31 outubro 2022

"Sorria" faz o espectador pular na poltrona de susto

Sosie Bacon é uma psiquiatra perseguida por entidade maligna responsável pela morte de um paciente (Fotos: Paramount Pictures)


Marcos Tadeu
Narrativa Cinematográfica


De uns tempos para cá, o terror psicológico tem se popularizado cada vez mais ,graças a filmes como "A Bruxa" (2015), "O Farol" (2019), "Midsommar - O Mal Não Espera a Noite" (2019). "Sorria" ("Smile"), obra de Parker Finn em cartaz nos cinemas, faz isso muito bem com um orçamento pequeno de U$D 17 milhões e uma bilheteria mundial de mais de  US$ 100 milhões, sendo R$ 10 milhões no Brasil.


Na história conhecemos Rose Cotter (Sosie Bacon), uma psiquiatra que presencia a misteriosa e assustadora morte de uma paciente. Ao investigar mais a fundo, descobre que a resposta está em um sorriso fixo e ameaçador. 

A protagonista ainda vive experiências semelhantes a sua última vítima e que todas as outras mortes têm um padrão e ela dispõe de pouco tempo para enfrentar uma força maligna.


O roteiro é muito ágil em apresentar todo o contexto e, principalmente, sob o ponto de vista da protagonista. Em grande parte da narrativa, Rose tenta, a todo custo, provar que as mortes são reais, equilibrando numa linha tênue entre a razão e a loucura. 

As pessoas próximas são as que menos acreditam nela e acham que a psiquiatra está com problemas relacionados à loucura.


Destaco também a mixagem e os efeitos sonoros. A narrativa usa de sons bastante comuns para assustar o espectador, um grande diferencial. O óbvio sendo usado para que a audiência fique atenta e dê bons pulos de susto na cadeira. É importante ressaltar que existem poucos jumps-scare, mas que são usados de forma nada convencional para que o público também se sinta incomodado com a criatura demoníaca.

Nos aspectos técnicos podemos ver grandes planos em close-up para reforçar a questão do sorriso. O jogo de câmera do longa é bem rápido, fazendo com que a trama aprofunde no mistério dos suicídios.


O encerramento deixa a desejar. Ficam pontas soltas e um fim em aberto, apostando em uma possível continuação. Se isso acontecer de fato, o grande desafio é produzir um enredo tão bom e tão forte quanto a história original.

"Sorria" é uma ótima pedida para quem curte terror psicológico. O filme está fazendo bastante barulho e recebendo críticas bem favoráveis do público. Sem dúvida, vale o ingresso e ficar de olho no que essa franquia pode se tornar. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Parker Finn
Produção: Paramount Pictures q Temple Hill Entertainment
Distribuição: Paramount Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h55
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: terror / suspense

26 outubro 2022

Emoção e inevitável comparação com o Brasil fazem de “Argentina, 1985” um filme imperdível: nunca mais

Ricardo Darín e Peter Lanzani  formam a dupla que vai ajudar a condenar militares torturadores  (Fotos: Amazon Studios)


Mirtes Helena Scalioni


É quase impossível assistir ao filme “Argentina, 1985” e não se perguntar: e nós, cá no Brasil, como ficamos? Dirigido por Santiago Mitre (“A Cordilheira”, 2017), o longa conta, com sobriedade e honestidade na medida, o histórico julgamento de nove militares por crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura. E o mais surpreendente: por um tribunal civil. Não por acaso, a produção, em cartaz no Prime Video, é indicada ao Oscar de 2023, depois de faturar o Prêmio da Crítica no Festival de Veneza 2022.


Não bastasse o tema, sempre tão caro a cidadãos de qualquer país, “Argentina, 1985” traz no seu elenco o sempre craque Ricardo Darín ("A Odisseia dos Tontos" - 2019), que interpreta o promotor público Julio Cesar Strassera, “o Louco”, que contra tudo e todos, reúne um grupo de jovens estudantes e estagiários que conseguem, em tempo hábil, apurar cerca de 700 casos de abusos e torturas narradas por 800 testemunhas. 

