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30 agosto 2023

Comédia de humor refinado, “O Porteiro” quer levar brasileiros de volta ao cinema

Produção nacional que não recorre à apelação, arranca risos do público (Fotos: Laura Campanella)


Eduardo Jr.


Marque em sua agenda: nesta quinta-feira, 31 de agosto, estreia nos cinemas a comédia nacional “O Porteiro”. Acompanhamos a live realizada com o elenco e a pré-estreia do longa em uma das salas da rede Cineart. Dirigido por Paulo Fontenelle (realizador de “Blitz, o filme”, 2019) e distribuído pela Imagem Filmes, a produção arranca risos do público sem dificuldades, por trazer atuações muito boas.

No filme, o porteiro Waldisney (personagem de Alexandre Lino) é mais um nordestino que migrou para o Rio de Janeiro com a família. Morando no “cafofo” dentro do prédio onde trabalha, ele não tem como evitar as situações (cômicas) que complicam sua vida. 


Ele é um homem simples, que não tem habilidade nem pra acalmar a estourada esposa Laurizete, vivida por Daniela Fontan (“A Sogra que te Pariu”, 2022, disponível na Netflix), que dirá capacidade para driblar os problemas. 

Waldisney inicia sua saga na delegacia, prestando depoimento ao delegado, personagem de Maurício Manfrini (“Os Farofeiros”, 2018), que tem na mão um personagem bem diferente dos papéis costumeiros. O que aconteceu e virou caso de polícia, descobrimos ao longo do filme.


Os flashbacks (que a gente esquece que são flashbacks) vão nos contando como as situações foram se amarrando até aquele ponto. E aí os moradores do edifício Clímax vão sendo apresentados. Destaques para a excelente Dona Alzira, vivida por Suely Franco ("Minha Mãe é uma Peça 2", 2016) e a surpreendente e engraçada presença do lutador José Aldo.   

Além destes nomes, a produção conta ainda com Cacau Protásio (“Juntos e Enrolados”, 2022), Aline Campos (“Um Dia Cinco Estrelas”, 2023), Bruno Ferrari (“O Buscador”, 2021), Rosane Gofman (“Confissões de uma Garota Excluída”, 2021) e Heitor Martinez (“Um Natal Cheio de Graça”, 2022). 


O elenco se reuniu em 2022 para as gravações. Se havia alguma insegurança com o período pós-pandemia, não se percebe isso na tela. A atriz Aline Campos revelou que o entrosamento foi tão grande que o diretor precisava pedir silêncio durante as filmagens, de tanto que a equipe se divertia. 

O desafio agora é trazer de volta aos cinemas um público que parece ter se habituado a assistir tudo em casa e não percebeu que o poder do controle remoto de pausar, voltar cenas, interrompe as emoções, faz perder o clima. Sem contar a perda da experiência coletiva nas salas de exibição. 


Outra intenção do filme é reforçar a necessidade de cordialidade para com os porteiros. Embora não seja um filme de militância, algumas pautas não têm como ser omitidas. 

O protagonista Alexandre Lino é natural de Pernambuco e sabe como é ser um migrante nordestino em um grande centro urbano, que muitas vezes apaga essas identidades. Seja pela grosseria de não dar um bom dia, seja sob a desculpa da piada (que geralmente é só manifestação de preconceito). 

Além disso, Lino nos disse que trazer às telas uma comédia nacional, sem o mesmo aparato de marketing de um filme como “Barbie”, por exemplo, é mais desafiador ainda. Principalmente neste momento em que se discute a cota de tela e a necessidade de mais salas exibindo produções brasileiras. 


A aposta de “O Porteiro” é na simplicidade. E o humor chega a ser refinado, já que não apela para o besteirol. A construção da simplicidade de Waldisney vem dos seis anos em que a peça é realizada nos palcos do país. E também é fruto de pesquisa. A equipe visitou portarias de diversos prédios em São Paulo e Rio de Janeiro para ouvir histórias dos profissionais e pedir permissão para retratar isso na telona. 


O resultado é um filme leve, que peca apenas por permitir que algumas cenas se alonguem e pela falta de mais músicas originais (Marília Mendonça nem sempre combina com as cenas). Mas diverte e retrata bem alguns aspectos da cultura brasileira e nordestina. 

