31 julho 2023

“Disco Boy - Choque Entre Mundos” chega ao Brasil ostentando prêmio em Berlim e proposta confusa

Diretor italiano Giacomo Abbruzzese faz sua estreia em longas com obra complexa (Fotos: Divulgação)


Eduardo Jr.


Lá se vai o mês de julho, em que os cinemas exibem filmes de fácil leitura para atrair principalmente jovens em férias. A nova fase das salas de exibição começa no dia 3 de agosto, com um filme difícil. A estreia do primeiro longa-metragem do cineasta italiano Giacomo Abbruzzese, “Disco Boy - Choque Entre Mundos”. A distribuição é da Pandora Filmes. 

A obra chega carregando o Urso de Prata de Melhor Contribuição Artística no Festival de Berlim deste ano. Mas não se engane. O ‘choque entre mundos’ proposto no título poderia ser substituído por ‘universos que apenas se resvalam’. 


Na trama, duas histórias correm paralelamente - com pitadas de mistério, drama e aventura. De um lado está Aleksei (Franz Rogowski), que sai da Bielorrússia com um plano para se alistar na Legião Estrangeira, e assim obter a cidadania francesa. Do outro está Jomo (Morr N’Diaye), um guerrilheiro do Níger, que luta contra a exploração européia que vem tornando escassos os recursos necessários à sobrevivência de sua aldeia. 

As duas histórias, obviamente, se encontram. Mas não como esperado. O longa se inicia com uma cena de soldados negros dormindo na mata. Cria-se ali a expectativa de que a trama dos africanos tenha destaque, mas o cineasta sequer se esforça em apresentar os componentes daquele núcleo ou o passado deles. 


Apenas num raro momento de abertura dessas personagens é que Jomo, líder da guerrilha africana, é questionado sobre o que ele teria sido caso tivesse nascido do outro lado do rio. Ele responde que seria “um disco boy”, que subiria no palco e se deixaria levar pela música, ignorando dilemas externos. 

O mesmo desejo de libertação tem Aleksei, que mesmo sendo branco, vivendo outra realidade, também busca na música e na dança se esquecer de suas batalhas particulares e da guerra que enfrenta junto da Legião Estrangeira. 


Branco e negro têm desejos semelhantes, que parecem simples. Suas existências se entrelaçam. Mas um deles tem seu universo mais esmiuçado, ocupa a tela por grande parte do filme. 

Enquanto o mundo do outro parece mero recurso para se fechar uma história; não como ponto de embate, mas como escada para os dilemas do protagonista. Resvala com a realidade do homem branco e adeus.   

Os dois são colocados frente a frente no campo de batalha, quase espelhados. O efeito de visão noturna escolhido pelo cineasta para o embate entre protagonista e antagonista fica bonito na tela, prende a atenção do espectador. 


Mas dura pouco para que, na sequência, sejam apresentados os estragos feitos pelo colonialismo europeu. Essa crítica fica perdida, pois não se sabe se é da personagem Aleksei ou do próprio cineasta. 

As tentativas do diretor de mostrar que as escolhas da vida não são simples e podem trazer consequências exigem do público concentração e capacidade de análise. Não só porque parecem habitar apenas na cabeça do cineasta, sem estarem expressas com clareza na tela, mas porque também são costuradas com cenas dúbias, delirantes. 


A irmã de Jomo, Udoka (Laetitia Ky), também gosta de dançar e se torna desejo inalcançável de Aleksei. Jomo, que foi morto por Aleksei, reaparece (se de forma onírica ou não, você decide). E nessa mistura confusa, o bielorrusso parece sofrer para escolher entre a cidadania francesa e a herança louca da guerra. 