Nem é preciso dizer que o camaleônico Darín dá show, ao evitar traços de herói corajoso para ser apenas um servidor público profissional e humano, com seus medos, dúvidas e inseguranças.


Ao lado de Ricardo Darín – e tão brilhante quanto - está Peter Lanzani (“O Clã” - 2015) como o jovem e inexperiente assistente Luis Moreno Ocampo, que abraça a causa do chamado “julgamento das juntas”, embora faça parte de uma família de militares – “minha mãe vai à missa com Videla”. 

É preciso falar também de Alejandra Flechner como Silvia, a esposa fortaleza de Strassera, de atuação discreta e precisa, assim como as crianças que interpretam os dois filhos do casal, cujas participações trazem certa leveza ao longa.


Filmes de tribunal costumam ser sombrios, fechados e monótonos. Não é esse o caso de “Argentina, 1985”. O roteiro, cuja autoria Santiago Mitre divide com Mariano Llinás, lembra um pouco o clássico “A História Oficial”, que ganhou o Oscar em 1986, outro longa argentino que também se vale de fatos para falar da história sangrenta da ditadura que massacrou o país entre 1976 e 1983. Certos toques sutis de humor, embora discretos, ajudam a amenizar o clima.


Quando se sabe que esse “julgamento das juntas” foi o primeiro do mundo realizado por um tribunal civil, num país que ainda chorava seus mortos e catava seus cacos para tentar a redemocratização com Raúl Alfonsín, é difícil não se emocionar com “Argentina, 1985”.

A comparação, sempre inevitável, entristece e não enobrece em nada o Brasil. Talvez seja o caso de perguntar se é mesmo verdade que nossos hermanos são mais politizados e estão a milhas de distância dos brasileiros quando o assunto é cidadania. Impossível não chorar no final.


Ficha técnica:
Direção: Santiago Mitre
Produção: La union de los rios /Infinity Hill
Distribuição: Amazon Prime Video
Exibição: Amazon Prime Video
Duração: 2h20
Classificação: 14 anos
País: Argentina
Gênero: drama

22 outubro 2022

Com muita pancadaria e boas cenas de ação, Dwayne Johnson apresentar o anti-herói "Adão Negro"

Produção volta cinco mil anos no tempo para explicar origem de novos vilões do Universo DC (Fotos: Warner Bros.)


Maristela Bretas


Quase cinco mil anos se passaram e foi preciso o Universo Estendido da DC trazer Dwayne Johnson para tentar recuperar o público que ficou um pouco decepcionado após "Batman VS Superman - A Origem da Justiça" (2016) e "Liga da Justiça" (2017), que acabou ganhando uma versão mais atraente - "Liga da Justiça - Snyder Cut" (2021). 

Mas será que conseguiu? É o que pode ser conferido em "Adão Negro" ("Black Adam"), novo longa-metragem em cartaz nos cinemas brasileiros que tem o grandalhão carismático dos filmes de ação e aventura como protagonista e produtor executivo. Além de ótimos efeitos visuais, especialmente para quem for assistir no formato Imax.


Claro que Johnson não iria apostar tão alto no papel de um super-herói se não fosse para dar certo. Mesmo representando um quase vilão, o que foge do perfil da maioria de seus papéis do "cara fortão", que bate muito, mas é sempre o protetor dos fracos e oprimidos. "The Rock" consegue fazer com que o público torça por ele, mesmo sendo inimigo dos heróis da Sociedade da Justiça. 


Mas quem é Adão Negro? Que Sociedade da Justiça é essa? Se você não é um amante dos quadrinhos, como a maioria que vai ao cinema para assistir filmes desse gênero só pela diversão, vai ficar boiando em muitas coisas. 

