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18 dezembro 2023

Bradley Cooper se transforma para contar a vida e obra de Leonard Bernstein em “Maestro”

Ator divide o protagonismo com Carey Mulligan, com interpretações dignas de Oscar na biografia do famoso músico e compositor
(Fotos: Netflix)


Marcos Tadeu
Narrativa Cinematográfica


Dirigido por Bradley Cooper, conhecido por seu trabalho em "Nasce uma Estrela" (2018), "Maestro" apresenta-se como uma obra cativante e tecnicamente sólida. A produção ainda pode ser conferida na sala 1 do Centro Cultural Minas/Unimed e a partir do dia 20 de dezembro no catálogo da Netflix.  

Quarta incursão de Cooper na direção, ele também assume o papel do excêntrico músico e pianista Leonard Bernstein, uma figura icônica do gênero clássico. A narrativa, com mais de duas horas de duração, revela a jornada do compositor e maestro, apresentando-o desde o início da carreira e sua vida pessoal, explorando as vitórias e derrotas, inclusive seus 18 anos no comando da Orquestra Filarmônica de Nova York.


A biografia retrata inicialmente a paixão de Bernstein pela música e o caminho rumo à fama por meio de uma regência rígida e composição poderosa. As nuances visuais, utilizando tanto o preto e branco quanto cores variadas desvendam a evolução dos relacionamentos e das dinâmicas familiares do protagonista ao longo do tempo, inclusive seu envolvimento amoroso com outros homens.

Bradley Cooper oferece uma atuação convincente, revelando os dilemas do personagem-título. O ator usou inclusive uma prótese no nariz para se parecer mais com o maestro. O filme, mesmo dirigido por um homem, coloca em foco personagens femininas fortes, como a atriz e ativista Felícia Montealegre, interpretada por Carey Mulligan, que desempenha um papel crucial na vida pessoal e profissional de Bernstein. No elenco estão ainda Maya Hawke, Matt Bomer, Michael Urie e Sarah Silverman. 


Do ponto de vista técnico, a trilha sonora de Leonard Bernstein é uma presença marcante, ganhando vida nas mãos habilidosas de Cooper. O famoso maestro é responsável por conhecidas composições de musicais da Broadway, como "West Side Story" ("Amor, Sublime Amor"). Também a fotografia de Matthew Libatique é primorosa, usando cores e a ausência delas de maneira criativa para contar a história de forma envolvente.

A direção de arte de Kevin Thompson contribui para criar um ambiente sofisticado, repleto de referências ao universo da televisão e do cinema, proporcionando um contexto impactante para os personagens. A presença de nomes como Martin Scorsese e Steven Spielberg na equipe de produção promete elevar as chances do filme em premiações como o Oscar.


Alguns aspectos do filme, no entanto, podem deixar a desejar, como a relação com os filhos, que poderia ganhar mais protagonismo, e o relacionamento conturbado de quase 30 anos entre Felícia e Bernstein.

"Maestro" destaca-se como uma das melhores obras do ano. Vale a pena conferir no cinema para apreciar a riqueza sonora e visual proporcionada pela direção. Indicado para os amantes de música clássica, teatro e cinema, além de uma grande oportunidade de conhecer um pouco da história desse famoso compositor.


Ficha técnica
Direção: Bradley Cooper
Produção: Netflix
Distribuição: Netflix
Exibição: sala 1 do Centro Cultural Minas/Unimed e dia 20/12 na Netflix
Duração: 2h19
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gênero: biografia

01 março 2022

“O Beco do Pesadelo” é a maldade do ser humano na visão de Guillermo del Toro

Bradley Cooper interpreta um ilusionista charlatão que aplica golpes na elite rica de Nova York  (Fotos: 20th Century Studios)


Marcos Tadeu


Falar de Guillermo del Toro é falar de obras com criaturas monstruosas como “Helboy”, “A Forma da Água", "Labirinto do Fauno” e “Blade”. Em seu mais recente filme, “O Beco do Pesadelo” ("Nightmare Alley"), obra adaptada de  William Lindsay publicada na década de 1940 e concorrendo a “Melhor Filme” na corrida para o Oscar, o diretor assina seu trabalho mais simplista, com uma pegada noir. 

Se antes os monstros eram protagonistas de suas histórias, agora é o ser humano quem é colocado em foco como o vilão, devido à sua ganância e à busca intensa por poder.


A trama conta a vida de Staton "Stan" Carlisle (Bradley Cooper), carismático e sem sorte que busca uma oportunidade em um circo de charlatões liderado por Clem Hoatley (Willem Dafoe), quando a vidente Zeena (Toni Collette) e seu marido mentalista Pete (David Strathairn) ganham apreço por Stanton e decidem ensiná-lo a arte da enganação.

O protagonista então tenta ganhar mais dinheiro colocando Molly Cahill (Rooney Mara) com um número completamente novo e perigoso. Os dois começam a se aproximar e vivem um romance.  