Ao espectador, resta o esforço de interpretar metaforicamente a dança que embala o final do longa. Prepare-se para um filme difícil. Uma viagem sem por que ou pra quê. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Giacomo Abbruzzese
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h32
Classificação: 12 anos
Países: Bélgica, França, Itália, Polônia
Gênero: drama

28 julho 2023

Gerard Butler passa quase duas horas numa “Missão de Sobrevivência”, fugindo de terroristas

Filme aborda a perseguição implacável contra o agente da CIA pelos desertos do Oriente Médio (Fotos: Leonine)


Maristela Bretas


Gerard Butler já está acostumado a muita ação, tiro, porrada e bomba. Mas desta vez, ele e seu amigo Navid Negahban são os alvos de terroristas na nova aventura do ator britânico, “Missão de Sobrevivência” (“Kandahar”), que estreou nessa quinta-feira nos cinemas. 

Claro que ele é o mocinho da história, vivendo o papel do agente da CIA Tom Harris, que precisa deixar o Afeganistão junto com seu intérprete, Mohammad ‘Mo’ Doud (papel do iraniano  Negahban, de “Aladdin” - 2019) após explodir uma unidade nuclear no Irã.

O filme tem muita ação e momentos tensos, já que a dupla precisa atravessar 640 quilômetros de deserto, passando por território hostil, para chegar a uma antiga base de resgate em Kandahar, que fica a 640 quilômetros de onde estão. 


Butler segue o mesmo estilo herói norte-americano com cara mal-humorada de outras produções que protagonizou. Como “Invasão a Londres” – 2016, (disponível no HBOMAX), “Tempestade – Planeta em Fúria” – 2017 (Telecine) e “Alerta Máximo” – 2023 (em exibição no Prime Vídeo). 

O “jeitão” do ator funciona e tem um público cativo que deve gostar do novo filme e esteja procurando outras opções nas salas de cinema. O enredo é bem conduzido, Gerard Butler e Navid Negahban entregam boas interpretações. 


Destaque para as cenas gravadas nos desertos - um espetáculo a parte de visual - e as perseguições, de carro, moto e caminhões. Os efeitos especiais também podem agradar quem procurar por um filme com muita ação. 

Vale reforçar que se trata de mais um longa para valorizar a atuação dos norte-americanos nos conflitos do Oriente Médio, especialmente contra o Estado Islâmico, colocando vários países como terroristas e eles como salvadores. 


O elenco é internacional, reunindo nomes como o australiano Travis Fimmel (da série “Vikings”– 2013 a 2016), o indiano Ali Fazal (o excelente “Victória e Abdul” – 2017) e vários outros atores britânicos, alemães, iranianos e sauditas.

Um ponto que pode atrapalhar a estreia de “Missão de Sobrevivência” foi ter acontecido uma semana depois dos fenômenos de bilheteria “Barbie” e “Oppenheimer”, além da disputa também com “Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1”. O longa está em cartaz nas salas Cineart Cidade e Del Rey e Cinemark BH Shopping e Pátio Savassi. 


Ficha técnica:
Direção: Ric Roman Waugh
Produção: Open Road
Distribuição: Diamond Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h59
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: ação / suspense

26 julho 2023

“O Convento” não encanta, mas não entendia

Trama envolve mistério, assassinatos e sacrilégios cometidos no interior da moradia das freiras
(Fotos: IFC Midnight e Wmix Distribuidora)


Wallace Graciano


Sejamos sinceros, amigos: demônios e slashers já estão tão batidos em filmes de terror e horror que pouco nos dão a angústia e a aflição peculiar aos gêneros. E cada vez mais, diretores tentam buscar outros elementos para dar suspense à trama e deixar de lado os velhos clichês da sétima arte. 

Talvez esse seja um dos principais erros de "O Convento" ("Consecration"), de Christopher Smith. Consegue, e muito bem, recorrer à freira como uma figura de espanto e impacto, com uma ótima justificativa para tal. 


Porém, ao tentar fugir demais de seus antecessores, tira um pouco do tempero que faria o personagem maior do que a película, o que poderia ser um grande divisor de águas. 

O filme conta a história de Grace (Jena Malone), uma oftalmologista que tem uma vida social praticamente inexistente, devido à sua criação católica. 

E nesse contexto, sua vida entra em descalabro ao receber a informação de que seu irmão, que era um sacerdote na Escócia, se matou em um convento. 


