Série tem como pano de fundo a investigação do assassinato de uma jovem numa pequena cidade da Pensilvânia (Fotos: HBO/Divulgação) |
Carolina Cassese
“Neste drama policial original da HBO, a vencedora do Oscar,
Kate Winslet ("Titanic" - 1997 e "A Despedida" - 2021), interpreta Mare Sheehan, uma detetive de uma pequena cidade da
Pensilvânia que deve investigar um violento assassinato local”. A partir dessa
premissa presente na descrição oficial da série, poderíamos facilmente
classificar "Mare of Easttown" como mais uma produção do estilo “quem
matou”.
No entanto, a HBO apresenta mais uma vez (assim como fez em "Big
Little Lies", "Sharp Objects" e, mais recentemente, com
"The Undoing") uma trama complexa, repleta de camadas e dramas
humanos.
A minissérie também está disponível no serviço HBO Max, que
estreou no Brasil em 29 de junho. Como já explicitado, os acontecimentos da
série são desencadeados a partir do assassinato da jovem Erin McMenamin (Caille
Spaeny). A detetive encarregada do caso é Mare Sheehan (Kate Winslet, principal
nome por trás da série), que ainda sofre com o luto pela morte de seu filho,
Kevin. Na medida em que conhecemos os núcleos familiares dos moradores da
cidade, observamos que todos estão lidando com questões complicadas. Todos são
suspeitos.
"Mare of Easttown" quebra uma velha premissa de muitas produções de
suspense - a de que “absolutamente tudo que o diretor escolhe mostrar precisa
ser relevante para a resolução do mistério”. Diversos acontecimentos da
história são, na verdade, pistas falsas (a técnica de misleading, bastante
utilizada pela rainha do crime Agatha Christie) ou informações que contribuem
consideravelmente para a construção dos personagens, mas não para o desenlace da
investigação.
Até mesmo o personagem Richard Ryan, par romântico de Mare
interpretado pelo ótimo Guy Pearce, não tem aquela função clássica de amor
romântico da protagonista. “Não é preciso ser para sempre para significar
algo”, destaca a namorada da personagem Siobhan Sheehan (Angourie Rice), filha
de Mare.
O produtor-executivo da série reforça que a trama é pouco
centrada em homens ou no amor romântico. “A maioria dos personagens masculinos
nesse programa são maus. Não quero dizer todos, mas a maioria. Assim que
comecei a escrever o roteiro, queria escrever sobre a minha casa e eu cresci
rodeado de mulheres. Foi essa força e essa solidariedade entre elas que me
inspirou”, declarou Brad Ingelsby ao podcast Still Watching.
As relações de amizade e de família são mais do que
suficientes para sustentar a série e contar excelentes histórias. Temos de fato
a sensação de que os moradores da pequena cidade já se conhecem há bastante
tempo e são verdadeiramente familiarizados uns com os outros. Os sentimentos,
tanto os de amor quanto os de ódio, parecem ter raízes.
Tal percepção se deve muito ao excelente elenco da produção.
É inclusive uma tarefa difícil destacar apenas um nome, ao passo que é
necessário citar o maravilhoso trabalho de Winslet, encarregada de interpretar
nossa adorável (“pero no mucho”) protagonista. “Pero no mucho” pelo simples
motivo de que Mare é real: comete erros, muitas vezes é seca com a mãe (que
também pode ser bem direta com ela), nem sempre dá a devida atenção para sua
filha, se recusa a cumprir ordens do chefe. Em meio a todas essas contradições,
Mare pode ser adoravelmente desagradável ou desagradavelmente adorável. Ela é
crível, quase existe, quase tem vida própria.
Além dos excelentes veteranos James McArdle (Deacon Burton),
Jean Smart (Helen) e Robert Tann (Billy Ross), o elenco mais jovem de "Mare of Easttown" também não deixa a
desejar e protagoniza momentos carregados de dor. Prepare-se: seu emocional
provavelmente não ficará intacto com o fim que leva um dos personagens jovens.
Outro nome responsável por dilacerar nossos corações é o de Julianne Nicholson
(Lori Ross), excelente atriz que entrega muito em cenas difíceis.
O último episódio da minissérie, intitulado
"Sacrement", é um show de duas atrizes que, justamente por serem tão
espetaculares, nos fazem esquecer que Winslet e Nicholson estão em cena.
Naquele momento, vemos apenas Mare e Lori, duas amigas que sofrem, se protegem
e se amam. A emocionante cena final é um lembrete importante de que muitas
vezes precisamos de tempo (e também de escuta) para lidarmos com nossos
machucados e encararmos sótãos empoeirados.
Levando em conta o fato de Damon Lindelof, produtor da série
"Watchmen", ser fã assumido de "Mare of Easttown" (há ainda
uma gratificante piscadela da série para o Dr. Manhattan), é válido pegar carona
numa frase dessa outra excelente produção da HBO. Afinal de contas, “feridas
precisam de ar, não de máscaras”.
Direção: Craig Zobel
Criação: Brad Ingelsby
Exibição: HBO e HBO Max
Duração: média de cada episódio de 60 minutos (1ª Temporada - 7 episódios)
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Policial