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28 novembro 2023

"Ó Paí, Ó 2" utiliza uma trama simples para reforçar a importância da representatividade negra na tela

Lázaro Ramos protagoniza novamente o personagem Roque, que se une à comunidade para ajudar uma
amiga e preservar a tradição do Pelourinho (Fotos: Divulgação) 


Marcos Tadeu
Narrativa Cinematográfica


Mais de 15 anos após o primeiro filme retornamos ao cortiço de Dona Joana com Roque contextualizando o que mudou ou não nesse período e buscando seu espaço como artista negro. Este é o enredo de "Ó Paí, Ó 2", que está em cartaz nos cinemas. 

O protagonista, novamente interpretado por Lázaro Ramos, persiste em viver de sua música. No longa fica evidente como a cultura branca é mais facilmente aceita e como é mais simples excluir um negro do mercado musical do que inseri-lo.


O cerne deste segundo longa parte de uma premissa simples: todos na comunidade se unem para salvar o bar de Neuzão (Tânia Toko), que foi vendido a outro dono, deixando-a sem teto e sem meios de subsistência. 

Encontramos Dona Joana (Luciana Souza), uma mulher solitária e complexa, ainda lidando com o luto pela morte de seus filhos. Essa ausência a assombra e confronta, levando-a a adotar três crianças de rua. 


A obra aborda a questão do despejo de forma séria, unindo antigos personagens, como Maria (Valdinéia Soriano) e Reginaldo (Érico Brás), Yolanda (Lyu Árisson), mãe Raimunda (Cássia Valle) e Matias (Jorge Washington) aos novos moradores. Eles planejam uma festa para Iemanjá como estratégia para arrecadar fundos e salvar o bar. 

A nova geração demonstra resiliência ao criar o metaverso, utilizando o conceito da internet como um espaço para compartilhar suas experiências sobre os dilemas relacionados à cor da pele, desafiando normas e enfatizando a importância da resistência para superar padrões preestabelecidos. 


É interessante ver como "Ó Paí, Ó 2" se preocupa em mostrar o verdadeiro lugar do negro e onde ele deve se posicionar na sociedade. Talvez a falha esteja em não inserir figuras baianas icônicas no Pelourinho, o que poderia ser uma oportunidade para mostrar como os jovens se relacionam com essa tradição.

Viviane Ferreira, responsável pela direção, reforça a ideia de que os direitos dos negros não devem ser ignorados nem excluídos pela sociedade. O roteiro não apenas discute questões raciais, mas também de gênero e sexualidade, evidenciando a luta contínua da mulher negra e do transexual, visível na tela.


Quanto à parte musical, a produção é só elogios. Lázaro Ramos está maravilhoso em sua performance e voz, unindo não apenas os personagens na tela, mas também atraindo o público espectador. Nomes como Margareth Menezes (que interpreta ela mesma), Baiana System, João Gomes e Olodum contribuem para uma trilha sonora sinérgica e alegre.

"Ó Paí, Ó 2" é leve e divertido, mas também uma peça importante para a cultura negra. Mostra como cada história é relevante, especialmente em um país racista onde, por vezes, o óbvio precisa ser reiterado e exposto.


Ficha técnica:
Direção: Viviane Ferreira
Produção: Dueto Produções, Casé Filmes, coprodução Globo Filmes e Canal Brasil
Distribuição: H2O Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h30
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: comédia

23 abril 2022

"Medida Provisória": entre o radicalismo e a resistência negra

Seu Jorge e Alfred Enoch protagonizam a produção dirigida por Lázaro Ramos que aborda o racismo numa sociedade futura (Fotos: Divulgação)


Marcos Tadeu


Impactante. Essa é a palavra que resume "Medida Provisória", longa dirigido por Lázaro Ramos, que fez sua estreia nos cinemas no dia 14 de abril. A produção mostra que o ator e agora diretor vem com tudo para tratar da questão racial em um governo totalitário e radical. A obra é inspirada na peça brasileira "Namíbia, Não!", de Aldri Anunciação (que divide o roteiro do filme com o diretor e Lusa Silvestre), dirigida em 2011 no teatro por Lázaro Ramos.

Na história, somos imersos em um Brasil que no primeiro momento oferece, por meio de uma Medida Provisória, uma reparação pelos longos anos de escravidão aos quais os negros foram subjugados por mais de três séculos para voltarem ao país de sua ancestralidade. Ao confirmar que existe uma resistência dos negros, chamados de “melanina acentuada”, existe, o governo passa a impor uma caçada racial e a mandá-los de volta à força.


Primeiro ponto a se elogiar aqui é a força de Antônio (Alfred Enoch), que consegue expor as dores e lutas de um negro em um país completamente racista e intolerante. O protagonista exala vigor e, ao mesmo tempo, consegue mostrar suas fragilidades e o medo do perigo que corre. Ele se torna símbolo de resistência por ser o único “melanina acentuada” a resistir.