Sem muito o que fazer, ela toma como rumo às terras britânicas, onde buscará entender o que levou ao suicídio do irmão. Porém, já ao chegar ao local, entende que algo estranho paira no ar, quando começa a ser colocada de frente às suas angústias de um passado recente. 

Nesse contexto, Christopher Smith tenta criar uma imersão ao fantasmagórico, deixando o suspense que gira em torno do passado de Grace e seu irmão como o fator preponderante para um desfecho que promete bater à porta. 

A essa altura, o ranger dos dentes começa a ser notado, já que o contato com o sobrenatural parece ser iminente, criando expectativa e ansiedade pelo desfecho que virá.


Porém, justamente ao explorar ao máximo uma estética imersiva, o diretor nos tira o que poderia ser um grande divisor de águas: o poder do fator sobrenatural do personagem central. Ou seja, fugiu entre os dedos aquilo que poderia ser um grande argumento para um filme marcante.

Mas nem tudo são lamentos. A atuação de Danny Huston ("O Jardineiro Fiel" - 2005 e "Mulher Maravilha" - 2017) é o ápice do filme. Com seu quê de vilão, domina o enredo e toma para si muito dos holofotes, apesar de coadjuvante. 

De toda sorte, "O Convento" é uma trama que tem uma boa ideia por trás, mas uma execução aquém do que nos impactaria para torná-lo marcante. É um filme que te diverte, mas facilmente você esquecerá, como vários dos lançados do gênero nos últimos anos. 


Ficha técnica:
Direção: Christopher Smith
Roteiro: Christopher Smith e Laurie Cook
Produção: Moonriver Entertainment
Distribuição: Imagem Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h30
Classificação: 16 anos
Países: EUA, Reino Unido
Gêneros: terror, suspense
Nota: 3 (0 a 5)

20 julho 2023

"Barbie" é uma hilária e inteligente utopia feminista

Margot Robbie encarna com perfeição a Barbie em sua vida cor-de-rosa que precisa conhecer o mundo real(Fotos: Warner Bros.)


Larissa Figueiredo

Sob as bênçãos do slogan “você pode ser o que quiser”, as Barbies vivem na Barbielândia, sem qualquer contato com o mundo real, acreditando na resolução de todos os problemas de gênero e certas de que mudaram a vida de todas as mulheres para sempre. Essa é a temática de "Barbie", filme dirigido por Greta Gerwig que estreou nesta quinta-feira (20) nos cinemas.

Se antes as bonecas em formato de bebês permitiam que o mais longe que a imaginação das meninas fosse a maternidade, após os anos 1950, Ruth Handler criou uma boneca adulta, com “1001” profissões, que elevou o imaginário infantil e que agora ganhou as telonas.


O roteiro de "Barbie" é inteligente, sutil e profundo. Gerwig escancara, com bom humor, as deficiências de um movimento feminista raso e sem consciência. Todas as mulheres da Barbielândia são bem sucedidas em suas carreiras, independentes, se amam e se apoiam. 

Não há competição entre elas nem sentimentos de insegurança. Tanta sororidade é restrita apenas à Barbie Estranha (Kate McKinnon), que é chamada de estranha pelas costas, à Barbie grávida, e claro,às Barbies que saíram de linha e vivem isoladas.


A Barbie Estereotipada (Margot Robbie) acredita que não existem mais problemas de desigualdade de gênero e que tudo foi resolvido com equidade de oportunidades e salários. Barbie, obviamente, nunca conheceu as sequelas do patriarcado e do capitalismo, e é aí que está a grande intencionalidade da diretora.

Se por um lado as Barbies não competem entre si, os Kens vivem em busca da validação de suas companheiras e brigam, mas sem agressividade (pelo menos no início do filme), pela atenção delas. Na realidade, o estímulo à competição e a necessidade por validação masculina são comumente atribuídas às mulheres.


Por falar em Ken, o ator Ryan Gosling foi primoroso no papel. Apesar das críticas que recebeu nas redes sociais por sua idade e aparência, Gosling deu um show na atuação, na dança e na voz. O ator é um pacote completo de carisma e talento que incorporou o boneco namorado de Barbie, uma das grandes surpresas do longa. 

