Protagonista, interpretado na medida por Chico Díaz, tenta fugir do seu passado entrando num trem misterioso (Fotos: Pandora Filmes)
Mirtes Helena Scalioni
É possível imaginar, mesmo sem nunca ter dirigido um filme, que retratar a obra de Murilo Rubião no cinema é tarefa difícil, quase impossível, mesmo que seja apenas uma homenagem.
Ao que parece, Eder Santos tentou fazer isso, mesmo caindo na tentação de realizar um longa pesado, até certo ponto incompreensível, obscuro e misterioso, muitas vezes pecando pelo excesso de metáforas.
Definitivamente, "Girassol Vermelho", livremente inspirado no mineiro Rubião, considerado o precursor do realismo fantástico, não é um filme fácil de assistir. O longa poderá ser conferido a partir do dia 3 de abril nos cinemas.
Se alguém se der ao trabalho de ler a sinopse do filme antes de vê-lo, vai ficar sabendo que Romeu, personagem interpretado na medida por Chico Díaz, tenta fugir do seu passado, entra num trem misterioso, mas para em algum lugar onde, desde o início, é questionado, maltratado e torturado por um sistema opressor que o espectador imagina - apenas imagina - qual seja. Um governo autoritário? A própria consciência de Romeu? Realidade ou pesadelo?
Os personagens vão entrando na história - que não é história - aos poucos. Da mulher de vermelho interpretada por Luiza Lemmertz que faz a dama fatal que atrai o homem para uma armadilha, até uma espécie de Grande Irmão, feito por Daniel Oliveira e que só aparece numa tela.
Até os indefectíveis homens e mulheres da lei - interpretados por Bárbara Paz, Renato Parara e outros. Também não faltam cenas que parecem ser julgamentos, em que as testemunhas acusam Romeu de ser o homem que pergunta, que questiona, que quer saber.
Saliente-se que o calvário do personagem central se passa em um mesmo local, uma espécie de galpão industrial, constantemente envolto em fumaça - ou seria névoa?
Com cara de filme experimental, "Girassol Vermelho" parece pecar pelas cenas longas, como a de um jantar onde todos estão sufocados dentro de sacos plásticos, menos Romeu, enquanto garçons servem e retiram pratos e copos.
Se o objetivo era causar estranheza, o filme codirigido por Thiago Villas Boas atinge sua meta com louvor. Mas dificilmente vai conseguir conquistar o público médio de cinema.
Mesmo reconhecendo que não se pode esperar algo verossímil a partir da obra de Murilo Rubião, que encantou e encanta leitores mundo afora com seus contos ao mesmo tempo belos e absurdos. No caso do longa, sobraram absurdos, faltou beleza.
PS: há uma única menção ao conto "A Casa do Girassol Vermelho", de Murilo Rubião, bem no início do filme, quando uma mulher lê um primeiro parágrafo para Romeu, assim que ele entra no trem.
Ficha técnica:
Direção: Eder Santos e codireção de Thiago Villas Boas Roteiro: Mônica Cerqueira Distribuição: Pandora Filmes Exibição: nos cinemas Duração: 1h50 Classificação: 16 anos País: Brasil Gênero: drama
Alunos vencedores da 9ª edição do concurso "O Trânsito e o Valor da Vida" (Foto: PBH/Divulgação)
Da Redação
Alunos e professores do Ensino Médio (regular, EJA e técnico) e do Ensino Fundamental (EJA) foram premiados no concurso de vídeos "O Trânsito e o Valor da Vida", promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da BHTrans e da Superintendência de Mobilidade (Sumob).
O evento aconteceu no Cine Santa Tereza e o desafio proposto foi trazer um novo olhar sobre a mobilidade urbana, incentivando a conscientização sobre a segurança no trânsito e a preservação da vida.
Dez alunos e três professores receberam premiação em dinheiro que totalizam R$ 12 mil (divididos entre os alunos e professores), sendo: R$ 6 mil (1º lugar), R$ 4 mil (2º lugar) e R$ 2 mil (3º lugar). Os vencedores desta edição foram:
1º lugar:- Tema: “Tipos de Motoristas no Trânsito” - 5.901 votos - Alunos: Victor Alves Gomes, Isabela Brandão Coelho, Sofia Ribeiro Araújo, Júlia Sana Moussa, Lucca Agnelo Vilaça - Colégio Santa Maria - Pampulha. Professora: Sheila Rodrigues Marques
2º lugar:Tema: “Escolhas Corretas no Trânsito” -3.087 votos - Alunos: Miguel Marques de Almeida, Cauã Dias Pedro, Mayra Helena Ferreira Passos, Samara Lucio Estevam - Colégio Elite - Floresta; Professora: Alice Brandão Azevedo Alve
3º lugar:Tema: “Num Piscar de Olhos” - 1.508 votos - Aluno: Marcos Paulo Fune Soares - Escola Estadual Técnico Professor Fontes. Professor Fontes Rômulo José Alves Santos.
