Destaque para as ótimas atuações de Bastien Bouillon e Bouli Lanners como os investigadores (Fotos: Fanny de Gouville/Haut et Court) |
Carolina Cassese
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Com estreia exatamente nesta quarta-feira (12) e direção de Dominik Moll, o longa "A Noite do Dia 12" é inspirado numa história real que virou livro pelas mãos da escritora francesa Pauline Guéna.
Na noite de 12 de outubro de 2016, em Saint-Jean-de-Maurienne (Savoie), uma jovem de 21 anos, Clara Royer (Lula Cotton-Frapier), foi assassinada por um homem encapuzado, quando voltava de uma noite com amigos.
Sabemos que, infelizmente, esse caso de feminicídio não representa um incidente isolado - no nosso país, por exemplo, há inúmeros registros de mulheres que são assassinadas, especialmente por namorados ou ex-companheiros.
Diante desse quadro preocupante é primordial que o cinema contemporâneo trate dessa questão e nos faça refletir acerca das muitas dimensões do problema. Desde o começo do filme, que está em cartaz nos cinemas, o espectador está ciente de que o assassinato não será solucionado.
Tal aviso é bem-vindo, já que, por esse motivo, compreendemos de antemão que o longa não seguirá a cartilha dos clássicos filmes de detetive. O que nos faz ficar com os olhos grudados na tela mesmo sem a iminência de descobrir quem é o assassino?
A resposta possivelmente diz respeito ao eficiente ritmo do filme e, ainda, às ótimas atuações de Bastien Bouillon (Yohan) e Bouli Lanners (Marceau), que fazem o papel dos investigadores. No César de 2023, principal premiação do cinema francês, o longa foi o grande vencedor da noite, levando inclusive as estatuetas de Melhor Filme e Melhor Direção.
Outro mérito do trabalho de Moll é mostrar que, por mais que a autoria daquele episódio seja individual, existe uma responsabilidade coletiva acerca de crimes cometidos contra a mulher. Em determinado momento, o investigador Yohan chega a dizer que todos os homens mataram Clara, inclusive porque ela foi vítima de diferentes tipos de violência.
Mesmo após o assassinato, um cantor se sente no direito de fazer brincadeiras sobre sua trágica morte. Além disso, sabe-se que, em casos de crimes contra as mulheres, muitos representantes da (suposta) justiça acabam culpabilizando a vítima pelo ocorrido. Nesse sentido, fica evidente que o feminicídio é um problema sistêmico e bastante complexo.
Parte da inventividade de "O Crime É Meu", longa francês em cartaz no Cineart Ponteio e UNA Cine Belas Artes, está justamente na subversão desse cenário, já que, no filme de François Ozon, são as mulheres que matam os pares masculinos por motivos banais, numa espécie de vingança contra abusos naturalizados cotidianamente.
Na vida real, evidentemente, ninguém deveria ser morto por razão alguma. Mas ao inverter a situação ficcionalmente, Ozon evidencia o absurdo da realidade em que estamos inseridos.
"A Sindicalista", em cartaz também no UNA Cine Belas Artes, é outro filme que mostra como as engrenagens do sistema muitas vezes são programadas para operarem contra a mulher, transformando a vítima em culpada.
Angustiante e visceral, "A Noite do Dia 12" não é um filme fácil de assistir. No entanto, o novo trabalho de Dominik Moll é muito eficiente em prender a atenção do espectador e em denunciar como a sociedade patriarcal pode ser conivente com crimes cometidos contra a mulher.
Se, por um lado, às vezes necessitamos apenas de um filme feel good para descansar a cabeça, em outros momentos precisamos encarar nossa realidade e nos movimentar a partir da indignação. Um soco no estômago, portanto, é bem-vindo para nos tirar da inércia.
Ficha técnica:
Direção: Dominik MollRoteiro: Gilles Marchand e Dominik Moll
Produção: Haut et Court
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h55
Classificação: 16 anos
Países: Bélgica, França
Gêneros: drama, suspense, policial