Greta Gerwig utiliza Ken para falar sobre a fragilidade da masculinidade tóxica e seus riscos, oferecendo um personagem complexo com início, meio e fim. Ele definitivamente não é o vilão.


A Barbie de Margot Robbie entra em uma crise existencial e precisa ir ao mundo real resolver as catastróficas (mas nem tanto) consequências disso. Lá, ela encontra Glória (América Ferrera), uma mãe de família que passa por problemas emocionais, e sua filha Sasha (Ariana Greenblatt), uma garota que não brinca mais com Barbies. 

A ligação entre as três não é óbvia e surpreende o expectador. Apesar disso, a personagem de America Ferrera funciona muito mais como uma representação de todos os dilemas das mulheres comuns do que como uma personagem com emoções próprias que fogem ao imaginário coletivo.


A trilha sonora é um dos pontos mais fortes do filme. As músicas e performances à la Gene Kelly funcionam bem e  ajudam a contar a narrativa de forma simbólica e divertida. “What Was I Made For”, música de Billie Eilish feita para o longa, é emocionante e se encaixa como uma luva na cena em  que é apresentada, uma das melhores do filme. Dua Lipa, que faz a Barbie Sereia, também colaborou com a música “Dance The Night”.

O cenário de "Barbie" é extremamente fiel às casas de brinquedo da boneca vendidas pela fabricante Mattel. Ele foi adaptado ao roteiro como uma grande brincadeira. Não sai água do chuveiro, não tem escadas porque a Barbie flutua, entre outros detalhes intencionais e indispensáveis.


A Barbielândia é coerente e de encher os olhos, o que contribui para uma fotografia digna do Oscar, repleta de planos inteiros que são uma verdadeira experiência cinematográfica. Para os fãs brasileiros, a boa notícia é que a Warner Bros. contratou Flávia Saddy, dubladora da "Barbie" nos desenhos, para dublar Margot Robbie neste live-action da boneca.

Por fim, é impossível não dizer que "Barbie" é um respiro a uma geração de mulheres que sofrem as feridas secretas da capitalização do movimento feminista e da masculinidade tóxica. Como no filme, falar abertamente sobre o tema é um antídoto.


Ficha técnica
Direção: Greta Gerwig
Roteiro: Greta Gerwig e Noah Baumbach
Produção: Warner Bros., Heyday Films,
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h55
Classificação: 12 anos
Gêneros: comédia, aventura, família

19 julho 2023

Grandioso em tudo, "Oppenheimer" mostra quem foi o pai da bomba atômica

Cillian Murphy entrega excelente interpretação do famoso físico criador da arma usada na 2ª Guerra Mundial
(Fotos: Universal Pictures) 


Maristela Bretas


Christopher Nolan novamente chega aos cinemas trazendo uma obra grandiosa, tanto no uso de recursos visuais quanto na duração. "Oppenheimer", que estreia nesta quinta-feira (20) nos cinemas, é uma "viagem" à mente inquieta e angustiada do gênio chamado de "pai da bomba atômica". O filme conta, em flashbacks, o que ele sofreu por ser brilhante na ciência, mas ingênuo quanto ao ser humano, em especial, aos políticos.
 


Ambientado durante e após a Segunda Guerra Mundial, "Oppenheimer" conta a vida do físico teórico da Universidade da Califórnia que foi convidado a dirigir o Laboratório de Los Alamos, no Novo México, com a missão de projetar e construir as primeiras bombas atômicas dos EUA.

O Projeto Manhattan, como batizado, reuniu um grupo formado pelo físico e grandes cientistas de várias nacionalidades que desenvolveram a arma nuclear responsável pela destruição das cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945, e a morte de mais de 250 mil pessoas.


Roteirista e diretor, Nolan entrega seu 12º longa de uma filmografia que inclui obras como o excelente "Dunkirk" (2017), "Interestelar" (2014), "Batman - O Cavaleiro das Trevas" (2008) e "Tenet" (2020). Ele não poupa no visual e som, explorando todos os recursos do formato Imax. 

