10 abril 2025

"Operação Vingança": a dor da perda em meio a um suspense arrastado de espionagem

Rami Malek é o protagonista do longa que resolve fazer justiça com as próprias mãos contra quadrilhas internacionais (Fotos: 20th Century Studios)


Maristela Bretas


Em cartaz nos cinemas a partir desta quinta-feira (10), "Operação Vingança" ("The Amateur") mergulha na jornada sombria de Charles Heller (Rami Malek, de "Bohemian Rhapsody" - 2018), um criptógrafo da CIA devastado pela perda da esposa Sarah (Rachel Brosnahan) em um atentado terrorista em Londres. 

Diante da inércia da agência e da corrupção interna, Heller toma uma atitude desesperada: chantageia seus superiores para ser treinado como agente de campo e buscar vingança por conta própria.

A premissa, adaptada do romance homônimo de 1981 de Robert Littell, carrega um potencial dramático inegável, explorando a fragilidade de um homem comum lançado ao brutal mundo da espionagem. 


Contudo, a execução de James Hawes, embora construa uma atmosfera de tensão e suspense, peca pelo ritmo arrastado em diversos momentos. O filme parece mais interessado em detalhar o sofrimento de Heller do que em impulsionar a narrativa com sequências de ação mais dinâmicas.

Um dos maiores tropeços do roteiro de Ken Nolan e Gary Spinelli reside na inverossímil transformação de Heller. A ideia de um burocrata brilhante em códigos e mensagens criptografadas se transformar em um agente de campo altamente capacitado com pouquíssimo treinamento chega a ofender a inteligência do espectador. 


A comparação nostálgica com os cursos rápidos online ilustra bem a incredulidade que essa transição pode gerar. Até mesmo o treinador de Heller afirma que ele nunca será capaz de matar uma pessoa. É muito difícil aceitar essa situação de virar um 007de um dia para outro, criada pelo escritor e reproduzida no roteiro. 

Apesar das ressalvas, a presença magnética de Rami Malek confere intensidade ao protagonista, transmitindo a angústia e a obsessão de Heller. No entanto, nem mesmo seu talento consegue suprir as falhas de um roteiro que força a barra em sua improvável metamorfose.


Um ponto positivo é a participação de Laurence Fishburne ("John Wick - Um Novo Dia Para Matar" - 2017) como o Coronel Henderson, o agente da CIA encarregado do treinamento de Heller. Sua presença em tela injeta uma dose de experiência e pragmatismo à narrativa, oferecendo um contraponto interessante ao idealismo ferido do protagonista.

Outro ponto que agrada são as locações em Londres, em junho de 2023, no sudeste da Inglaterra, França e Turquia. No elenco, outros nomes conhecidos como Jon Bernthal ("O Contador" - 2016), Caitriona Balfe, Juliane Nicholson, Holt McCallany, entre outros.


"Operação Vingança" se esforça para ser um thriller de espionagem "eletricamente carregado", como sugere o material de divulgação. No entanto, a lentidão da narrativa e a forçada conversão do protagonista em super agente diluem a tensão e comprometem a imersão. 

O filme levanta questões sobre lealdade e a tênue linha entre justiça e vingança, mas a execução vacilante impede que essas reflexões alcancem seu potencial máximo. 

Em suma, "Operação Vingança" entrega uma proposta interessante, um ator talentoso no papel principal, mas esbarra em um ritmo irregular e em soluções de roteiro pouco convincentes, com um final de impacto menor que a história merecia. Mesmo assim, o filme vale ser conferido no cinema.


Ficha técnica:
Direção: James Hawes
Roteiro: Ken Nolan e Gary Spinelli
Produção: Hutch Parker Entertainment, 20th Century Studios
Distribuição: Disney Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h03
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: ação, drama, suspense

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