Edição comemora o grande clássico de James Cameron, ganhador de 11 estatuetas do Oscar (Fotos: 20th Century Studios/Divulgação) |
Marcos Tadeu
blog Narrativa Cinematográfica
"Titanic", sucesso de crítica e público do diretor James Cameron, retorna as telonas em comemoração aos 25 anos de seu lançamento, ganhando versões em 3D e IMAX.
No entanto, é preciso ressaltar que a melhoria na resolução é quase nula, o que não invalida a experiência de ver e ouvir com maior qualidade.
Para aqueles que não conhecem a história, trata-se da tragédia do naufrágio do Titanic. O chamado "Navio dos Sonhos" atingiu um iceberg, causando a morte de mais de 1.500 pessoas na madrugada do dia 15 de abril de 1912.
No trajeto, temos o romance entre dois passageiros - Jack Dawson (Leonardo DiCaprio) e Rose Dewitt Bukater (Kate Winslet).
A narrativa começa com a repercussão, após muitos anos, da descoberta, pelo caçador de recompensas Brock Lovett (Bill Paxton), do diamante "Coração do Oceano" a partir de um desenho de Rose usando a joia.
Ela, agora idosa (papel vivido por Gloria Stuart), decide retomar as lembranças vividas no navio ao lado de Jack.
É muito rico esse contraste da memória afetiva com a experiência de ser uma sobrevivente do naufrágio. O espectador volta no tempo com a protagonista para conhecer seus dilemas e as pessoas envolvidas na tragédia.
Questões sociais
Rose é uma moça rica, forçada a se casar com Cal Hockley (Billy Zane) para "salvar" a mãe da falência e o nome da família. Na construção da personagem vemos que ela vive sufocada.
Principalmente pela mãe e pelas regras que a classe alta exige, o que a torna uma pessoa solitária e sem amigos.
Em contraste a vida de Rose, temos Jack, um boêmio e artista que ganha a vida desenhando pessoas, apostando em jogos de carta. Por sorte, ele ganha uma passagem no Titanic.
O personagem é leve, está sempre sorrindo e brincando com os amigos, especialmente Fabrizio de Rossi (Danny Nucci).
Uma das cenas-chave do roteiro acontece quando Rose, inconformada com a vida sem graça de rica, decide que irá pular do navio. Porém, é surpreendida por Jack, que decide intervir e mostrar a ela as consequências de se jogar na água fria.
Nasce daí a frase que funciona para o início do relacionamento dos dois: "Se você pular, eu pulo".
É muito interessante perceber como as questões de classes sociais são tratadas durante todo o filme.
Começa na entrada separada no navio: os ricos entram por uma porta, enquanto os pobres recebem inspeções para confirmar se não carregam alguma doença ou piolho.
Já o jantar da aristocracia é feito com etiqueta, ao passo que o ambiente da classe baixa nem é mostrado.
Os endinheirados têm conveses individuais e espaçosos e os menos favorecidos dividem uma área comunitária.
Ciúmes e negligência
Jack apresenta a Rose seu mundo, ainda que no navio. Um mundo mais divertido e alegre, sem julgamentos ou rótulos. Rose, por sua vez, mostra a ele como a vida de rica é difícil e como isso pesa em seu nome.
Cal, futuro noivo da jovem, é o vilão da história, que impõe regras de posse a Rose. Empresário e político de influência, ele quer comprar todos a sua volta.
Mas se sente ameaçado pelo envolvimento de Rose com Jack. Não aceitando que a noiva tenha se encantado por uma pessoa de classe que ele considera inferior, decide armar contra o jovem.
Podemos notar que o capitão Edward Smith foi negligente. Ele se preocupou mais com a mídia do que com a segurança de todos, fazendo com que o navio navegasse a uma velocidade muito alta.
Outro detalhe importante é que a proa da embarcação era pequena, dificultando a visualização do iceberg.
Erros como esses poderiam ter sido evitados e a viagem não teria se transformado numa marca trágica na história.
Efeitos e trilha sonora impecáveis
Pulando para os aspectos técnicos, os efeitos especiais e designer de produção são os grandes acertos da obra.
A forma como James Cameron apresenta a grandiosidade tanto do navio quanto de seu naufrágio é surpreendente e também assustador.
Há uma preocupação em mostrar como cada um dos ocupantes do Titanic procurou formas de sobreviver em meio ao naufrágio.
Destaque também para a trilha e os efeitos sonoros, que realçam a força e a velocidade do Titanic. Dão a sensação de estarmos a bordo de um navio de luxo.
Impossível falar desse clássico sem pensar em “My Heart Will Go On”, interpretada por Celine Dion e tema de Jack e Rose.
Os instrumentais também não deixam a desejar. Exemplo disso é "Hymn To The Sea", de James Horner, que proporciona o clima ideal de partida na abertura, filmada em tom de sépia, para marcar o início da jornada do maior transatlântico do mundo na época.
Já "Hard To Starboard" acontece no momento da colisão com o iceberg e do desespero da tripulação para tentar diminuir a velocidade do navio.
No geral, a trilha sonora, composta por James Horner, é bem poética e funciona com agilidade. Confira aqui.
Talvez o único defeito do filme tenha sido explorar pouco o passado de Cal. Sabemos pouco sobre ele e sua função, o que o coloca apenas como o antagonista que quer destruir Jack.
Se houvesse maior profundidade no personagem ao longo da obra talvez, só talvez, seria possível comprar suas motivações.
O longa, sem dúvida, assim como o original lançado em 1997 (no Brasil o lançamento foi em janeiro de 1998), merece ser visto (ou revisto) nos cinemas, tanto por quem assistiu à época como pelas novas gerações.
Uma bela homenagem aos 25 anos deste clássico, que marcou as carreiras em ascensão de seus protagonistas, conquistou 11 estatuetas do Oscar e ainda é capaz de emocionar o público.
Ficha técnica:
Direção, roteiro, montagem e produção: James CameronProdução: Lightstorm Entertainment
Distribuição: 20th Century Studios
Exibição: nos cinemas
Duração: 3h16
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: drama, romance