"O Porteiro" já se equipara com produções da Marvel, porque tem até cenas pós-créditos. Então, depois que as letrinhas começarem a subir, se prepare pra rir mais um pouquinho. 


Ficha técnica:
Direção: Paulo Fontenelle
Produção: Rubi Produções
Distribuição: Imagem Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h23 minutos
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: comédia

03 julho 2023

"Elementos" da natureza se misturam para divertir e emocionar

Faísca e Gota formam o casal da nova animação da Pixar que fala sobre família, relacionamentos e diferenças
(Fotos: Walt Disney Company)


Maristela Bretas


Estou falando da nova animação da Pixar Animation Studios, "Elementos", em cartaz nos cinemas e encantando o público desde a sua estreia. A produção tem história, mensagens fortes e bem atuais, personagens simpáticos, situações engraçadas, e acima de tudo, emociona a ponto de fazer chorar. 

Assim como em outras obras da produtora, como "Divertida Mente" (2015), "Luca" (2021), "Red: Crescer é uma Fera" (2022), além dos curtas "Piper" (2016) e "Bao" (2018), que falam de relacionamentos, família e amadurecimento, "Elementos" foca também nos costumes de outros povos e no preconceito com o imigrante, no caso, o asiático.


Na animação, Bernie Lumen/Brasa (o ator filipino Ronnie del Carmen) e a esposa Cinder/Fagulha (Shila Ommi) deixam sua terra para tentar a sorte em outro lugar, onde pretendem dar uma vida melhor à filha Ember/Faísca (a atriz chino-americana Leah Lewis) que está para nascer. 

Eles chegam à Cidade Elemento, onde vivem diferentes tipos de seres formados por água, terra, ar e fogo. estes últimos, no entanto, não são bem aceitos pelos demais elementos e acabam formando sua própria comunidade, fora da cidade.


Faísca cresce aprendendo com o pai como cuidar da Loja do Fogo, que um dia ele promete que será dela. Pelas características e cultura apresentadas fica claro que a família Lumen é de descendência asiática. 

A jovem nunca sai do bairro e segue à risca a regra principal dos pais: "elementos não podem se misturar". Um bom exemplo do que acontece com muitas comunidades de imigrantes pelo mundo, que não são aceitas por sua cor, raça ou origem diferentes do local. 


Impetuosa e de estopim curto, Faísca tem de conviver com esse preconceito e desconfiança e ainda precisa descobrir o que quer para seu futuro, mesmo que ele tenha sido traçado pelo pai. 

Até que um acidente a coloca frente a frente com Wade/Gota (Mamoudou Athie), que pelo nome já dá para saber que é do elemento água. Ele é um jovem de bem com a vida, muito emotivo que chora a toa e tem uma simpatia contagiante.

Gota vai ajudar Faísca a salvar o negócio do pai e fazê-la repensar seus conceitos, especialmente sobre o amor.


"Elementos" tem várias abordagens numa só história, todas interligadas, que se tornam mais fortes com as cores vibrantes usadas na animação e dos personagens fofos e divertidos, até mesmo quanto têm ataques de fúria, como Faísca (típico da adolescência). Características fortes das produções da Pixar.


Tudo isso é capaz de levar o público a aplaudir de pé ao final do filme e até mesmo chorar de emoção, tanto pelo relacionamento da jovem com Gota quanto com o pai e a mãe. Presenciei isso na sessão que fui em BH, lotada por famílias com crianças.

Somado ao visual temos uma ótima trilha sonora, composta por Thomas Newman ("Procurando Nemo" - 2003 e "Wall-E" - 2008), que conta com 37 músicas, entre elas, "Steal The Show", cantada por Lauv, que toca quando Gota e Faísca estão juntos. Confira abaixo.


Recomendo a versão dublada que está ótima, com vozes de Luiza Porto (Faísca), do mineiro Dláigelles Silva (Gota), Giovanna Antonelli (Sra. Ripple, mãe do Gota), André Mattos (Brasa), Cacau Protásio (Flarietta), Marisa Orth (Fagulha) e muitos outros. A direção de dublagem é de Diego Lima.

