Bob Odenkirk interpreta um pacato pai de família que resolve se vingar dos assaltantes que entraram em sua casa (Fotos: Universal Pictures) |
Jean Piter Miranda
Hutch Mansell (Bob Odenkirk) é um homem comum. Um cara com
quase uns 60 anos de idade. Ele vive sua rotina de trabalho e cuidados com a
família. Em uma noite, um casal de assaltantes invade sua casa. Para evitar
problemas, ele não reage e deixa os bandidos irem embora. A esposa, os filhos e
os amigos dele ficam desapontados com sua passividade.
Dias depois, ele decide ir atrás dos ladrões, o que traz de
volta um passado sombrio que vai colocar sua vida em risco. Essa é a história
de “Anônimo” ("Nobody"), filme de ação produzido pela Universal
Pictures, que deve ser lançado em breve no Brasil nas plataformas de streaming.
Buscando vingança, Mansell roda o submundo da cidade e acaba
arrumando problemas com a máfia russa. É aí que tudo se complica. Era uma
situação relativamente pequena, que poderia ter sido deixada de lado. No fim,
ele passa de perseguidor a perseguido. E todo o seu passado é revirado,
revelando que ele não é uma pessoa comum como parecia. E vai precisar usar tudo
o que sabe para se defender e proteger a sua família.
Logo de cara, qualquer um vai notar semelhanças com a
franquia John Wick. Principalmente nesse ponto: era uma situação que poderia
ter sido deixado pra lá e que acaba virando um problema com gente muito
poderosa. Mansell também teve treinamento para lidar com armas e com combates
corpo a corpo. E as semelhanças não param por aí. As cenas de ação, tanto nas
lutas quanto nas perseguições e nas trocas de tiros lembram muito os filmes
estrelados por Keanu Reeves.
O roteirista é Derek Kolstad, o mesmo da franquia John Wick.
O filme tem uma boa proposta, mas não esconde que copia várias ideias de
"De Volta ao Jogo" (2014), "Um Novo Dia Para Matar" (2017)
e "John Wick 3 - Parabellum" (2019). Mas tem furos que pesam contra. Os vilões são sempre russos, latinos, alemães, orientais ou
árabes.
Os malvados nunca são dos Estados Unidos. E os mafiosos sempre burros.
Controlam organizações com abrangência mundial, mas não conseguem bater de
frente com um único estadunidense. Podem mandar os melhores capangas, os mais
treinados, que eles sempre vão cometer erros primários. É só prestar um pouco
de atenção para notar isso.
Por que não colocam vilões dos EUA, que sejam tão bem
treinados quanto? Fica difícil engolir isso em pleno 2021, depois de centenas e
centenas de filmes com os mesmos roteiros. O mocinho que usa um carro antigo de
motor potente para fugir e trocar tiros. E mesmo com 50 capangas atirando com metralhadoras
contra ele, não recebe um tiro. O veículo fica cheio de buracos, mas nem uma
bala atinge o cara.
O herói, claro, vai ter ajuda de antigos companheiros. Tão
bem treinados quando ele. O cara atrai os “bandidos” para um local cheio de
armadilhas e eles caem em todas. O mocinho sozinho invade uma fortaleza da
máfia russa, destrói tudo e saí ileso. E ainda vai atrás do chefão.
Para que se
arriscar fazendo tudo isso quando poderia simplesmente ter fugido com a
família? Fica uma “vingança” bem desproporcional. Mas isso passa despercebido
para quem procura apenas uma diversão e foca só nas cenas de ação.
Por fim, “Anônimo” tinha potencial para ser bom, mas se
perdeu nos clichês. Tem boas interpretações, ótimas cenas de ação, bem
realistas. Mas o roteiro tem furos, as ações e motivações do herói são
questionáveis, inconsistentes. Há possibilidades de ter continuações, o que não
é bom nem ruim.
Para entretenimento, está de bom tamanho. É mais um filme de
ação do tipo “exército de um homem só”, como os muitos feitos por Liam Neeson.
Pode e deve agradar ao público, mas fica bem à sombra de John Wick.
Ficha técnica:
Direção: Ilya Naishuller Roteiro: Derek Kolstad
Exibição: em breve nas plataformas de streaming
Produção e distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h32
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gênero: Ação