A edição de 2024 do concurso contou com 70 alunos e 45 professores de 35 escolas da capital. Para validar a inscrição, os participantes precisaram publicar um vídeo inédito de até um minuto no Instagram ou TikTok e anexar o material ao formulário disponível no site da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
Uma comissão julgadora da Sumob/BHTrans, com apoio de outros órgãos, selecionou os 10 melhores vídeos levando em consideração os seguintes critérios: roteiro, originalidade e qualidade técnica.
A mobilização também se refletiu no engajamento do público: os vídeos receberam um total de 12.985 votos dos internautas, demonstrando o impacto e a relevância do projeto na conscientização sobre a segurança no trânsito.
2º lugar - Tema: “Escolhas Corretas no Trânsito”
De acordo com a gerente de Educação para a Mobilidade da BHTrans, Maria Augusta Gatti, "além dos estudantes refletirem e aprenderem sobre como se comportar com segurança em seus deslocamentos, eles tornam-se multiplicadores em educação para o trânsito, pois os vídeos produzidos por eles alcançam milhares de pessoas."
Inscrições abertas para a edição de 2025
A PBH já está com inscrições abertas para a 10ª edição do concurso de vídeos este ano, que terá o tema: “Caminhando na cidade: pé no chão e olho no trânsito”. Para participar, os alunos, em conjunto com um professor, devem produzir um vídeo, de até um minuto, cujo assunto esteja relacionado ao tema proposto.
Deverão ser englobados diversos comportamentos dos pedestres no trânsito, como por exemplo: travessia na faixa ou passarelas; uso do celular e fones de ouvido na rua; respeito à sinalização e atenção aos veículos, principalmente motos, durante a travessia.
Os interessados podem se inscrever até o dia 3 de novembro de 2025 pelo portal pbh.gov.br/bhtrans, onde consta o regulamento e espaço para a inscrição e o envio do vídeo participante. Os vídeos das edições anteriores dos concursos estão disponíveis no canal da BHTrans no YouTube (@OficialBHTrans).
Série de 2022 vencedora do Emmy está em sua segunda temporada, sob a direção de Ben Stiller e confirma renovação para a terceira (Fotos: Apple TV+)
Carolina Vas
(O seguinte texto contém alguns spoilers da segunda temporada)
“Trabalho é só trabalho, não é?” A frase dita pelo protagonista Mark (Adam Scott) ilustra uma das principais discussões da série "Ruptura" ("Severance"), idealizada por Dan Erickson e dirigida por Ben Stiller.
A produção da Apple TV+, que estreou em 2022, é centrada na vida de funcionários da Lumon Industries, empresa que realiza um procedimento cirúrgico extremo, cujo objetivo é separar as memórias pessoais das profissionais.
Essa prática leva à formação de duas personalidades distintas: o “interno”, que só possui lembranças relacionadas ao trabalho, e o “externo”, que não tem conhecimento das atividades associadas ao ambiente corporativo.
Lançada em 2025 (o último episódio foi disponibilizado em 21 de março), a segunda temporada de "Ruptura" segue explorando as diferentes realidades desse grupo e investiga com mais detalhes a construção psicológica dos personagens.
A série, que acaba de ser renovada para uma terceira temporada, é repleta de elementos complexos e, por isso, avisamos que esta crítica certamente não conseguirá abordar todos os temas relevantes para a história.
Na primeira parte, acompanhamos as histórias de Mark, Helly (Britt Lower), Irving (John Turturro) e Dylan (Zach Cherry), funcionários do departamento de Refinamento de Macrodados. Cada um lida de forma diferente com a ruptura, mas, aos poucos, todos começam a questionar os objetivos da empresa.
Já a segunda temporada, passados alguns meses após os eventos iniciais, é centrada nas implicações da “Revolta do Macrodat”, uma manifestação dos empregados contra as condições de trabalho na Lumon, evidenciando ainda mais os conflitos entre as diferentes versões dos funcionários.