O filme dá respostas para algumas dessas dúvidas, como a origem desse anti-herói. Quanto à Sociedade da Justiça, trata-se do grupo da DC Comics que foi a base do que viria a se tornar a Liga da Justiça. 


Não é necessário ter assistido todos os filmes ou lido HQs da DC para entender a história de "Adão Negro". Como falei antes, tudo começa há quase 5.000 anos, quando o escravo Teth-Adam/Adão Negro recebe poderes dos deuses. Por vingança contra aqueles que escravizavam seu povo e destruíram sua família na antiga cidade de Kahndaq, ele resolve usar esses poderes numa destruição geral. 


Por causa disso é aprisionado pelos deuses numa tumba terrena até os dias de hoje, quando é libertado. Sem entender o novo mundo e sendo reverenciado pela população de Kahndaq como salvador, ele se une ao jovem Amon (Bodhi Sabongui) e à mãe dele, Adrianna (Sarah Shahi) para colocar um fim à ditadura da Intergangue, que domina a cidade. 


No entanto, a aparição do Adão Negro em Kahndaq chama a atenção da Sociedade da Justiça, que envia um quarteto de heróis à cidade para detê-lo. 

Liderados por Gavião Negro (Aldis Hodge, de "O Homem Invisível" - 2020), temos no grupo o Senhor Destino (Pierce Brosnan, um dos inesquecíveis e charmosos James Bond, muito bem no papel) e os quase desconhecidos Ciclone (Quintessa Swindell) e Esmaga-Átomo (Noah Centineo).


O que o quarteto de heróis não contava era com a revolta da população contra eles, que pela primeira vez tinha um salvador para defender o povo. Mesmo que os métodos de Teth-Adam sejam questionáveis. Para ele, só a morte dos inimigos resolve o problema.

Ao ser convidado para dirigir o longa, Jaume Collet-Serra afirmou que achou empolgante mostrar na telona um mundo dos super-heróis com "personagens que andam na linha tênue entre fazer a coisa certa e fazer o que precisa ser feito quando o sistema falha, de personagens que são capazes de fazer justiça da maneira que outras pessoas não conseguiram".


"Adão Negro" não foge aos critérios de um filme de super-heróis - muito tiro, porrada e bomba, com um ator renomado no gênero de ação dominando, juntamente com Aldis Hodge (outro destaque da produção) e Pierce Brosnan fazendo a parte pensante e ponderada. O verdadeiro vilão novamente tem uma presença frustrante, como outros do Universo DC, apesar de ser interpretado pelo conhecido ator Marwan Kenzari, de "Aladdin" (2019).

O longa também mantém o padrão de outras produções da DC, como a prevalência do tom escuro nas cenas e nos trajes dos personagens. As asas do Gavião Negro são um espetáculo a parte quando abertas. Já o Senhor Destino brilha com sua roupa azul e o maravilhoso capacete dourado. 


Os mais "fracos" na trama são Ciclone, que acrescenta um arco-íris de cores quando entra na briga e Esmaga-Átomo. Este usa um traje semelhante ao do Homem-Formiga (filme de 2015)e tem o mesmo superpoder de se tornar um gigante, além de ser um herói atrapalhado, como seu rival da Marvel.


Apesar da presença de Dwayne Johnson, o longa não consegue fugir da comparação entre a DC e a Marvel, mas a primeira ainda está um passo atrás da concorrente. Em "Adão Negro", no entanto, já é possível perceber uma evolução nas cenas de ação, mesmo com a insistência de usar a câmera lenta nas batalhas.


Não se surpreenda se ao longo do filme ouvir a palavra "Shazam!". A origem dos poderes de Adão Negro (o cara violento e meio vilão) e Shazam (o super-herói bobão e bonzinho do filme de 2019) é a mesma e explicada, superficialmente, justificando uma continuação, dependendo da bilheteria da produção em cartaz nos cinemas. E também tem relação com outro integrante da Liga da Justiça. Fica a dica: não saia do cinema antes da única e especial cena pós-crédito.