São muitas imagens mirabolantes (e põe muitas nisso) das alucinações de Oppenheimer com fusão de átomos, explosões atômicas e de estrelas, raios e fissão nuclear. São pelo menos 30 minutos do início do filme que poderiam ser resumidos em 10. 


A trilha sonora, entregue a Ludwig Göransson, também está perfeita, proporcionando o clímax certo para aumentar o impacto sobre o espectador. 

Nolan também acerta ao usar cenas coloridas e em preto e branco que reforçam a seriedade dos dois julgamentos do cientista por traição, após ser considerado herói pelos americanos com a criação da bomba que dizimou os inimigos.


Se a parte visual e sonora são destaques, as interpretações não ficam atrás. Nota máxima para Cillian Murphy, como Julius Robert Oppenheimer, e Robert Downey Jr., no papel de Lewis Strauss. 

Murphy incorporou o famoso cientista, especialmente na estrutura física - ele fez uma dieta intensa para perder peso. A história mostra o gênio, que era "fora da caixa" da ciência convencional, e o homem, que vagava entre o egoísmo, o sucesso por dirigir importante projeto da bomba, o amor por duas mulheres, a ingenuidade de achar que seria uma estrela respeitada para sempre em sua nação e o arrependimento pelo uso de sua criação como arma de destruição em massa.


Já Downey Jr. está perfeito como o ex-presidente da Comissão de Energia Atômica dos EUA, figura decisiva na implantação do projeto da bomba. O ator confessou em entrevista recente que foi o melhor filme que já participou em sua vida. Com certeza é um dos melhores papéis (talvez o melhor) de sua carreira.


A maquiagem para envelhecimento dos personagens, bem como o figurino de época também são pontos positivos, muito bem trabalhados, juntamente com a escolha dos personagens coadjuvantes. Muitos ficaram cópias fieis de figuras que marcaram esse período da história, como Gary Oldman, interpretando o presidente Harry Truman, e Tom Conti, como Albert Einstein.


A ala feminina não deixou por menos, com Florence Pugh e Emily Blunt dando show em seus determinantes papéis na vida do cientista. A primeira como a amante do físico, Jean Tatlock, membro do Partido Comunista da América. A segunda interpreta Kitty, bióloga alemã e esposa de Oppenheimer que também integrava o mesmo partido.

Outros nomes famosos do cinema deixaram sua marca no longa: Matt Damon, Rami Malek, Kenneth Branagh, Jason Clarke, Casey Affleck, Josh Hartnett, Matthew Modine, a maioria como integrantes do governo e das Forças Armadas que estiveram por trás do projeto Manhattan.


"Oppenheimer" é baseado na biografia "American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer" ("Oppenheimer: o triunfo e a tragédia do Prometheu americano"), de Kai Bird e Martin Sherwin, publicada em 2006 e vencedora do Prêmio Pulitzer. 

Vale a pena conferir, mais uma grande produção de Christopher Nolan e forte candidato na disputa do Oscar 2024 na principal categoria, além de atores principais, coadjuvantes e parte técnica. Uma ótima oportunidade para conhecer a vida do famoso e polêmico cientista.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Christopher Nolan
Produção: Universal Pictures, Atlas Entertainment, Syncopy
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 3h01
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: biografia, histórico, drama

13 julho 2023

“Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte 1” mostra que a franquia está mais viva do que nunca

Tom Cruise volta ao papel de Ethan Hunt em filme com roteiro atual e cenas de tirar o fôlego
(Fotos: Paramount Pictures)


Eduardo Jr.


Pense em um filme que não te dá 20 segundos de paz pra relaxar na poltrona. Assim é “Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte 1”, que estreia nesta quinta-feira (13) nos cinemas. A experiência é ainda maior e melhor se assistido na sala Imax, do Cineart.

O sétimo filme da franquia encabeçada pelo astro Tom Cruise é o terceiro dirigido por Christopher McQuarrie e distribuído pela Paramount Pictures. E chega às telonas com as credenciais de ser o mais longo da franquia, o mais caro da série, e provavelmente um dos mais bem realizados - eu juro! Palavra de fã!


