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19 outubro 2022

Repleto de boas atuações, "Noites de Paris" é um sensível estudo de personagem

Ambientado nos anos 1980, longa-metragem francês é um verdadeiro mosaico do cotidiano (Fotos Vitrine Filmes)


Carolina Cassese
Blog no Zint


“Noites de Paris” (“Les Passagers de la Nuit”), dirigido por Mikhaël Hers, longa que chega nesta quinta-feira (20) na sala 2 do Una Cine Belas Artes, é um verdadeiro mosaico do cotidiano. O ponto de partida do filme é a reconstrução da vida de Elisabeth (Charlotte Gainsbourg), que acaba de passar por um divórcio e atravessa dificuldades financeiras. 

Para se adaptar ao novo estilo de vida, a personagem começa a trabalhar em um programa de rádio noturno, chamado "Passageiros da Noite". 

É nessa circunstância que ela conhece Talulah (Noée Abita), uma adolescente problemática que conta sua história para a apresentadora Vanda (Emanuelle Béart). 

A personagem principal não consegue deixar de se comover com o depoimento da garota, que vive sem domicílio fixo, e decide convidá-la para passar uns dias em sua casa, onde também moram os filhos Judith e Mathias (Megan Northam e Quito Rayon-Richter).


Apesar de abordar temas como divórcio, maternidade, dependência química e ativismo (a história tem início na noite da eleição de 1981, quando o socialista François Mitterrand se tornou presidente), o filme não é de fato centrado em alguma dessas pautas. 

Tampouco é melodramático ou panfletário. Como pontuou o veículo Variety, o longa trata de "pedaços de vida", primordialmente por meio da visão de Elizabeth. 

A presença de Gainsbourg na tela realmente é a alma do filme: a atuação da atriz é impecável e exala sensibilidade. Acreditamos na força e também nas vulnerabilidades de Elisabeth, que acaba se tornando uma mãe para Talulah, já que a garota é dependente química e tem pais relapsos.


O trabalho da protagonista combina bastante com o próprio "Noites de Paris", considerando que é um exercício de escuta. Os convidados do programa "Passageiros da Noite" não necessariamente contam casos extraordinários: são divagações típicas da madrugada, focadas primordialmente no cotidiano, na história de pessoas comuns. 

Se a cineasta Agnès Varda considerava que o artista é um "catador de histórias da vida real", o filme cumpre muito bem essa função de reunir narrativas simples numa obra cheia de significado. O uso de diferentes lentes e de imagens de arquivo granuladas enriquecem visualmente a produção, que de fato "é a cara" dos anos 80. 


A excelente trilha sonora nos ajuda a voltar no tempo e garante a carga emotiva de algumas cenas. Além de acompanhar a história da família, o longa homenageia o próprio cinema. 

A jovem Talulah é a mais fascinada com os filmes e faz da sétima arte uma forma de escapismo, já que consegue esquecer da vida (e de todos os seus consideráveis problemas) quando está numa sala de cinema. 


A própria performance de Abita dialoga com o trabalho da atriz francesa Pascale Ogier, que morreu tragicamente em 1984. O filme "Noites de Lua Cheia", um dos principais trabalhos estrelados por Ogier, é bastante citado na produção. 

Ao falar sobre o longa de Éric Rohmer, Talulah diz que conseguimos apreciar melhor alguns filmes depois de certo tempo ou quando os vemos duas vezes. 


Possivelmente influenciada por essa reflexão, a pessoa que vos escreve assistiu à "Noites de Paris" duas vezes. Se a obra é tocante e significativa logo "de primeira", da segunda vez nos deixamos levar ainda mais pela sensibilidade da narrativa e conseguimos apreciar melhor os respiros do filme. 

Nesse trabalho de Mikhaël Hers, muitas cenas não cumprem uma função narrativa pragmática - basta a vida como ela é, sem grandes acontecimentos em cada tomada.


Ficha técnica:
Direção: Mikhaël Hers
Produção: Nord-Ouest Films / Arte France Cinéma
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: Una Cine Belas Artes (sala 2, sessões 16 horas e 18h15)
Duração: 1h51
Classificação: 16 anos
País: França
Gênero: drama

10 fevereiro 2021

"Minha Irmã" é comovente, sensível e com interpretações arrebatadoras

Produção foi um dos destaques da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Fotos: Afonso Fucci/A2Filmes)

Maristela Bretas

 
Exibido no Festival de Berlim de 2020, "Minha Irmã" ("My Little Sister" ou "Schwesterlein") entrega um roteiro sensível, que emociona e faz refletir sobre expectativas de vida, realizações e relações familiares. Com direção e roteiro de Stéphanie Chuat e Véronique Reymond, a produção também foi um dos destaques da programação da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Apesar de não ter entrado na pré-lista de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2021, este representante da Suíça merece concorrer a uma vaga.
 

O grande destaque está nas excelentes interpretações de Nina Hoss, como Lisa, e Lars Eidinger, como o irmão dela, Sven. Somados às atuações está a bela trilha sonora, composta por Christian Garcia, que conduz o drama como uma peça teatral. O longa tem como fundo os Alpes suíços, que oferecem uma atração à parte. A direção de fotografia soube explorar bem a luz, seja durante uma caminhada pela praça, dentro de um táxi ou no voo de asa delta.
 
 
O filme aborda a forte relação entre dois irmãos gêmeos, que chega a ser de dependência mútua, apesar de ambos terem seguido suas vidas em países diferentes. Lisa, uma mulher casada, desistiu de suas ambições como dramaturga em Berlim e se mudou para a Suíça com os dois filhos e o marido, que dirige uma escola internacional. Já Sven é a estrela do teatro Schaubühne, em Berlim. Até que ele adoece com leucemia e Lisa retorna à Alemanha para acompanhá-lo no tratamento.
 
 
A chegada da irmã dá forças a Sven para retomar a carreira, mas a doença se agrava e a relação dele com a mãe, sem esperanças quanto a uma cura, não ajuda muito. Lisa resolve levá-lo para a Suíça para esperar novos tratamentos e tentar, com o convívio com sua família, melhorar o emocional do irmão. Mas essa situação colocará em xeque seu casamento e a fará repensar sua vida conjugal e a carreira abandonada.


"Minha Irmã" é um filme que vale a pena ser visto. Até poucos dias atrás ele estava em exibição em várias salas de cinema pelo pais, inclusive em BH. Agora está disponível no formato digital, pelas plataformas de streaming Now, Google Play, Looke, Vivo Play, Microsoft Movies e Apple TV.
 


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Stéphanie Chuat, Véronique Reymond
Distribuição: A2 Filmes
Duração: 1h39
Países: Alemanha / Suíça
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Nota: 4