdade.

30 anos de arte e cultura

O UNA Cine Belas Artes privilegia o cinema brasileiro e o cinema independente, por isso é o único espaço de Belo Horizonte com uma programação diferenciada que dá valor à diversidade. São três salas oferecendo 336 lugares num total. 

"Marte Um", longa do mineiro Gabriel Martins

Na programação, "Marte Um", longa do mineiro Gabriel Martins, que foi premiado com quatro Kikitos no festival de cinema de Gramado como Melhor Filme pelo Júri Popular, Melhor Roteiro, Melhor Trilha Musical e Prêmio Especial do Júri.

Dia 30 de agosto tem a pré-estreia, às 20h30, de “Maria, Ninguém Sabe Quem Sou Eu”, um documentário sobre Maria Bethânia. O filme tem imagens raras de ensaios e shows da cantora ao longo de seus 57 anos de carreira, além de um depoimento inédito de Bethânia, com roteiro e direção de Carlos Jardim. No site www.belasartescine.com.br é possível acompanhar a programação completa e adquirir ingressos.


Serviços:
UNA Cine Belas Artes
Endereço: Rua Gonçalves Dias, 1581 – Bairro Lourdes
Telefone: (31) 3324-7232
Informações e programação: www.belasartescine.com.br

27 agosto 2022

Inspirado em best-seller, "Um Lugar Bem Longe Daqui" é um conto de resiliência

Daisy Edgar-Jones vive a garota que cresceu sozinha num brejo na Carolina do Norte e é acusaa de um crime (Fotos: Sony Pictures)


Carol Cassese
Blog no Zint Online


“Eu não sei se há um lado obscuro da natureza. Há apenas maneiras inventivas de resistir… Contra todas as adversidades". 

Há alguns filmes que deixam o Rotten Tomatoes, site que reúne avaliações de filmes, com uma evidente divisão entre crítica e público. Enquanto um “lado” desaprova, o outro compensa com ótimas avaliações. Esse foi o caso de Um lugar "Um Lugar Bem Longe Daqui" ("Where the Crawdads Sing"), obra dirigida por Olivia Newman e roteirizada por Lucy Alibar. 

Inspirado no best-seller homônimo da escritora Delia Owens, com música original de Taylor Swift ("Carolina"), o longa chega aos cinemas na próxima quinta-feira (1º de setembro) e foi consideravelmente mais aprovado pelo público do que pela crítica. 


Logo no início do filme, um corpo é encontrado. Um homem local, Chase Andrews (Harris Dickinson), é descoberto no deserto e imediatamente todos assumem que a reclusa Kya (Daisy Edgar-Jones), uma garota que já se relacionou com a vítima, deve ser a responsável. Ela é presa imediatamente. 

Ao longo da produção são intercaladas cenas do tribunal com outras da história de Kya, que foi abandonada sistematicamente e cresceu sozinha num brejo da região da Carolina do Norte.

Em se tratando de adaptações de livro, ainda mais de um tão conhecido do público, é desafiador proporcionar a mesma imersão na mente da personagem. No longa de Newman, a narração em primeira pessoa e a visita à infância da personagem nos ajudam a estabelecer uma conexão com ela.


Apesar da investigação, o tom do filme não se assemelha ao de um suspense clássico e acaba sendo consideravelmente mais "doce". Quem assistiu à série "Staircase" (2022), possivelmente vai sentir uma certa falta daquela ambientação tensa do tribunal, das reviravoltas e de toda a carga emotiva do julgamento. Ou apenas da ótima presença da promotora interpretada por Parker Posey. 

Em "Um Lugar Bem Longe Daqui", apesar das duas linhas temporais serem bem distribuídas, acabamos nos envolvendo mais com as aventuras de Kya do que com o julgamento em si (há muita expectativa, no entanto, a respeito da decisão final).


