Margot Robbie encarna com perfeição a Barbie em sua vida cor-de-rosa que precisa conhecer o mundo real(Fotos: Warner Bros.) |
Larissa Figueiredo
Sob as bênçãos do slogan “você pode ser o que quiser”, as Barbies vivem na Barbielândia, sem qualquer contato com o mundo real, acreditando na resolução de todos os problemas de gênero e certas de que mudaram a vida de todas as mulheres para sempre. Essa é a temática de "Barbie", filme dirigido por Greta Gerwig que estreou nesta quinta-feira (20) nos cinemas.
Se antes as bonecas em formato de bebês permitiam que o mais longe que a imaginação das meninas fosse a maternidade, após os anos 1950, Ruth Handler criou uma boneca adulta, com “1001” profissões, que elevou o imaginário infantil e que agora ganhou as telonas.
O roteiro de "Barbie" é inteligente, sutil e profundo. Gerwig escancara, com bom humor, as deficiências de um movimento feminista raso e sem consciência. Todas as mulheres da Barbielândia são bem sucedidas em suas carreiras, independentes, se amam e se apoiam.
Não há competição entre elas nem sentimentos de insegurança. Tanta sororidade é restrita apenas à Barbie Estranha (Kate McKinnon), que é chamada de estranha pelas costas, à Barbie grávida, e claro,às Barbies que saíram de linha e vivem isoladas.
A Barbie Estereotipada (Margot Robbie) acredita que não existem mais problemas de desigualdade de gênero e que tudo foi resolvido com equidade de oportunidades e salários. Barbie, obviamente, nunca conheceu as sequelas do patriarcado e do capitalismo, e é aí que está a grande intencionalidade da diretora.
Se por um lado as Barbies não competem entre si, os Kens vivem em busca da validação de suas companheiras e brigam, mas sem agressividade (pelo menos no início do filme), pela atenção delas. Na realidade, o estímulo à competição e a necessidade por validação masculina são comumente atribuídas às mulheres.
Por falar em Ken, o ator Ryan Gosling foi primoroso no papel. Apesar das críticas que recebeu nas redes sociais por sua idade e aparência, Gosling deu um show na atuação, na dança e na voz. O ator é um pacote completo de carisma e talento que incorporou o boneco namorado de Barbie, uma das grandes surpresas do longa.
Greta Gerwig utiliza Ken para falar sobre a fragilidade da masculinidade tóxica e seus riscos, oferecendo um personagem complexo com início, meio e fim. Ele definitivamente não é o vilão.
A Barbie de Margot Robbie entra em uma crise existencial e precisa ir ao mundo real resolver as catastróficas (mas nem tanto) consequências disso. Lá, ela encontra Glória (América Ferrera), uma mãe de família que passa por problemas emocionais, e sua filha Sasha (Ariana Greenblatt), uma garota que não brinca mais com Barbies.
A ligação entre as três não é óbvia e surpreende o expectador. Apesar disso, a personagem de America Ferrera funciona muito mais como uma representação de todos os dilemas das mulheres comuns do que como uma personagem com emoções próprias que fogem ao imaginário coletivo.
A trilha sonora é um dos pontos mais fortes do filme. As músicas e performances à la Gene Kelly funcionam bem e ajudam a contar a narrativa de forma simbólica e divertida. “What Was I Made For”, música de Billie Eilish feita para o longa, é emocionante e se encaixa como uma luva na cena em que é apresentada, uma das melhores do filme. Dua Lipa, que faz a Barbie Sereia, também colaborou com a música “Dance The Night”.
O cenário de "Barbie" é extremamente fiel às casas de brinquedo da boneca vendidas pela fabricante Mattel. Ele foi adaptado ao roteiro como uma grande brincadeira. Não sai água do chuveiro, não tem escadas porque a Barbie flutua, entre outros detalhes intencionais e indispensáveis.
A Barbielândia é coerente e de encher os olhos, o que contribui para uma fotografia digna do Oscar, repleta de planos inteiros que são uma verdadeira experiência cinematográfica. Para os fãs brasileiros, a boa notícia é que a Warner Bros. contratou Flávia Saddy, dubladora da "Barbie" nos desenhos, para dublar Margot Robbie neste live-action da boneca.
Por fim, é impossível não dizer que "Barbie" é um respiro a uma geração de mulheres que sofrem as feridas secretas da capitalização do movimento feminista e da masculinidade tóxica. Como no filme, falar abertamente sobre o tema é um antídoto.
Ficha técnica
Direção: Greta GerwigRoteiro: Greta Gerwig e Noah Baumbach
Produção: Warner Bros., Heyday Films,
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h55
Classificação: 12 anos
Gêneros: comédia, aventura, família
Que texto esplêndido!!!!
ResponderExcluirAgradeço em nome da colaboradora
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