Ficha técnica
Direção: Jaume Collet-Serra
Produção: New Line Cinema e DC Entertainment
Distribuição: Warner Bros.
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h05
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: ação, fantasia, aventura

19 outubro 2022

Repleto de boas atuações, "Noites de Paris" é um sensível estudo de personagem

Ambientado nos anos 1980, longa-metragem francês é um verdadeiro mosaico do cotidiano (Fotos Vitrine Filmes)


Carolina Cassese
Blog no Zint


“Noites de Paris” (“Les Passagers de la Nuit”), dirigido por Mikhaël Hers, longa que chega nesta quinta-feira (20) na sala 2 do Una Cine Belas Artes, é um verdadeiro mosaico do cotidiano. O ponto de partida do filme é a reconstrução da vida de Elisabeth (Charlotte Gainsbourg), que acaba de passar por um divórcio e atravessa dificuldades financeiras. 

Para se adaptar ao novo estilo de vida, a personagem começa a trabalhar em um programa de rádio noturno, chamado "Passageiros da Noite". 

É nessa circunstância que ela conhece Talulah (Noée Abita), uma adolescente problemática que conta sua história para a apresentadora Vanda (Emanuelle Béart). 

A personagem principal não consegue deixar de se comover com o depoimento da garota, que vive sem domicílio fixo, e decide convidá-la para passar uns dias em sua casa, onde também moram os filhos Judith e Mathias (Megan Northam e Quito Rayon-Richter).


Apesar de abordar temas como divórcio, maternidade, dependência química e ativismo (a história tem início na noite da eleição de 1981, quando o socialista François Mitterrand se tornou presidente), o filme não é de fato centrado em alguma dessas pautas. 

Tampouco é melodramático ou panfletário. Como pontuou o veículo Variety, o longa trata de "pedaços de vida", primordialmente por meio da visão de Elizabeth. 

A presença de Gainsbourg na tela realmente é a alma do filme: a atuação da atriz é impecável e exala sensibilidade. Acreditamos na força e também nas vulnerabilidades de Elisabeth, que acaba se tornando uma mãe para Talulah, já que a garota é dependente química e tem pais relapsos.


O trabalho da protagonista combina bastante com o próprio "Noites de Paris", considerando que é um exercício de escuta. Os convidados do programa "Passageiros da Noite" não necessariamente contam casos extraordinários: são divagações típicas da madrugada, focadas primordialmente no cotidiano, na história de pessoas comuns. 

Se a cineasta Agnès Varda considerava que o artista é um "catador de histórias da vida real", o filme cumpre muito bem essa função de reunir narrativas simples numa obra cheia de significado. O uso de diferentes lentes e de imagens de arquivo granuladas enriquecem visualmente a produção, que de fato "é a cara" dos anos 80. 


A excelente trilha sonora nos ajuda a voltar no tempo e garante a carga emotiva de algumas cenas. Além de acompanhar a história da família, o longa homenageia o próprio cinema. 

A jovem Talulah é a mais fascinada com os filmes e faz da sétima arte uma forma de escapismo, já que consegue esquecer da vida (e de todos os seus consideráveis problemas) quando está numa sala de cinema. 


A própria performance de Abita dialoga com o trabalho da atriz francesa Pascale Ogier, que morreu tragicamente em 1984. O filme "Noites de Lua Cheia", um dos principais trabalhos estrelados por Ogier, é bastante citado na produção. 

Ao falar sobre o longa de Éric Rohmer, Talulah diz que conseguimos apreciar melhor alguns filmes depois de certo tempo ou quando os vemos duas vezes. 


Possivelmente influenciada por essa reflexão, a pessoa que vos escreve assistiu à "Noites de Paris" duas vezes. Se a obra é tocante e significativa logo "de primeira", da segunda vez nos deixamos levar ainda mais pela sensibilidade da narrativa e conseguimos apreciar melhor os respiros do filme. 