Em algumas cenas mais focadas no romance entre Kya e Tate (John Taylor Smith), o casal principal, o filme pode parecer até mesmo muito "água com açúcar" para aqueles um pouco mais céticos. Ainda assim, mesmo esses podem seguir interessados no longa por outras razões, como o desenrolar do mistério ou, simplesmente, por terem se afeiçoado à personagem principal. Além disso, há alguns temas tangenciais interessantes, como a pressão imobiliária e o mal que todo e qualquer estigma pode fazer


O filme inegavelmente também apresenta imagens lindas, o que foi visto como um problema por alguns críticos, que fizeram a ressalva de que, se a história trata sobre a pobreza, o ambiente não deveria ser tão impecável. Uma das principais bases da trama é o fato de Kya ser uma outsider. No entanto, para muitos, a aparência da garota no filme, que "obedece" a uma série de convenções, não consegue de fato passar essa impressão.

Mesmo se tudo parece arranjado demais e as aparências não nos convencem completamente, a história continua tendo o poder de tocar o espectador. Nossa protagonista, afinal, sofreu diferentes tipos de abuso e precisou encontrar maneiras de sobreviver desde muito cedo. Na natureza, ela encontrou mais acolhimento e uma série de lições.


Em diferentes momentos, perguntam para Kya se ela não sente medo de morar num ambiente selvagem. Vemos, porém, que os principais perigos com os quais ela se depara advêm do mundo "humano". Não são animais desconhecidos que a ameaçam, e sim homens abusadores (bastante conhecidos na cidade, por sinal). 

Numa outra cena, Tate, seu principal par romântico, questiona: "Não é melhor sair daqui (do brejo) e estudar, trabalhar, ser alguém?". A protagonista responde com um olhar que já diz tudo: ela já é alguém - e não precisa viver uma vida convencional para provar isso.

Independente da dissonância entre público e crítica, vale ir de coração aberto, se envolver com essa história responsável pela venda de tantos livros nos últimos anos e, claro, tirar as próprias conclusões.


Ficha técnica:
Direção: Olivia Newman
Produção: Columbia Pictures / 3000 Pictures /
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h05
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: drama, romance

25 agosto 2022

Mostra CineLapinhô reúne filmes, gastronomia, shows e sessões de cinema, tudo de graça

Evento acontece no vilarejo de Lapinha da Serra, a 136 quilômetros de BH (Fotos: Danilo Teles / Lapinha da Serra)


Da Redação


De hoje a 28 de agosto, o vilarejo de Lapinha da Serra, distrito de Santana do Riacho (MG), localizado entre montanhas, com belas paisagens formadas por cachoeiras, lagos e trilhas para caminhadas, a 136 quilômetros de BH, será palco da mostra de filmes CineLapinhô, organizada pela cineasta Tamira Abreu. 

O evento será realizado na Praça da Igreja e terá, além da exibição de filmes selecionados por serem de produção audiovisual independente, sessões comentadas abertas para o debate público, oficinas de cinema, festival gastronômico e shows musicais. A programação é gratuita. Para saber mais, é só entrar na página cinelapinho.com.br.


“A ideia é convidar o público local a um contato com o cinema, apresentando filmes que dialoguem com a região, proporcionando uma aproximação entre o público e o conteúdo exibido, além de atrair turistas para uma nova forma de ocupação do lugar. Após a exibição comentada dos filmes, serão realizadas apresentações musicais com artistas locais, como forma de valorizar os artistas da região e ao mesmo tempo como forma de identificação com o público do vilarejo”; explica Tamira Abreu.

Apresentam-se os grupos Grupo Coco de Cipoada, Samba do Açude, Trio Lapinhô e o Batuque da Lapinha, que é uma manifestação de moradores locais em que os batuqueiros tocam, dançam e cantam músicas tradicionais. A curadoria é de duas mulheres do setor artístico-cultural – Cris Ventura e Renata Oliveira – e valoriza a produção audiovisual independente. 


Aprendendo a fazer cinema
Através das oficinas, os alunos vão aprender como funciona o universo cinematográfico, desde o surgimento de uma ideia até o seu desenvolvimento, gravação e finalização. Em uma parceria com a Cardume Filmes, produtora e plataforma de streaming, estão sendo oferecidas até o dia 28 oficinas gratuitas de cinema e assuntos do audiovisual no espaço da Associação Jardim dos Cristais. São elas:

