George MacKay entrega uma boa interpretação do fora da lei
mais famoso da Austrália no século XIX (Fotos: A2 Filmes/Divulgação0
Maristela Bretas
Tenso, instigante e com locações que completam todo o clima
que o enredo de "A Verdadeira História de Ned Kelly" ("True
History Of Kelly Gang") exigia. Inspirado no romance best-seller de Peter
Carey, “A História do Bando de Kelly”, o filme é narrado pelo próprio Ned Kelly
(muito bem interpretado por George MacKay, de "1917") que, por meio de cartas endereçadas
ao filho, resolve contar a sua versão do mito criado em torno de seu nome que o
colocou como o mais famoso fora da lei ("bushranger") da história da
Austrália.
Descendente de irlandeses, filho de um pai expulso do país e
levado pelos ingleses para a colônia britânica de Victoria, o jovem Ned, de 12
anos (papel de Orlando Schwerdt), viveu a infância e adolescência tendo que
assumir o lugar de "homem da casa" após o pai ser preso. Dominado
pela mãe Ellie Kelly (Essie Davis), numa relação que beira o incesto, ele é
obrigado a conviver com a constante troca de parceiros dela por dinheiro.
Do sargento O'Neill (Charlie Hunnam) ao ladrão de cavalos e
procurado pela polícia Harry Power (Russell Crowe), para quem ele é vendido
pela mãe para que amadureça como homem, Ned vai passando da infância para a
adolescência vivendo uma realidade distorcida e cada vez mais violenta. Poucas
coisas fizeram com que ele se sentisse humano. Uma delas é o filho
recém-nascido, para quem ele escreve cartas, contando como foi sua trajetória,
nem sempre violenta e de crimes, de forma que ele saiba quem foi
realmente.
Diferente dos demais bandidos da década de 1870 (quando se
passa a história), o bando de rebeldes recrutados por Ned Kelly ficou conhecido
por usar vestidos em seus crimes. Mas o chefe do grupo foi além e criou uma
armadura de ferro para o peito e a cabeça com apenas espaço para os olhos,
capaz de defendê-los das balas da polícia. E foi assim que escreveu sua
história, como lhe ensinou Harry Power: "Sempre se certifique de que você
é o autor de sua própria história, porque os ingleses sempre pegam e estragam
tudo".
Com narração mais lenta em várias partes, o diretor Justin
Kurzel apresenta um Ned Kelly que gera dúvida no público - afinal ele foi um
cruel fora da lei ou uma vítima do preconceito contra os irlandeses levados
para a Austrália que acabou se tornando o bandido da lenda? Difícil dizer quem
é do bem e quem é do mal. Polícia e bandidos se comportavam de maneira
semelhante. Uma cena que choca é a do policial Fitzpatrick (papel de Nicholas
Hoult) ameaçando um bebê com um revólver.
Além do elenco que entrega boas interpretações, "A
Verdadeira História de Ned Kelly" ainda conta com ótimas locações que
ajudam a criar um clima sombrio, especialmente na floresta de Meulborne Gaol e
a neve do inverno australiano em Marysville, além da State Library,
Wangarratta, Dandengong Ranges, Glenrowan e uma bela e antiga fazenda chamada Mintaro.
Também a trilha sonora cumpre seu papel e ajuda a compor essa nova versão da
história de Ned Kelly.
A volta dos cinemas
Em cartaz de algumas cidades brasileiras que retomaram suas
exibições, "A Verdadeira História de Ned Kelly" poderá ser conferido
a partir do dia 31 de outubro em Belo Horizonte, quando as salas de cinema
serão reabertas. Segundo o Sindicato das Empresas Exibidoras de Minas Gerais
(Seecine-MG), todas as medidas de segurança sanitária serão tomadas e o
funcionamento será de 50% da capacidade.
Ficha técnica Direção: Justin Kurzel Roteiro: Shaun Grant Distribuição: A2 Filmes Duração: 2h05 Países: Austrália / França / Reino Unido Gêneros: Drama / Ação Classificação: 16 anos Nota: 3,5 (0 a 5)