Uma das principais perguntas que surgem – desde os primeiros episódios – diz respeito às motivações dos que optam por realizar a ruptura: por que alguém escolheria fazer um procedimento tão violento, dividindo a própria memória?
As respostas são diversas, a depender da situação de cada personagem. Quanto a Mark, por exemplo, compreende-se que o protagonista tomou essa decisão por não conseguir lidar com o trauma de ter perdido sua esposa, Gemma (Dichen Lachman).
Nesse sentido, a série também reflete sobre como as pessoas realizam ações extremas para não lidar com sentimentos considerados “negativos”, especialmente numa cultura em que se deve ostentar felicidade.
Além disso, é notável o fato de que, antes de realizar o procedimento, Mark era professor de história, campo que trabalha a partir da memória – e, mesmo assim, ele opta por fragmentar suas lembranças.
Logo a partir da sinopse, pode-se observar que a produção reflete não apenas acerca de distopias tecnológicas, mas também sobre o mundo do trabalho. Na sociedade atual, uma das primeiras perguntas que fazemos uns aos outros é: “O que você faz?” – ou seja, “com o que você trabalha?”.
Dessa maneira, o universo da série é sim bastante distópico, mas também é fato que muitas das discussões são pertinentes ao modo de vida contemporâneo.
Algumas empresas empregam medidas bastante similares às da Lumon: discursos extremamente produtivistas, políticas superficiais de inclusão (que não alteram a estrutura da desigualdade) e a imposição irritante de atividades “divertidas” para os funcionários.
Podemos identificar muitos diálogos com debates sobre a precarização do trabalho, considerando, por exemplo, o conceito de “Capitalismo 24/7”, desenvolvido por Jonathan Crary. Para o pesquisador, o sistema econômico vigente promove uma lógica de funcionamento acelerado, em que o tempo para descanso é cada vez mais desvalorizado.
Em "Ruptura", existe uma versão dos personagens que de fato vive a realidade 24/7: para eles, a existência é necessariamente voltada para a cultura produtivista.
Como esperado, as discussões sobre o ambiente corporativo também estão presentes na segunda temporada. Cobel (Patricia Arquette) é uma das personagens que tem a identidade significativamente associada ao trabalho, mesmo sem ter realizado a ruptura.
A partir do momento em que não está mais empregada na Lumon, ela se encontra bastante perturbada e precisa buscar uma nova identidade. No episódio “Sweet Vitrols”, o espectador pode conhecer mais sobre a história da personagem, que passou a integrar a Lumon desde muito jovem e, ao longo do tempo, foi sendo cada vez menos reconhecida pelos líderes da empresa.
Ambientado numa cidade costeira, o capítulo apresenta planos impressionantes e é bastante eficiente em retratar o isolamento do local (e da personagem).
É interessante observar que alguns episódios dessa temporada são primordialmente ambientados em espaços externos, o que não ocorre na primeira temporada (mais focada nas atividades dos “internos”).
Nesse sentido, os capítulos recentes representam bem esse embate entre as versões “externas” e “internas” dos personagens, destacando as diferenças que marcam os dois mundos.
Ao longo dos episódios, a maior parte dos funcionários de fato entra em conflito com suas respectivas identidades. Mark, por exemplo, sofre ao passar por um processo de “reintegração”, enquanto Helly questiona o próprio papel na empresa, se opondo aos ideais de sua “externa”.
Outros personagens, como Irving e Dylan, começam a buscar mais respostas sobre os objetivos da Lumon.
De forma geral, a segunda temporada segue sendo esteticamente notável, com escolhas visuais que reforçam a atmosfera perturbadora da série. Os episódios recentes foram reconhecidos pela crítica: no Rotten Tomatoes, "Ruptura" atualmente está com 95% de aprovação, índice que destaca a qualidade da série.
As atuações merecem destaque: Adam Scott protagoniza cenas difíceis, expressando com excelência as muitas angústias de seus dois personagens. Por sua vez, Patricia Arquette continua construindo uma personagem única e bastante complexa.
Na emissão "The Severance Podcast" (comandada por Ben Stiller e Adam Scott), a atriz conta que participou de todo o processo de composição da personagem, sugerindo a cor do cabelo de Cobel (um loiro platinado, bastante frio e opaco) e construindo a entonação característica da funcionária da Lumon.
No que diz respeito à terceira temporada, muitas perguntas ainda devem ser respondidas: o que acontecerá com Mark e Helly? Haverá uma resistência dos internos à Lumon? Como será esse movimento? Milchik também irá se opor à empresa?
