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25 novembro 2021

Lady Gaga conspira para matar o marido e se destaca na "Casa Gucci"

Filme conta a história da família da famosa grife italiana, marcada por luxo, cobiça e ganância ao longo de 30 anos (Fotos MGM Pictures)


Carolina Cassese


"Casa Gucci" é um filme over. Em se tratando da história dessa emblemática família, isso por si só não é um demérito. Dirigido por Ridley Scott, o longa conta com um elenco estreladíssimo, composto por nomes como Lady Gaga, Adam Driver, Al Pacino e Jared Leto. 

A produção, baseada no livro "The House of Gucci: A Sensational Story of Murder" (Sara Gay Forden), chega aos cinemas nesta quinta-feira. Apesar de ter sido anunciado por parte da mídia como um filme sobre o assassinato de Maurizio Gucci, a tragédia em si ocupa uma parte mínima de toda a história - que é principalmente sobre luxo, ganância e diferentes tipos de traição.


Na história real, Patrizia Reggiani conspirou para matar o marido Maurizio em 1995, contratando um matador de aluguel e outras três pessoas. Ela foi considerada culpada e condenada a 29 anos de prisão. O livro narra como foi a relação de quase 30 anos do casal e da convivência entre os membros da família da famosa grife italiana, marcada por amor, traição, decadência, vingança e assassinato.


Até agora, o longa teve uma recepção mista por parte da crítica. Enquanto uns afirmaram que “não é apenas um filme ruim, mas também uma má propaganda para o cinema” (Financial Times), outros opinaram que "Casa Gucci" é divertido e promove um ótimo entretenimento. 

Um ponto positivo talvez seja o elenco prestigiado, com destaque para Lady Gaga, que de fato entrega muito e brilha com sua hiper intensa protagonista. Essa é uma excelente notícia: os fãs que já estavam com saudade de ver a estrela nas telas definitivamente não ficarão decepcionados.


O filme é mais acelerado no lúdico primeiro ato, em que conhecemos Patrizia Reggiani (Gaga) e Maurizio Gucci (Adam Driver), dois jovens que se apaixonam súbita e profundamente. O protagonista parece ser uma figura bastante desapegada, disposto a largar sua família e sua vida luxuosa (já que o pai não aprova a relação dele com Patrizia) para ficar com a companheira. 

Pouco depois de se casar, ele decide se reaproximar da família (por insistência da própria Patrizia). A personagem de Lady Gaga não demora a se acostumar com a vida luxuosa dos Gucci - e não se contenta com pouco. Maurizio também se mostra bastante ambicioso a partir do momento que de fato se envolve nas engrenagens do poder. 


Apesar do casal de protagonistas ter uma presença muito forte na tela, os coadjuvantes também são primordiais. Al Pacino, é claro, está excelente como o tio Aldo Gucci. A performance de Jared Leto (que interpreta o filho de Aldo) é definitivamente marcante, gostando ou não do que “marcante” significa aqui.

Como não poderia deixar de ser, em determinado momento do filme os membros da família começam a se digladiar por claro, mais poder. Vemos os nossos protagonistas se transformarem, apesar de Patrizia nunca ter de fato escondido seu fascínio pelo universo Gucci. Quando vê a empregada da casa com uma bolsa da grife (que na verdade é uma réplica), ela claramente se sente ultrajada. 


Pode ser porque ela se preocupa com a marca e não quer saber de réplicas ou falsificações. Mas também por conta de uma questão inerente à existência de uma grife (qualquer que seja): a distinção entre quem pode e quem não pode comprar.

De muitas maneiras, o filme também reforça o que se pensa e o que se espera dos italianos - o que significa, claro, que não busca representar os mesmos com complexidade. Os personagens aqui são emotivos, bastante guiados pelos sentimentos e, sem surpresa, gritam muito (como parte do pacote estereótipo, sim, você irá ouvir piadas sobre a máfia). 


O crítico David Rooney, do The Hollywood Reporter, pontuou: “Acho que Gaga e Pacino podem jogar a cartada ítalo-americana, mas, na verdade, "House of Gucci" deveria carregar o equivalente a uma isenção de responsabilidade sobre o bem-estar animal, declarando: ‘Nenhum italiano esteve envolvido na produção deste filme’. É um inferno de acentos vacilantes'.

Apesar do evidente processo de “hollywoodização”, é positivo que o filme seja primordialmente ambientado em Milão, mostre muitos cenários locais e que ainda conte com atrizes, como a própria Gaga e a sempre ótima Camille Cottin, que escapam um pouco do padrão quadradíssimo das protagonistas de Hollywood.


