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10 agosto 2023

As cores (e humores) de Wes Anderson estão de volta em “Asteroid City”

Novo longa recebeu indicação em Cannes, mas não é claro em sua proposta (Fotos: Universal Pictures)


Eduardo Jr.


Wes Anderson está de volta. Estreia nesta quinta-feira nos cinemas seu mais novo longa, “Asteroid City”. A produção, distribuída pela Universal Pictures, põe na tela 105 minutos de uma obra fiel às características do cinema do diretor norte-americano. 

E ainda vem com uma chancela importante: a indicação à Palma de Ouro no 76º Festival de Cinema de Cannes de 2023. Filmado na Espanha, em uma paisagem rural desértica, a obra pode fazer tanto sentido quanto uma imensidão de areia. Mas diverte o público em alguns momentos. 


No filme, uma convenção de observadores de astronomia em uma cidade no deserto norte-americano ganha novos contornos após um evento marcante (e cômico). A história se passa na década de 1950 e parece confusa em alguns momentos, por pincelar vários temas de uma vez. 

Também por ser uma produção que avisa ao espectador que a trama vai ser apresentada em um programa de TV, mas tudo não passa de uma encenação teatral (oi?). Tem ainda uma família com o carro estragado que ficou presa em Asteroid City, cuja população se dedica a observar nossa galáxia após a queda de um meteorito tempos atrás. 


Apesar da presença dessa família, não dá pra dizer que o longa tenha um protagonista. É típico dos filmes de Wes Anderson um elenco digno de novela de Glória Perez, com dezenas de personagens. 

Pela tela desfilam nomes famosos e de peso como Tom Hanks, Scarlett Johansson, Jason Schwartzman, Tilda Swinton, Jeffrey Wright, Bryan Cranston, Edward Norton, Liev Schreiber, Adrien Brody, Jeff Goldblum, Margot Robbie, Willem Dafoe, Matt Dillon, Steve Carell, Maya Hawke e Rita Wilson - e mesmo que eles não tenham uma história pra desenvolver, a lista segue aumentando. 


Se o diretor já adotou esse expediente de riqueza de elenco, como em “O Grande Hotel Budapeste” (2014), por que não repetir também as participações especiais? Em “A Vida Marinha com Steve Zissou” (2004), o cantor Seu Jorge participou do longa. 

E agora, o brasileiro retorna em “Asteroid City” como integrante de um grupo de músicos - e reforçando a amizade de longa data que mantém com Wes Anderson. 


A cena musical em que Seu Jorge aparece com seu violão e sua voz grave é hilária. Aliás, o filme como um todo parece um grande deboche do diretor com relação ao comportamento americano em situações diversas. Mas também traz pitadas de drama e de romance (que não funciona, você vai ver). 

Provavelmente é uma comédia com uma história incompleta, um pouco maluca. Nota dez, só para os enquadramentos e cores do longa, embora isso não seja nenhuma novidade a respeito de um cineasta que já se tornou até trend top no TikTok, com usuários fazendo vídeos do cotidiano como se estivessem em uma obra do americano. 


Fiel a sua estética e a sua forma de conduzir, Wes Anderson entrega um filme que se pretende divertido, com fotografia apurada, figurinos com vários modelos e designs clássicos dos anos 1950 e uma paleta de cores pastel. 

A divisão em atos, o deslizar das câmeras nos planos-sequência e a mudança do colorido para o preto e branco são bem ajustados. 


Ainda assim, é difícil resumir, de forma clara, do que se trata o longa quando assuntos como luto, alienígenas, romance e autoridades estúpidas são misturados. 

A experiência de “Asteroid City”, no entanto, pode valer a pena. Faz o público sair da sala escura levando algumas dúvidas e muitos risos. 


Ficha técnica:
Direção: Wes Anderson
Produção: Universal Pictures, Focus Features, American Empirical, Indiam Paintbrush
Distribuição: Universal Pictures   
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h45
Classificação: 14 anos
País: Estados Unidos
Gêneros: comédia, drama

25 março 2018

"A Melhor Escolha" - Um drama sensível e crítico sobre amizade, convenções e a hipocrisia da guerra

Bryan Cranston, Steve Carell e Laurence Fishburne se reencontram para após 30 anos para enterrar o filho de um deles (Fotos: Metropolitan FilmExport/Divulgação)

Maristela Bretas


Três ex-fuzileiros navais que lutaram no Vietnã, três vidas que tomaram rumos diferentes e que agora se reencontram para relembrar coisas boas e ruins do passado. Trinta anos depois, a guerra une este trio em "A Melhor Escolha" ("Last Flag Flying"), filme que tem grandes interpretações de Steve Carell, Bryan Cranston e Laurence Fishburne.