Mesmo que ainda tenhamos muitas dúvidas, os episódios explicam melhor as motivações dos personagens principais e, ainda, reforçam a nossa torcida para que mais funcionários se revoltem contra as condições de exploração.
A partir do exagero, a série nos auxilia a compreender discussões presentes na nossa própria sociedade, cujos ideais produtivistas também são significativamente bizarros.
Ficha técnica:
Direção: Ben Stiller Produção: Apple TV+ Exibição: Apple TV+ Duração: média de 44 minutos na 1ª temporada (com 9 episódios) e média de 49 minutos na 2ª temporada (10 episódios) Classificação: 14 anos País: EUA Gênero: suspense
Censurado pela Ditadura em 1983, comédia erótica narra a história das jogadores do Gayvotas Futebol Clube (Fotos: Divulgação)
Wallace Graciano
Relançamentos de obras costumam causar um impacto pela mensagem que será passada em um período completamente antagônico do que fora outrora.
Mas "Onda Nova", clássico de 1983, volta às telonas justamente querendo costurar passado e presente, representando uma nova visão de liberdade e questionando valores conservadores, agora com traços restaurados em 4k. O filme está em cartaz no Cine Una Belas Artes.
Na trama, "Onda Nova" apresenta o Gayvotas Futebol Clube, um time feminino que utiliza o futebol como pano de fundo para explorar temas como liberdade sexual e ocupação de espaços tradicionalmente masculinos.
O filme se destaca pela fotografia vibrante, com cores saturadas e enquadramentos ousados, que alternam entre closes íntimos e planos abertos do cenário urbano.
A direção do filme combina elementos da Nouvelle Vague francesa e do cinema marginal brasileiro, resultando em uma montagem ágil e uma trilha sonora que mescla rock e música popular brasileira, incluindo nomes como Tim Maia, que sintetiza com sua voz potente tudo o que a obra deseja causar.
Quando falamos de atuações, aí temos outro ponto marcante, com cenas que transitam entre o drama e a comédia, em que Regina Casé, Carla Camurati e Vera Zimmermann passam ao espectador um real entusiasmo por estarem naquela obra de transgressão.
O filme aborda a nudez de forma natural, sem apelo voyeurístico, e retrata a diversidade sexual de maneira orgânica. "Onda Nova" foi censurado em 1983 pela ditadura e, mesmo em 2025, ainda gera debates sobre a representação da sexualidade no cinema.
A restauração em 4K do filme evidencia a qualidade da fotografia e da direção, resgatando a importância da obra como um marco do cinema brasileiro.
"Onda Nova" transcende a nostalgia, apresentando-se como um filme relevante para discussões contemporâneas sobre feminismo, liberdade sexual e a necessidade de produções cinematográficas que desafiem convenções.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Ícaro Martins e José Antonio Garcia Restauração: Julia Duarte, Aclara Produções Artísticas, família de José Antonio Garcia, com apoio da Cinemateca Brasileira, Zumbi Post e JLS Facilidades Sonoras Produção: Olympus Filme Distribuição: Vitrine Filmes e Tanto Filmes Exibição: sala 3 do Una Cine Belas Artes, sessão às 18h50 Duração: 1h44 Classificação: 18 anos País: Brasil Gêneros: comédia erótica, drama
Longa de muita ação reúne novamente o ator e diretor David Ayer, em nova produção no estilo "não mexa com a minha família" (Fotos: Amazon MGM Studios)
Maristela Bretas
Muitos tiros, a porrada comendo solta e bombas pra fazerem inveja a muita guerra real, com sequências de explosões impressionantes (haja granada!). Não poderia ser diferente no novo filme estrelado por Jason Statham e produzido por ele e Sylvester Stallone, que também assina o roteiro.
"Resgate Implacável" ("A Working Man") é um longa de muita ação dirigido por David Ayer, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas para os fãs da dupla.
Seguindo a linha de outros filmes de ação do ator, como "Beekeeper: Rede de Vingança" (2024), também dirigido por Ayer, o longa conta a história de Levon Cade (Statham), um ex-militar das forças especiais do Exército britânico.
Depois de muitos anos lutando em guerras e contra terroristas, ele larga tudo, se muda para Chicago e vai trabalhar para a construtora de Joe Garcia (Michael Peña), que o trata como membro da família.
Mas o sequestro de Jenny (Arianna Rivas), a filha adolescente de Joe, por traficantes de mulheres faz com que Levon retome sua antiga vida e use suas habilidades e, até mesmo, alguns métodos de persuasão bem violentos para recuperar a jovem.