Do outro lado temos André (Seu Jorge), jornalista do bairro local que questiona sua realidade e que não aguenta ficar parado sem agir. Ele representa mais o lado da emoção, mas também a necessidade de agir em uma situação de caos. André e Antônio têm uma química muito boa em tela. Ver os dois juntos, se divertindo enquanto atuam, é de deixar o brasileiro orgulhoso.


O grotesco lado racista é representado por ninguém menos que Adriana Esteves e Renata Sorrah que conseguem ser enérgicas e causar raiva no telespectador. Incomoda o fato de Esteves pegar nos últimos anos papeis muitos parecidos que pouco se distanciam de suas vilãs icônicas. Já Sorrah interpreta uma moradora do prédio de Antônio e André e se destaca por suas falas absurdas, como a de sofrer racismo por ser branca ou pela cor do seu cabelo.


Lázaro Ramos consegue dar uma aula sobre como o racismo estrutural é vivo e forte em uma sociedade distópica. Em certo momento do filme vemos como Capitu (Tais Araújo), mulher de Antônio, médica e que se descobre grávida, é caçada por ser negra. Somente quando consegue abrigo em um afro-bunker a personagem expõe e desabafa todo o cansaço de ser negra e sempre ter que resistir ou ser forte. Um discurso potente que choca o telespectador com uma dose cavalar de realidade que os negros passam o tempo todo.

Sem dúvida, "Medida Provisória" fala sobre a necessidade de resistir em uma sociedade do radicalismo e das leis que não pensam duas vezes em tornar a população cada vez mais branca. Ficam algumas perguntas: E se a sociedade fosse completamente branca? O que aconteceria aos negros? O filme aponta e expõe esses questionamentos de maneira clara e objetiva, vai direto ao ponto. O diretor mostra sua força e todo o cuidado que tem ao lidar com a cultura negra e os negros no Brasil.


O único ponto negativo do filme é que ele propõe uma solução rápida no final com pouco tempo de tela após tudo o que foi trabalhado ao longo da obra. Se fossem acrescidos alguns minutos para mostrar essa reviravolta, o longa ganharia mais brilho.

“Medida Provisória” escancara um país racista que não sabe ainda lidar com os negros, mas que também consegue resistir ao mostrar toda a força da cultura negra e o cuidado com a raça. Sem dúvida, eles se sentirão representados em seus dilemas e suas alegrias. Por outro lado, é um alerta para que os brancos passem a vigiar suas posturas e não repitam comportamentos racistas. Reforço: trata-se de um filme bem impactante, que cabe uma reflexão séria.


Ficha técnica:
Direção: Lázaro Ramos
Produção: Lereby Produções / Lata Filmes / Globo Filmes
Distribuição: Elo Company
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h34
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: drama

24 setembro 2021

"O Silêncio da Chuva" chega às telas atualizado, sem perder a atmosfera de um policial clássico

Lázaro Ramos protagoniza o detetive Espinosa, personagem do livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza e adaptado para o cinema (Fotos: Mariana Vianna)


Carolina Cassese


Estamos habituados a ver um Rio de Janeiro diurno e repleto de cores. No entanto, logo na primeira cena de "O Silêncio da Chuva" (2020), longa assinado por Daniel Filho, nos damos conta de que aquele cenário está muito mais sombrio do que de costume. O filme é uma das estreias da semana e está em exibição no Cineart Cidade.

Além da atmosfera misteriosa, apresentada para nós em tons de sépia, temos todos os elementos de um clássico policial: um provável assassinato, uma investigação, vários suspeitos que escondem muitos segredos, femmes fatales e uma dupla de detetives bastante entrosada. O filme protagonizado por Lázaro Ramos é uma adaptação do consagrado livro homônimo de 1996 escrito por Luiz Alfredo Garcia-Roza, que recebeu os prêmios Nestlé e Jabuti e foi publicado em nove países.


Além de Lázaro, que interpreta o conhecido detetive Espinosa, o elenco conta com nomes como Cláudia Abreu (que interpreta Bia, a viúva), Thalita Carauta (Daia, que compõe a dupla de detetives com Espinosa), Mayana Neiva (Rose, que era amante da vítima), Guilherme Fontes (Ricardo, o executivo morto), entre outros.

Podemos perceber que houve uma atualização do texto, escrito há 22 anos. A personagem de Daia é uma das que melhor exemplifica essa renovação, já que é uma mulher que integra a polícia. E ainda, não se sente impelida a esconder seus desejos. O próprio fato de o personagem principal ser negro já representa uma mudança significativa em relação ao livro original.