Nesse trabalho de Mikhaël Hers, muitas cenas não cumprem uma função narrativa pragmática - basta a vida como ela é, sem grandes acontecimentos em cada tomada.


Ficha técnica:
Direção: Mikhaël Hers
Produção: Nord-Ouest Films / Arte France Cinéma
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: Una Cine Belas Artes (sala 2, sessões 16 horas e 18h15)
Duração: 1h51
Classificação: 16 anos
País: França
Gênero: drama

11 outubro 2022

Oportuno, “Contatado” fala do perigoso poder das seitas e dos falsos profetas

Filme coloca em discussão a vaidade e a carência humana pelo sagrado (Fotos: Pandora Filmes)


Mirtes Helena Scalioni


Em tempos de endeusamento de mitos nem sempre confiáveis, o longa peruano “Contatado” pode servir de alerta. Dirigido por Marité Ugas, o filme, que entra em cartaz nesta quinta-feira (13), aborda a história de Aldo (Baldomero Cáceres), professor aposentado que, incentivado por um jovem seguidor, tenta retomar a vida de 20 anos atrás, quando liderava uma seita tão esdrúxula quanto inverossímil que misturava terremotos, portais energéticos submarinos e seres extraterrestres.


Lento e misterioso como convém a um filme dessa natureza, esse terceiro trabalho da peruana Ugas (“O Garoto Que Mente” - 2011 e “Pelo Malo” - 2013) parece colocar em discussão a carência humana pelo sagrado e o perigo que podem representar os falsos profetas e salvadores. 

Ao ser abordado insistentemente pelo ex-seguidor Gabriel (Miguel Dávalos), Aldo é seduzido a retomar seu papel de Aldemar, guru que comandava rituais na praia e vendia muitos livros e fitas de vídeos de suas pregações.


As intenções do jovem Gabriel ao se tornar uma espécie de assistente de Aldemar/Aldo não chegam a ficar claras e a dúvida, no final das contas, acaba por enriquecer o filme. 

As atuações também são valiosas, tanto dos dois diretamente ligados à seita quanto das mulheres que gravitam em torno da vida medíocre do aposentado, papéis feitos pelas atrizes Samantha Castillo, Lita Sousa e Solange Tavares.


Há momentos em que o filme chega a exagerar nas lendas e crendices, como se a diretora quisesse falar do poder das palavras e dos rituais, por mais estranhos que eles possam parecer. 

Quando Gabriel tenta convencer Aldo a retomar as pregações, ele conta que seu pai, antigo seguidor do guru, não está morto como todos pensam. Ele simplesmente teria atravessado um portal para outras dimensões durante um terremoto. Mais bizarro impossível.


Além do perigo dos falsos profetas e seitas, “Contatado” parece discutir também sobre a vaidade humana. Será possível resistir ao poder e ao dinheiro, quando os crédulos depositam total confiança nas ideias que você prega?


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Marité Ugas
Produção: Sudaca Filmes (Venezuela); Klaxon Cultura Audiovisual/ Madremídia Producciones, Paula Cosenza (Brasil); Dag Hoel Films (Noruega); Makaco VFX- Diego Velásquez/ Artefactos Films (Peru)
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h33
Classificação: 14 anos
Países: coprodução entre Brasil, Noruega, Peru e Venezuela
Gênero: drama

01 outubro 2022

“Duetto” apresenta trama sensível e ótimas atuações

Longa foi filmado no Brasil e na Itália, com elenco dos dois países (Fotos: Mariana Vianna/Imagem Filmes)


Carolina Cassese
Blog no Zint



Nome por trás de narrativas cinematográficas de variadas abordagens, como o terno "Caminho das Nuvens" (2003), o biográfico "Irmã Dulce" (2014) e "A Divisão" (2019), para citar alguns, o diretor Vicente Amorim retoma os trabalhos com "Duetto", filme que estreou nos cinemas nessa quinta-feira. 

