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25 março 2025

"Quando Chega o Outono" explora a complexidade das relações humanas e seus segredos

François Ozon volta às telonas com um drama para prender o público com mistérios intrigantes
(Fotos: Pandora Filmes)


Eduardo Jr.


No outono caem as folhas que mascaram as árvores, e o clima festivo e solar do verão começa a esmaecer. Em "Quando Chega o Outono" ("Quand Vint L'Automne") novo filme de François Ozon, essa metáfora nos provoca sobre as máscaras de cada personagem e a opção por não jogar luz sobre determinados atos. O longa chega aos cinemas brasileiros dia 27 de março, com distribuição da Pandora Filmes. 

O diretor francês, que já filmou comédias, suspenses e musicais, agora oferece um drama que se debruça sobre a complexidade das relações humanas, promovendo um jogo sobre os segredos, traumas e atitudes de cada um perante determinadas situações. Destaque também para a bela fotografia, que explora muito bem as paisagens e cores fortes do Outono.


Na trama, as histórias de duas famílias se entrelaçam por conta de acontecimentos que deixam o público em suspense. De um lado está Michelle (personagem da ótima Hélène Vincent). Moradora de um vilarejo da Borgonha, ela está ansiosa para passar alguns dias na companhia do neto, Lucas (Garlan Erlos). 

Quem vai levar o garoto para a casa da avó é a mãe dele, Valérie (Ludivine Sagnier, que trabalhou com Ozon em "Swimming Pool - À Beira da Piscina" - 2003). Na casa próxima está Marie Claude (Josiane Balasko), melhor amiga de Michelle, que a ajuda a colher cogumelos para o almoço das visitas. 


A relação entre Michelle e Valérie não é nada boa, e piora quando a filha vai parar num hospital após acidentalmente comer cogumelos envenenados na casa da mãe. Quem apoia a avó de Lucas neste episódio é Marie-Claude, cujo filho acaba de sair da prisão, o misterioso Vincent (Pierre Lottin), personagem central no andamento da trama. 

Vincent conhece Valérie desde a infância e vai atrás dela para tentar ajudar Michelle, que o acolheu e ofereceu trabalho ao ex-presidiário. Mas o encontro entre os dois é o ponto que vai movimentar a vida de todas as personagens.


Por que mãe e filha têm uma relação tão difícil? Existe de fato um culpado nos eventos do filme? Será que as consequências foram todas planejadas ou são apenas frutos do destino? Proteger alguém é algo que se faz naturalmente ou por interesse? Será que a inocência das pessoas apenas parece estar presente ou é genuína? Ozon provoca o espectador a refletir sobre os mistérios ali contidos, questionar, duvidar - e até julgar, afinal, é o que todos fazemos. 


Atos do passado, culpa, solidão, amizade, manipulação, crime, segredos, velhice, afeto, redenção... Tudo isso compõe o pacote de reflexões que François Ozon nos lança nesta obra. E as respostas podem estar não no fim, mas no início do filme (fica a dica). 

Assim como na estação em que as folhas caem, reduzindo a sombra da copa das árvores, em "Quando Chega o Outono" resta aos personagens aceitar que não há sombra que os impeça de encarar seus próprios segredos.


Ficha Técnica:
Direção: François Ozon
Roteiro: François Ozon e Philippe Piazzo
Duração: 1h42
Produção: Foz
Distribuição: Pandora Filmes
Classificação: 14 anos
País: França
Gêneros: drama, suspense

06 julho 2023

Comédia “O Crime é Meu” faz rir do absurdo das situações

Filme marca retorno do cineasta François Ozon ao humor (Fotos: Carole Bethuel)


Eduardo Jr.


Uma atriz sem talento e uma advogada se unem para assumir um crime e conduzir uma farsa que vai tirá-las da pobreza em que se encontram, na França dos anos 1930. 

Este pode ser um breve resumo de “O Crime é Meu” ("Mon Crime"), novo filme do cineasta francês François Ozon que estreia nesta quinta-feira (6), distribuído pela Imovision. Em BH, ele poderá ser conferido no Cineart Ponteio e no UNA Cine Belas Artes.


Mas o longa é mais do que isso. É uma comédia inteligente, que diverte e impressiona pela teatralidade na tela. Também é uma homenagem à sétima arte, com referências ao cinema mudo e situações non sense impagáveis, típicas das comédias das décadas de 1930 e 1940. E ainda se posiciona como um retorno do cineasta ao gênero do humor. 



No filme, Madeleine (Nadia Tereszkiewicz) é uma atriz à beira da miséria acusada de ter assassinado um famoso produtor de cinema. Para defendê-la em uma sociedade machista, ela conta com a amiga Pauline (Rebecca Marder), uma advogada mal-sucedida.

Prestes a serem despejadas, elas enxergam que alegar inocência é menos lucrativo, já que testemunhas recebem dinheiro para falar o que sabem. Assumir o crime pode fazer com que elas tenham os holofotes da mídia, permitindo surfar uma onda de fama. 


Qualquer semelhança com a sociedade atual, seria mera coincidência? O julgamento no tribunal se torna um espetáculo, um palco para Madeleine mostrar que pode atuar. 

E também Pauline, a advogada que aproveita seu primeiro grande caso para se posicionar como militante feminista frente a um júri composto apenas por homens. Começa ali a vida de celebridade, com uma confissão de assassinato.  


O filme é metaliguístico porque fala do próprio cinema. Além da homenagem a nomes como Billy Wilder, coloca na tela cenas com estética de cinema mudo para ilustrar o crime, trazendo a encenação pra dentro da encenação. Diálogos rápidos e absurdos fazem lembrar comédias antigas. 

Um dos melhores exemplos disso está na entrada em cena da atriz Isabelle Huppert. Ela vive Odette Chaumette, uma atriz esquecida que quer assumir o assassinato do produtor - não por uma questão de justiça, mas para ter a fama que Madeleine conquistou se dizendo assassina. 


Assim como Madeleine e Odette, outras personagens na trama são exemplos de que a verdade não importa tanto quanto as convenções, o dinheiro e o status. Neste cenário criado e mantido por homens, a predominância de um elenco feminino é outro destaque no filme. 

Ozon dá espaço às mulheres para que ampliem sua voz. Mas não se aprofunda muito em apresentar a história dessas personagens. Vide a curva da personagem Pauline, que passa pela figura da mulher que não é desejada, flerta com a homossexualidade e rapidamente é uma advogada segura e midiática. 


Mas isso é algo que pode passar despercebido, pois o filme é teatral, tem bom ritmo, mal dá tempo pra analisar esse ponto. Os diálogos preenchem os espaços, se emendam ágeis e engraçados. 

O filme, uma adaptação livre da peça francesa de 1934, "Mon Crime", de Georges Berr e Louis Verneuil, é uma comédia capaz de figurar entre as melhores do ano, mesmo que em alguns momentos pareça um deboche da espetacularização que fazemos com tudo.  


Ficha técnica:
Direção e roteiro: François Ozon
Produção: France 2 Cinéma, Playtime, Scope Pictures, Mandarin Cinéma, Foz, Gaumont
Distribuição: Imovision
Exibição: Cineart Ponteio e UNA Cine Belas Artes
Duração: 1h55
Classificação: 14 anos
País: França
Gênero: comédia dramática