Os anos passam e Stan ganha um bilhete para enganar a elite rica de Nova Iorque nos anos 40. As coisas começam a mudar quando a psicóloga rica Lilith Ritter (Cate Blanchett) surge na vida de Stan e o incentiva a fazer escolhas que poderão levá-lo à vitória ou à derrota.

Do ponto de vista do protagonista somos aguçados a conhecer um mundo de circo e aberrações. Stan é um cara que, inicialmente, parece muito tímido e com medo do que está vendo, mas que depois faz de tudo para ser visto e reconhecido por Clem. De todos os personagens apresentados, Stan é o que mais se destaca por crescer com sua ambição e fome de poder.


Lilith é uma personagem cercada de muito mistério. É visível seu interesse em Clem e como ele pode ajudá-la a conseguir suas vitórias. Ao mesmo tempo em que ela é muito doce, também é dúbia. O enredo apresenta riqueza  na forma de construir e desconstruir a personagem, principalmente na reviravolta de seu último arco, que nos deixa sem saber quem é mais monstro, Clem ou Lilith. 

Curioso pensar que até o nome da personagem é famosa na mitologia por ser um demônio com corpo de mulher que vivia no inferno. E não é para menos: as intenções da psicóloga são sempre duvidosas, o que nos faz torcer hora para o bem, hora para o mal.


Outro ponto que se destaca é o design de produção. A atmosfera noir, o circo sombrio, as atrações bizarras são muito bem ambientadas e conseguem refletir tudo a que o filme se propõe.

O que talvez deixe a desejar, no entanto, é o enredo, que falha por não aprofundar na maioria dos personagens. Exceto Clem e Lilith, que não têm muito o que ser desenvolvido, o que é uma pena. São bem estilizados, mas ficam em uma camada extremamente rasa.

“O Beco do Pesadelo” talvez seja um dos filmes mais fracos de Guillermo del Toro, apesar de potente na construção da narrativa. O autor deixa para o público a mensagem de como nossas ambições podem nos levar à glória, mas também ao fracasso.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Guillermo del Toro
Produção: Searchlight Pictures
Distribuição: 20th Century Studios
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h31
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: drama / suspense

13 fevereiro 2019

Endividado, Clint Eastwood vira "A Mula" do tráfico para pagar as contas

Biografia de traficante conta, de maneira aliviada, como ele usava a desculpa de que os fins justificavam para transportar drogas pelos EUA (Fotos: Warner Bros. Pictures)

Maristela Bretas


"A Mula" ("The Mule") trata-se de uma história comum, nada de excepcional, talvez pelo fato de ter sido aliviada na produção pelo produtor, diretor e ator principal Clint Eastwood. A versão cinematográfica se preocupou mais em apresentar o então octogenário Leo Earl Sharp como um bom e inicialmente inocente velhinho, que começa a traficar drogas somente para pagar as contas e ajudar os amigos. Até o nome dele foi usado de outra forma no filme para ficar mais leve - ele é chamado apenas de Earl Stone.

El Tata (esquerda) e Clint Eastwood (Montagem)
"El Tata", como era conhecido o traficante Leo Sharp, antes de ganhar fama no mundo do crime, cultivava flores ornamentais, em especial lírios, e conseguiu criar espécies híbridas de variadas cores. Chegou a plantar flores no jardim da casa do presidente George W. Bush. Como veterano da Segunda Guerra Mundial foi condecorado com a Medalha de Bronze por seus serviços. Mas problemas financeiros teriam levado o idoso, então com 90 anos, amigo de todos, respeitado na comunidade e acima de qualquer suspeita a se envolver com o Sinaloa, cartel de drogas mexicano, onde acabou se tornando uma lenda como a mula mais velha e mais bem sucedida do tráfico, tendo transportado milhares de quilos de cocaína para os Estados Unidos.

No filme, Clint Eastwood deu uma aliviada em vários pontos da vida de Sharp, quase levando as pessoas a torcerem por ele de tão bonzinho ficou o personagem, esquecendo que era um criminoso. Não poderia ser diferente do homem que também viveu alheio à própria família por anos a fio, só se preocupava com as farras com os amigos e a boa vida que o dinheiro do tráfico passou a lhe proporcionar. Earl Stone tem uma postura humana, que demonstra arrependimento de muitas coisas e a necessidade de tentar consertar as relações com as pessoas que ama.

O traficante foi preso em outubro de 2011 no Estado de Michigan durante uma operação da Divisão de Narcóticos e permaneceu por três anos numa prisão federal, sendo libertado por uma questão humanitária (idade avançada). E mesmo a história confirmando que ele sempre usou sua velha caminhonete para o transporte da carga, o que não despertava a atenção da polícia, no filme, ao contrário, uma das primeiras coisas que Stone faz ao receber o primeiro pagamento é trocar a velha companheira de estrada por uma picape novinha preta extremamente chamativa.

