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27 dezembro 2020

"O Céu da Meia-Noite" é um filme pra ver, contemplar e refletir

George Clooney aposta novamente na ficção para falar de solidão, sobrevivência e extinção (Fotos: Philippe Antonello/Netflix)


Jean Piter Miranda


O mundo acabou. Poucas décadas a frente dos nossos dias. Não sobrou nada, mas sobrou gente com vontade de sobreviver. Assim podemos resumir a ideia central de “O Céu da Meia-Noite”, novo filme da Netflix, dirigido e estrelado pelo astro George Clooney. Uma ficção, digamos de uma realidade possível, que propõe várias reflexões. 

Clooney é Augustine Lofthouse, um cientista, quase idoso, que vive em uma estação em algum lugar do Ártico. Ele fica isolado nessa base, tentando fazer contato com uma equipe de astronautas que está em uma nave voltando para a Terra. A mensagem a ser passada é tipo: “Deu ruim. Não precisam voltar não”. 


A nave tem cinco tripulantes. A principal é Sully (Felicity Jones). Eles estão voltando de uma lua de Júpiter, que, no filme, tem características semelhantes às da Terra, onde os seres humanos poderão viver normalmente. Eles foram lá pra tirar essa prova e depois voltar pra casa com a boa notícia e iniciar um projeto de migração. 


O filme se divide em dois núcleos. No Ártico, Augustine passa os dias solitários e melancólicos remoendo seu passado mal resolvido. Ao mesmo tempo, tenta cuidar da saúde e avisar a tripulação da nave para que não volte à Terra. No espaço, os astronautas não sabem o que ocorreu em seu planeta e tentam retornar, enfrentando problemas de comunicação e de mal funcionamento da nave. Essa é a principal ligação entre as duas linhas narrativas.

"O Céu da Meia-Noite" tem imagens belíssimas. Tanto as paisagens congeladas, feitas na Islândia, quanto às cenas do espaço e de Júpiter, que, mesmo fictícias, são maravilhosas e impressionam por serem tão reais. São quase duas horas de filme. Há quem possa achar que o ritmo é lento. Mas é uma lentidão necessária, que compõe muito bem os “desertos” do gelo e das galáxias. 


O longa tem talvez mais cenas de silêncio que de diálogos. E a gente entende tudo muito bem. Não tem nenhum quebra-cabeça e nem teorias da física quântica para se desvendar. É tudo muito claro. A Terra está destruída, mas os motivos ficam subentendidos. Não há imagens dessa destruição e elas não fazem falta pra compreensão do enredo. 

E por falar em silêncio, Íris (Caoilinn Springall), a menina que acompanha Augustine na estação polar, é um dos destaques do filme. A jovem atriz de apenas sete anos manda muito bem, principalmente nas cenas que exigem expressões faciais. E ao que parece, é seu primeiro papel no cinema. Sua personagem tem muita importância na história. 


"O Céu da Meia-Noite" conta também em seu elenco, como integrantes da tripulação da nave Aether, os atores David Oyelowo (comandante Gordon Adewole), Kyle Chandler (Michell Rembshire), Demián Bichir (Sanchéz), Tiffany Boone (Maya Peters), além de Ethan Peck (no papel de Augustine jovem) e Sophie Rundle (como Jean, namorada dele).

O filme chega pra fazer um alerta de que precisamos cuidar do planeta para nossa própria sobrevivência. Ele chega às telas em um momento em que vivemos uma pandemia, fome, miséria, guerras, aumento do aquecimento global e avanço desenfreado do desmatamento e da poluição dos oceanos. Vamos esperar o mundo acabar pra fazer algo?


Clooney cumpre bem seus papeis de ator, diretor e produtor. Especialmente por ter feito uma ótima adaptação ao roteiro após o anúncio da gravidez de Felicity Jones durante as filmagens. A barriga verdadeira acabou sendo incorporada à produção. 