Além dos traficantes, o ex-militar ainda enfrentará policiais corruptos, gangues de motoqueiros e a ameaça da máfia russa a sua filha e amigos. E vai mostrar que nunca deveriam ter mexido com sua família.
O filme é bom e pode agradar aos fãs do ator. O estilo de roteiro permanece o mesmo e até os rostos dos traficantes são familiares, alguns já tendo interpretado papéis semelhantes em outras produções do gênero, como Jason Flemyng, Maximillian Osinski e Cokey Falkow.
Falha ao aproveitar pouco David Harbour, no papel de um dos amigos de Levon dos tempos de guerra que ficou cego. O ator já mostrou que sabe usar bem uma marreta até mesmo como Papai Noel ("Noite Infeliz" - 2022), e seria muito bem aproveitado na caçada aos traficantes.
"Resgate Implacável" tem várias cenas aéreas noturnas, explora muito locais escuros como becos, boates, bares, casas de jogos, que ajudam a caracterizar os esconderijos e locais de atuação dos criminosos e onde serão caçados por Levon.
Já as cenas durante o dia são do ex-militar em seu trabalho, com a família e os amigos, apresentando um comportamento relativamente mais tranquilo.
Quem pensou nos figurinos dos mafiosos russos queria ridicularizar a organização, com uma variedade extravagante de vestimentas. Os chefões usam ternos e sobretudos pretos, bem sisudos. Um deles carrega uma bengala adornada com caveira, e se porta como um Conde Drácula.
Um dos “clientes de mulheres traficadas” é bem caricato e sua roupa e rosto lembram muito o nosso saudoso José Mojica Marins, o "Zé do Caixão", que era bem melhor.
Já os membros mais jovens do grupo se destacam por trajes muito coloridos e ridículos, achando que estão abafando com sua coleção própria. Chegam a ser engraçados, verdadeiros palhaços menosprezados até mesmo pela poderosa "família" russa.
O filme é baseado no livro "Levon’s Trade", de Chuck Dixon, e, como de costume, apresenta uma narrativa focada na ação de um homem só. Um herói sem superpoderes, especialista em lutas e no manejo de diversas armas, com conhecimento em tecnologia, que lutará contra tudo e contra todos para cumprir sua missão, sem se importar com as consequências. Vale a pena conferir.
Ficha técnica:
Direção: David Ayer Roteiro: David Ayer e Sylvester Stallone Produção: Amazon MGM Studios, Black Bear, Cedar Park, Punch Palace Productions, e Balboa Productions Distribuição: Warner Bros. Pictures Exibição: nos cinemas Duração: 1h56 Classificação: 16 anos País: EUA Gêneros: ação, suspense
François Ozon volta às telonas com um drama para prender o público com mistérios intrigantes (Fotos: Pandora Filmes)
Eduardo Jr.
No outono caem as folhas que mascaram as árvores, e o clima festivo e solar do verão começa a esmaecer. Em "Quando Chega o Outono" ("Quand Vint L'Automne") novo filme de François Ozon, essa metáfora nos provoca sobre as máscaras de cada personagem e a opção por não jogar luz sobre determinados atos. O longa chega aos cinemas brasileiros dia 27 de março, com distribuição da Pandora Filmes.
O diretor francês, que já filmou comédias, suspenses e musicais, agora oferece um drama que se debruça sobre a complexidade das relações humanas, promovendo um jogo sobre os segredos, traumas e atitudes de cada um perante determinadas situações. Destaque também para a bela fotografia, que explora muito bem as paisagens e cores fortes do Outono.
Na trama, as histórias de duas famílias se entrelaçam por conta de acontecimentos que deixam o público em suspense. De um lado está Michelle (personagem da ótima Hélène Vincent). Moradora de um vilarejo da Borgonha, ela está ansiosa para passar alguns dias na companhia do neto, Lucas (Garlan Erlos).
Quem vai levar o garoto para a casa da avó é a mãe dele, Valérie (Ludivine Sagnier, que trabalhou com Ozon em "Swimming Pool - À Beira da Piscina" - 2003). Na casa próxima está Marie Claude (Josiane Balasko), melhor amiga de Michelle, que a ajuda a colher cogumelos para o almoço das visitas.
