Letícia Lima, Daniel Rocha e Felipe Abib formam o triângulo amoroso da produção que aborda questões LGBTQIA+ (Fotos: Paris Filmes/Divulgação) |
Robhson Abreu
Editor da Revista PQN e Jornal de Belô
Junho, mês da diversidade e de um olhar mais atencioso para
as questões LGBTQIA+. O período não poderia ser mais propício para o lançamento
nos cinemas da comédia "Quem Vai Ficar Com Mário?", do diretor Hsu
Chien Hsin ("Ninguém Entra, Ninguém Sai" - 2017).
O longa é uma adaptação abrasileirada da comédia italiana
"O Primeiro Que Disse" ("Mine Vaganti" - 2010), do cineasta
Ferzan Özpetek. Feito para as telonas, o filme ainda não está sendo exibido em
BH, já que os cinemas continuam fechados devido à pandemia de Covid-19. Também
não há previsão de estreia nas plataformas de streaming.
O roteiro escrito por Stella Miranda, Luis Salém e Rafael
Campos Rocha é brilhante e flui naturalmente, nos aproximando de uma história,
contada por meio do ponto de vista de uma década atrás, mas com uma pitada de
temas atuais e muita representatividade para todas as cores da bandeira
LGBTQIA+.
De forma leve, trilha sonora inspiradora e encorajadora, a
história começa quando Mário, um jovem escritor interpretado por Daniel Rocha
("Recife Assombrado" - 2019) decide voltar para Nova Petrópolis, sua
cidade natal, no interior do Rio Grande do Sul. Ele vai contar para o pai,
Antônio (Zé Victor Castiel), e para a família, que é homossexual.
"Quem Vai Ficar Com Mário?" explora a insegurança
do protagonista de se afirmar para a família, assim como acontece com milhares
de gays que querem ser aceitos e respeitados. E isso vai gerar uma grande
identificação com os espectadores.
Assim começa a confusão
Há quatro anos ele mora no Rio de Janeiro com o namorado, o
diretor de teatro Nando, interpretado por Felipe Abib ("Faroeste
Caboclo" - 2013). Mas a família acredita que ele está na Cidade
Maravilhosa fazendo um MBA em Administração de Empresas. Ledo engano!
Durante um almoço em família, Mário decide contar sua
condição, mas é surpreendido pelo irmão mais velho, Vicente, personagem de
Rômulo Arantes Neto ("Depois a Louca Sou Eu" - 2021), que revela a
todos que é gay. Com a notícia, o pai homofóbico põe o filho para fora de casa
e tem um piripaque. No hospital, ele pede a Mário que tome conta da Brüderlich,
a tradicional cervejaria artesanal da família.
Indeciso, Mário dá a notícia para Nando que acaba aparecendo
de surpresa na mansão dos Brüderlich, provocando muitas piadas homofóbicas e
trocadilhos machistas. Mas que, mesmo assim, não tiram o brilho das ótimas
interpretações e entrosamento entre os atores.
Com a decisão de ficar, Mário conhece a coach contratada por
Vicente para dar um novo rumo à empresa. Entra em cena a feminista Ana, vivida
pela atriz carioca Letícia Lima ("Cabras da Peste" - 2021). E ela
mexe com o coração e a cabeça de Mário, que acaba experimentando sensações que
ele jurava improváveis de acontecer em sua vida.
Enquanto isso, no Rio, a glamourosa Lana (Nany People),
Kiko (Victor Maia) e Xande (Nando Brandão), componentes da companhia teatral
“Terceira Força”, da qual Nando é o diretor, estão afoitos para saber o que
está acontecendo em Nova Petrópolis. As ótimas sequências protagonizadas por
eles, quando se passam pela mãe e irmãos de Nando – diante da família
Brüderlich – são as que mais fazem o público rir de verdade. Nany está ótima
no papel.
Quem fica com quem?
As coisas vão ficando cada vez mais complicadas para Mário.
Os ciúmes de Nando, as investidas de Ana, o medo que a família o rejeite por
saber de sua opção sexual e que o pai o trate com indiferença, são as suas
principais aflições.
"Quem Vai Ficar Com Mário?" mostra o leque de
possibilidades de relacionamentos amorosos nos dias de hoje, de forma natural e
sutil. Assim como Mário diz em uma das cenas: “Não importa o rótulo. O que
importa é o conteúdo”. Meio chavão, mas cai bem no contexto cervejeiro da história
para explicar que não importa a opção sexual e sim o respeito, o caráter e a
dignidade de cada um. Uma das principais lutas da comunidade LGBTQIA+.
E como diz a letra da música tema composta por Hsu Chien
Hsin e cantada pela Pabllo Vittar, “Tenha coragem de ser feliz”, o longa é
isso: diversão, aceitação, amizade, família, redenção, respeito diversidade e
amor. Mas afinal, quem ficou com Mário? Acho que todos nós, que
aprendemos um pouco mais com a mensagem de amor dessa comédia tão atual e que
nos faz rir.
Ficha técnica:
Direção: Hsu Chien Hsin Produção: Sincrocine Produções / Warner Bros. Pictures /Tietê Produções
Distribuição: Paris Filmes / Downtown Filmes
Exibição: somente nos cinemas (sem previsão para estreia em plataformas de streaming)
Gênero: Comédia
Duração: 1h54
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Nota: 3,5 (0 a 5)