O elenco desperdiça atores de peso como Bradley Cooper, que foi dirigido por Eastwood em "Sniper Americano" (2015) - ele faz o agente Colin Bates, da Divisão de Narcóticos que persegue Stone; Laurence Fishburne, como o chefe de Bates; Andy Garcia é Laton, chefão do tráfico (e pensar que ele já foi um sonho de consumo); Michael Peña, o agente Treviño, parceiro de Bates na polícia; Dianne Wiest é Mary, esposa de Earl Stone; Taissa Farmiga, como Ginny, neta de Earl, e Alison Eastwood no papel de Íris, única filha de Earl (ela é filha na vida real de Clint). Mas todos estão lá somente para compor a história, deixando o brilho para o protagonista.

As "adaptações" para o cinema da vida real do traficante levam a história mais para o lado dramático, quebrada por algumas situações de aperto, como os encontros com a polícia durante as viagens e a relação com os narcotraficantes, que respeitavam Stone por sua idade e sagacidade. "A Mula" é um bom filme, com alguns diálogos interessantes, mas nada de extraordinário, belas locações proporcionadas pelas viagens pelo interior dos EUA, trilha sonora bem escolhida, boa direção e ótima atuação de Clint Eastwood, que volta para a frente das câmeras após seis anos somente como diretor. Aos 88 anos, ele domina toda a trama com grande carisma, de dentro e de fora. Mas falta emoção à produção. Com certeza é dispensável o lencinho para assistir "A Mula".


Ficha técnica:
Direção e produção: Clint Eastwood
Produção: Malpaso Productions / Warner Bros. Pictures
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 1h56
Gêneros: Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 3 (0 a 5)

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10 outubro 2018

Com trilha sonora envolvente, "Nasce uma Estrela" emociona e é digno de Oscar

Lady Gaga e Bradley Cooper formam o par romântico que vive momentos diferentes em suas carreiras (Fotos: Neal Preston/Warner Bros. Entertainment/Ratpac-Dune Entertainment)

Maristela Bretas


Ela já tem uma legião de fãs como cantora. Mas agora, Lady Gaga se consagra como atriz e vai atrair outros milhares de seguidores que irão se encantar com a interpretação da cantora Ally em "Nasce uma Estrela" ("A Star is Born"). A nova versão do clássico que emocionou milhares de pessoas pelo mundo em 1976 e que contou com Barbra Streisand no papel principal, entra em cartaz nos cinemas nesta quinta-feira para balançar corações e fazer chorar.

Para fazer o par romântico com Lady Gaga, que arrasa quando sobe ao palco, está o premiado Bradley Cooper, que também ocupa as funções de diretor (lugar que seria inicialmente de Clint Eastwood) e produtor. E sua estreia na direção está muito boa e pode atrair algumas estatuetas, inclusive no Oscar 2019. Além de lindo e atraente, Cooper surpreende ao cantar com sua voz rouca algumas das canções da bela e envolvente trilha sonora do filme, que nada fica a dever à versão de 42 anos atrás.


Gaga interpreta canções originais no filme que ela compôs com Cooper e vários outros artistas, incluindo Lukas Nelson, Jason Isbell e Mark Ronson. Todas as músicas foram gravadas ao vivo. Destaque para "I'll Never Love Again" (de arrepiar), "Shallow", "Maybe It's Time" e "Always Remember Us This Way". Já no início Lady Gaga mostra todo o seu talento e diversidade ao interpretar também a clássica "La Vie En Rose", logo no início do filme.

Na linda e triste história de amor, Cooper faz o papel do cantor de rock Jackson Maine, que tem problemas com a bebida e as drogas. Ele conhece Ally, uma garçonete que compõe lindas músicas românticas e possui uma bela voz, mas ainda é desconhecida. Jack resolve ajudá-la. Mas, ao mesmo tempo em que Ally vai se tornando uma estrela de sucesso da música pop, ele entra num processo de decadência e se afunda cada vez mais no vício. E apesar do grande amor que os une, o relacionamento começa a deteriorar.

O elenco de "Nasce uma Estrela" também inclui Sam Elliott (sempre muito bom) Andrew Dice Clay e Dave Chappelle. Mas é a dupla principal que brilha, mostrando a trajetória de cada um e a força de um lindo amor cantado em belas canções. Bradley Cooper e Lady Gaga têm uma sintonia que encanta e emociona, mantendo o ritmo da produção até o fim. Um filme imperdível.



Ficha técnica:
Direção: Bradley Cooper
Produção: Live Nation Productions /MGM Pictures /Warner Bros. Pictures
Distribuição: Warner Bros. Pictures Brasil
Duração: 2h16
Gêneros: Drama / Romance / Musical
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 4,8 (0 a 5)

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