"O Céu da Meia-Noite" é baseado no livro de mesmo nome, da escritora Lily Brooks-Dalton. Não é uma superprodução, não é um projeto ambicioso e não é candidato a clássico. É um filme, digamos simples, objetivo, bonito de ver e com cenas memoráveis. Uma obra de ótima qualidade. É pra ver, contemplar e refletir. 


Ficha técnica:
Direção e produção:
George Clooney
Exibição: Netflix
Duração: 1h58
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Ficção científica
Nota: 4 (de 0 a 5)

Tags: #OCeuDaMeiaNoite, #GeorgeClooney, #FelicityJones, #Netflix, #ficção, #drama, #catástrofeglobal, #Júpiter, #sobrevivência, #cinemanoescurinho

15 março 2019

"Suprema" mostra a trajetória de uma mulher contra o machismo e o preconceito

Felicity Jones interpreta a jurista Ruth Bader Ginsburg, primeira mulher a ocupar um cargo na Suprema Corte dos EUA (Fotos: eOne/Divulgação)

Maristela Bretas


Com boa interpretação, Felicity Jones salva o filme "Suprema"  ("On The Basis of Sex") sobre a trajetória da juíza da Suprema Corte dos EUA, Ruth Bader Ginsburg. A personagem, primeira mulher a conquistar um dos cargos mais importantes daquele país entre as décadas de 50 e 60, enfrentou o machismo por ser uma das poucas a se graduar em Direito nas universidades de Harvard e Columbia (dominada pelos homens) e de tentar mostrar todo o seu potencial como profissional. 

Para piorar, RBG era baixinha, mas superava tudo com uma forte personalidade. Desprezada pelos escritórios de advocacia, ela se especializou em direito relacionado ao gênero, decidindo atacar o Estado norte-americano para derrubar centenas de leis que permitiam a discriminação às mulheres.

Em tempos de produções sobre o poder e a força das mulheres, o filme fica muito restrito e dá a impressão e ser apenas para americano ver. Há momentos tá arrastados que chegam a ser chatos, graças à preocupação da diretora Mimi Leder em ser fiel demais à história da juíza, que exagerou na duração - duas horas é muito para uma biografia sem grandes reviravoltas. 

Sem desmerecer as conquistas e a garra de RBG para chegar onde chegou. Especialmente na luta contra a discriminação feminina, seu maior empecilho para crescer e se destacar num mundo feito por homens e para homens. E que insiste em afirmar que "lugar de mulher é em casa, cuidando dos filhos e da cozinha".

Martin Ginsburg, marido de Ruth, interpretado por Armie Hammer, é típico coadjuvante que só recebe algum destaque por ser um dos poucos homens que a apoia em sua luta a favor das mulheres. Mesmo assim, diante dos amigos e do chefe de advocacia onde trabalha, deixa escapar posições machistas também. 

Justin Theroux e Sam Waterson (ótimo) têm mais destaque e entregam melhores interpretações que Hammer, que não perde a cara de cachorro que caiu da mudança. Já Kathy Bates, que interpreta a advogada militante dos direitos humanos Dorothy Kenyon, tem participação pequena e foi mal aproveitada pelo roteiro.

Uma boa ambientação de época, com abordagem correta do que foi o trabalho da jurista (ainda viva e que é apresentada no final) e a importância do seu legado de ativismo. Como biografia atende bem, não chega a emocionar, força algumas situações, mas serve de inspiração para muitas mulheres de brigarem por espaço e igualdade.

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Ficha técnica:
Direção: Mimi Leder
Produção: Participant Media
Distribuição: Diamond Films
Duração: 2h01
Gêneros: Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 2,8 (0 a 5)

Tags: #Suprema, #OnTheBasieOfSex, #FelicityJones, #ArmieHammer, #RuthBaderGinsburg, #biogrtadia, #drama, #DiamondFilms, #cinemanoescurinho