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26 fevereiro 2025

Documentário "Chica da Silva - A Descoberta do Testamento" apresenta a mulher por trás do mito

Vídeo e série de reportagens do TJMG originados a partir a localização do documento são verdadeiras
aulas de história afrocentradas (Fotos: Gláucia Rodrigues)


Maristela Bretas


O trabalho minucioso de um grupo de historiadores e jornalistas do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) a partir da localização do testamento de Francisca da Silva Oliveira resultou no documentário "Chica da Silva - A Descoberta do Testamento". Uma aula de história que foge dos livros e mostra outra face daquela que se tornou uma das figuras mais influentes da sociedade colonial mineira do século XVIII.

Ao completar 229 anos de sua morte, ocorrida em 15 de fevereiro, Chica da Silva, ex-escravizada, foi alforriada e se tornou Dona Francisca da Silva Oliveira, tem sua vida novamente contada. Agora, a partir do testamento dela, localizado após mais de 200 anos no Fórum da Comarca de Serro, cidade mineira ao qual pertenceu o antigo Arraial do Milho Verde, onde Chica nasceu.

Capa do testamento descoberto de Chica da Silva

O documentário de 52 minutos, produzido pela equipe de Comunicação e disponibilizado no canal oficial do YouTube do TJMG, desmistifica a mulher considerada ousada para sua época e faz uma reparação histórica ao mostrar uma Chica da Silva até pouco tempo desconhecida.

Ao contrário do filme "Chica da Silva" (1976), de Cacá Diegues, e da novela de mesmo nome, exibida pela extinta TV Manchete entre 1996 e 1997, a produção do TJMG reúne fotos, ilustrações, documentos oficiais da época e diversos depoimentos de historiadores, entre eles o da professora da UFMG e biógrafa de Chica da Silva, Júnia Furtado. 

Casa de Chica da Silva em Diamantina

Além de entrevistas de funcionários de museus e do IEPHA, garimpeiro, mestre vissungueiro, madres do Mosteiro Nossa Senhora de Macaúbas, em Santa Luzia, e até descendentes da 7ª e 8ª gerações de Francisca da Silva Oliveira. 

As cidades mineiras de Diamantina, Serro, Milho Verde e Santa Luzia, também são mostradas no documentário, cada uma com sua importância na vida pessoal e religiosa de Chica da Silva. 

Sob a direção executiva de Comunicação de Mariana Brito, participaram dos trabalhos as jornalistas Daniele Hostalácio e Kátia Matos, locução de Mércia Lívia, imagens de Márcio Rodrigues, fotos de Gláucia Rodrigues, edição de Elton Lizardo, coordenação de Francis Rose, Eudes Júnior e Fernando Capreta.

Mosteiro Nossa Senhora de Macaúbas, em Santa Luzia

Kátia Matos explica como foi a produção de "Chica da Silva - A Descoberta do Testamento". "Era para ser uma reportagem, que acabou virando documentário por causa do volume de depoimentos, havia muitos aspectos importantes. Primeiro nós fomos colhendo os depoimentos dos historiadores. Daí o material era muito grande, então ele virou um documentário". 

Ela conta ainda que precisava mostrar também o testamento, que é a base do documentário, cuja descoberta deu origem às reportagens. "Eu pensei: vou pegar o testamento, que já estava transcrito pela Júnia Furtado, e dividi-lo. A partir dos fragmentos da história que está no testamento, eu fui colocando as falas de cada entrevistado de acordo com as partes do documento. Foi quase um ano de trabalho", explicou Kátia Matos.

Gravura exposta na Casa de Chica da Silva (Reprodução)

Além do documentário, uma série com quatro reportagens para o site do TJMG, que podem ser conferidas CLICANDO AQUI, detalha passo a passo a trajetória de Chica da Silva a partir da descoberta do testamento. 

Fizeram parte deste trabalho as jornalistas Daniele Hostalácio, Kátia Matos, Daniele Hostalácio, Manuela Ribeiro, Mariana Maia, com fotografias de Gláucia Rodrigues, design de Pedro Moreira e edição de web de Danilo Pereira.

Daniele Hostalácio, responsável pela reportagem e edição das matérias da série, conta que "o testamento é a voz da própria personagem. No documento, ainda que ele, provavelmente, tenha sido ditado e não escrito por Chica da Silva, porque possivelmente não era alfabetizada e só sabia assinar o nome, ela fala sobre ela, onde nasceu, quem eram os pais, o nome de todos os filhos, o que vai deixar para as filhas, para a mãe". 

A jornalista explica ainda que "ao trazer à luz o testamento, você traz também a voz de Chica da Silva. Uma personagem que viveu no século XVIII e que, ao longo dos séculos, por diferentes motivos, teve a história de vida muito descolada do que foi a personagem de carne e osso que viveu naquele período".

Trabalho de restauração do testamento

Documento histórico

Para o presidente do TJMG, desembargador Luiz Carlos de Azevedo Corrêa Junior, "o documentário demonstra que o compromisso social do Tribunal de Justiça também compreende o resgate da história como forma de contribuição para entendermos o presente. Nossa expectativa é que, por meio do testamento, novas historiografias sobre Chica da Silva possam ser construídas. Esperamos que o documento impulsione novos estudos em torno dessa personagem", afirmou.

O testamento descoberto será restaurado para integrar o acervo do Museu da Memória do Judiciário Mineiro (Mejud) do TJMG, juntamente com a carta de alforria de Chica da Silva, e disponibilizados no futuro para a coletividade. 

Ele revela vários aspectos da vida de Chica da Silva, que foi comprada de outro senhor feudal, alforriada em seguida e manteve uma união sólida e de amor por 17 anos com o desembargador João Fernandes de Oliveira, maior contratador de diamantes da época. Com ele teve 13 filhos, todos com o sobrenome do pai, e se tornou a mulher mais influente da região de Diamantina.

Carta de alforria de Chica da Silva

Apesar das inúmeras ilustrações de Chica da Silva, senti falta de uma imagem de João Fernandes de Oliveira no vídeo, possivelmente por não ter sido descoberto nenhum registro até agora.

No documentário, Chica da Silva, uma mulher preta de corpo esguio, é mostrada por meio de gravuras em variadas situações, inclusive incorporando características de mulheres brancas. Apesar de ter sido escrava e ter sofrido com o racismo e misoginia, ela mantinha escravos em suas propriedades e eram considerados seu maior patrimônio e herança a ser deixada para os filhos e filhas.

Confira o documentário completo abaixo:


Ficha técnica:
Produção: Equipe de Comunicação do TJMG
Exibição: canal do TJMG no Youtube
Duração: 52 minutos
Classificação: livre
País: Brasil
Gênero: documentário