Adam Driver e Nathalie Emmanuel protagonizam a mais nova obra do diretor, que aborda temas sociais e políticos (Fotos: Divulgação) |
Marcos Tadeu
Texto cedido pelo blog Jornalista de Cinema
Considerado um dos projetos mais audaciosos da história do cinema e do diretor Francis Ford Coppola, está em cartaz nos cinemas "Megalópolis". O filme aborda temas sociais e políticos como só o diretor e também roteirista da produção, um mestre em retratar complexidades humanas, poderia alcançar.
Distribuído pela 02 Play Filmes, o longa é estrelado por Adam Driver, Giancarlo Esposito, Aubrey Plaza, Forest Whitaker, Nathalie Emmanuel, Shia LaBeouf, Jon Voight, Laurence Fishburne, entre outros nomes conhecidos do cinema.
Na história, conhecemos César Catilina (Driver), um arquiteto visionário que propõe melhorias radicais para sua cidade com a ajuda de uma misteriosa descoberta, chamada Megalon. Contra ele está o prefeito Cícero (Esposito), um líder conservador que busca manter as tradições e frear a modernização.
O pano de fundo é Nova Roma, uma metrópole que mistura elementos da civilização antiga com aspectos contemporâneos, refletindo a luta entre progresso e tradição. O filme também enfatiza o papel da arte, mostrando o que sem ela uma sociedade perde a alma.
O design de produção, liderado por Beth Mickle e Bradley Rubin, se destaca ao mostrar a divisão socioeconômica da cidade. O contraste entre áreas prósperas e desfavorecidas dá vida à distopia que se desenrola.
Coppola traz questionamentos importantes: como gastamos nosso tempo? E se pudéssemos pará-lo, o que faríamos? A busca por progresso e os dilemas éticos e políticos que o acompanham são discutidos de forma corajosa. No centro da narrativa, a tensão entre César e Cícero é palpável.
Adam Driver dá vida a um idealista obstinado por melhorias coletivas, enquanto Giancarlo Esposito representa a política tradicional, que resiste às mudanças. A dinâmica entre os personagens revela a eterna batalha entre inovação e conservadorismo.
Nathalie Emmanuel ganha destaque como Lucia, filha do prefeito. Sua personagem evolui de uma figura aparentemente mimada para uma voz ativa na disputa ideológica, unindo-se a César e confrontando o pai. Forest Whitaker, como Julius, também desempenha um papel intermediário, contribuindo para o debate político central.
Coppola enriquece o filme com simbolismos — como a Justiça cega em movimento — que pontuam suas críticas à sociedade moderna. A obra tem um tom shakespeariano, com temas familiares e ambições que remetem a Hamlet.
As atuações, embora teatrais e caricatas em alguns momentos, contribuem para essa atmosfera. Até mesmo a franquia "Star Wars" é lembrada. Há uma referência rápida do personagem de Adam Driver, que interpretou Kylo Ren, segurando um objeto como se fosse um sabre de luz.
No entanto, "Megalópolis" peca em profundidade de personagens. A preocupação de Coppola em explorar subtramas políticas e sociais deixa de lado o desenvolvimento dos dramas pessoais.
Os próprios personagens César e Cícero não interagem com as massas, evidenciando como líderes políticos muitas vezes priorizam ideais sobre o coletivo.
O filme faz uso de citações de figuras históricas como Voltaire e Marco Aurélio, ampliando a reflexão sobre poder e liderança. Ele explora como a sabotagem e a manipulação da verdade são usadas para minar o progresso e como o extremismo pode surgir em meio ao descontentamento popular.
Do próprio bolso
Francis Ford Coppola financiou pessoalmente parte do projeto, investindo cerca de US$ 140 milhões, saídos da venda de sua famosa vinícola. Foram décadas de reescritas e adiamentos, que começaram em 1977.
A visão autoral do diretor, rejeitada por estúdios por ser considerada arriscada e pouco comercial, foi levada adiante graças à sua determinação em manter o controle criativo.
Essa ousadia reflete o compromisso de Coppola com sua arte. Ele não buscava agradar ao mercado, mas sim concretizar uma visão artística que transcendesse as convenções cinematográficas.
"Megalópolis" é um exemplo raro de cinema autoral que desafia a lógica comercial da indústria. Comparável a "Duna: Parte Dois" (2023) em sua abordagem política e distópica, Coppola vai além ao explorar temas de maneira crua e direta.
A escolha de Nova Roma como cenário (numa alusão do que seria Nova York como um novo império) reforça as temáticas de ambição e poder, em uma narrativa que, mesmo com suas falhas, promete ser lembrada por sua audácia e relevância.
Direção e roteiro: Francis Ford Coppola
Produção: American Zoetrope
Distribuição: O2 Play Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h18
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: drama, ficção
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