A despeito dos clichês de promover a busca de um objeto que pode salvar a humanidade, levar o protagonista a tomar medidas que podem torná-lo um inimigo do seu próprio governo e colocar frente a frente os laços de amizade e a necessidade de desapegar das emoções pra fazer o que precisa ser feito, o longa ganha frescor ao se antenar com pautas da atualidade. 


Se nós, meros mortais, que não temos Aston-Martin’s com metralhadoras já estamos aqui discutindo sobre Chat GPT, por que o mundo da espionagem não há de enfrentar uma ameaça sem rosto, adaptável, como uma inteligência artificial que ganha consciência?  

Esta é a grande sacada do filme: discutir algo que é ficção, mas que é muito real e crível a todos nós. Mesmo sendo apenas a primeira parte (a continuação está prevista para junho de 2024), o espectador sai do cinema sem a sensação de que a trama foi cortada ao meio. 


O longa é bem feito, mas não perfeito, pois há uma cena ou outra que dura mais do que o necessário. O thriller une espionagem e ação, e dá pra dizer que homenageia os capítulos anteriores. 

As cenas de perseguição estão lá, os flashbacks do passado também. No entanto, mesmo com tudo bem explicadinho, talvez alguns desses resgates tenham sido guardados para o desfecho, no ano que vem. 


E o elenco de “Acerto de Contas Parte 1” está garantido para a continuação. Ving Rhames (Luther) e Simon Pegg (Benji) seguem com o entrosamento e apoio necessário ao incansável Ethan Hunt (Tom Cruise). 

Esai Morales é o vilão Gabriel, e apresenta aquilo que se espera. Tem seu charme, falta de limites e poucas expressões, sem muitas nuances. 

Destaque para o time feminino: a Viúva Branca (Vanessa Kirby) e a misteriosa espiã Ilsa Faust (Rebecca Ferguson) estão de volta. A novidade é a personagem Grace (Hayley Atwell), que brilha na tela. Parece fazer parte da franquia desde o início, de tão natural e bem ambientada. 


Enquanto algumas sequências sofrem com o estigma de que "deveriam ter acabado no terceiro filme", a equipe da IMF (Impossible Mission Force) parece se renovar na energia do protagonista. A franquia "Missão: Impossível" está aí desde 1996. 

E Tom Cruise segue dispensando dublês e executando cenas de ação de tirar o fôlego (eu já disse que nesse filme a gente não tem nem 20 segundos de sossego?). Confira neste link algumas cenas de bastidores da gravação em Roma.


Aliado a isso, o posicionamento das câmeras coloca o espectador dentro da cena - e a gente prende a respiração junto. Talvez por isso tenham sido gastos 290 milhões de dólares na produção, gravada durante a pandemia de Covid-19. Veja como foi feita a gravação do voo de velocidade de Tom Cruise clicando aqui.

São duas horas e meia de um filme que se recusa a ser um monte de sequências de perseguição, tiros e bombas. Tem emoção, tensão, alívio cômico e a gente nem percebe o tempo passar. 


Falando em tempo, vale entregar aqui um pouquinho do filme pra melhorar a experiência do espectador. Se na telona a ameaça é digital e a saída é se apoiar em ferramentas analógicas, recomendo que, ao assistir “Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte 1”, você também se desligue das tecnologias. Vale cada segundo ligar o modo Tom Cruise e saltar de cabeça nessa experiência audiovisual. 


Ficha técnica:
Direção: Christopher McQuarrie
Produção: Paramount Pictures e Skydance
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h35
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: ação, aventura, suspense

12 julho 2023

"A Noite do Dia 12" denuncia a violência presente em diversas esferas da sociedade

Destaque para as ótimas atuações de Bastien Bouillon e Bouli Lanners como os investigadores (Fotos: Fanny de Gouville/Haut et Court)


Carolina Cassese
Blog no Zint


Com estreia exatamente nesta quarta-feira (12) e direção de Dominik Moll, o longa "A Noite do Dia 12" é inspirado numa história real que virou livro pelas mãos da escritora francesa Pauline Guéna. 

