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18 janeiro 2023

As dores e delícias de Hollywood em “Babilônia”

Diretor Damien Chazelle traz a grandiosidade e a decadência do cinema nos anos de 1920
 (Fotos: Paramount Pictures)


Eduardo Jr.

O novo filme do premiado diretor Damien Chazelle, “Babilônia” ("Babylon"), que estreia nesta quinta-feira (19), parece ter a intenção de representar os dois significados do nome da antiga cidade. Se para alguns quer dizer “Porta de Deus”, para outros, o termo se traduz como “grande confusão”. 


São três horas de duração de uma trama que se apresenta com o esplendor do cinema de verdade. Com música e movimento. Na telona, a mesma divisão social da antiga cidade onde hoje está o Iraque encontra ecos na Hollywood dos anos 1920. Com pessoas de classe alta no topo da pirâmide; abaixo delas, as de casta inferior; e na base, as escravizadas.  

E nesse período da história de Los Angeles, duas figuras sonham passar pela "porta celestial" e fazer parte da festa. Uma confusão que soma ingredientes como excentricidades, música, drogas e luxo. 


Ao tentar entrar de penetra em uma dessas noitadas, a aspirante a atriz Nellie LaRoy (Margot Robbie) é ajudada por Manny (Diego Calva), imigrante mexicano que é um mero faz-tudo do anfitrião, mas sonha em trabalhar num set. 

A sorte sorri para eles, mas começa a dar as costas para Jack (Brad Pitt), um astro do cinema mudo que tem sua capacidade de atuação questionada quando a transição para os filmes falados se apresenta à indústria na década de 1930. 


Embora o filme possa ser visto como uma ode à sétima arte, nada é romanceado. Os podres também estão lá, escancarados. Afinal, todos querem fazer parte dessa elite. No entanto, pra chegar lá, o preço é alto. E se manter no topo, mais caro ainda! 


A história de cada personagem parece se apresentar em capítulos, mas no final das contas, fazem parte da mesma construção. Racismo, trapaças, discriminação sexual, falsidade e situações desumanas no trabalho são algumas das pautas expostas, e vão se alternando na tela em uma montanha russa de emoções. 

Fazem o espectador prender a respiração, rir, se espantar… oferecem tudo aquilo que o cinema vem provocando há décadas. Tudo em três horas que passam sem sofrimentos para o espectador.  


O filme mostra o que a cidade do cinema, considerada mágica, esconde. Por exemplo: que pra ganhar um personagem, é preciso montar um personagem. Que o amor à arte também é negócio. Que as estrelas de ontem podem ser substituídas amanhã. Que a decadência existe para tudo e todos. E que além do glamour há também o submundo. 


Tobey Maguire (um dos produtores executivos) é responsável por simbolizar esse lado oculto. Fica fácil associar seu personagem James McKay a um nosferatu, que sobrevive de sugar a vida dos desavisados. 

A presença de Maguire, assim como a de Jean Smart (que vive uma jornalista crítica de cinema), são amostras do poder deste filme. 

A ficha técnica conta ainda com Justin Hurwitz, compositor que ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora e de Melhor Canção Original por "La La Land" (2017), outro filme escrito e dirigido por Damien Chazelle. 


Atraindo muitos olhares e expectativas para a cerimônia do Oscar 2023, "Babilônia” venceu a categoria Melhor Trilha Sonora no 80º Globo de Ouro, realizado na semana passada. 

Vale a pena assistir pra apostar se as atuações de Margot Robbie, Brad Pitt e Diego Calvo; se a música de Hurwitz e se o roteiro ou direção de Chazelle merecem a maior premiação do cinema mundial. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Damien Chazelle
Produção: Paramount Pictures
Distribuição: Paramount Pictures Brasil
Exibição: nos cinemas
Duração: 3h09
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: musical, drama

30 outubro 2018

"O Primeiro Homem": para (tentar) desvendar a alma de Neil Armstrong

A escolha de Ryan Gosling para o papel principal é um dos pontos altos do filme dirigido por Damien Chazelle (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


É claro que há cenas lindas da imensidão do espaço, o vazio e o infinito - tudo embalado por uma valsa empolgante capaz de provocar arrepios e fazer o espectador pensar no mistério da vida. Mas elas não são, nem de longe, o mote de "O Primeiro Homem" ("First Man"), filme de Damien Chazelle sobre a vida de Neil Armstrong, o astronauta norte-americano que, em 1969, pisou pela primeira vez na Lua depois de viajar na Apollo 11. 

Desta vez, a corrida espacial é apenas uma desculpa para falar de um jovem tímido, arredio e obstinado, pronto a pagar qualquer preço para cumprir o que parecia uma missão.

Mas, como falar da quase obsessão de um homem real, um pai de família como qualquer outro, se ele é calado, introspectivo e raramente deixa transparecer suas emoções? Eis aí o grande mérito do diretor, que acertou, pelo menos, três vezes: primeiro, ao escolher o talentoso Ryan Gosling, com quem trabalhou anteriormente em "La La Land" (2017), para o papel principal.

Segundo, por privilegiar closes do rosto e dos olhos do ator, permitindo que o espectador pelo menos tente desvendar o que vai na cabeça e na alma do astronauta. E terceiro, ao chamar Claire Foy (atriz premiada na série "The Crown") para o papel de Janet Shearon, mulher de Neil. É ela que humaniza a história e, de certa forma, faz o elo entre o espectador e Armstrong, dando alguns sinais do íntimo do marido, do que ele pensa e sente.

Atores e diretores falam sobre os obstáculos da produção


Damien Chazelle, que dividiu a função de produtor com Steven Spielberg, foi o diretor de "La La Land" e "Whiplash (2015)" - ambos também sobre personagens obstinados -, impõe ao público, em "O Primeiro Homem", torturantes sacolejos, posições e lugares claustrofóbicos como a solicitar sua participação e comprometimento. É como se dissesse: "Sintam como foi difícil ser astronauta e pioneiro em 1969".

Mesmo assistindo ao filme em projeções normais em 2D, há quem tenha saído do cinema com um pouco de enjoo no estômago, tamanha a turbulência das aeronaves - uma forma de mostrar como eram rudimentares as máquinas. E como corriam riscos os homens que se aventuravam naquele empreendimento incentivado a qualquer custo pelo governo norte-americano, preocupado unicamente em sair na frente da então União Soviética na corrida espacial. Possíveis mortes eram simples acidentes de trabalho.

Baseado no livro homônimo de James Hansen, "O Primeiro Homem" é diferente de outros filmes sobre o espaço, focados mais na aventura e nas conquistas. Principalmente porque deixa no espectador um certo incômodo que vai além das turbulências e das cenas barulhentas como se as naves fossem se desmanchar.

Seja em 2D ou nos modernos 3 e 4D, o que fica, no final, é a pergunta, a urgência de saber em nome de que - ou de quem - uma pessoa pode se embrenhar tanto num projeto tão cheio de sacrifícios, incertezas e perigos. No caso de Armstrong, é um mistério. Há quem acredite que ele queria conhecer a morte depois que perdeu sua filhinha de três anos.
Duração: 2h22
Classificação: 12 anos
Distribuição: Universal Pictures


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