Talvez seja lugar comum questionar a duração de qualquer filme que tenha quase três horas, mas algumas cenas aqui realmente parecem “sobrar”. Em determinados pontos do longa, em especial quando Gaga não está em cena, a história perde um pouco de fôlego. De qualquer maneira, as atuações e a trilha sonora empolgante (para quem ama os anos 80 com todo o coração) não permite que fiquemos simplesmente olhando para o teto.


Para quem quiser entender mais sobre o Império Gucci e o impacto da grife no mundo da moda, talvez o filme seja decepcionante. O mesmo vale para aqueles que desejarem ver uma produção mais realista, que apresente um estudo de personagens mais complexo. No entanto, para quem busca um bom entretenimento e estiver apto a embarcar num universo bem absurdo, o magnetismo de Lady Gaga pode ser mais do que suficiente para garantir uma boa sessão.


Ficha técnica:
Direção: Ridley Scott
Produção: Metro Goldwyn Mayer (MGM) / Scott Free Productions / Bron Studios
Exibição: nos cinemas
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 2h37
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Biografia

12 janeiro 2020

"O Irlandês" é o melhor filme sobre máfia desde "O Poderoso Chefão"

Joe Pesci e Robert De Niro, juntamente com Al Pacino, formam o elenco principal desta longa e excepcional produção da Netflix (Fotos: Netflix/Divulgação) 

Jean Piter


O que te passa pela cabeça quando se fala em filme sobre a máfia? Famílias poderosas, ricas, influentes, respeitadas... Chefões muito inteligentes, disciplinados, bondosos com seus amigos e afilhados e ao mesmo tempo cruéis com seus inimigos. É uma relação de amor e ódio. Você até questiona algumas ações desses mafiosos, mas não deixa de admirá-los. As histórias são cheias de traições e reviravoltas, planos bem articulados e, claro, muito sangue. Assassinos frios e precisos são personagens indispensáveis nessas tramas. "O Irlandês", de Martin Scorsese, tem um pouco de tudo isso aí. Mas vai além e trás um olhar mais humano sobre o mundo do crime.


"O Irlandês" é baseado no livro “I Heard You Paint Houses” (“Eu Ouvi Você Pintando As Casas”, em tradução livre), de Charles Brandt, que narra a história real de Frank Sheeran (Robert De Niro). Um veterano da Segunda Guerra Mundial que acaba se envolvendo com mafiosos nos Estados Unidos. Trabalhando como caminhoneiro, ele entra em um esquema de desvio de carga para vender a mercadoria no mercado clandestino. E nesse cenário que ele conhece um dos chefes da máfia, Russell Bufalino (Joe Pesci). Eles se tornam amigos. Sheeran vira então um “faz tudo” para os negócios, recebe várias missões e executa todas com precisão e muita discrição, inclusive a de matar pessoas.


O olhar humano que Scorsese trás para a história está nos erros que os personagens cometem. Erros que qualquer pessoa normal comete. Escolhas erradas, decisões precipitadas e atos que a gente se arrepende depois. Diálogos que chegam a ser engraçados de tão idiotas, a ponto de você se perguntar: Nossa, como um chefão desses consegue ser tão burro? O filme mostra o lado da vaidade desses personagens, o quanto vivem em função do poder e de sempre quererem mais e mais, como se nunca fossem envelhecer, como se fossem imortais. O quanto eles se ocupam com isso e que eles acabam deixando de viver ao escolher esse tipo de vida. É um filme sobre as conquistas dos mafiosos, mas que dá destaque aos fracassos, ao saldo negativo que sobra no fim da vida, ao conjunto de uma obra que traz o questionamento: Valeu a pena essa vida?

Computação gráfica usada para contar a história do personagem de Robert De Niro (Montagem sobre fotos/Netflix)
Vale destacar o uso de computação gráfica para rejuvenescer os personagens, algo que ainda não tínhamos visto nessa intensidade. O mesmo ator fazendo um papel que envelhece ao longo de décadas. Por vezes, é visível o uso dessa tecnologia, o que deixa a imagem meio artificial, como a de personagens de videogame. Mas nada que comprometa a obra. É o recurso disponível e que foi usado da melhor forma possível.


"O Irlandês" é uma obra para se assistir mais de uma vez, mesmo tendo três horas e meia de duração, que é um tempo suficiente e adequado pra contar essas histórias. É um filme muito bem feito, com uma narrativa leve, que não cansa. Tem atuações maravilhosas de De Niro, Pesci e Al Pacino. Um trio que talvez a gente não veja mais atuando juntos. Uma obra prima de Scorsese que já nasceu como clássico. É o melhor filme sobre máfia desde "O Poderoso Chefão".



Ficha técnica:
Direção: Martin Scorsese
Produção: Netflix / Sikelia Productions / Tribeca Productions
Distribuição: Netflix Brasil
Duração: 3h29
Gêneros: Suspense / Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 5 (0 a 5)

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