Joaquin Phoenix e Lady Gaga protagonizam novo filme que explora o gênero musical (Fotos: Warner Bros. Pictures) |
Marcos Tadeu
Jornalista de Cinema
Joaquin Phoenix volta a protagonizar o famoso vilão inimigo do Batman, desta vez ao lado de Lady Gaga em "Coringa: Delírio a Dois" ("Joker : Folie à Deux"), que estreia oficialmente nesta quinta-feira (3) nos cinemas. Com Todd Phillips novamente na direção, o filme foi aplaudido no Festival de Veneza deste ano por 11 minutos e tem sido ovacionado pela crítica mundial.
Nesta continuação, Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) está preso no hospital psiquiátrico de Arkham após os eventos de "Coringa" (2016). Lá, ele conhece Harleen "Lee" Quinzel (Lady Gaga), e o que começa como curiosidade se transforma em uma paixão obsessiva. Juntos embarcam em uma jornada frenética e musical pelo submundo de Gotham City.
O filme foca no julgamento dos assassinatos cometidos pelo Coringa no primeiro filme, que provoca ondas de impacto em toda a cidade, afetando ainda mais as mentes perturbadas da dupla. Mas a impressão que fica da produção é de que sai do nada para lugar nenhum.
Todd Phillips declarou que este filme é um musical, especialmente com a adição de Lady Gaga, que lançou seu mais novo álbum baseado na produção. Mas a música, que poderia ser um diferencial atraente, se torna uma tortura até para quem gosta deste gênero de filme. O diretor usa e abusa do recurso de forma desconexa. Pode até soar como uma escolha artística, mas o excesso é questionável.
Joaquin Phoenix, como esperado, está excelente no papel e talvez até ganhe mais um Oscar por repetir o personagem. Contudo, a questão social do alter ego de Coringa e de Arthur Fleck não é bem desenvolvida. O filme não define quem são realmente essas pessoas durante a exibição. Se a intenção do diretor era provocar esta dúvida no espectador, ele conseguiu.
Lady Gaga, vendida nos trailers como uma "maluca" que se junta ao Coringa para cometer novos crimes, é tratada de forma superficial. Sua personagem, Lee, não é bem construída e suas motivações não são claras. Vemos uma Lady Gaga em uma excelente atuação, mas a maior parte da obra foi feita com a cara limpa e cantando, tudo o que já sabe fazer.
Faltaram roteiro e propósito para que a produção ganhasse camadas e fizesse o público acreditar no nascimento de Arlequina. Neste ponto, a personagem interpretada por Margot Robbie em "Aves de Rapina" (2020) é mais consciente e tem presença mais marcante como atriz.
As músicas são, em sua maioria, bem compostas, dominadas pelo jazz. No entanto, o ritmo frenético de cantar quase o tempo acaba ficando entediante para quem assiste. Existem poucos momentos de diálogo para dar corpo ao roteiro, mas nem isso o diretor se permite.
A musicista islandesa Hildur Guđnadóttir retorna com sua trilha sonora e design de som, utilizando violoncelos de maneira potente, contornando as músicas compostas por Gaga. A nostalgia de Bathroom Dance continua presente, servindo como apoio sonoro não só para Fleck, mas também para Lee.
Parece que Todd Phillips se escondeu atrás de Gaga e Phoenix, colocando-os para cantar sem justificar a quase incessante presença de músicas. Sabemos que, assim como no primeiro filme, muito do que acontece vem da imaginação louca e questionável de Arthur Fleck. Contudo, pautar tudo isso num musical constante parece uma saída covarde.
O filme não consegue apresentar uma visão externa mostrando as consequências de Coringa se tornar quase um mártir. A continuação também não expande o universo nem tenta explicar lacunas do primeiro filme. A questão da saúde mental e um Estado que não se importa com os marginalizados, assim como as opiniões a favor e contra a figura do Coringa, são rasas e superficiais. A violência policial com os detentos, por exemplo, é apresentada, mas apenas de forma superficial.
Até elementos usados no primeiro "Coringa", como a escada e o elevador, só estão ali para agora colocar do ponto de vista de Arlequina. Não quer dizer que exista um roteiro ali. O elenco conta ainda com nomes conhecidos no cinema como Catherine Keener ("Corra" - 2017), Brendan Gleeson ("Os Banshees de Inisherin" - 2023), Steve Coogan (voz de Silas de Ramsbottom, em "Meu Malvado Favorito 4" - 2024), Zazie Beetz ("Trem-Bala" - 2022), entre outros.
Se no primeiro filme somos guiados por um ritmo ágil e uma montagem envolvente, aqui a sensação é oposta. O ritmo é lento e tedioso, muitas questões repetem uma forma, sem trazer frescor. A fotografia, mais detalhista e polida que a do primeiro filme, ainda utiliza filtros laranja e verde, cores dominantes criadas por Lawrence Sher, o diretor de fotografia.
"Coringa: Delírio a Dois" se resume a uma sequência cansativa e tediosa, que nem Lady Gaga consegue salvar. É uma obra sem propósito que, sinceramente, precisava ter mais conteúdo para entregar ao espectador. Fica a impressão de ter sido feita apenas por razões comerciais. Questiono o que o público do Festival de Veneza viu de tão inovador para justificar os longos aplausos. Ao final, fomos enganados e levados pela empolgação e hype de uma sequência que nem sequer precisava de existir.
Ficha técnica:
Direção: Todd PhillipsProdução: Village Roadshow Pictures, Warner Bros. Pictures, Sikelia Productions, Dc Entertainment, Bron Studios Inc.
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h19
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: ação, musical, romance, drama