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06 julho 2018

"Berenice procura": suspense nacional que não doura a pílula

Cláudia Abreu é a protagonista deste drama nacional dirigido por Allan Fiterman (Fotos H20 Films/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Talvez nem haja parâmetro para comparações. Mas como são dois filmes que tratam, digamos, do submundo de inferninhos, com seus shows de travestis e amores proibidos, dá para arriscar alguma semelhança entre "Paraíso Perdido", que esteve em cartaz até pouco tempo, e "Berenice procura", que está em exibição nos cinemas de Belo Horizonte. 


Entre as afinidades, pode-se dizer também, que ambas são produções nacionais de qualidade. Mas a diferença que os separa é razoável, principalmente porque, enquanto o primeiro é lúdico, lânguido, romântico, o segundo é cru, realista e duro, embora não seja literalmente violento.

Resumo da história: Berenice é uma taxista moradora de Copacabana e vive mal, muito mal, com o marido Domingos, que é um daqueles repórteres policiais que adoram espetacularizar a violência. Ocupados demais com seus trabalhos e suas vidas, ambos não têm tempo para enxergar como o filho Thiago, que acaba de sair da adolescência, está descobrindo e vivendo a própria sexualidade. 


Berenice é vivida pela tarimbadíssima Cláudia Abreu, que imprime tanta naturalidade ao seu vai-e-vem no próprio apartamento que quase esquecemos que está representando um papel. Domingos é Eduardo Moscovis, igualmente tarimbado, perfeito no papel de um típico homem machista e moralista. E o jovem Thiago é interpretado pelo excelente Caio Manhente, que não fica atrás na competência ao revelar um jovem inseguro, tímido e carente. O elenco traz ainda Emílio Dantas como o malandro Russo, Vera Holtz como a cafetina Greta e Fábio Herford como Jaime, um assíduo cliente do táxi de Berenice.

Mas quem rouba a cena mesmo em "Berenice procura" é a atriz trans Valentina Sampaio, que faz o travesti Isabelle, um dos destaques do inferninho de Copacabana onde os shows e os fatos acontecem. Muitos a têm considerado a grande revelação da arte da interpretação, depois de se destacar como modelo e capa de revistas famosas. Bonita, sensual e com uma voz quente, Isabelle é o personagem chave nesta história baseada no livro homônimo de Luiz Alfredo Garcia-Roza, respeitado por seus romances policiais. 

Merecem elogios também os roteiristas Flávia Guimarães e José Carvalho, além é claro, da direção segura de Allan Fiterman. Graças a eles, o espectador vai acompanhando atentamente os caminhos de Berenice, que é apaixonada por páginas policiais e que decide, por conta própria, investigar uma misteriosa morte numa praia de Copacabana. O suspense é mantido até o final.

Enquanto "Paraíso Perdido" é sensual e melódico, "Berenice procura" quase exagera no realismo das cenas de sexo, que nada têm de eróticas e os ângulos escolhidos pelo diretor parecem fortalecer essa ideia. Se, por um lado, essa opção deixa claras as intenções do filme de não querer dourar a pílula, por outro, pode causar certo distanciamento. Afinal, muita gente vai ao cinema em busca também de um refresco para a vida. Ainda assim, vale a pena ver e prestigiar mais essa produção nacional.
Classificação: 14 anos
Duração: 1h28



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28 fevereiro 2018

"Motorrad" é um terror nacional sangrento, de violência brutal

Thriller nacional foi eleito "Melhor Filme" no Rio Fantastik Festival de 2017 (Fotos: Filmland Internacional/Divulgação)

Maristela Bretas


"Motorrad" é um filme nacional de ação, perseguição e morte, com personagens criados pelo quadrinista Danilo Beyruth, atual colaborador da DC Comics. Apesar de ser uma boa produção, a aposta nos movimentos rápidos e no ronco dos motores das motos, com câmeras acopladas aos atores e veículos, deixa o filme um pouco confuso e cansativo. O terror é constante e a violência brutal e crescente até chegar a um final sem pé nem cabeça que não leva a lugar algum. Tudo isso acontecendo num ambiente de pouca cor, apesar de se passar em boa maior parte do tempo em campo aberto.

O barulho excessivo das motos e as cenas de perseguição eram intenção do diretor para causar maior impacto, contrastando com as belas paisagens da Serra da Canastra, em Minas Gerais, onde o filme foi feito. O lado estético de "Motorrad" foi muito bem trabalhado, mas a extrema violência torna a produção indicada apenas àqueles que gostam muito do gênero. 

Sobre o enredo, começa do nada e vai para lugar algum, não se sabe se é um filme de terror com motoqueiros assassinos e alienígenas, o porquê de as mortes acontecerem, quem são essas pessoas que vão surgindo no desenrolar da história. As dúvidas são muitas, mas as explicações ficam por conta da criatividade do público.

O elenco é formado por oito personagens identificáveis: Emílio Dantas (Ricardo), Guilherme Prates (Hugo, irmão mais novo de Ricardo), Carla Salle (como Paula a motoqueira misteriosa), Juliana Lohmann (Bia), Pablo Sanábio (Tomás), Rodrigo Vidigal (Rafa) e Alex Nader (Maurício), além de Jayme Del Cueto, no papel do homem do ferro velho. Já a quadrilha assassina não tem rosto e passa o tempo todo de capacete. Você vai sair do cinema sem saber quem são os integrantes.

O longa conta a história de um grupo de motocross que se aventura por uma trilha desconhecida na Serra da Canastra. No caminho encontra uma motoqueira misteriosa que os convida a fazer uma trilha mais eletrizante onde ficam as melhores cachoeiras. O grupo só não contava que passaria a ser caçado por motoqueiros sádicos e sobrenaturais.

Curiosidade

"Motorrad" foi o único representante brasileiro no Festival Internacional de Cinema de Toronto de 2017 e eleito "Melhor Filme" no Rio Fantastik Festival do ano passado. Segundo o diretor Vicente Amorim rodar na Serra da Canastra exigiu uma logística incrível de produção por causa da dificuldade de acesso - somente veículos 4x4 conseguiam chegar até os locais de filmagem, e eram quase duas horas de deslocamento. Mas ao final, após meses de gravação e montagem, quase todas as cenas do roteiro foram usadas. Como ele mesmo disse, "Motorrad" é um thriller. "Terror e ação sem concessões".



Ficha técnica:
Direção: Vicente Amorim
Produção: Filmland Internacional / República Pureza Filmes / LG Tubaldini Jr.
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 1h32
Gêneros: Terror / Suspense
País: Brasil
Classificação: 16 anos
Nota: 3 (0 a 5)

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