Oficina de Realização de Filmes - com Daniel Jaber e Gabriel Muller Leal (Cardume Filmes)
Grande parte do público que assiste cinema e televisão desconhece como acontece a produção de filmes. Com esse intuito, a Oficina de Realização de Filmes visa apresentar noções básicas para fazer um filme de curta duração, passando pelo desenvolvimento da ideia, criação do roteiro, pré-produção, filmagem, montagem e finalização. Ao final, o filme produzido pelos participantes será exibido na programação do festival.
Data: Até 27 de agosto
Horário: das 13 às 17 horas
Idade mínima: 13 anos
Vagas: 20


Oficina Entendendo a Produção Audiovisual - com Tamira Abreu e Silvia Dias
As diferenças entre as funções de Diretor de Produção, Produtor Executivo e Produtor. Gerenciamento de logística e estrutura, contato com fornecedores, otimização e viabilização dos processos de produção audiovisual, apresentação das etapas de uma produção audiovisual, cronograma, entre outros assuntos que envolvem a produção audiovisual.
Data: 26 de agosto
Horário: das 14 às 16 horas
Idade mínima: 16 anos
Vagas: 20


Circuito Gastronômico
A Mostra propõe a participação de todos da Lapinha da Serra, num evento coletivo. Pensando nisso, surgiu a ideia do Circuito Gastronômico CineLapinhô, em que os restaurantes da Lapinha da Serra estão convidados a participar do circuito criando um prato com o nome de um filme brasileiro. Os pratos participantes serão divulgados junto com a programação do evento e concorrerão ao título de melhor prato pelo júri popular.

O Circuito Gastronômico começa junto com a Mostra de Cinema e encerra no início da primavera, quando será divulgado o resultado do prato mais votado. A votação acontecerá por um formulário disponibilizado pela internet. Os estabelecimentos e pratos participantes serão divulgados juntos com a programação da Mostra nas redes sociais e em outros serviços de comunicação.


Serviço:
Mostra CineLapinhô
Data: de 25 a 28 de agosto
Local: Lapinha da Serra, distrito de Santana do Riacho (a 136 km de BH)

23 agosto 2022

“Não! Não Olhe!” mistura elementos de diferentes gêneros e é carregado de referências

Novo longa do diretor Jordan Peele repete a excelente parceria com ator Daniel Kaluuya (Fotos: Universal Pictures)


Carolina Cassese
Blog no Zint Online



É difícil segurar a expectativa quando se trata de algum trabalho assinado por Jordan Peele. Com o sucesso do inovador “Corra” (2017), o diretor logo se tornou uma referência por desenvolver um terror (ou thriller, como alguns preferem caracterizar) repleto de simbologias e críticas sociais. 

Dois anos depois, ele lançou “Nós”, longa que muitos consideram ter sido injustamente esnobado por premiações como o Oscar, por exemplo. Neste ano de 2022, mais um longa do diretor chega nesta quinta-feira (25) aos cinemas: “Não! Não Olhe!” (“Nope”), que mistura elementos de western, terror, suspense e ficção científica.


Assim como no longa “Corra”, em “Não! Não Olhe!” também temos Daniel Kaluuya como protagonista, que dessa vez interpreta O.J. Haywood, um treinador de cavalos para uso em filmes e comerciais de televisão. 

Depois que seu pai morre em circunstâncias bizarras, O.J. herda o rancho e logo se junta a sua irmã, Emerald, interpretada por Keke Palmer. Quando, de repente, o céu está com uma aparência esquisita sobre o rancho Haywood, os irmãos se unem para formar uma aliança defensiva amadora.


Se em “Corra” nosso protagonista é um “outsider” que precisa lidar com uma família aparentemente tradicional e conservadora, em “Nós” os “intrusos” são literalmente cópias (assustadoras) dos nossos protagonistas. Já no filme “Não! Não Olhe!”, os outsiders realmente vêm de muito, muito longe e não se assemelham em nada com os protagonistas.


Vale aqui pontuar a presença dos dois atores principais, Kaluuya e Palmer, que realmente entregam uma ótima dupla de irmãos. Boa parte da comédia do filme deriva justamente da dinâmica entre eles, ao passo que ambos também estão excelentes nas cenas de terror, quando o tal invasor começa a de fato “atacar”. O ritmo do longa também é digno de elogios, já que realmente nos sentimos imersos na narrativa e cada ato cumpre com o seu propósito.