Na noite de 12 de outubro de 2016, em Saint-Jean-de-Maurienne (Savoie), uma jovem de 21 anos, Clara Royer (Lula Cotton-Frapier), foi assassinada por um homem encapuzado, quando voltava de uma noite com amigos. 


Sabemos que, infelizmente, esse caso de feminicídio não representa um incidente isolado - no nosso país, por exemplo, há inúmeros registros de mulheres que são assassinadas, especialmente por namorados ou ex-companheiros. 

Diante desse quadro preocupante é primordial que o cinema contemporâneo trate dessa questão e nos faça refletir acerca das muitas dimensões do problema. Desde o começo do filme, que está em cartaz nos cinemas, o espectador está ciente de que o assassinato não será solucionado. 


Tal aviso é bem-vindo, já que, por esse motivo, compreendemos de antemão que o longa não seguirá a cartilha dos clássicos filmes de detetive. O que nos faz ficar com os olhos grudados na tela mesmo sem a iminência de descobrir quem é o assassino? 

A resposta possivelmente diz respeito ao eficiente ritmo do filme e, ainda, às ótimas atuações de Bastien Bouillon (Yohan) e Bouli Lanners (Marceau), que fazem o papel dos investigadores. No César de 2023, principal premiação do cinema francês, o longa foi o grande vencedor da noite, levando inclusive as estatuetas de Melhor Filme e Melhor Direção. 


Outro mérito do trabalho de Moll é mostrar que, por mais que a autoria daquele episódio seja individual, existe uma responsabilidade coletiva acerca de crimes cometidos contra a mulher. Em determinado momento, o investigador Yohan chega a dizer que todos os homens mataram Clara, inclusive porque ela foi vítima de diferentes tipos de violência. 

Mesmo após o assassinato, um cantor se sente no direito de fazer brincadeiras sobre sua trágica morte. Além disso, sabe-se que, em casos de crimes contra as mulheres, muitos representantes da (suposta) justiça acabam culpabilizando a vítima pelo ocorrido. Nesse sentido, fica evidente que o feminicídio é um problema sistêmico e bastante complexo.


Parte da inventividade de "O Crime É Meu", longa francês em cartaz no Cineart Ponteio e UNA Cine Belas Artes, está justamente na subversão desse cenário, já que, no filme de François Ozon, são as mulheres que matam os pares masculinos por motivos banais, numa espécie de vingança contra abusos naturalizados cotidianamente. 

Na vida real, evidentemente, ninguém deveria ser morto por razão alguma. Mas ao inverter a situação ficcionalmente, Ozon evidencia o absurdo da realidade em que estamos inseridos. 


"A Sindicalista", em cartaz também no UNA Cine Belas Artes, é outro filme que mostra como as engrenagens do sistema muitas vezes são programadas para operarem contra a mulher, transformando a vítima em culpada.

Angustiante e visceral, "A Noite do Dia 12" não é um filme fácil de assistir. No entanto, o novo trabalho de Dominik Moll é muito eficiente em prender a atenção do espectador e em denunciar como a sociedade patriarcal pode ser conivente com crimes cometidos contra a mulher. 


Se, por um lado, às vezes necessitamos apenas de um filme feel good para descansar a cabeça, em outros momentos precisamos encarar nossa realidade e nos movimentar a partir da indignação. Um soco no estômago, portanto, é bem-vindo para nos tirar da inércia.


Ficha técnica:
Direção: Dominik Moll
Roteiro: Gilles Marchand e Dominik Moll
Produção: Haut et Court
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h55
Classificação: 16 anos
Países: Bélgica, França
Gêneros: drama, suspense, policial

07 julho 2023

"Sobrenatural - A Porta Vermelha" é um terror que assusta sem causar medo

Quinto longa consegue recuperar a qualidade do primeiro filme da franquia (Fotos: Sony Pictures)


Maristela Bretas


Está sendo consenso entre as pessoas que assistiram "Sobrenatural - A Porta Vermelha" ("Insidious - The Red Door") que este filme é tão bom quanto o primeiro da franquia, “Sobrenatural", de 2011. Talvez porque essa quinta produção, que está em cartaz nos cinemas, traga de volta atores do elenco original - como Patrick Wilson, que também é o diretor. 

