A escolha de tons mais escuros e sombrios ajuda a transmitir a sensação de desespero dos personagens diante da devastação de Seul (Fotos: Lotte Entertainment) |
Silvana Monteiro
@silmontheiro
"Sobreviventes - Depois do Terremoto" ("Concrete Utopia"), dirigido por Tae-hwa Eom, que assina o roteiro com Lee Shin-ji, traz análise e crítica socioambiental, escancarando as várias faces da natureza humana, principalmente frente aos desafios e à escassez de recursos e de habitação.
O filme, que entrou em cartaz nos cinemas, começa com cenas inofensivas que demonstram a verticalização e a grande quantidade de pessoas em busca de uma chance para adquirir um apartamento em Seul, capital da Coreia do Sul.
Um cataclismo de proporções avassaladoras se desencadeia, deixando para trás uma paisagem desolada. O caos se instala e a esperança parece um fio tênue prestes a se romper. Em meio à devastação, apenas um imponente arranha-céu, o Hwang Gung Apartments, emerge como um farol solitário de resistência.
No inverno implacável, o prédio se torna uma colmeia humana, abrigando uma miríade de histórias, dores e esperanças. No entanto, a harmonia é rapidamente ameaçada à medida que a capacidade do edifício é ultrapassada.
Incomodados com aqueles "sobreviventes invasores", os "sobreviventes proprietários", tomam uma medida extraordinária para preservar a ordem. Mas como estabelecer tais regras em um lugar onde a própria vida é uma exceção, frágil e incerta?
Na imensidão do caos, alguém é dono de algo? Quem tem domínio sobre a própria vida? O dilema moral surge, desafiando a noção de justiça em meio à adversidade.
Entre paredes marcadas pela tragédia, segredos são revelados, alianças são formadas e o destino de todos fica suspenso no fio da balança. Nesse turbilhão de emoções e dilemas morais, uma única certeza prevalece: coexistir em meio ao caos é enlouquecedor. Ser e ter se confundem.
Fotografia e cinematografia
As cenas fazem com que o espectador mergulhe profundamente na experiência dos sobreviventes. A fotografia com uma paleta de cores contrastantes, alternando entre tons claros antes do terremoto e tons mais sombrios, fortes e marcados após a catástrofe, reforça o realismo distópico da obra.
Essa escolha estética intensifica o impacto emocional de "Sobreviventes - Depois do Terremoto", transmitindo a sensação de desespero e desolação dos personagens. Os movimentos demonstram as tensões em busca de sobrevivência e convivência, o que proporciona uma experiência cinematográfica emocionalmente carregada.
Enredo e atuações
O diretor entrelaça diferentes histórias pessoais, algumas vezes com um certo desequilíbrio, o que pode causar confusão no fio condutor. Isso exige do espectador fixação total na tela.
Os destaques da atuação vão para os atores Park Seo-joon ("Parasita" - 2020) como Min Sung, e Park Bo-young (Myung Hwa) que vivem os recém-casados da trama. Os dois dão o toque Dorama ao longa e nos remetem ao lado solidário da humanidade. Ambos permeiam a luta para salvar os sonhos e aspirações de um casal com cenas intimistas e propósitos de resiliência.
Lee Byung-hun, que já atuou em vários filmes e séries de televisão, incluindo "Sete Homens e Um Destino" (2016) , "O Bom, o Mau e o Bizarro" (2008), "Mr. Sunshine" (2018) e "Round-6" (2021), também se destaca. Ele dá o toque visceral e personifica a insurgência, nem vilão e nem mocinho, agindo como uma espécie de síndico, disposto a tudo para salvar seu teto e sua pele.
"Sobreviventes - Depois do Terremoto" peca na duração e no excesso de incidentes fragmentados no caos. Na visão desta cronista, a trama poderia ser mais coesa para prender melhor o público, porém ainda é um prato cheio para quem gosta de ficção científica e distopia, de reflexão e de debate sobre os caminhos e destinos da humanidade.
Direção: Tae-hwa Eom
Produção: Climax Studio e BH Entertainment Co.
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h09
Classificação: 16 anos
País: Coreia do Sul
Gêneros: drama, ficção científica, suspense
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