"Elementos" é uma animação para todas as idades e merece ser visto em família, com um lencinho na mão. Assim como Gota e sua mãe que choram rios de lágrimas, você também vai deixar escorrer esse elemento por seu rosto sem vergonha de se emocionar.


Ficha técnica:
Direção: Peter Sohn
Produção: Pixar Animation Studios e Walt Disney Company
Distribuição: Disney Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: animação, comédia, família, aventura

14 janeiro 2022

“Juntos e Enrolados”, comédia romântica à moda brasileira para morrer de rir

Cacau Protásio e Rafael Portugal protagonizam a festa de casamento mais divertida do ano (Fotos: Rachel Tanugi/Primeiro Plano)


Mirtes Helena Scalioni

Talvez nem se possa dizer que se trata de uma comédia romântica. Mas pode-se assegurar que “Juntos e Enrolados” é uma comédia rasgada na mais genuína acepção da palavra. Nada melhor, portanto, para abrir a temporada 2022 de filmes nacionais para fazer rir, principalmente porque, certamente, o brasileiro vai se identificar imediatamente com o casal guerreiro protagonizado pela salva-vidas Daiana (Cacau Protásio) e o encanador Júlio (Rafael Portugal).


Assim, de cara, pode parecer improvável e sem química uma dupla formada pelos dois. Mas talvez resida aí o trunfo do longa dirigido por Eduardo Vasman e Rodrigo Van Der Put. O roteiro, de Rodrigo Goulart, Sabrina Garcia e Cláudio Torres Gonzaga, parece ter sido construído de tal forma que o talento e carisma dos atores prevaleçam, minimizando, inclusive, quaisquer possibilidades de clichês.


Bombeira, Daiana trabalha como salva-vidas num clube e, um dia, é obrigada a pular na água para salvar Júlio, encanador que estava lá a serviço mas resolveu aproveitar um pouco da piscina. 

Começa aí a romântica história de amor dos dois, com direito a declarações melosas e canções que ele compõe e canta pra ela ao violão. Para completar tanta felicidade, só falta mesmo uma festa de casamento daquelas, com direito a convites, cerimonialista, muitos comes e bebes, docinhos, Dj de primeira, arranjos de flores.


Depois de dois anos de muito planejamento, sacrifício e economia – mas sem perder a fofura - Daiana e Júlio conseguem, finalmente, concretizar o sonho da festa. E é exatamente nessa, digamos, segunda parte do filme que o público vai começar a rir com gosto, só parando no final. 


Um mal-entendido faz desandar a recepção, que se transforma numa espécie de praça de guerra onde não apenas os protagonistas vão ter oportunidade de exibir seus talentos. A começar por Fábio de Luca e Evelyn Castro como Carlos Mário e Suzie, o casal padrinho e amigo, outros tantos atores e atrizes, a maioria veteranos, tiveram, em algum momento, chance de mostrar seus dotes de comediantes. 

Estão na festa, em papéis pequenos, mas imprescindíveis, Marcos Pasquim, Emanuelle Araújo, Matheus Ceará, Berta Loran, Fafy Siqueira, Tony Tornado, Neuza Borges, Paulo Carvalho, César Maracujá, Leandro Ramos. Enfim, um time de respeito.


Curiosidade 1: apenas um trecho mínimo da cena de Cacau Protásio dançando na frente de um pelotão de bombeiros foi mantido, talvez para não realimentar o crime de racismo do qual a atriz foi vítima durante as filmagens.
Curiosidade 2: a canção que Júlio canta incansavelmente para Daiana, “My love you”, é estudadamente simplória e foi composta por Rafael Portugal. Impossível não sair do cinema cantarolando a música.

Em exibição nas redes Cineart, Cinemark e Cinépolis Estação BH, “Juntos e Enrolados” é um filme na medida para esses tempos de tristezas, inseguranças e perdas. 


Ficha técnica:
Direção: Eduardo Vaisman e Rodrigo Van Der Put
Roteiro: Rodrigo Goulart, Sabrina Garcia
Produção: Chamon Produtora & Kromaki // Globo Filmes
Distribuição: Imagem Filmes
Exibição: Nos cinemas
Duração: 1h34
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: Comédia