Como também ocorre nos dois primeiros filmes de Peele, são possíveis várias interpretações acerca da obra. Há diversas referências ao próprio fazer cinematográfico, como o contraste de imagens (digitais e ópticas) e a onipresença de câmeras - um dos personagens é, inclusive, um jovem que trabalha com vigilância eletrônica. 


Além disso, há uma série de alusões a eventos que marcaram a história do cinema, como o acidente no set de “Twilight Zone: The Movie” (1982). O olhar é outro elemento importante para o entendimento: a única maneira de não ser devorado pelo monstro é evitar olhar diretamente para ele.

Em diferentes momentos do longa, podemos observar ainda a maneira em que os humanos tentam domar criaturas consideradas como “inferiores” por essa sociedade. Há uma alerta: após tanto abuso, é esperado que alguns desses bichos se revoltem. 


Em entrevista ao veículo The Wrap, o diretor pontua que os animais são como um lembrete de como exploramos os bichos e a natureza. “Este filme, em sua essência, é sobre espetacularização e exploração”, disse. Há possíveis leituras, ainda, a respeito da universalidade do racismo.

Numa época em que grandes empresários realizam uma corrida espacial, é difícil até mesmo falar da vida fora do planeta sem esbarrar em algum tema social. Como pontuou Peele, não faltam inspirações da vida real para seus trabalhos: “O mundo me dá coisas horríveis para interpretar”.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jordan Peele
Produção: Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h10
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror / suspense / western /  ficção

13 agosto 2022

"O Telefone Preto" só deixa ocupado o público em um suspense mediano

Ethan Hawke é um sequestrador de crianças que aterroriza uma pequena cidade (Fotos: Universal Studios)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica

 
Recebendo uma nota de 87% de aprovação no Rotten Tomatoes, sendo 101 críticas positivas e 15 negativas, "O Telefone Preto" ("The Black Phone"), dirigido e roteirizado por Scott Derrickson, chegou aos cinemas fazendo barulho por ser um terror psicológico que foge do óbvio. Mas decepciona no quesito susto e abusa nos clichês do gênero.


Em Colorado, 1978, conhecemos Finney Shaw (Mason Thames), um garoto de 13 anos tímido mas muito inteligente, que é raptado pelo Sequestrador (Ethan Hawke) que o coloca em um quarto à prova de som. Existe na cela um telefone preto que começa a tocar e a passar recomendações para ajudar o protagonista a sair daquele lugar.


Parte do enredo busca mostrar a temática da nostalgia e da infância, por se passar em uma cidade com poucos habitantes. Vemos como aquelas crianças dali se divertem em sua comunidade e como é a relação com os seus pais. 

Somos apresentados ao núcleo do nosso protagonista, que sofre com problemas de consumo de álcool e acaba se tornando muito violento. Quando Gwen (Madeleine McGraw), irmã mais nova de Finney, começa a ter visões sobre a questão dos sequestros, seu pai muito ríspido, proíbe que a menina veja e tenha acesso ao que está ocorrendo.


Em questão do terror, "O Telefone Preto" até funciona, colocando alguns jump scare que até provocam sustos no espectador. Mas achei que iam explorar mais esta parte.

Precisamos falar de Ethan Hawke como o Sequestrador: ele está à vontade no papel e assusta até com máscara cobrindo o rosto. A atuação dele chama a atenção. 


Um grande problema aqui é a falta de profundidade do vilão. Sabemos que ele sequestra algumas crianças e mata outras, mas qual a motivação? Será que ele teve um pai abusivo? O que o levou a planejar esses sequestros? Tudo isso fica numa camada rasa e em nenhum momento se propõe a resolver.


O maior defeito do filme, sem dúvida, são as saídas clichês para o protagonista. Ele recebeu orientações de outras crianças e tudo estava muito fácil, não consegue sentir emoção e adrenalina. Se do outro lado do telefone preto já tinha um time de crianças orientando, tudo isso fica em uma camada superficial e de fácil solução. Senti que isso atrapalha até os personagens secundários, como os policiais que não serviam de nada.

