Carey Mulligan e Zoe Kazan interpretam as jornalistas que denunciam o produtor de cinema Harvey Weinstein por diversos crimes (Fotos: Universal Pictures) |
Maristela Bretas
Duas mulheres fortes e determinadas. Jornalistas, casadas, com filhos pequenos, que resolveram enfrentar e expor uma indústria onde o silêncio, o dinheiro e o poder abafam os piores crimes e pune as vítimas.
Essa é a história de "Ela Disse" ("She Said"), que estreou nessa quinta-feira nos cinemas e é um soco no estômago por sua abordagem direta que inclui narrações das vítimas e gravações dos diálogos dos crimes.
Inspirado em fatos e depoimentos reais, apresentados durante o trabalho de apuração das jornalistas do The York Times, Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), o filme expõe um dos maiores escândalos de Hollywood ao contar os abusos, agressões e assédios sexuais e o pior, estupros, cometidos por décadas pelo poderoso produtor de cinema Harvey Weinstein.
A excelente matéria investigativa publicada pelo jornal deu origem ao livro homônimo, que serviu de base para a produção. "Ela Disse" contou com a atuação impecável das duas protagonistas e a direção correta e precisa da alemã Maria Schrader para mostrar, passo a passo, a podridão do mundo criminoso e silencioso do assédio sexual por trás das câmeras.
Graças a esta reportagem especial, que demorou meses, com pressão sobre o jornal e ameaças de morte contra as jornalistas, o fim de uma era de silêncio e podridão contras as mulheres em Hollywood começou a mudar.
E abriu caminho para o surgimento do importante movimento "#MeToo", que começou a colocar um basta ao assédio moral e sexual, não só no cinema, mas no mercado de trabalho norte-americano.
Tanto a matéria para o The New York Times quanto o filme contaram com a participação e depoimentos das atrizes Ashley Judd e Gwyneth Paltrow, que descrevem seus próprios encontros com Weinstein e os assédios sofridos, com ameaças a suas carreiras.
Mas para chegar a essas duas grandes atrizes, Megan Twohey e Jodi Kantor precisaram percorrer um longo caminho e muitas negativas de outras vítimas do diretor.
De promissoras candidatas ao estrelato a funcionárias dos estúdios, elas tinham em comum o medo e o silêncio “comprado” com volumosas indenizações. Algumas foram inclusive proibidas de falar sobre os ataques e os acordos com as próprias famílias.
Com mais de duas horas de duração, "Ela Disse" é bem detalhista, inclusive quando mostra a preocupação da direção do jornal em só publicar as denúncias quando as jornalistas tivessem provas concretas.
Em alguns momentos, essa busca pela informação pode deixar a narrativa do filme um pouco lenta. Talvez seja essa a intenção da diretora ao querer explicar bem toda a história e os crimes que culminaram em 2020 na condenação do ex-diretor cinematográfico a 23 anos de prisão.
O público acompanha o dilema das protagonistas que precisam dividir a vida pessoal com o trabalho. Em especial esta matéria do assédio, que exigia maior tempo fora de casa (inclusive com viagens) longe da família, as ameaças por estarem mexendo com gente poderosa, a frustração a cada não recebido. Ao mesmo tempo, a euforia com cada informação confirmada.
"Ela Disse" mostra que as jornalistas não estão ali somente pelo furo jornalístico. À medida que elas conversam com as vítimas, maior o desejo de expor um crime que era acobertado pelas pessoas ao redor de Westein e também prática de assédio considerada normal pelos homens. Há uma cena envolvendo Megan Twohey e o cliente de um bar que deixa claro essa questão.
A história começa em 2017, a repórter do New York Times Jodi Kantor recebe uma denúncia de que a atriz Rose McGowan foi abusada sexualmente pelo produtor de Indiewood e dono do extinto estúdio Miramax, Harvey Weinstein.
McGowan inicialmente se recusa a comentar, mas depois liga de volta para Kantor e descreve um encontro em que Weinstein a estuprou quando ela tinha 23 anos.
Na busca de outros depoimentos, a jornalista chega às duas famosas atrizes que também foram vítimas, mas se recusam a aparecer. Mas para continuar a investigação ela vai precisar contar com a experiência da colega Megan Twohey, que já havia investigado anos antes denúncias semelhantes contra o então candidato à presidência dos EUA, Donald Trump.
Carey Mulligan, Zoe Kazan e Patricia Clarkson, que interpreta Rebecca Corbett, editora do NYT, são os destaques femininos do filme. Além delas, Samantha Morton e Jennifer Ehle entregam ótimas atuações nos papéis das vítimas Zelda Perkins e Laura Madden. Assim como André Braugher, como o editor executivo do NYT que compra a briga das jornalistas por uma boa história.
Um ótimo filme, esclarecedor e bem dirigido, assim como a matéria investigativa que o originou e que garantiu às jornalistas a conquista de um Prêmio Pulitzer (o mais importante concedido ao jornalismo norte-americano).
O roteiro é digno de ser indicado para disputar o Oscar 2023 nessa categoria. Vale a pena ser conferido tanto por quem acompanhou o caso na época quanto por quem não conhece a história.
Ficha técnica:
Direção: Maria SchraderProdução: Universal Pictures / Plan B Entertainment / Annapurna Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h09
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: drama, biografia
Claro que o fato narrado em si é importante e escancarou um grande escândalo, mas a crítica é do filme e não do crime em si. Dentro dessa ótica, o texto é fraco pois não fala se o filme é bem dirigido, se as atrizes atuam bem, se tem química, se o roteiro consegue cobrir bem todos os eventos, se a duração de 2h é cansativa. Enfim, o filme é um bom entretenimento? A crítica não responde.
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