Filme dirigido por Emerald Fennell e estrelado por Carey Mullingan venceu o Oscar 2021 de Melhor Roteiro Original (Fotos: Focus Features) |
Mirtes Helena Scalioni
Ninguém precisa pensar muito para se lembrar de ter ouvido,
alguma vez na vida, homens - e mulheres - justificando um estupro com frases do
tipo: “corpo de bêbada não tem dono”, “só aconteceu porque ela bebeu muito” ou
“ela se ofereceu e ele fez a parte dele”. É mais ou menos disso que trata o
filme “Bela Vingança” ("Promissing Young Woman"), cuja diretora e
roteirista, Emerald Fennell, acaba de receber o Oscar de Melhor Roteiro
Original. A estreia nos cinemas brasileiros acontece dia 13 de maio.
A cena é clássica e, normalmente, faz parte das comédias:
numa balada, a moça se empolga incentivada por amigos, passa da conta na bebida
e, no final da noite, é socorrida por algum homem que, generosamente, cuida
dela. De manhã, acorda num lugar desconhecido, com alguém de quem não se
lembra, de ressaca e, às vezes, sem calcinha. O episódio resulta sempre em
muitas gargalhadas.
Foi nesse vespeiro tão corriqueiro quanto revoltante que
Emerald Fennell quis cutucar ao escrever seu roteiro. E colocou o longa nas
telas de forma tão enigmática que, até metade do filme, o público se pergunta
por que a personagem central, a jovem Cassandra Thomas - Cassie (Carey
Mulligan) trabalha como atendente num café se cursou a faculdade de Medicina?
Ou: por que ela costuma sair sempre sozinha para diferentes
baladas, firmemente disposta a provocar e fisgar machos dispostos a abusar de
mulheres bêbadas e depois se vingar deles? Ou ainda: por que ela é tão misteriosamente triste e sozinha
a ponto de nem se lembrar do dia do seu aniversário de 30 anos?
Que ninguém se engane: “Bela Vingança” é um filme pesado e
ácido. Aos poucos, lembranças e traumas vão sendo colocados para o espectador,
que chega a ficar confuso com a cara de anjo de Cassie.
Nesse ponto, a bela
Carey Mulligan dá show, confundindo e despertando mais e mais curiosidade no
público. Mesmo depois que ela encontra e passa a se relacionar com um ex-colega
de faculdade, Ryan (Bo Burnham), seus planos continuam nebulosos por um bom
tempo.
“Bela Vingança” é um filme propositadamente perturbador,
inclusive pela inserção de belas e melodiosas canções que, tocadas praticamente
na íntegra, parecem, de relance, não combinar em nada com a tensão da trama.
Tudo é absolutamente surpreendente no longa.
É tão estranho e admiravelmente
inesperado que pode até parecer inverossímil. Mas verdade seja dita: a história
lava a alma de mulheres e homens que acreditam que corpos são sagrados e não
podem – em hipótese nenhuma – ser abusados.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Emerald Fennell Distribuição: Universal Pictures
Exibição: 13 de maio nos cinemas
Duração: 1h48
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Suspense