Joe Pesci e Robert De Niro, juntamente com Al Pacino, formam o elenco principal desta longa e excepcional produção da Netflix (Fotos: Netflix/Divulgação) |
Jean Piter
O que te passa pela cabeça quando se fala em filme sobre a
máfia? Famílias poderosas, ricas, influentes, respeitadas... Chefões muito
inteligentes, disciplinados, bondosos com seus amigos e afilhados e ao mesmo
tempo cruéis com seus inimigos. É uma relação de amor e ódio. Você até
questiona algumas ações desses mafiosos, mas não deixa de admirá-los. As
histórias são cheias de traições e reviravoltas, planos bem articulados e,
claro, muito sangue. Assassinos frios e precisos são personagens indispensáveis
nessas tramas. "O Irlandês", de Martin Scorsese, tem um pouco de tudo
isso aí. Mas vai além e trás um olhar mais humano sobre o mundo do crime.
"O Irlandês" é baseado no livro “I Heard You Paint Houses” (“Eu Ouvi Você Pintando As Casas”, em tradução livre), de Charles Brandt, que narra a história real de Frank Sheeran (Robert De Niro). Um veterano da Segunda Guerra Mundial que acaba se envolvendo com mafiosos nos Estados Unidos. Trabalhando como caminhoneiro, ele entra em um esquema de desvio de carga para vender a mercadoria no mercado clandestino. E nesse cenário que ele conhece um dos chefes da máfia, Russell Bufalino (Joe Pesci). Eles se tornam amigos. Sheeran vira então um “faz tudo” para os negócios, recebe várias missões e executa todas com precisão e muita discrição, inclusive a de matar pessoas.
O olhar humano que Scorsese trás para a história está nos erros que os personagens cometem. Erros que qualquer pessoa normal comete. Escolhas erradas, decisões precipitadas e atos que a gente se arrepende depois. Diálogos que chegam a ser engraçados de tão idiotas, a ponto de você se perguntar: Nossa, como um chefão desses consegue ser tão burro? O filme mostra o lado da vaidade desses personagens, o quanto vivem em função do poder e de sempre quererem mais e mais, como se nunca fossem envelhecer, como se fossem imortais. O quanto eles se ocupam com isso e que eles acabam deixando de viver ao escolher esse tipo de vida. É um filme sobre as conquistas dos mafiosos, mas que dá destaque aos fracassos, ao saldo negativo que sobra no fim da vida, ao conjunto de uma obra que traz o questionamento: Valeu a pena essa vida?
Computação gráfica usada para contar a história do personagem de Robert De Niro (Montagem sobre fotos/Netflix) |
Vale destacar o uso de computação gráfica para rejuvenescer
os personagens, algo que ainda não tínhamos visto nessa intensidade. O mesmo
ator fazendo um papel que envelhece ao longo de décadas. Por vezes, é visível o
uso dessa tecnologia, o que deixa a imagem meio artificial, como a de
personagens de videogame. Mas nada que comprometa a obra. É o recurso
disponível e que foi usado da melhor forma possível.
"O Irlandês" é uma obra para se assistir mais de uma vez, mesmo tendo três horas e meia de duração, que é um tempo suficiente e adequado pra contar essas histórias. É um filme muito bem feito, com uma narrativa leve, que não cansa. Tem atuações maravilhosas de De Niro, Pesci e Al Pacino. Um trio que talvez a gente não veja mais atuando juntos. Uma obra prima de Scorsese que já nasceu como clássico. É o melhor filme sobre máfia desde "O Poderoso Chefão".
Ficha técnica:
Direção: Martin Scorsese
Produção: Netflix / Sikelia Productions / Tribeca
Productions
Distribuição: Netflix Brasil
Duração: 3h29
Gêneros: Suspense / Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 5 (0 a 5)
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