E realmente agrada, com bons sustos graças a um ótimo trabalho de maquiagem e boas interpretações do elenco, incluindo a da entidade do mal, chamada pelos personagens de Demônio Vermelho e Demônio do Rosto Vermelho.


Além de Patrick Wilson e Ty Simpkins, “Sobrenatural – A Porta Vermelha” conta com a volta de Rose Byrne (Renai), Andrew Astor (Foster), Barbara Hershey (Lorraine), membros da família Lambert que participaram de “Sobrenatural" (2011) e "Sobrenatural: Capítulo 2" (2013), ambos dirigidos por James Wan. 

Também retornam à franquia Lin Shaye, como a vidente Elise Rainier, e Amgus Sampson, como seu assistente Tucker. 

O destaque do novo elenco é Sinclair Daniel, em ótima interpretação da jovem descolada Chris, colega da quarto de Dalton na faculdade. Participam ainda Juliana Davies, como Kali, filha caçula dos Lambert, e Hiam Abbass, professora de Artes de Dalton. 


Os fatos ocorrem dez anos depois da aparição da entidade ter tentado trazer Dalton (Ty Simpkins) e o pai Josh (Patrick Wilson) para uma dimensão macabra em “Sobrenatural: Capítulo 2” e ter aterrorizado toda a família Lambert. Apesar de terem suas memórias apagadas por decisão da família, ambos vivem atormentados por visões que não sabem explicar. 


O problema se agrava quando Dalton, que não se dá bem com o pai, começa a faculdade e passa a ter visões da assustadora entidade que habita a dimensão astral por trás da porta vermelha (um lugar entre o Céu, a Terra e o Inferno). E precisarão enfrentar seus medos e desavenças do passado para conseguirem ficar livres desse espírito do mal.

Mesmo sendo um filme de terror, "Sobrenatural - A Porta Vermelha" demora a provocar sustos, mas quando eles começam, dá para pular na cadeira. 


O longa foca a abordagem na relação conturbada entre pai e filho. Quase uma reprodução da relação que Josh tinha com o pai que o abandonou quando criança. 

Esses relacionamentos familiares ruins estão interligados com as aparições e a força que a entidade macabra exerce sobre suas vítimas. A forma como esse ponto é conduzido no roteiro é bem clara, dando ao longa um encerramento digno da franquia, que começou muito bem sob a batuta de James Wan, teve seus altos e baixos, e recupera neste quinto filme.

   
O Demônio do Rosto Vermelho (interpretado por Joseph Bishara) é realmente assustador e suas aparições, assim como a outras entidades da dimensão astral, atormentando Dalton, Chris e Josh, provoca no público a reação esperada para um bom filme de terror. O retorno da família foi uma boa ideia, fechando um ciclo interrompido há 10 anos.


Outro ponto que agrada é ter o roteiro de Leigh Whannell (do excelente "O Homem Invisível"- 2020), criador da ideia original e dos personagens de “Sobrenatural”, juntamente com James Wan.

Ele também retoma o papel do caça-fantasmas Specs, que desempenhou no original de 2011, em “Sobrenatural: Capítulo 2” (2013), "Sobrenatural: A Origem" (2015), dirigido por ele, e "Sobrenatural: A Última Chave" (2018).  

James Wan, que dirigiu os dois primeiros filmes, também retorna. Agora como produtor, ao lado de Jason Blum, da Blumhouse, garantindo uma produção de qualidade, que convence como filme de terror que faz o expectador dar pulo na cadeira. 


No gênero terror, Wan tem em sua filmografia a direção de “Invocação do Mal" (2013), “Invocação do Mal 2” (2016) e roteiro nos demais filmes da franquia. 

Para quem quer assistir os outros quatro filmes da franquia, os dois primeiros estão disponíveis na @HBOMax e os dois últimos na @Netflix. Mas não é necessário assistir aos demais. “Sobrenatural – A Porta Vermelha” dá a explicação necessária no início. 


Ficha técnica:
Direção: Patrick Wilson
Produção: Blumhouse Productions
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h47
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gênero: Terror