Para os que estão acostumados a ver filmes policiais, talvez "O Silêncio da Chuva" não pareça exatamente inovador. Um de seus diferenciais, no entanto, reside justamente no fato de que a produção não é hollywoodiana e apresenta elementos bastante brasileiros. Em entrevista ao site C7nema, Lázaro Ramos definiu o longa como um noir. 

“O Brasil, infelizmente, insiste em vender seu cinema para o público sem comunicar as especificidades de cada gênero. É como se ‘cinema brasileiro’ fosse um gênero em si, e não é. Este nosso filme tem uma cara e uma comunicação de gênero, e sem perder o jeito brasileiro de ser”, declarou o ator.


Sabemos que, no Brasil, o termo “policial” muitas vezes ganha conotações violentas: programas policialescos são aqueles que falam de crimes bárbaros, reportagens “policiais” muitas vezes são sensacionalistas… O longa de Daniel Filho, no entanto, não sucumbe à lógica "pinga-sangue". Por mais que algumas cenas sejam mais explícitas, a produção está longe de ser apelativa e tem muito mais o que oferecer.

Do começo ao fim, "O Silêncio da Chuva" é bastante eficiente em prender a nossa atenção. Repleto de boas atuações, o longa diverte na medida certa e, apesar de fazer uso de alguns arquétipos, não incorre demasiadamente em estereótipos. Que, daqui pra frente, o cinema brasileiro aposte em mais filmes ditos “de gênero” - temos sim muitos profissionais qualificados para contar novas histórias.


Ficha técnica:
Direção: Daniel Filho
Roteiro: Lusa Silvestre
Produção: Globo Filmes / Lereby
Distribuição: ELO Company
Exibição: Cineart Cidade - sala 1 - sessões às 16h40 e 20h40 // Una Cine Belas - sala 3 - sessão 20h10
Duração: 1h36
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: Drama / Policial

07 novembro 2018

"Grinch", o rabugento verde, abre a temporada das produções de Natal

Animação é adaptada do livro "Como Grinch Roubou o Natal", do escritor Dr. Seuss, que fez muito sucesso no mundo inteiro (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Ele é verde, mal-humorado, rabugento e o pior de tudo, odeia o Natal. E é exatamente nesta época que "O Grinch" ("The Grinch") é lembrado e ganha sempre uma nova versão. Como a animação que estreia nesta quinta-feira nos cinemas, dos mesmos produtores da franquia “Meu Malvado Favorito” (2010, 2013 e 2016), “Minions” (2015), “Pets – A Vida Secreta dos Bichos” (2016) e "Sing - Quem Canta Seus Males Espanta" (2016).


Grinch é um ser verde, esquisitão, que tem como única companhia e amigo o fiel cão Max. Vive afastado do restante dos habitantes da pequena e alegre Quemlândia. E se durante o ano ele já evita aproximações, o mau-humor piora quando chega o Natal. Ah, o Natal! Todas aquelas pessoas sorrindo, comprando presentes e se organizando para a grande ceia, enfeitando suas casas e iluminando toda a cidade. E o rabugento verde odeia tudo isso.


Ao precisar descer à cidade para comprar mantimentos, ele acaba tendo contato com seus vizinhos, os Quens, e fica sabendo que o Natal deste ano será três vezes maior, o que aumenta sua raiva. Não se contentando em passar a data em sua caverna repleta de engenhocas e invenções feitas para suas necessidades do dia a dia, Grinch resolve bolar um plano para acabar com a festa de todos, roubando os presentes e enfeites. Ele só não contava que durante sua jornada do mal fosse conhecer uma rena muito comilona e uma adorável garotinha, que iriam mudar a sua vida e a de Max.


Benedict Cumberbatch faz a voz original de Grinch, enquanto Lázaro Ramos recebeu a incumbência de dublar o ser verde na versão para o Brasil. E cumpriu muito, dando o tom sarcástico ideal ao personagem, que é baseado no livro "Como Grinch Roubou o Natal", um clássico de 1957 do escritor Dr. Seuss, que vendeu milhares de cópias pelo mundo. Em 2000, Jim Carrey interpretou o personagem no cinema, na comédia de mesmo nome dirigida por Ron Howard, também abrindo o Natal daquele ano e atingindo um grande sucesso.


Muito colorido, com cenas hilárias do desengonçado ser verde e, principalmente do alegre e simpático Max, "O Grinch" vai agradar muito a criançada. E adultos também. A animação tem uma bela história, de solidão, abandono, fidelidade e, acima de tudo amizade.  Além de uma mensagem mostrando que o Natal não é só presente, mas um tempo de união e confraternização. Uma produção para ser curtida em família.



Ficha técnica:
Direção: Scott Mosier e Yarrow Cheney
Produção: Illumination  Entertainment / Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h30
Gêneros: Animação / Infantil / Família
País: EUA
Classificação: Livre
Nota: 3,5 (0 a 5)

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