Série nacional celebra os 25 anos do Canal Brasil com sete episódios a cada sexta-feira, a partir de hoje (Fotos: Arthur Costa/Canal Brasil) |
Eduardo Jr.
O jornal “Notícias Populares”, que fez fama em São Paulo
pelas manchetes e pautas escandalosas, está de volta aos holofotes. Mas agora
em formato audiovisual. A publicação, que circulou entre 1963 até 2001 virou
série, batizada com o mesmo nome. A estreia acontece nesta sexta-feira (29) e a
primeira temporada tem sete episódios gravados, com exibição a cada
sexta-feira, sempre às 22h30.
A produção é parte das comemorações dos 25 anos do Canal
Brasil e também será disponibilizada no Globoplay +. André Barcinski e Marcelo
Caetano assinam a criação e o roteiro da obra, que traz de volta algumas das matérias
que viralizaram (antes mesmo de o termo entrar na moda).
Para quem não conheceu o jornal, será a chance de se
espantar e se divertir com casos como o do “bebê diabo”, a “revolta das
prostitutas”, ou tentar desvendar alguns easter eggs, como o da atriz da novela
das oito que mantinha um romance regado a drogas com outro ator durante as
gravações.
Caminhando entre a comédia e o absurdo, a série traz sete
capítulos, de aproximadamente 45 minutos cada. A história se passa em 1993, uma
época em que assinatura de jornal não era tendência, sendo preciso fazer com
que as notícias vendessem o máximo possível de jornais impressos.
“Notícias Populares” é uma série de ficção, baseada no humor
popular e nos excessos. Um exemplo disso vem logo nas primeiras cenas, que
mostram um homem de cueca em pleno ambiente de trabalho, e na parede, muita
mulher pelada. Está dado o recado de que aquele é um ambiente machista.
A trama começa a se movimentar com a chegada de uma
correspondente internacional, que sai de Paris para modernizar o jornal (que é
uma subdivisão de menor prestígio da Folha de São Paulo).
O editor Matias,
vivido por Rui Ricardo Diaz (“Lula, O Filho do Brasil”, 2009), apresenta essa
nova colega como uma profissional que veio “direto do rio Sena para o rio
Tietê”.
A reação de incredulidade que temos diante dessa frase é a
mesma que se estampa no rosto da jornalista Paloma Fernandes, personagem da
atriz Luciana Paes (“Divórcio”, 2017) ao se deparar com aquela redação
bagunçada.
E a redação é um caso à parte. O cenário poluído, com muitas cores,
foi reconstruído no prédio da Folha de São Paulo, a partir de imagens da antiga
sala onde o jornal funcionou.
Também foram resgatados alguns objetos originais da equipe
do "NP". Chega a lembrar Almodóvar. Inclusive, uma das personagens do
cineasta espanhol, Andrea Caracortada (papel de Victoria Abril, no filme
“Kika”, 1993), serviu de inspiração para Bruna Linzmeyer (“O Filme da MinhaVida”, 2017) dar vida a Rata, uma repórter de TV que atravessa o caminho do
periódico.
O jornal marcou seu nome na história não só por trazer
assuntos que paralisavam trabalhadores em frente às bancas de revistas, mas
também por falar a língua do povo, se distanciando das redações silenciosas e
sem emoção, frequentemente retratadas em Hollywood.
Na coletiva on-line para lançamento da série, conversamos
com os diretores e elenco, e descobrimos que o "NP" teve a primeira
colunista social negra. O papel da personagem Greta ficou a cargo da atriz Ana
Flávia Cavalcanti (“Corpo Elétrico”, 2017).
O elenco conta também com Ary França (“45 do Segundo Tempo”,
2022) e Rejane Faria (“Marte Um”, 2022). A atriz mineira vive a fotógrafa
Marina, e por meio dela se percebe que o "Notícias Populares" atuava
numa ética diferente.
Em nome de uma boa foto, ela pede pra polícia alterar uma
cena de crime, virando para a câmera o rosto de um bandido, morto por um
justiceiro que era considerado herói na comunidade.
Com isso, a série nos convida a refletir que isto não é
fator de condenação para o jornal. Segundo Rui Ricardo Diaz, o "NP"
era um microcosmo do país.
Se, assim como nos anos 1990, ainda hoje convivemos
com pedidos de vingança contra a criminalidade, com manchetes que parecem ter
sido inventadas de tão absurdas, o jornal está errado em refletir aquilo que
somos enquanto sociedade?
A criação de conteúdo e os métodos de investigação do
“Notícias Populares” foram traduzidos para as gerações atuais graças ao
conhecimento do diretor.
Barcinski foi repórter do “NP” e, além de ter vivido
parte daquela história, pesquisou mais de mil exemplares para selecionar quais
seriam as histórias representadas na série. O resultado promete divertir.
Nos episódios liberados para a equipe do Cinema no
Escurinho, algumas subtramas ficam pelo caminho, mas é possível que sejam
esmiuçadas no futuro, caso se concretize uma segunda temporada.
A gerente de
programação, aquisições e projetos do Canal Brasil, Marina Pompeu, disse que
será preciso um teto financeiro mais favorável para executar uma continuação da
série. Para um jornal que estampou na capa a espantosa manchete “Jacaré cocô
levou meu filho”, material é que não falta!
Ficha técnica:
Direção: André Barcinski e Marcelo Caetano Produção: Kuarup Produção e Canal Brasil
Exibição: todas as sextas-feiras, no Canal Brasil, com reprises nas segundas, às 2h15; terças, às 21h45; madrugadas de quarta para quinta, à meia-noite
Duração: 45 minutos
País: Brasil
Gênero: comédia