A relação entre Michelle e Valérie não é nada boa, e piora quando a filha vai parar num hospital após acidentalmente comer cogumelos envenenados na casa da mãe. Quem apoia a avó de Lucas neste episódio é Marie-Claude, cujo filho acaba de sair da prisão, o misterioso Vincent (Pierre Lottin), personagem central no andamento da trama.
Vincent conhece Valérie desde a infância e vai atrás dela para tentar ajudar Michelle, que o acolheu e ofereceu trabalho ao ex-presidiário. Mas o encontro entre os dois é o ponto que vai movimentar a vida de todas as personagens.
Por que mãe e filha têm uma relação tão difícil? Existe de fato um culpado nos eventos do filme? Será que as consequências foram todas planejadas ou são apenas frutos do destino? Proteger alguém é algo que se faz naturalmente ou por interesse? Será que a inocência das pessoas apenas parece estar presente ou é genuína? Ozon provoca o espectador a refletir sobre os mistérios ali contidos, questionar, duvidar - e até julgar, afinal, é o que todos fazemos.
Atos do passado, culpa, solidão, amizade, manipulação, crime, segredos, velhice, afeto, redenção... Tudo isso compõe o pacote de reflexões que François Ozon nos lança nesta obra. E as respostas podem estar não no fim, mas no início do filme (fica a dica).
Assim como na estação em que as folhas caem, reduzindo a sombra da copa das árvores, em "Quando Chega o Outono" resta aos personagens aceitar que não há sombra que os impeça de encarar seus próprios segredos.
Ficha Técnica:
Direção: François Ozon Roteiro: François Ozon e Philippe Piazzo Duração: 1h42 Produção: Foz Distribuição: Pandora Filmes Classificação: 14 anos País: França Gêneros: drama, suspense
Homenagem foi gravada em diversos países durante a turnê de despedida do cantor e compositor (Fotos: Gullane+)
Wallace Graciano
Nos últimos anos, poucos artistas tiveram um reconhecimento tão completo de seu legado quanto Milton Nascimento. Dono da voz mais marcante da nossa música, a qual Elis Regina certa vez disse que “se Deus tivesse voz, essa seria a do Milton”, o artista teve uma série de homenagens que tentavam traduzir bem o impacto que nos causou a cada música.
E talvez esse seja o grande mérito de "Milton Bituca Nascimento", dirigido por Flávia Moraes, que se apresenta como uma ode à vida e ao legado de um dos maiores ícones da música mundial.
Longe de ser apenas um registro de uma turnê de despedida, o filme é um tributo emocionante, uma viagem poética pela alma e história de um artista que marcou profundamente a cultura mundial.
Desde o primeiro instante, o filme deixa claro que não se trata apenas de um retrospecto cronológico da carreira de Milton. Em vez de seguir uma estrutura convencional, a narrativa se desenrola como um mosaico, entrelaçando depoimentos, imagens de arquivo e momentos da turnê final.
Figuras icônicas como Spike Lee, Chico Buarque, Gilberto Gil, Simone, Paul Simon, Quincy Jones, Sérgio Mendes e Caetano Veloso oferecem visões complementares sobre o impacto de Bituca.
A direção sensível de Flávia Moraes captura não apenas a imponência da música de Milton, mas também sua profunda humanidade. Os cenários de sua jornada internacional, de Los Angeles a Veneza, refletem momentos de descoberta e conexão, mas também carregam a melancolia de um ciclo que se encerra.
Para além, ela teve a brilhante ideia de contar com a presença de Fernanda Montenegro como narradora. Sua voz forte e carregada de emoção conduz o público por memórias e reflexões, intensificando o tom poético da narrativa.
O Legado de Bituca: Arte e Resistência
Milton Nascimento sempre foi mais do que um cantor: ele é um símbolo de resistência e identidade. O documentário não deixa de abordar as raízes profundas de sua arte, inserindo sua trajetória no contexto histórico do Brasil.
A influência da colonização e da escravidão no cenário cultural do país é ressaltada, mostrando como sua obra floresceu como um grito de esperança e transformação.
A década de 1970, marcada pela repressão da ditadura militar, é um dos momentos mais intensos do filme. Milton e seus contemporâneos, como Gilberto Gil, Chico Buarque e Caetano Veloso, enfrentaram a censura com canções que se tornaram hinos de liberdade.
A música de Bituca, como um rio subterrâneo, sempre encontrou maneiras de emergir e tocar aqueles que precisavam de esperança.
A despedida, tema central do documentário, é tratada com grande delicadeza. Mais do que o encerramento de uma carreira, é um momento de reflexão sobre o significado da música e do legado que permanece.