O que se pode concluir é que "O Telefone Preto" é um filme que só faz ocupar o público com uma história mediana. Apesar das grandes notas, faltou uma continuação ou um prequel para explicar as motivações do sequestrador.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Scott Derrickson
Produção: Blumhouse Productions / Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h43
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror / suspense 

10 agosto 2022

"Thor: Amor e Trovão" - herói volta às origens em uma jornada de autoconhecimento e diversão

A química entre Chris Hemsworth e Natalie Portman é um dos pontos que agrada no filme (Fotos: Marvel Studios)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica


Amor e Vingança, sem dúvida são as palavras que traduzem o sentimento de "Thor: Amor e Trovão" ("Thor: Love And Thunder"). Nessa nova história, temos o filho de Odin cansado de todas as suas perdas. Isso pode justificar, logo no início da narrativa, o motivo de ele ter se tornando um bêbado (ainda em "Vingadores: Ultimato"- 2019) e a maneira como tenta esconder tudo com o seu humor, criando uma casca para se proteger dos traumas que já passou. 

Mas logo isso é deixado de lado e Thor (Chris Hemsworth) quer dar a volta por cima se unindo aos Guardiões da Galáxia para ajudar a salvar reinos de ameaças intergalácticas. Porém, quando Gorr, o Carniceiro dos Deuses (Christian Bale) aparece, o asgardiano precisa buscar reforços para esta batalha, que ele não vai conseguir apenas com o fiel amigo Korg (Taika Waititi).


Um desses reforços é Jane Foster (Natalie Portman), seu grande amor, que enfrenta uma batalha terrível e dura contra o câncer e ainda assim construiu um legado como cientista. Apesar do estágio avançado, ela ainda busca uma cura rápida para a doença. 

Talvez o ponto que mais me incomodou foi justamente a conveniência de roteiro. A solução para Jane é justamente o martelo de Thor, o Mjolnir, que mesmo despedaçado consegue se restaurar e a transforma na Poderosa Thor. 


A partir daí, o ritmo do filme é acelerado ao colocá-la junto ao protagonista. Achei bem apressada a forma usada no roteiro para chegar nesse caminho. A entrada da Poderosa Thor é triunfal, com certeza, mas sem um respiro e completamente previsível. 

Talvez quem mais tenha se surpreendido com ela foi Thor. Jane demonstra aquelas inseguranças do que fazer após se tornar heroína e as dúvidas de enfrentar o primeiro vilão, mas isso ela vai aprender com Thor e a rainha Valquíria (Tessa Thompson).


O humor nessa produção é equilibrado, há algumas piadas fora do tom, mas no todo é um filme que busca ser menos engraçado que o anterior. "Thor: Amor e Trovão" usa do humor, mas não é a base do todo, como em "Thor: Ragnarok" (2017), que decidiu ser humor do inicio ao fim. 

Por isso acho que aqui o filme consegue o equilíbrio em quase toda duração. Exemplo disso são os bodes: eles não são tão engraçados, mas sem dúvida fazem o público dar boas risadas quando aparecem na tela.



Quando Thor e sua equipe vão buscar ajuda dos deuses, existe aquela famosa desconstrução dos personagens, Thor suplica a Zeus (Russell Crowe), um exército de deuses, tipo Vingadores, para combater Gorr. 

Mas ai vemos o deus do Raio e de todos os deuses em uma atitude covarde e egoísta, que se preocupa mais com ele mesmo do que com os próprios deuses e até a humanidade. Crowe dá um show de atuação, apesar de caricata, que cabe muito bem com a proposta. 


É preciso falar de Christian Bale como Gorr. As motivações do vilão são até funcionais e por isso ele parte para a vingança quando pede ajuda aos deuses que ele idolatra e eles deixam sua filha morrer. Gorr parte para a vingança e o desejo de exterminar todos eles. O crescimento do vilão é interessante, ele não aparece tanto, mas quando surge na tela consegue trazer medo e horror ao público. 


O visual ficou condizente e acho que ele tinha mesmo que ser esse vilão. O que deixa a desejar é sua conclusão que acho muito parecida com a de Wanda em "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" (2022). As cenas de ação acrescentadas com os efeitos visuais funcionam bem, tirando no inicio. As cenas de guerra com crianças, apesar de ser a única alternativa naquele momento, foram meio exageradas e forçadas.

"Thor: Amor e Trovão" é uma aventura engraçada e dramática sobre a busca do herói de Asgard por um propósito para sua vida, que pode estar na volta as suas origens e às pessoas que amou. 