Carell é Larry "Doc" Shepherd, um vendedor de loja triste e solitário que sai a procura dos amigos do tempo da guerra usando a internet. O primeiro a ser localizado é Salvatore "Sal" Nealon (papel de Cranston), dono de um bar decadente que vai ajudá-lo a encontrar Richard Mueller (interpretado por Fishburne), agora um respeitável reverendo numa cidade do interior dos EUA.

Estes três homens totalmente diferentes terão de reaprender o significado de amizade e união para ajudar Larry a enfrentar seu maior drama - enterrar o único filho, morto na Guerra do Iraque. Entre recordações, piadas e críticas às convenções militares e até mesmo religiosas, e à hipocrisia criada para justificar a participação dos EUA em conflitos que não diziam respeito, "A Melhor Escolha" tem uma ótima direção de Richard Linklater (o mesmo de "Boyhood - Da Infância à Juventude" - 2014) e é baseado no livro homônimo do escritor Darryl Ponicsan, que auxiliou na condução do roteiro.

O filme oferece momentos de comicidade bem mesclados com o drama, sem cair na pieguice. O personagem de Cranston é aquele que fala o que pensa, é inconveniente às vezes, mas e também o mais engraçado e não aceita mentiras para justificarem um erro. Carell deixa seu lado comediante e entrega ótima interpretação do pai amargurado com a morte do filho, mas que vê nos momentos com os amigos uma luz no fim do túnel para retomar sua vida. O Mueller, de Fishburne, que um dia foi o maior "aprontador" da tropa e que deu uma reviravolta, precisa aprender a aplicar na vida real os ensinamentos que prega a seus fiéis.

Destaque para Yul Vazquez como o Coronel Willits, que recebe os pais dos soldados mortos e tem de preparar todo o procedimento do funeral seguindo as normas das Forças Armadas. E também Cicely Tyson, que teve participação pequena mas marcante como a Sra. Hightower, mãe de um soldado morto no Vietnã.

Claro que não falta a exaltação aos símbolos dos EUA, como a bandeira e às forças armadas. Até porque, é uma história com três ex-combatentes. Mas "A Melhor Escolha" explora as consequências da guerra (não importa qual), como ficam aqueles que lutaram, suas famílias. Alfineta, mesmo sem aprofundar, a capa de mentiras e meias verdades do que acontece com quem está ou passou pelo campo de batalha e o porquê de participar de um conflito armado. Ao mesmo tempo em que usa a necessidade de uma mentira para evitar um sofrimento maior.

Cada um dos amigos carrega consigo uma lembrança dos tempos de Marinha - humilhação, honra por ter pertencido aos fuzileiros e grandes farras e bebedeiras. Em comum,apenas o que os separou: uma grande culpa. Este é um dos pontos falhos do roteiro de Linklater e Ponicsan. O assunto é mencionado em situações diferentes mas não há uma explicação direta e clara. Os três conversam, há pedidos de desculpa, mas não é esclarecido o que realmente aconteceu que levou Larry à prisão e à expulsão da Marinha. E você sai do cinema com dúvida sobre a origem do fim de uma amizade. Se o objetivo do diretor era reunir os amigos e "colocar tudo em pratos limpos", isso ficou a desejar.

Em compensação, a jornada de reencontro para enterrar o filho de Larry ficou ótima. Uma grande aventura com boas risadas, situações semelhantes ao tempo em que eram jovens e até o reconhecimento de um erro, mesmo que tardio. O diretor soube dar a sensibilidade na medida certa para mostrar o amor de pai e filho, a lealdade entre amigos e a tradição militar para entregar um final que emociona.

"A Melhor Escolha" é um drama muito interessante que trata principalmente de valores, independentemente do estilo de vida de cada um. O filme vale a pena ser conferido, com excelentes atuações do trio principal, fotografia impecável e uma ótima trilha sonora de Graham Reynolds.



Ficha técnica:
Direção, roteiro e produção: Richard Linklater
Produção: Amazon Studios / FilmNation Entertainment / Detour Pictures
Distribuição: Imagem Filmes
Duração: 2h04
Gêneros: Comédia / Drama
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 3,8 (0 a 5)

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