Com sua humildade característica, Milton convida o público a compartilhar sua jornada final, revelando suas emoções, medos e gratidão.
Ficha técnica:
Direção: Flávia Moraes Roteiro: Marcelo Ferla e Flávia Noraes Produção: Gullane, Canal Azul, Nascimento Música e Claro Distribuição: Gullane+ Exibição: nos cinemas Duração: 1h59 Classificação: 10 anos País: Brasil Gênero: documentário
Rachel Zegler e Gal Gadot dividem o protagonismo do novo live-action da Disney dirigido por Mark Webb (Fotos: Walt Disney Pictures)
Maristela Bretas
Os irmãos Grimm, autores da famosa obra "Branca de Neve e os Sete Anões" não devem estar nada satisfeitos em seus túmulos com a nova produção da Disney, "Branca de Neve" ("Disney's Snow White"), que estreia nesta quinta-feira (20) nos cinemas.
Não bastassem as muitas polêmicas nas redes sociais (uma delas até envolvendo o filho do diretor, que não gostou do filme), a produção deverá deixar muito espectador que acompanhou o desenho na infância, como eu, decepcionado com este novo live-action.
Apesar de ter classificação livre, o longa é um musical, com algumas belas canções, mas cansativo e até chato em certos momentos, o que não deve prender a atenção das crianças.
Para elas, o atrativo serão os bichinhos animados que vivem na floresta encantada. Eles são fofos e carismáticos, têm vida no olhar e movimentos, ao contrário do que houve com os animais de "O Rei Leão" (2019).
Desta vez o estúdio acertou, o cervo, os coelhinhos, os passarinhos e o simpático ouriço valem o filme. Outro ponto que agrada, o visual com cores vivas e alegres, contrastando com o reino tomado pelas sombras após a Rainha Má assumir o poder. Muitas cenas são reproduções bem próximas do desenho.
Desenho" Branca de Neve e os Sete Anões", de 1937 (Walt Disney Pictures)
A produção também recupera algumas canções de "Branca de Neve e os Sete Anões", de 1937, como "Heigh Ho" (conhecida em português como "Eu Vou"), que marcou gerações e foi a primeira animação da Disney. Esta é uma versão com poucos recursos, mas com encanto, que vale muito a pena conferir. Está disponível no Disney+.
Para quem não conhece a história, Branca de Neve era uma princesa que tinha uma vida feliz, até perder seus pais e virar uma escrava de sua madrasta má que tenta matá-la por inveja de sua beleza. Na floresta onde se esconde, conhece novos amigos que vão ajudá-la a recuperar o reino.
Mas parou por aí. Falei em polêmicas e uma delas é sobre a comparação da beleza de Branca de Neve, interpretada pela colombiana Rachel Zegler ("Amor, Sublime Amor" - 2021), com a da Rainha Má, papel de Gal Gadot ("Mulher Maravilha" - 2017).
A explicação do "Espelho, Espelho Meu" é tão míope quanto ele e só funcionou para os produtores. Gadot é muito mais bonita, mas não convence cantando.
Já Zegler não tem uma beleza tão grande, mas vai ganhando a simpatia do público a partir do meio da animação e está mais à vontade cantando muito bem e entregando boa interpretação. Além de formar um par romântico simpático com o ladrão e rebelde Jonathan (Andrew Burnap).
Por trás da história de fantasia, há uma abordagem, às vezes sutil, outras nem tanto, dos sentimentos e traumas dos personagens. Branca de Neve vive o dilema de não conseguir se tornar a líder que seu pai, o rei, disse que ela seria um dia. Mas tem coragem e bom coração, briga por seus direitos e pelo reino e não depende de um príncipe no cavalo branco para salvá-la.
A Rainha Má, por sua vez, é caricata, histérica e dependente de um espelho mágico (Patrick Page) para se sentir eternamente bela e poderosa. A empatia da personagem é zero, salva apenas pela interpretação de Gadot, mas até nisso perdeu para sua antecessora que foi mais marcante.
Sem falar nos sete anões, cada um com seu dilema, especialmente Dunga (Andrew Barth Feldman). Mas todos são bem simpáticos, até mesmo o rabugento Zangado (Martin Klebba).
Além deles temos Dengoso (Tituss Burgess), Atchim (Jason Kravits), Mestre (Jeremy Swift), Feliz (George Salazar) e Soneca (Andy Grotelueschen). Mais uma polêmica, uma vez que todos foram criados por computação gráfica, no lugar de usar pessoas com nanismo.