Não podemos esquecer da excelente trilha sonora do filme, sob o comando do excelente Michael Giacchino, que conta também com sucessos do Guns N'Roses, Enya, ABBA, entre outros. Até o momento, o filme arrecadou nas bilheterias mundiais quase US$ 850 milhões, superando "Thor: Ragnarok". 


Ficha técnica:
Direção: Taika Waititi
Produção: Marvel Studios / Walt Disney Company
Distribuição: Walt Disney Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h59
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: aventura, ação, ficção

08 agosto 2022

"Carvão", de Carolina Markowicz, terá première mundial no Festival de Cinema de Toronto

Filme brasileiro foi roteirizado e dirigido pela premiada curta-metragista e é seu primeiro longa (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Da Redação


A premiada curta-metragista Carolina Markowicz exibirá seu primeiro longa, "Carvão", na principal mostra do Festival Internacional de Cinema Toronto, no Canadá, que acontece entre 8 e 18 de setembro. O filme terá sua première mundial num dos eventos cinematográficos mais importantes do mundo. 

A exibição na Competição Oficial – Platform marca a volta da cineasta ao importante festival, no qual já exibiu três curtas: “O Órfão” (2018), “Namoro à Distância” (2017) e “Edifício Tatuapé Mahal” (2014). Além disso, ela também participou do TIFF Filmmaker Lab, em 2015. A previsão de estreia nos cinemas pela Pandora Filmes é para o primeiro trimestre de 2023.


Protagonizado por Maeve Jinkings, traz também no elenco Romulo Braga, Camila Márdila, Aline Marta, Jean Costa, Pedro Wagner e o argentino César Bordón (“Relatos Selvagens” - 2014), o longa conta a história de Irene (Maeve) que, com seu marido, Jairo (Romulo Braga), tem uma pequena carvoaria no quintal de casa. Eles têm um filho pequeno, Jean (Jean Costa), e o pai dela não sai mais da cama, não fala, não ouve. 

A família recebe uma proposta rentosa, mas também perigosa: hospedar um desconhecido em sua casa, numa pequena cidade no interior. Antes mesmo da chegada dele, no entanto, arranjos precisarão ser feitos, e a vida em família começa a se transformar – nem sempre para melhor. Porém, nenhum dos familiares, e muito menos o próprio hóspede, vê suas expectativas cumpridas.


O filme foi rodado em Joanópolis, interior de São Paulo, uma cidade próxima à qual a diretora cresceu e conhece bem o ambiente rural e retrógrado. “Lá, vivenciei tudo o que uma pequena cidade conservadora pode oferecer: pessoas cuidando da vida umas das outras, famílias unidas pelo fato de que “a família deve ficar unida”, casamentos onde os casais quase se odiavam (mas como é vergonhoso ser solteiro, vamos manter o status quo!). E claro: você pode ser um assassino, mas por favor não seja gay.”

Carolina passou a prestar atenção nesse mundo ao seu redor, notando coisas que acabou trazendo para o filme. “Esse ambiente bucólico, mas ao mesmo tempo agitado, fez de mim uma observadora da natureza humana no seu melhor e no seu pior. E também uma admiradora de um senso de humor áspero, áspero e ácido, capaz de retratar todos os maiores desastres humanos e idiossincrasias de uma maneira bastante estranha.”


Ela também assina o roteiro de "Carvão" e conta que o desejo de fazer o filme veio da angústia de ver o Brasil cada dia mais imune aos absurdos. “Ouvimos nosso presidente dizer que preferiria ter um filho morto a um filho gay. Ouvimos o executivo da maior seguradora de saúde dizer que foram orientados por seus CEOs a deixar as pessoas morrerem durante a pandemia porque ‘morte é alta hospitalar’.” 

O longa surge da tentativa da diretora de “entender como a violência, religião e hipocrisia tomaram conta de nossas vidas e corpos de uma forma que nem percebemos mais. O filme é um retrato ácido de um Brasil onde impera a naturalização do absurdo".