Na verdade, o longa ítalo-brasileiro foi filmado em 2019, portanto, antes da pandemia, em São Paulo e, do outro lado do Atlântico, em cidades da região da Puglia, no sul da Itália, cuja beleza é evidenciada na tela. 


A trama, que se passa em 1965, tem início quando, após um momento de tensão com a mulher, Isabel (Maeve Jinkins), o personagem Marcelo (Rodrigo Lombardi) sofre um acidente de carro no qual perde a vida. 

A notícia da morte, claro, convulsiona a vida de sua filha, a jovem Cora (Luísa Arraes), e a da mãe, Lucia (Marieta Severo), que o tinha como único filho. Não sem antes culpar a nora pela tragédia, Lucia decide viajar de volta à sua terra natal na Puglia, levando consigo Cora.


Neste momento, a ação de fato se desloca para o país europeu, introduzindo atores italianos como Michele Morrone ("365 dias”), Elisabetta de Palo e Giancarlo Giannini. 

Ao chegar à sua cidade e rever a irmã Sofia (Elisabetta) e o cunhado, Gino (Giannini, que já trabalhou com diretores do naipe de Ettore Scola e Ridley Scott), Lucia esconde dos dois a notícia da perda do filho. 


Aos parentes, que comandam um restaurante com a ajuda de Carlo (Gabriel Leone), ela diz estar ali de passagem, apenas para resolver a venda da casa que as duas herdaram dos pais, visto que seu propósito seria seguir viagem para conhecer mais a Europa. 

No entanto, um entrave burocrático obriga Lucia a permanecer mais tempo por ali. Isso faz com que Cora possa, como desejava, desfrutar do festival de música que se desenrola por lá. E é justamente no evento que ela se encanta por um dos concorrentes, o cantor Marcello Bianchini (Morrone).


Enquanto os dois jovens se deixam envolver pela atmosfera do festival, o espectador tenta decifrar o motivo da tensão estabelecida entre Lucia, a irmã e o cunhado - que só é revelada do meio para o final da narrativa. 

A chegada de Isabel ao cenário, em busca da filha, é o acontecimento que faz com que não haja mais margem para mentiras. Frente a frente, Lucia e Sofia fazem um acerto de contas, revivendo mágoas e passando a limpo os acontecimentos que provocaram a ruptura da relação.


Um dos pontos centrais não é necessariamente um tema pouco explorado no cinema, mas nem por isso menos válido: como atitudes que tomamos em determinados momentos da vida são capazes de se propagarem em ondas que, para além de nossas próprias vidas, afetam de forma contundente a de muitas pessoas que estão no nosso entorno, muitas vezes mudando o curso da história delas de maneira definitiva. 


O outro é o ritual de passagem para a vida adulta, enfrentado por Cora. A culpa é definitivamente um sentimento que permeia toda a narrativa, já que muitos personagens parecem mergulhados em arrependimentos. 

Um acerto do filme é mostrar que as relações são de fato complexas e, ainda, como é difícil etiquetar as pessoas como apenas “boas” ou “más”.


Há mais eventos que se desenrolam paralelamente, como o mistério envolvendo o cantor Marcello Bianchini - um ocorrido que é deixado no plano das possibilidades. 

Do que se tem em tela, há uma história que, com as devidas nuances, está na órbita do familiar a todas as pessoas, conduzida por atores de gerações distintas.


Se não se trata de nenhuma surpresa no que diz respeito a Marieta Severo, fica a oportunidade de desfrutar do talento de Giannini e Elizabetta, visto com menos frequência por aqui. 

Sem contar as já citadas maravilhas da região da Puglia e outros atrativos, como música e figurino.


Ficha técnica:
Direção: Vicente Amorim
Produção: Nexus Produções
Distribuição: Imagem Filmes
Exibição: salas Cineart dos shoppings Cidade e Del Rey e no Cinemark BH Shopping
Duração: 1h42
Classificação: 14 anos
Países: Brasil e Itália
Gênero: drama