Para quem já esteve nos parques da Disney, uma das cenas com os Sete Anões é a reprodução do brinquedo Seven Dwarfs Mine Train, no Magic Kingdom, em Orlando, que é ótimo. Agora é conferir nos cinemas e contar pra gente o que achou do novo "Branca de Neve".
Ficha técnica:
Direção: Marc Webb Produção: Walt Disney Pictures Distribuição: Disney Pictures Exibição: nos cinemas Duração: 1h49 Classificação: Livre País: EUA Gêneros: fantasia, musical, aventura
A protagonista, que dá nome ao longa, é interpretada pela modelo Celeste Dalla Porta a partir da adolescência (Fotos: Paris Filmes)
Mirtes Helena Scalioni
Impossível sair impune depois de assistir a "Parthenope: Os Amores de Nápoles", não por acaso um filme que tem sua origem na Itália, não por acaso a terra das artes e da beleza. Em uma direção tão peculiar quanto estranha, o não por acaso napolitano Paolo Sorrentino ("A Mão de Deus" - 2021) mistura mitologia, moralidade, filosofia, maternidade, hipocrisia, tempo, religião, academicismo, antropologia, suicídio e alguma bizarrice para fazer um recorte na vida da bela Parthenope, jovem que, de certa forma, carrega a própria beleza quase como um fardo.
A personagem é interpretada pela modelo Celeste Dalla Porta e, na maturidade, por Stefania Sandrelli. A jovem carrega em seu nome a lenda mitológica da sereia que dá origem ao nome da cidade de Nápoles. Ela usa a sedução para conquistar os homens ao seu redor, incluindo os proibidos.
Junte-se a tudo isso, paisagens deslumbrantes daquela região, com suas praias e rochas, além de exploração quase abusiva de belos corpos expostos ao sol - às vezes lembrando peças de propaganda.
Para completar, uma trilha sonora que inclui "Gira", um samba-batuque do Trio Ternura de 1973; "My Way", na voz inconfundível de Frank Sinatra, e, claro, lindas canções italianas embalando casais em noites enluaradas.
No que você está pensando? Essa é a pergunta mais frequente do filme, que acompanha a trajetória de Parthenope em busca não só de uma carreira acadêmica como professora de Antropologia, mas também de respostas para a própria vida.
Enquanto estuda e se diverte, ela convive com o cínico escritor norte-americano John Cheever, vivido por Gary Oldman, e seu professor e orientador da faculdade, Devoto Marotta, interpretado por Silvio Orlando.
Misterioso e, às vezes, irônico, o longa, roteirizado pelo próprio Sorrentino, é repleto de frases de efeito, como se o objetivo fosse confundir o espectador ou - quem sabe - fazê-lo pensar. A heroína, nascida na década de 1950, é libertária e dona absoluta da própria vida.
Mas ela carrega uma culpa pela morte do irmão Raimondo (Daniele Rienzo) com quem mantinha uma relação incestuosa e dividida com o amigo de infância Sandrini (Dario Aita).
Nápoles é, de certa forma, uma personagem do filme com seus conflitos e dualidades. Além das paisagens enfatizando um azul profundo do mar, não faltam ruelas, casebres, gente feia e miséria.
Em certo momento, a diva do cinema Greta Cool (Luisa Ranieri), em discurso que parece ser a inauguração de um navio, decreta, com todas as letras: "Vocês, napolitanos, são deprimidos e não sabem. São pobres, desgraçados e retrógrados e se orgulham disso".
Estão ainda no elenco, em participações ao redor de Parthenope, Antonino Annina como Raimondo criança, Rivardo Copolla como Sandrino criança, Peppe Lanzetta, no papel do bispo, entre outros nomes do cinema italiano.
Outro personagem forte do filme é o cigarro, constantemente nas mãos e bocas de quase todos os personagens, sejam eles velhos ou jovens. Há quem enxergue traços até de Fellini em "Parthenope: Os Amores de Nápoles".
Teatral e fantasioso, o longa de Paolo Sorrentino pode chocar com suas bizarrices, causando inevitável estranhamento no espectador. Mas, certamente, o público vai sair do cinema bastante comovido. Além de cheio de perguntas.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Paolo Sorrentino Produção: Pathé Films, A24, FremantleMedia, The Apartment Pictures Distribuição: Paris Filmes Exibição: nos cinemas Duração: 2h17 Classificação: 16 anos País: Itália Gêneros: drama, romance, fantasia