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Carolina Markowicz
Produtora: Zita Carvalhosa
Distribuição: Pandora Filmes
Previsão de estreia: primeiro trimestre de 2023
País: Brasil

04 agosto 2022

A bordo de um "Trem Bala", uma matança geral com humor sarcástico, sob o comando de Brad Pitt

Filme tem uma trama com histórias entrelaçadas de vinganças, traições e elenco caro (Fotos: Scott Garfield/Divulgação)


Maristela Bretas


Muito sangue, tiros, porrada e bombas, com piadinhas no estilo americano e um elenco caro. Tudo isso está no filme "Trem Bala" ("Bullet Train"), que traz Brad Pitt ("Era Uma Vez Em... Hollywood" - 2019) como protagonista, comandando quase toda a ação e o Japão como pano de fundo. 

O longa se passa na maior parte do tempo dentro de um trem bala (por isso o nome) japonês, com algumas cenas externas dos trilhos e estações e nos flashbacks que vão explicando a trama. A estreia nos cinemas brasileiros é nesta quinta-feira.


Com uma trilha sonora de canções americanas como "Stayin' Alive", do Bee Gees, cantadas em versão nipônica (que agradam), e piadinhas nem sempre engraçadas, especialmente as de Brad Pitt, "Trem Bala" explora o ritmo frenético para contar várias histórias interligadas, com muita ação, o tempo todo. 

Pitt está muito bem no papel, não tem um momento de sossego. Mas o melhor da trama é a dupla de irmãos Tangerina e Limão, formada respectivamente por Aaron Taylor-Johnson ("Vingadores - A Era de Ultron" - 2015) e Brian Tyree Henry ("Eternos" - 2021). Eles são tão atrapalhados e mortais que conseguem fazer rir até quando estão matando alguém.


Destaque também para as atuações de Joey King "("Despedida em Grande Estilo" - 2017 e da série "The Act"), como a "inocente" Prince, e do ator japonês Hiroyuki Sanada, conhecido do público brasileiro por trabalhos como "Army of the Dead: Invasão em Las Vegas" (2021), "Vingadores: Ultimato" (2019) e a participação em temporadas da série "Westword". 

O elenco conta ainda com Michael Shannon ("Batman Vs Superman - A Origem da Justiça" - 2016) e Logan Lerman, que ganha menções engraçadas de Tangerina e Limão por seu papel nos filmes do herói Percy Jackson ("Ladrão de Raios" - 2010 e "Mar de Monstros" - 2013).


No filme, Ladybug/Joaninha (Brad Pitt) é um assassino azarado, determinado a fazer seu trabalho pacificamente depois de muitas missões saírem dos trilhos. Quase desistindo de sua carreira, ele é recrutado por Maria Beetle (Sandra Bullock) para roubar uma maleta misteriosa em um trem-bala indo de Tóquio para Morioka. 

Porém, nesta última missão, Ladybug terá de enfrentar a bordo do trem, assassinos de várias partes do mundo que querem a maleta e vingança entre eles por crimes passados em que estiveram envolvidos. 


Ou seja, além de muita pancadaria, a matança é geral. E a versão zen de Brad Pitt só quer sair dali e viver em paz, mas terá de descobrir como se manter vivo até o final da viagem, usando seus conhecimentos de matador e sem pegar em armas.

O público pode escolher a modalidade de homicídio, tem um pouco de cada: tiros, espadas, facas, serras elétricas, sufocamento, quedas e muito, muito sangue jorrando. O excesso de violência é aliviado com humor sarcástico. Há sempre uma piada ou um comentário cômico antes de uma luta ou morte. Bem no estilo do diretor David Leitch, responsável por sucessos como "Deadpool 2" (2018), "Velozes & Furiosos - Hobbs & Shaw" (2019) e "Atômica" (2017).


Sandra Bullock tem uma aparição relâmpago no final, apesar de conversar o tempo todo com Brad Pitt ao telefone. Se o público ficar atento e não piscar os olhos poderá perceber que até Ryan Reynolds também surge no longa. Ou seja, muitas estrelas que não foram bem aproveitadas em "Trem Bala", o que deixa a desejar. 

O filme poderá agradar aos fãs do estilo de filme de ação de Leitch. Até mesmo um trailer cômico foi produzido para divulgação da produção com narração do locutor de futebol Silvio Luis. "Olho no lance" e clique aqui para conferir.


Ficha técnica:
Direção: David Leitch
Produção: Sony Pictures / CTB
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h07
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: ação, suspense