Blanca Suárez é uma das protagonistas da série da Netflix ambientada na Espanha dos anos 1920 (Fotos: Manuel Fernandez-Valdez/Netflix) |
Mirtes Helena Scalioni
Talvez o maior atrativo da série espanhola "As Telefonistas" ("Las Chicas del Cable") seja exatamente a forma como construíram os chamados ganchos. O espectador quer sempre ver o que vem no próximo capítulo, exatamente pela maneira com que cada um é finalizado, sempre criando expectativa, mesmo que sem muita coerência. Não fosse isso, dificilmente alguém conseguiria chegar até o fim dos seus intermináveis 37 capítulos disponíveis, muitos deles sem pé nem cabeça, mal costurados em cinco temporadas no Netflix.
O argumento da história é maravilhoso, não se pode negar: quatro jovens se conhecem trabalhando como telefonistas da recém-criada Companhia Telefônica da Espanha. É ambientada numa Madrid provinciana, burguesa e sedenta de modernidade, e começa em 1928, época de mesuras e reverências ao rei. Em tempo de machismo absoluto e total submissão das mulheres, as quatro criam um bonito laço de afeto e cumplicidade que, aos poucos, revela-se capaz de justificar, inclusive, crimes. Não parece instigante?
Com argumentos tão ricos como a luta pela emancipação das mulheres, o final da monarquia e os horrores da Guerra Civil que estraçalhou a Espanha entre 1936 e 1939, era de se esperar uma obra mais consistente. Em certos momentos, a história fica cansativa como se os autores tivessem sido obrigados a estendê-la ou não soubessem como terminá-la.
A voz em off da personagem principal, a telefonista Lídia, também se revela inútil, como se ela quisesse explicar o inexplicável ou justificar o injustificável. Ao final de quase todos os capítulos, ela decreta algo como: e o pior ainda está por vir. É como se estivessem num campeonato mundial de desgraças. E dá-lhe novas tramas e novos personagens, tudo muito mal costurado, carecendo solidez.
O elenco de "As Telefonistas", com raríssimas exceções, merece aplausos. Até por conseguir dar sequência a um roteiro inconsistente, atores e atrizes seguram, com galhardia, os papéis que carregam, mesmo que, por vezes, incoerentes. Blanca Suárez é a protagonista, fazendo a líder do grupo Alba Romero, que depois vira Lídia Aguiar - e não se fala mais nisso -, sempre em dúvida entre o amor de Francisco Gómez (Yon González) e Carlos Cifuentes (Martiño Rivas).
Ao redor dela gravitam Ángeles Vidal (Maggie Civantos), abusada pelo marido, a romântica Marga Suárez (Nadia de Santiago) e a rebelde e ousada Carlota (Ana Fernandez). Destaques para Ana Polvorosa, que interpreta a ambígua Sara Milán/Oscar e Concha Velasco, que brilha como a senhora Carmen Cifuentes. Há outros nomes, mas são tantos, devido às mirabolantes viradas e pegadinhas da história, que não precisam ser citados. A direção também é conjunta: Gema R. Neira, Ramón Campos e Teresa Fernandez-Valdés.
É possível que grande parte dos telespectadores chegue ao término. Afinal, até a curiosidade de saber onde isso tudo vai parar pode ser um bom motivo. Outra motivação - embora não suficiente - é o figurino. Rico, fiel e impecável, revela a beleza e o refinamento das roupas, calçados e, principalmente, a elegância dos chapéus. Para quem chegou ao trigésimo sétimo capítulo de "As Telefonistas", só resta esperar que, nos próximos, ainda inéditos, algo de brilhante justifique tantos dramas, tragédias e vinganças.
Ficha técnica:
Série: 5 temporadas/ 8 capítulos por temporada
Distribuição: Netflix
Duração: 50 minutos em média
Classificação: 18 anos
Gênero: Drama
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